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Descobertas da vida – Cuidado por onde anda

4601 palavras | 2 |5.00
Por

A cada dia Alan aprende mais sobre como lidar com os desprazeres da vida. Nem todos saberão lidar com situação, é preciso ter cuidado.

A diretora olhava para mim e para o relógio em seu pulso. Eu de cabeça baixa pensava no meu avô, esperava a qualquer momento a pior notícia de todas. Eu também pensava na expulsão do Jairo. Não era para ele ter perdido a razão, embora o Michael merecesse, alguém precisava enfrentá-lo.
Diretora: -Vamos, querido. Seu pai deve estar chegando
Eu: – Tá certo. Posso de fazer um pedido?
Ela: – Claro, se estiver ao meu alcance
Eu: – Não expulsa o Jairo, por favor. Ele só queria
Ela: – Eu entendo a questão, mas é intolerável qualquer agressão, Alan. Regras são regras.
Eu: – Ok, diretora.

Eu saí frustrado pelo corredor da coordenação. Assim que viramos à esquerda para o corredor de saída, o Luís que estava com os amigos aproximou-se da gente.
Ele: – E aí, leque. Como cê tá?
Diretora: – Luís, acho que a aula de matemática termina 8:15, não é mesmo?
Ele: – Relaxa, pro. Era um trabalho, nosso grupo terminou antes.
Eu: – Tô bem, Luís

A minha reação foi abraçá-lo, eu fiquei na altura da cintura dele. Deu para sentir algo duro cutucando e um cheiro de perfume misturado ao masculino. Ele inclinou-se e beijou minha cabeça, despediu-se e seguiu para o pátio. Nossa, ele era lindo e ainda me deu um beijo. Nossa, o que eu estava falando, éramos quase irmãos, eu disse quase. Dei um meio sorriso e quando voltei o olhar para a frente o Jairo estava de mochila para a frente olhando para mim.

Diretora: – O que o senhor ainda faz aqui?
Ele: – É, é, é que estou esperando meus pais
Eu: – Mas, seus pais não…

Ele arregala os olhos, entendi o recado para ficar calado. Os pais dele trabalhavam, ele sempre ia e voltava com a gente.

Eu: – Se quiser pode voltar comigo, papai tá vindo me pegar
Ele: -Ah, tá de boa, amor

Ele só podia ter ficado maluco de me chamar de amor, foi fofo, mas na frente da diretora.

Ela: – Como? Amor?
Ele: – Quis dizer “Amonhã” a gente se fala, é que tô com pastilha na boca diretora
Ela: – Ah, sim. Vocês me vem com cada uma e não é hora de comer doces, Jairo.

A gente riu, ele passou a mão no meu ombro e seguimos. O carro do papai já estava estacionado na frente da escola e ele escorado abrindo os braços para mim. Eu corri e o abracei. Ele estava tão lindo de camisa social com o botão nude aberto que dava para ver os pelinhos aparados do peito, a calça alfaiataria de linho um pouco abaixo do tornozelo bem justa e um sapatênis marrom. O cabelo arrumado no gel e um cheiro gostoso do Sauvage da Dior.

Eu: – Papai, cê demorou tanto para vir me ver. Como tá o vovô? Ele tá bem, né?
Papai: – Papai não queria ter demorado, meu filho. Não se preocupe, o vovô está bem, foi um susto. Vamos passar na floricultura, levar umas flores bem bonita para ele.
Eu: – O senhor esqueceu que ele tem alergia ao pólen, papai. Tá vendo, nem isso se lembra. Tchau, diretora. Vamos Jairo.

