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Uma carta para o meu amor

2748 palavras | 2 |5.00
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Sinceramente não sei que escrever aqui… mas esta é uma carta de amor de uma mulher amada.

Quando fizemos 60 anos de casados, eu e o Humberto, por pura brincadeira, decidimos escrever uma carta, cada um escreveu a sua, onde escreveria como foi viver 64 anos juntos, pois aos 60 de casamento temos de juntar os 4 de namoro. Quer dizer que este ano, fizemos 65 anos de casados, e 69 anos que começámos a namorar… e que belo 69, LOL.
A uns dias estive a ler as cartas, e estava na sala, e fui fazer qualquer coisa, e deixei elas em cima do sofá, e quando voltei para as guardar, a minha neta Joana, que veio passar uns dias conosco, estava muito concentrada a ler uma, e eu deixei-me ficar, de longe a observar ela, para compreender a reação dela, e ela leu…releu, depois leu a outra, e releu, e vi ela a sorrir, beijou as cartas, e depois deixou elas como eu as deixei, sem antes ainda lhes fazer uma caricia com a mão.
A Joana é a filha do meu Salvador, o meu oitavo filho, o agricultor da família. Ele tem mais filho, o meu neto António.
A Joana mora relativamente perto de nós, como eu ela ama o mar, tem 22 anos, e é linda. É morena, alta, vistosa, cabelos longos castanhos, olhos castanhos, tem um corpo tipo violão, com seios grandes. Ela tem uma personalidade bem vincada, é muito independente, teimosa e orgulhosa, mas tem um coração que não cabe neste mundo, como o avô dela.
Ela namora com um rapaz, que é o oposto dela. Ele é bonito, alto, pele branca, musculado, mas como se diz, é um rato de biblioteca. Aquele rapaz estuda e estuda, sinceramente não sei como eles se apaixonaram, mas quando os vejo em qualquer canto a trocarem beijos, ou a caminharem agarradinhos na praia, sei que aquele amor é para a vida.
Quando ela ia a sair da sala, cruzou-se comigo, e eu digo:

– Joana, gostas-te das cartas???
– A avó viu eu a ler elas?
– Sim querida, eu vi.
– Desculpe, eu ia a passar e vi as cartas, e senti curiosidade e li.
– E que achas-te delas?
– Amor…muito amor em cada palavra, em cada carta.

Eu então, abracei a Joana, e ela diz:

– Deveria publicar essas cartas avó.
– Publicar???
– Sim…são tão bonitas.

Isto foi antes de eu descrever aqui algumas das etapas da minha vida com o Humberto, ontem falei com ele e ele disse:

– Se as queres publicar, por mim, não tenho problemas com isso. Os nossos filhos e netos já leram as nossas….aventuras, pelo que se lerem as cartas, não tem mal nenhum.
– Ok, eu vou publicar elas.

Publico as cartas, porque entendo que são um complemento das passagens da nossa vida que aqui publiquei. Nessas cartas eu e o Humberto escrevemos coisas que pensávamos e sentíamos para nós… sabem num casamento, e mesmo num casamento longo e feliz como o nosso, existem coisas que sentimos e não temos que as partilhar, pois os nossos sorrisos…gestos…carinhos revelam o que nos vai na alma, as cartas… foi apenas escrever o que sentimos.
Uma coisa, apenas abrimos as cartas, uns dias após a enorme festa que os meus filhos e netos fizeram de surpresa. Começo pela minha carta, para o Humberto:

