Novos Anjos Parte 10

Depois de milhares de contratempos finalmente temos a parte 10, muitas desculpas pela demora e por favor aproveitem, espero que gostem.

Os dias posteriores transcorreram normalmente, ou quase, já que o Arthur só voltou para a escola na quarta feira seguinte, mas os professores estavam tão convictos a nos deixar sempre muito ocupados que poucas vezes conseguiamos pensar em coisas diferentes das tarefas da escola. Felizmente no terceiro dia da semana o Arthur apareceu, e junto comigo e com o Flávio começamos a nos encontrar mais vezes nos intervalos e fazer coisas juntos, sobre o nosso grupo eu propus que formassemos um grupo de estudo para ficarmos sempre juntos e fazermos os deveres de casa e trabalhos ajudando uns aos outros. Flávio ficou bem desanimado com isso sendo bastante do contra.

Ah caras- ele lamentou- não devia ser um grupo mais divertido entre amigos? Sério? Grupo de estudos…assim vocês me matam , eu só tenho 12 anos e vocês querem ter o que? 20? 25?
Sem drama né Flávio? Falou Arthur, veja bem, tem toda uma lógica nisso que eu e o Paulo já discutimos.
Então me explica que lógica é essa- disse desanimado- me matar de tédio?
Pensa bem Flávio- eu chamei- se o nosso grupo for um “grupo de estudos” vai ser muito mais bem visto e aceito pelas nossas famílias, tipo, não vão nem poder reclamar muito da gente ficar se encontrando várias vezes durante a semana já que teoricamente é por uma boa causa.
Vocês acham? Perguntou sem acreditar muito.
É uma ideia de gênio cara- se gabou Arthur- modestia a parte eu sou um gênio, hahaha. Pensa bem eu sou muito bom em Matemática, História e Ciências. O Paulo é excelente em Inglês, Geografia e Artes. A gente só precisa ir trocando um pouco os conhecimentos.
E eu? Perguntou Flávio.
Você… bem…você é um cara muito legal- e todos caímos na gargalhada.
Tá bom, eu concordo- disse Flávio- quem sabe se as minhas notas melhorarem o velho para de pegar no meu pé?
Então fica assim -falei- a gente podia ir lá pra casa na sexta feira, o que vocês acham? Nem precisa estudar esse dia, apresento o território pra vocês, na verdade o Arthur já conhece um pouco. Pode até virar nossa base temporária.
Vamos ser tipo um grupo de agentes secretos num clube então? Arthur disse com uma risada.
É uma forma legal de se ver- respondi.
Tá bom, já topei- falou Flávio- mas primeiro tenho que pedir permissão lá em casa pra ir na sua.
Tranquilo, e o Arthur pode ir comigo, dessa vez eu converso com o tio da Van, ele me leva pra casa e dá uma carona pra ir junto.
Eu posso ir também junto nesse horário se me convidar pro almoço, claro. Disse Flávio.
Besta, claro que eu convido, mas você mesmo que disse que ainda precisa confirmar.
Quando a minha mãe souber que é com vocês que eu tô saindo ela deixa sim. Mas aí será que o tio da Van dá carona pra mais um?
Dá sim, a minha Van não lota muito nesse horário de retorno, além do mais vou apelar pro sentimentalismo, já que vai ser a minha despedida da van.
Como assim? Perguntou Arthur.
Ah, é que a partir de agora o meu primo vai me buscar, ele agora tá de carro, semana que vem é aniversário dele e o vovô deu de presente.
Que bacana- falou Flávio- mas os dois gênios aí esqueceram de um detalhe né? O Tio da Van vai é ficar puto da vida por perder um passageiro.
Hahaha, é mesmo Paulo- disse Arthur-
Deixa comigo meus caros, eu sou o cérebro e vocês são os músculos.
Engraçadinho- disse Arthur- bora fazer uma aposta então? Vence quem tirar as melhores notas nas provas.
Afff, vocês já tão pensando em provas? Reclamou Flávio.
Queremos te transformar em nerd também- falei.
Vou pensar no caso, agora corram nerds- ele disse-o sinal está tocando, vamos voltar para a sala de aula, seu ambiente favorito.

Após as aulas nos despedimos como sempre e voltei para casa, no caminho lembrei do que havia falado sobre o Luca, o aniversário dele seria em breve e eu já estava pensando em convidar o Flávio também, era meio egoista da minha parte afinal de contas nem era meu aniversário mas com certeza meu primo não faria objeções e eu ia gostar bem mais se meus dois amigos estivessem lá. Na sexta-feira vou apresentar o Flávio lá em casa e combinamos tudinho.

Mais dois dias se passaram sem grandes novidades para se comentar, mas chegando na sexta feira finalmente vamos poder montar nosso programa.

Ei Flávio- chamei- tudo certo pra hoje a tarde?
Tudo sim, quando eu falei pra minha mãe que estavamos montando um grupo de estudos primeiro ela não acreditou mas depois só faltou mandar construir uma estátua de vocês. Aliás, cadê o Arthur?
Foi lá na biblioteca pegar uns livros pra gente usar hoje a tarde- respondi.
Ahhhh não, tá falando sério? A gente não ia só se ambientar hoje?
Hahaha, relaxa, eu tô te zoando,o Arthur foi devolver uns livros na biblioteca.