Eu o soltei e entrei no banco do passageiro, peguei na mão do Jairo e entramos no carro. Eu não sei o que estava acontecendo com meu pai ultimamente. Eu não culpo a tia Leonor, ela sempre me pareceu gente boa, além disso não tem obrigação comigo, porém meu pai tem.
– Filho, por que você teve essa reação tão agressiva comigo.
Falou meu pai, sentado no banco do motorista e virado para nós.
-Mais de um mês sem vir aqui, se eu não ligo o senhor também não.
-Meu filho, desculpa seu velho pai. São tantas coisas acontecendo, mas prometo que não passo mais de uma semana sem te ver. Venha cá dar um cheiro no pai.
Eu fui em direção a ele e dei um beijo no rosto e ele na minha testa. Então, ele olhou para o Jairo.
-E aí, Jairo tudo bem, cara? Nossa, como tá crescido, vai ficar com barba fechada igual seu pai e joga muita bola como ele também?
– Tudo na paz, tio. Ora se não, a segunda coisa que mais gosto de fazer?
Eu olhei para ele e perguntei:
-Nossa, pensei que fosse a primeira, você só pensa em bola?
Meu pai dá partida no carro, enquanto a gente continua o papo:
-É, Alanzin, eu só pensava em bola, mas agora eu só penso em…
Ele não falou, apenas entrelaçou minha mão na dele e eu entendi que era em mim. A gente sorriu e quando olhei para o escolho retrovisor papai estava vendo.
-Vocês são muito unidos, né? Sua avó me contou
Ficamos apreensivos com o que ele tinha dito. Espero que minha avó não o tenha dito o que lhe contara.
-Sim, papai. Eu gosto muito do Jairo, e de todos os meus amigos também.
-Seu filho é o cara mais incrível que já conheci, tio.
– Ele é mesmo, puxou a mãe dele. Ali era uma mulher incrível. Mas, mudando de assunto, qual o motivo de sua vinda conosco na hora da aula?
-Tio, tipo assim
-Ele foi expulso por me defender do Michael quando ele falou que queria comer meu cu
-Alan, isso são modos, filho. A palavra não é essa. Ele disse isso contigo, foi a primeira vez?
-Não, tio. Eu já estava por aqui com aquele pau n
– Não precisa terminar o palavrão, amanhã eu vou à sua escola saber disso direitinho. Mas, afinal o que você fez?
– Ele não fez nada, tio. Eu que empurrei aquele imbecil e ele caiu na lama hahaha
A gente riu lembrando a situação, meu pai balançou a cabeça negativamente. Obviamente ele era contra violência.
-É assim que vocês combatem a violência, com mais violência? Não é correto, embora tenha sido bem feito. Obrigado por defendê-lo. Filho, você não gostaria de entrar em uma escola de defesa pessoal, judô, algo assim?
O Jairo começou a rir e falou:
-Alan fazendo luta, não tio ele não leva jeito, deixe que eu o protejo, bem melhor.
– Não tenho interesse, obrigado. E pare de falar besteira, Jairo. Você sempre debochando de tudo, mano.
– Nem tudo que parece é, não é mesmo Jairo, a gente quer se esconder em personagens. Nem sabemos o quão forte podemos ser quando enfrentamos nossos medos e inseguranças, né filhote?
-Ele se acha o maioral, pai. Eu já disse que ele parasse com isso.
Ele ficou sério olhando para o meu pai e falou:
-É, tio. A gente cria personagem para não sofrer. Nem todo mundo tem uma família massa como a do Alan que aceita ele ser assim.
Meu pai o encarou seriamente e eu olhando franzindo a sobrancelha para Jairo.
-Eu ser assim como? Eu tenho que ser igual a vocês um bando de ogro que gosta de brincar brigando, que tem que mostrar força toda horas chora escondido no banheiro para não ser visto. A vovó disse que tinha medo de me ver sofrer. Eu não entendo.
Eu comecei a chorar, misturou o sentimento de ser diminuído e a tristeza pelo meu avô. Ambos entenderam o que o outro quis dizer, eu ainda estava assimilando a parte que me coube.
-Não foi isso que quis dizer, desculpa
-Foi mal, tio. É que o senhor me pressionou.
– Então, com você é assim, bateu e levou. Sabia que a gente precisa muitas vezes ouvir mais, aguentar calado e refletir sobre as ações a se revoltar e se exaltar. Meu filho, não precisa chorar, você é tão lindo, amoroso, carinhoso, inteligente, não tenha dúvidas de que você é perfeito assim.
– É, mano. Você é lindo assim.
Jairo passou o dedo alisando minha bochecha, beijo-me a cabeça e abraçou prendendo meu corpo em suas mãos
-Já entendi, mano. Pode me soltar agora tá doendo.
Era mentira, eu estava amando, mas na febre do meu pai me deu vergonha, claro. Meu pai falou
-Jairo, você gosta que tanto do meu filho?
Ele soltou-se de mim, ele ficou nervoso com uma mão tocando as pontinhas da mão oposta em movimentos repetitivos
-Papai, eu vou responder o tanto que gosto dele. Agora mesmo meu coração tá acelerado porquê ele me abraçou, eu quando estou perto dele quero ficar mais perto e não sei como.
– Mano, para com isso, seu pai vai achar que a gente é via
– Jairo, eu não vou achar nada, pois não julgo as pessoas pela orientação sexual?
– Viado não? A palavra é homossexual, tbm sei que é orientação sexual, tem a ver com isso que eu sinto por você e você por mim.