Meu amor,

Tivemos esta ideia de escrever uma carta um ao outro, 64 anos após nos conhecermos, sim porque 60 de casados e 4 de namoro são 64 anos de felicidade, desde que te vi naquele dia, na casa da tua mãe, todo sujo com aquele pó negro, mas eu vi os teus olhos no meio da cara toda mascarrada, e passados 64 anos, continuam iguais, apenas com uma diferença, pois eles olham para mim com amor, eu sinto-os, e quero sentir os teus olhares, cheios de paixão e desejo…cheios de amor.
Tantos anos juntos, meu amor, e ainda sinto as minhas pernas tremeram, quando me fazes juras de amor, a minha respiração muda quando aproximas os teus lábios dos meus, e quando fazemos amor, é como se ainda fosse a primeira vez, a primeira vez que senti o toque das tuas mãos na minha pele nua…senti elas frias e a tremerem, se tu estavas nervoso, eu nem te conto meu amor, como eu estava.
Não que estivesse com medo de ti, eu confiava em ti, o meu medo era tu não gostares de fazer amor comigo, e me deixasses. Sim sei que fui tonta e parvinha, por pensar nisso, mas eu tinha medo de te perder. Alias, junto com o medo que tenho que alguma coisa de mal aconteça aos nossos filhos e aos nossos netos, bem a todas os que amamos, o meu outro maior medo, é um dia, acordar, estender os meus braços, na cama, e tu não estares lá, olhando para mim, sorrindo, e dizeres, Amo-te.
Berto, devemos ser mesmo pirosos, e eu ainda mais pirosa do que tu, minha vida.
Sabes, quando ainda nem namorávamos, e me acompanhas-te a casa, na segunda vez, e eu te dei aquele leve beijo na boca, eu queria que tu me beijasses, já a algum tempo, eu desejava-o. E agora vou ser mesmo honesta… eu tinha medo, mas no fundo, eu esperava que alguém tivesse visto esse beijo tão breve e tão bom, para que fosse contar ao meu pai, e nos obrigasse a casar. Que queres, eram tonteiras de uma menina de 15 anos, apaixonada por ti.
Depois, no outro dia, eu quase que não fui ter a tua casa, eu estava cheia, mas cheia de vergonha e medo. Sim eu sou um bocado ousada, mas no fundo no fundo sou uma medricas. Acho que as vezes faço certas loucuras, porque o medo é tanto… lembras-te de á 10 anos, na comemoração dos nossos 50 anos, fomos saltar de paraquedas??? Eu disse vamos, mas no dia, eu desejava que chovesse, que estivesse uma ventania que tornasse o salto impossível, ou mesmo que eu ficasse doente. Sabes que nessa manhã, eu peguei no termómetro, agarrei num isqueiro, aqueci a ponta do termómetro, como fazem algumas crianças quando não lhes apetece ir a escola, como o nosso filho Estevão fazia porque ele ao principio odiava a escola, e nós espreitando pela porta, víamos ele a aquecer o termómetro com o isqueiro, e depois o teatro dele, a fingir que estava doente. Ele não ganhava nada com isso, e tu e eu fazíamos cara feia, e lá ia ele coitado, de cabeça baixa para a escola, e nós depois riamos tanto, mas tanto juntos, a custa dele??? Se os nossos filhos soubessem, quantas vezes nos zangamos com eles, quantas vezes ficaram de castigo, e depois só quando estávamos os dois, nos riamos das traquinices deles… Foste e és um PAI sempre presente, amigo, mas sempre um pai, e fazes isso naturalmente, sem precisares de levantar a voz. Nunca precisámos de dar alguma bofetada nos nosso filhos, porque sempre soubemos impor o nosso respeito, e sobretudo a respeitar também eles, pois entendemos que devíamos respeitar eles, mesmo quando eles ainda mal sabiam andar ou falar. Por isso quando lhes dávamos algum castigo, e embora eles não gostassem, cumpriram sempre o castigo.
Mas voltando ao salto de paraquedas, eu apenas tirei o termómetro de debaixo do braço, segundos antes de tu pela enésima vez, me vires dizer que eu estava atrasada. E eu disse para mim:

– Xica, metes-te em cada alhada… quem te mandou aceitares saltar de paraquedas??? Agora aguenta-te.

Para meu azar, o dia estava perfeito, sol, sem vento. Quando o avião descolou, íamos equipados com os paraquedas, e eu só pensava…isto não vai abrir e depois vou esborrachar-me no chão…
Saltámos, claro que com os instrutores, íamos cada qual amarrado a um, e eles controlariam o salto, mas quando saltei… e vi o mundo lá do alto, sem ser dentro de um avião, nos primeiros segundos até achei giro, mas depois via o chão cada vez mais perto, e tu me perguntas-te como eu estava, lembras-te do que eu respondi???

