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A nova realidade que mudou o mundo – parte 44: Tal mãe, tal filha

658 palavras | 3 |4.53
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Enquanto as condições de Janaína saiam de um falso sonho momentâneo, ordenhada para extrair dela o leite que seu corpo produzia para sua filha, uma filha que ele nunca viu, e nem verá. Esse sonho se evapora muito rápido da sua realidade, como um gás que se dissipa ao vento, fazendo disso tudo um imenso pesadelo, com estupros e abandono, e que culmina em seu fim após meses de trabalho desumano em uma cozinha perversa esquecida por Deus e pela bondade. Do outro lado da cidade, uma pequena e frágil menina, de olhos castanhos, e pele branca como a neve, crescia em meio ao mais próximo do inferno que podemos imaginar.
Amontoada dentro de um velho barracão sem janelas, sendo alimentada por mamadeiras repletas de porra e uma fracionada e ridícula porção de leite materno, genérico, coletado dos galões de leite que o galpão recebia, ela não usava fraldas, não tinha sequer um nome, e provavelmente, pela condição em que estava crescendo, nem falar aprenderia. Ela estava junto de outras muitas infelizes garotinhas, que já tinham seus futuros traçados e definidos, desumanizadas e transformadas em meras mercadorias, tratadas como lixo, e que apenas as partes de seus corpos que poderiam trazer algum prazer aos homens era enxergado nessa sociedade machista e destrutiva para elas.
O velho barracão era abafado, com as velhas janelas fechadas por tapume, sem luz elétrica e pelo proposital telhado de folhas de zinco, baixo e quase sem inclinação, esquenta o lugar ao ponto de tornar o dia e noite uma tortura terrível. A lotação passava facilmente de dez meninas por metro quadrado, literalmente empilhadas e estocadas dentro daquele lugar. Como nunca tiveram liberdade, são muito pequenas e nunca tiveram mãe ou família, elas não sabiam que aquilo era ruim para elas. Aquela granja de garotas era a única realidade que elas conheceriam.
Para tratar das meninas e realizar o trabalho de babá, algumas escravas negras e velhas ficavam o tempo todo nos galpões, e eram elas que davam as mamadeiras, limpavam as garotas uma vez ao dia, e faziam elas pararem de chorar. Além de negras e velhas, essas escravas babás não tinham língua, pois arrancar a língua com uma faca era uma das coisas obrigatórias ao entrar no trabalho de babá. Elas tinham piercing em argola nos dois mamilos, com espinhos que evitaria uma menina mamar nelas, e em suas vaginas tinham um sino de vaca, que fazia barulho a cada passo que davam. Elas não estavam ali para dar carinho, nem para serem mães, apenas eram peças fundamentais para impedir que as meninas definhassem e fosse perdida alguma mercadoria nova.
A pobrezinha da filha de Janaína, após alguns meses, quando começou a caminhar, ganhou em seu corpo sua primeira marca, feita com ferro em brasa, contendo a inscrição de propriedade do estado, e um número de identificação, que seria a sua única identificação durante toda a vida, já que escravas públicas não recebem nomes humanos mais. Ela nem fazia ideia, mas seu destino estava traçado, e apenas esperariam ela alcançar a idade funcional para repetir os passos de sua mãe numa escravidão nojenta, descomunal e animalesca.
O mundo cruel para aquelas meninas não tinha nenhum apreço por elas, que eram apenas números, recursos de trabalho e mercadorias substituíveis em um mundo de homens malignos. Nascer fêmea nesse mundo, era estar decretada como um ser inferior, indesejada e tratada de forma muito pior que qualquer animal ou criminoso desse novo mundo.

(Sei que ficou curto, mas é só uma explicação de como ela está sendo tratada, para que em um futuro, possamos ver ela chegar a idade funcional.)

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3 Comentários

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  • Responder Red ID:1dx4n17fvg9o

    Sempre maravilhoso, mas curto mesmo

  • Responder Sandrinha ID:1dhyezjws31u

    Sempre tem uns cornos defensores da família, Deus e os bons costumes negativando os contos.
    Bando de enrustido do caralho

  • Responder redpill do pau torto ID:46kphpc1d9a

    Explicativo, mas não chega a ser um capítulo