Todos ficaram calados, Jairo queria o primeiro buraco para se enterrar, meu pai olhava com a carinha do emoji que o suor escorre da testa e eu olhava para eles de braços cruzados serio. O silêncio foi interrompido pela buzina de um carro, meu pai chegou a fazer barbeiragem depois disso.

-Meninos, a gente precisa conversar sobre isso, tá certo. Logo ali tem uma sorveteria, a gente senta lá, antes de visitar o vovô.

Entramos na sorveteria, escolhi um delicioso milkshake, os dois pediram sorvete mesmo. Sentamos de frente para uma janela grande de vidro que dava de frente para a rua.

-Tá certo, papai, tá certo
– Blz, tio. Só quero dizer que não sou via
-Jairo, não tô falando isso. A gente está falando sobre gostar da outra pessoa. Você gosta do meu filho igual gosta do seu amigo Mauro, então?
Jairo: – Gosto?
Eu: – Gosta?
Jairo: – Nam, tio. Não gosto, pronto
Eu: – Você também dá beijo no rosto e roça o seu nariz no Mauro.
Pai: – O quê? Então, mas, vocês já, na cama? Jairo, você não? Ou meu filho não?
Jairo: – Não é nada disso, tio. Eu tava configurando o novo celular dele, aí meio que agente ficou próximo. Não rolou nada, só beijo no rosto.
Eu: – Beijo no rosto é nada para você? Não é o que o seu…

Nessa hora eu ri, o Jairo apertou minha não para eu não continuar, mas continuei

Eu: – Você quis me beijar, eu que não quis, depois eu quis ou ainda quero, sei lá
Pai: – Pronto, vocês mais ou menos disseram o que eu queria ouvir. Vocês entendem que para a maioria das pessoas esse amor de vocês é inaceitável, se fosse um menino e uma menina por mais jovens que fosse, no final as famílias deixariam namorar.
Eu: – Amor, papai? Tipo,então é o mesmo que sinto pelo senhor, vovó e vovô?
Jairo: – Nossa, tio, vamos entrar nisso, não, poxa
– Jairo, você é mais velho e precisa ter certa maturidade para lidar com isso. Você queria que fosse uma “brincadeira” secreta de amigos é isso? Até onde chegaria?
– Eu não disse isso, não tô brincando com seu filho e nunca faria nada que ele não quisesse, tio? É tanto que o perguntei se queria beijar
Pai: – Muito bem, serve para os dois, quando quiser algo pergunte a outra pessoa se ela quer, quando a outra não quiser ou pedir para parar o que está fazendo é para parar.
Eu: – Pai, ele não me forçou a nada, se ele me forçasse eu gritaria, lembra que você já me ensinou a gritar e pedir socorro