– Estou toda cagada…

E tu feito gozão a rires…ai como eu te odiei naquele momento. O Instrutor ria também.
Quando o paraquedas abriu, foi quando eu passei a disfrutar da vista…senti o vento na cara…sabes no fundo, um salto de paraquedas é um resumo da minha vida contigo, Berto.
Primeiro, quando te vi, senti-me ficar sem chão, eu não sabia o que era o amor, bem tirando o gatão do Clark Gable, mas foi olhando nos teus olhos que eu experimentei esse sentimento, e fiquei sem chão, e depois quando ficaste comigo, foi como se fosses o meu paraquedas, amparando-me, deixando-me viver a minha vida ao teu lado, ouvindo os meus medos, guiando-me, e esse salto de paraquedas dura a 64 anos, e espero que demore ainda muitos mais até tocarmos no chão.
Não sei se sempre fui uma boa mulher para ti, pois nunca precisei de me esforçar para demonstrar o meu amor por ti, espero que não te tenha decepcionado alguma vez. Tu a mim, nunca me decepcionaste e todos os dias me surpreendes-te e surpreendes, viver ao teu lado, é viver sempre em descoberta, todos os dias vejo algo de novo em ti, algum gesto…algum sorriso…algum toque teu na minha pela…algum beijo teu.
Berto, sinto-me sempre amada ao teu lado, por isso jamais deixar-te-ei ficar um segundo sozinho, mesmo quando tive de me despedir dos nossos meninos, lá em Angola, lembras-te??? Eu morri por dentro naquele dia, pois no fundo eu pensei que os veria pela última vez, meu amor. E custou-me tanto, mas tanto. Fiquei contigo porque quis, não te cobro isso. Eu queria ficar contigo, pois sem ti, Deus me perdoe, viver com os nossos filhos sem tu estares perto de nós, para mim, não faz sentido. Não que eu não os ame, não que eu não dê a minha vida por eles… mas sem ti não, sem ti era como se eu fosse uma metade de nada, percebes agora porque eu fiquei, apesar da tua insistência em eu ir com eles no avião, da tua mentira em me convenceres já desesperado, eu sei e peço desculpa por isso, pois sei que só nos quererias ver a salvo, da tua mentira em dizer-me que eu poderia voltar no avião seguinte, e até levaste lá a casa o sr Luis, piloto, que jurou a pés juntos que me traria de volta para ti… eu sorri e recusei, e vi que tu aí desistes-te, quando me deste um beijo na boca, e me disses-te que eu era uma louca, mas que amavas esta louca.
Desculpa, por naquela noite, na noite em que fui violada por aqueles… desculpa ter de lhes chamar homens, e te fiz passar por aquela agonia de me veres, uma e outra vez aos berros, esperneando, e sentindo a minha vagina ficar cheia do sémen deles…e depois o meu cu…e tu próprio foste violado. Quantas vezes, meu amor, acordamos de noite aos gritos, por sonharmos com essa noite, e nos abraçamos a chorar. Desculpa, meu amor, as vezes que tu carinhosamente me abraçavas depois, e enchias-me de carinho, e tentávamos fazer amor, mas tínhamos de parar, porque eu via na tua cara a cara deles… Desculpa, mil vezes desculpa, eu ter pensado nisso, tu que sempre senti o teu amor, olhar para ti e ver a cara deles…sabes isso custava-me mais do que a violação, tu não merecias, tu que me amas tiveste de suportar esta mulher parva, mas que queres…era o que eu sentia, e tu um dia pediste-me para nunca fingir ao teu lado, e eu não fingi, quem me dera ter esse dom de ter fingido naquela altura e tu não percebesses.. mas ao teu lado eu não sei fingir… nem sei o que isso é.