Ele e o Jairo riram, só entendi o motivo das risadas deles tempos depois.
Jairo: – Só você pivete para vir com essa
Pai: – É, não podemos rir disso. Filho, tem situações que as pessoas podem machucar as outras ao tocar partes as quais não são permitidas. Tão me entendendo?
Eu: – Tô, sim, pai. Eu toquei o coração dele e ele também.
Jairo:- Eu sei, tudo tem a hora certa, eu sou virgem também,se o senhor quer saber.
Pai: – Não precisa do Senhor, e também não precisava contar detalhes da sua vida
Eu: – Mas, o senhor tá fazendo igual delegado na novela, pergunta e a gente responde, pergunta e a gente responde. Eu também sou de virgem
Pai: – Isso, você é de virgem. Tudo na hora certa, meu filho. Tudo na hora certa. Então, quero dizer que você é um menino muito bom, precisa se orientar nisso de toda hora querer partir para cima. Depois se quiser posso conversar com seus pais, não é fácil lidar com o medo de ser descoberto sendo quem você é, né isso. Precisam ser amigos da gente, se alguém disser qualquer coisa, pode me ligar qualquer hora. Ah, uma última coisa, cuide dele com todo carinho, ele tem exemplos de muito amor em casa
Eu: – Ah, não pai, por favor, eu chorar por ele?
Jairo:- Se não fosse minha mãe, talvez nem soubesse o que é isso.
Pai: – Filho, cuide também do Jairo, ele precisa ser menos briguento.
Eu: – Pai, ele é lindo desse jeito dele. Cada um tem seu jeito, você e a vovó disseram-me “Contando que não desrespeite ninguém…, como no caso da briga que ele errou, mas é muito gente boa pai”

Ele piscou para o Jairo e deu-me um beijo na testa, finalmente aquela acareação havia terminado, não aguentava mais tanta recomendação. Terminado os sorvete. O Jairo esticasse e vai até meu rosto.
-Tá sujo aqui no cantinho da boca
– Obrigado, bravezinha
-Olhe que eu fico bravo

A gente riu e seguimos para o hospital. Foi a cena mais triste de toda minha vida, vê meu avô ali ligado a tantos aparelhos e de olhos fechados. Meu olhos encheram d’água. Eu corri e abracei a vovó.
-Vovó, ele tá bem, tá dormindo?
-Ele está bem, querido. Colocaram um remedinho de dormir porquê ele tinha se agitado, mas ele falou comigo.
– Fabrício, querido, você veio?
-E trouxe biscoitos deliciosos para vocês, será que ele pode comer?
-Ele vai amar, você sempre tão gentil. Olha só quem veio também, como está Jairo?
– Oi, vó. Desculpa vir assim, é que
– Imagina, querido, você já é da família. Ele vai ficar feliz ao saber que estiveram aqui.

Aproximei-me do meu avô, e toquei sua mão que estava tão gelada, partiu meu coração, não parecia ele sabe. Aquele homem tão forte para mim a vida toda ali tão indefeso.
-Vovô, a gente veio te ver tá? Vai ficar tudo bem, o senhor vai sair dessa
– Ele há de sair, meu neto, ele há

O Jairo se aproximou de mim por trás e deu-me um abraço alisando meus braços à frente encostando a cabeça no meu ombro, foi tão acolhedor e inesperado. Eu olhei para a vovó que acenou positivo com a cabeça e o papai sorriu também. Ele falou
-Seu neto está bem viu, hoje um palhaço se meteu a besta com ele, acabei sendo expulso porquê o empurrei a lama.

A minha avó boquiaberta com o que acabara de ouvir nos chamou para fora do quarto. Contamos por cima como aconteceu, era preocupação demais para ela administrar, então tiramos o motivo da chacota do Michael. Despedimo-nos deles e no caminho para o elevador o Jairo foi com os braços no meu ombro, o cheirinho dele era tão bom.

Eu batia ma altura do peito dele próximo à axila, dava para sentir o cheiro do perfume e do desodorante misturados, eu me aproximei e encostei como se fosse sentir. Ele olhou para baixo e nos olhamos, ele sorriu e beijou meu cabelo. Meu pai vinha um pouco atrás ao telefone, só pensava em trabalho.
-Meninos, vão descendo e esperem na cafeteria, vou só terminar uns telefonemas.
– Tá certo, papai
– Blz, vamos lá na cafeteria
– Ótima ideia

A gente entrou no elevador e uma senhora simpática também entrou. O braço dele passava meu ombro cruzamos as mãos. Ele fez um carinho com o dedo na ponta do meu nariz. A senhora exclamou
-Nossa, que lindo ver irmão unidos. É difícil quando tem a diferença de idade, geralmente estão brigando, não é?

Eu olhei para ela sem graça, olhei para ele e balancei a cabeça como quem dizia para não responder, porém nada adiantou. Ele saltou e disse:
-A conclusão da senhora se refere ao fato de estarmos próximos? Se eu te dissesse que somos namorados o que acharia?

A fisionomia dela era de assombrada, segurou a bolsa forte, como se estivesse em perigo.
-Esses jovens de hoje em dia perguntam cada coisa, claro que vocês não são namorados, olha o tamanho desse menino? Não digo por você que até barba já tem, mas ele é só um menino.
– Eu já tenho quase 12 anos e não lhe diz respeito nossa vida particular.

Ela estava achando que era quem para dizer aquilo com a gente. O elevador desceu e saímos ligeiro, nós para um lado e ela para o outro. A cafeteria era grande, parecia uma lanchonete dentro do hospital. Sentamos e Jairo falou:
-Gostei de ver você bravo agora, leque
– Ah, que mulher enxerida, nada a ver o seu ela falou
– Mano, até tem, eu aparento ser bem mais velho porquê você tem essa cara de neném mesmo sendo um pré-adolescente.
-Eu já sou adolescente, já tenho até pelo na axila olhe.

Ele começou a levantar meu braço querendo ver o pelo, obviamente que eu não tinha. Aí, ele deu um cheiro que fez cócegas, eu comecei a rir, chamou atenção de algumas pessoas que riram também. O nosso café chegou e tudo se acalmou
-Seu besta, fiquei todo amarrotado
-Tá lindo assim, deixe eu só arrumar esse cabelo, tampinha
-Seu você me chamar de tampinha outra vez
-Vai fazer o quê? O quê? Vai encarar?

Ele simplesmente mostrou o bíceps e ainda fez questão de contraí-lo, nossa como ele era lindo. Na hora meu pau deu sinal de vida.
-Seu chato, tudo seu é medido na força bruta
-Esses olhar não é de quem está chateado, diga o que se passa
-Não passa nada

A nossa calça era moleton, a minha por ser mais apertada na bunda sempre puxava, então quando me levantei para pegar o açúcar, obviamente ele viu a ereção na hora. Ele disse todo manhoso
-Hum, quem é beija-flor que está acordado a essa hora?

Eu não aguentei e comecei a rir, ele me puxou para o colo dele sem me dar tempo de escapar. Eu senti na hora algo duro cutucando minha bunda.
-Jairo o que é isso, me solte agora, pare que seu negócio tá duro na minha bunda

Ele encostou-se no meu ouvido, sua respiração ofegante
-Você tá gostando ou não?
-Não, quer dizer, tô. Eu tô arrepiado com você falando assim. O povo tá olhando
-Deixe-os olharem, a vida é nossa. Fica sentado só um pouco, meu amor.