Com amor e carinho, ajudaste-me a superar esse trauma, só tu o conseguirias, só o teu amor por mim fez com que eu , não esquecesse, mas superasse essa noite. Dessa noite, nasceu o nosso Juvenal, e tu amas-te ele como se fosse teu filho biológico, e sei o orgulho que tens quando ele chama por ti, dizendo…Pai. E como ficaste feliz, quando ele deu o nome de Humberto ao filho dele mais velho, e lhe perguntas-te porquê, e ele disse-te, que foi para poder ralhar com um Humberto, por ele ser traquina, para poder ser tão bom pai para ele como tu és para ele, o Juvenal. As lágrimas escorriam pela tua cara, eu vi, embora tu tivesses saído da sala, desculpando-te com já não sei o que. Não fui atrás de ti, pois sei que quiseste saborear esse momento sozinho, essas lágrimas de alegria.
Sabes eu adorava ver-te a brincar com os nossos filhos quando eles eram crianças…ver-te a brincar com eles quando eles eram jovens, ver-te a brincar com eles já adultos, e com os nossos netos e espero que um dia, com os nosso bisnetos. Pareces um miúdo pequeno, traquina a brincar com eles, e eu sei que nunca deixas-te de ser o Humberto que eu conheci e amo, mesmo aos 81 anos.
Nunca me fartarei de dizer ou escrever que te amo, nem de o demonstrar todos os dias.
Ainda hoje, o que eu adoro fazer amor contigo. Nossos corpos já não são jovens, sei que estou velhota, mas meu amor, sinto-me tão desejada por ti… o teu toque na minha pele nua, os teus beijos na minha boca… a tua língua a dançar com a minha dentro das nossas bocas, a maneira como me olhas, com desejo, os teus beijos nas minhas mamas grandes, a maneira como as chupas, e metes teus dedos na minha vagina, como tu lambes a minha vagina…metes a tua língua dentro dela… percorres as minhas pernas com teus beijos…com as tuas mãos… e me olhas no olhos, sentindo-me tremer… ouvindo os meus gemidos… olhando para a minha cara cheia de prazer… como me fazes sentir ser mulher… depois como me penetras, com esse pénis, velho amigo da minha vagina, mas cada vez que entra dentro dela lhe dá tanto prazer.
Adoro sentir teu pénis dentro do meu cu também, um tipo de sexo que muitas mulheres não praticam, lá terão as suas razões, mas feito com carinho e amor, é tão, mas tão bom, e tu e eu fazemo-lo diariamente, e acredita, é bastante prazeroso.
Não temos o vigor e a energia que tínhamos anos atras….mas meu amor, conheces o meu corpo célula a célula, sabes perfeitamente onde me tocar…quando me tocar em certas partes do meu corpo, para me dares mais prazer quando fazemos amor.
Sabes dantes fazer amor contigo era mais o tesão que eu tenho por ti, e eu tenho tesão por ti a toda a hora, mas agora fazer amor contigo é muito mais espiritual, estás muito melhor amante do que eras, e sempre foste um excelente amante, sempre me satisfizeste sexualmente, sempre me senti plenamente preenchida como mulher ao teu lado, meu amor, mas ao longo dos anos tornaste-te melhor amante, e agora quando fazemos amor, sinto-me tocar no céu, tal o prazer que em dás.
Sinceramente não sei mais que te escrever, meu amor, a não ser que tem valido a pena viver a vida ao teu lado, sentir-me amada, retribuir o teu amor por mim, e agradecer-te pelos nossos filhos, agradecer-te por tudo que me deste e que ainda me darás, esperando que o que te dei, e ainda te quero dar, te faça tão feliz com eu sou.
Poderia apenas ter escrito, numa linha apenas esta carta, que eu sei que ti entenderias, bastava eu ter escrito, amo-te Humberto.

Amo-te…meu principe, obrigado por me fazeres feliz, um beijo da tua Branca de Neve.

Francisca

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2 Comentários

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  • Responder Ana Moreira ID:1deit2e77v1m

    Uma escrita sempre bela, sem pudores e cheia de recordações quase todas maravilhosas! Parabéns!

  • Responder Lex75 ID:bt1he20b

    AvóXi… A senhora e má… Então agora cada vez que escreve faz- me chorar??? Que paixão essa sua pelo seu Berto. Que amor ❤️ tão lindo. Apaixonei-me por si. Realmente vive a vida como ela deve ser vivida, dando e recebendo amor. Espero ansiosa a carta do seu Berto.