Eu olhei para ele sem acreditar no que ouvira. É isso mesmo produção? Ele me chamou de AMOR, isso foi diferente, nunca um amigo me chamou assim. Sabe quando dá um estalo diferente.

-Man, você me chamou de meu amor. Por que você tá fazendo isso comigo.

As cutucadas só vão aumentando, ele me levanta um pouco para acomodar. Vem de novo ao meu ouvido.
-Eu preciso dizer o quanto tô louco por ti, Man, eu preciso?
-Eu também, meu lindo.
-Só “meu lindo” ou “vida”, “amor”…
-Você é mais bravo, mas é tão romântico, parece um gatinho miando
-Gostei do gatinho, então sou seu gatinho
-Sim, meu gatinho manhoso.

A gente estava a ponto de se beijar quando ouvimos uma voz familiar gritando
-Aqueles dois lá olha, o alto e o baixinho, aqueles lá

De repente estavam todos nos olhando, eu sem entender saio de cima dele e me sento na cadeira. Ele olha para trás e diz:
-Ah, não véi, essa pau no cu de novo
-Olhe os nomes, gatinho
-Só você para me fazer rir a essa hora

A mulher com uma pasta nas mãos de aproxima e a gralha também, mas é interrompida pela simpática senhora.
-Obrigado, senhora, daqui para frente é comigo. Passar bem

Ela respirou fundo e calmamente olhou para nós, os olhos delas azuis eram penetrantes, passou um frio de cima a baixo da espinha. Quem seria essa mulher? Ela então começou a falar
-Bom dia, meninos. Eu me chamo Célia, sou assistente social do Núcleo de Apoio do Conselho Tutelar deste bairro.
– Como assim, o que tem a ver a gente com esse conselho?
-Calma, Jairo. Deixe a moça falar. Continue, tia
-Não me chame de tia, por favor, não sou tão velha assim
Ambos rimos e ela também
-Então, o conselho é responsável por garantir direitos e coibir qualquer tipo de violência, mesmo que não intencional.
-Tá, tia, a senhora vai nos processar por termos falado sobre sermos namorados?
-Então, vocês são namorados?
-Não, quer dizer a gente é

Quando eu ia falando que éramos amigos, meu pai chegou bem na hora e disse.
-Vamos crianças, o papai já está quase na hora de uma reunião
-Então, vocês são irmãos?
-Bom dia, quem é a senhora?
– Bom dia ,Senhor, eu sou Célia, Conselheira Tutelar, recebi uma denúncia de que dois jovens dentro do elevador diziam ser namorados, apenas vim averiguar, acho que houve um mal entendido da parte denunciante.
-Pai, uma mulher do nada veio questionar se éramos irmãos unidos aonos ver de mãos dadas, daí o Jairo perguntou se tinha problema em a gente ser namorados? Nada demais
-Meus filhos adoram causar tumulto. Vamos indo criança. Prazer em conhecê-la, é que estamos muito atrasados, ele deu a volta e pegou as duas mochilas, deixou o dinheiro do café e empurrou um de cada lado dele.
Abaixou-se e disse de dentes trincados:
-Vocês me pagam, qual a parte de descrição vocês não entenderam, não têm noção da gravidade da situação. Imagine meu nome envolvido em escândalo, meu filho.

Ele foi até o carro descascando nós dois. Como a gente ia saber que ela poderia denunciar ao Ministério Público e sair até estampados nos jornais de mídia sensacionalista. Enfim, a gente já estava de orelha ardida de tanto sermão.
-Tio, tá tudo bem, não vai mais acontecer, vamos ter cuidado com demonstração de carinho. Amar é proibido agora
-Você me ama, gatinho.
-Gatinho? Ah, não filho,já pensou em você chamá-lo assim na frente do povo.
-Ah, nao papai, se o senhor visse os apleidos carinhoso que ele deu como opção. Gatinho é como ele fica manhoso comigo.

Eu o abracei, meu pai colocou a mão na cabeça como se dissesse “Vai ser difícil conter esses dois, vai ser difícil”.
– Pensaram que seria fácil, mas estão muito enganados, mas vamos passar por tudo isso unidos, não se esqueçam disso.

Ele ficou meio emocionado, a descarga de adrenalina talvez o tenha deixado assim.
-Eu vou deixar você lá em casa, a Jô preparou uma comida deliciosa. Levo o Jairo em casa e pego umas roupas que sua avó me pediu.
-Nossa que saudades da Jô, gati,digo, Jairo, você vai gostar dela, ela faz cada coisa deliciosa, o que a gente pedir.
-É sério, tudo mesmo?
-Tudo e muito mais

Ele parou de frente ao prédio, a Jô já estava me esperando. Eu olhei para o Jairo e sorri, dei um beijo no rosto e ele balançou meus cabelos, fiz o mesmo com o papai e desci do carro. Corri para abraçá-la.
– Que mocinho cheiroso, e quem é aquele ali no carro
– O Jairo Jô, meu ami, namor,
– Beleza, tia. Sou namorado dele, prazer
– O prazer é meu, meu filho.

Ele fechou a porta e o carro deu partida

-Simpático esse menino
-Ele é um amor, meio bravinho, mas um amor
-Você também é bravinho queira te contrariar e verá
-Ah, mas eu não brigo, ele briga mesmo, de dar murro.
-Nossa, sério. E o que o seu pai diz disso
-Ah, ele até brigou comigo por não dizer que os caras na escola gozavam de mim.
-Não acredito, filho. O que eles falam?
-Ah, estou morrendo de fome. Posso comer primeiro e depois te conto?
– Claro, querido. Entra, banhar primeiro e depois almoçar sem TV e descansar para fazer as atividades mais tarde
-Sim, senhora oficial Joana hahaha

Ela entrou rindo comigo fingindo marchar e bater continência para ela. A Joana era uma senhora bem à frente do tempo, era mediana 1,65, gorda, tinha tatuagens nos braços, tinha piercing no nariz, o cabelo dela era curtinho meio grisalho, usava uns óculos estilo retrô. Suas roupas eram sempre de algodão, não gostava de usar sintético. Ela mesma as pintava, ela tinha o dom nas mãos.

Ela estava na família do meu pai desde que ele era pequeno. Hoje em dia ela era como minha avó. Na juventude dedicou-se a cuidar dos meus pais, viajou o Brasil interior com meus avós, meu avô era militar do exército, passou a vida se deslocando de um lugar para outro, mas minha família nunca foi conservadora, eles não tinham religião, talvez por isso não concebesse muitos preconceitos.

Seus filhos estudaram nas mesmas escolas que meu pai, o tio Ricardo formou-se junto com meu pai, era advogado, isso mesmo, era o homem negro mais lindo que já vi, depois falo sobre. Já a tia Araceli era professora universitária, falava 7 idiomas, inclusive idiomas indígenas os quais nem tento falar e dialetos africanos. Ela também era uma preta linda de viver, amava seus cabelos cacheados, libertos das amarras sociais, ai de quem falasse deles.

Eu amava olhar as fotos das expedições, desde a caatinga passando pela Amazônia, descendo para o serrado e chegando ao pampa gaúcho. Não acreditava que eles andaram por tantos lugares lindos para terminarem em…. Eu só não suporto cidade grande. Se pudesse escolher, talvez fosse para ali ou para acolá, não posso falar para não desmerecer os interiores lindos do nosso Brasil.

Estou amando o feedback de vocês,

Beijos, Deleite

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2 Comentários

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  • Responder Rudy Long ID:1cyjxjzqop4k

    Adorei os trechos de putaria. Maravilhosos. E a tia Araceli? A que falava sete idiomas de índios? Quase esporrei.

  • Responder Bloom ID:1da050c87urn

    O conto em si é um deleite, não pare