Fiquei com um pouco de pena do Flávio, ele estava realmente convicto que iriamos nos reunir para diversão, bem, não que não fossemos nos divertir juntos mas com certeza vamos estudar também. Não que fossemos pré adolescentes malucos que querem ser diferentes da maioria, claro que vamos aproveitar nossas juventudes, brincar muito e tudo mais que pudermos usufruir de bom em nossas vidas, mas a realidade estava batendo na porta, eu ainda não estava realmente adaptado as materias no Brasil, especialmente aquelas relacionadas ao país como língua portuguesa e história do Brasil, o próprio Arthur apesar de ser claramente o mais estudioso de todos nós ainda estava se adaptando a exigência maior da escola em relação as suas escolas antigas. Pra completar tinha o Flávio que não era lá muito fã de estudos, na verdade descobrimos que ele se esforçava apenas o mínimo para ficar na média e isso com muita pegação no pé de sua mãe.

No meu caso meus problemas não terminavam por aí, cometi um enorme “erro” de decisão, não quis conversar com o Arthur sobre tudo o que acontecera no hospital e agora com o passar dos dias nós raramente ficavámos a sós e quando conseguimos tempo para conversar era sempre sobre as aulas estudos e tudo mais, eu rapidamente percebi que o Arthur era um menino muito esforçado e estudioso, sempre estudou em escolas públicas e agora que recebeu a chance de uma bolsa integral em uma escola de elite não queria de forma alguma deixar essa oportunidade passar, claro um menino tão inteligente quanto ele mesmo sendo tão novo tinha plena consciência de que um futuro melhor dependia dos estudos.

Agora eu cada vez mais estava mergulhado em pensamentos, coitado do Flávio devia achar que eu não prestava atenção nele, mas eu tinha lá meus motivos, fiz besteira com o Arthur, quis deixar pra depois e agora, o que será que ele pensa toda vez que me vê? Será que acha que foi algo casual e já passou? Ou será que pensa que eu estou só enrolando ele? Ele realmente me ama? Eu realmente amo ele? Eu me sentia confuso demais com esses pensamentos, inevitavelmente Flávio percebeu.

Paulo, ei, Paulo, tá me ouvindo? Estalou os dedos para me “acordar”.
Hã? Tô ouvindo sim, me desculpa eu tava pensado sobre hoje a tarde como vamos organizar tudo…
Vamos simplesmente ir na sua casa e jogar conversa fora não é mais ou menos isso, você é meio esquisito sabia? Ele riu.
Esquisito como? Tá me zoando?
Ah, você e o Arthur são parecidos nisso, parece que pensam e falam que nem adultos sabia? Acho que você devia relaxar as vezes, curte um pouco mais a vida cara.
Curtir como? Tirando notas baixar e reprovando, depois não conseguir um emprego que preste e acabar trabalhando 12 horas numa lanchonete fast food?
Nossa, que dramático- disse Flávio. É tudo uma questão de saber equilibrar as coisas entendeu? Relaxa, respira fundo, aproveita as coisas da vida.
Puxa, que Filosofia de bar essa sua, hein? Você leu um livro de autoajuda?
Tá vendo só? Vai começar a falar que nem sabichão. Caiu na risada e eu o acompanhei.
Hahaha, bobalhão. Ei vamos na biblioteca? O Arthur tá demorando.

Nem precisamos ir muito longe, logo ao dobrar o corredor avistamos Arthur, e que linda visão, o menino estava com um sorrisso de ponta a ponta, alguma coisa muito boa deve ter acontecido e pela pressa dele com certeza estava ávido por nos contar a novidade.

Ei pessoal, tô aqui- gritou Arthur quase derrubando um de seus livros- vocês nem imaginam a novidade fantástica que eu acabei de saber.
Recupera o fôlego Arthur- disse Flávio- que novidade é essa toda?
Então… deu uma respirada profunda- eu encontrei a sua mãe saindo de uma reunião na diretoria e ela me contou que vão ter umas mudanças na escola.
Mudança na escola? Falei- e como que nem o Flávio sabe?
Ah não- reclamou Flávio, acho que já sei o que é sim, eu não contei antes porque a minha mãe disse que ainda não tava nada certo, mas eu ia contar, claro.
Agora eu que tô boiando aqui, sou o único ignorante da história toda- ri.
Tá bom- disse Flávio- Arthur como presente eu vou deixar você contar a novidade.
Tá bom, mas agora nem sei se é o mesmo assunto.
É sobre o Integral né?
Uau, é isso mesmo, cara tô muito feliz, a sua mãe disse que vai começar a partir do segundo semestre e também que ia expandir a minha bolsa pra que eu pudesse ficar no integral com todos.
Pois é pequenos nerds, eu sabia que vocês iam adorar a noticia.
Eu amei- respondi- Mais tempo pra gente ficar juntos- olhei pro Arthur e imediatamente percebi minha gafe. Hã quer dizer, todos nós, claro.
Tá tudo certo pra hoje a tarde na sua casa né Paulo? Perguntou Flávio.
Claro, eu falei com o Tio da van e ele dá carona pra gente, a minha tia disse que ia deixar almoço pra gente, vocês tão levando uma roupa pra trocar não tão?
Pior que não- disse Flávio.
Nem eu- falou Arthur- Esqueci completamente.
De boa- falei- Eu empresto pra vocês umas roupas e a gente vai pra piscina.
Piscina? Indagou Flávio num pulo, já tô começando a gostar mais desse grupo de estudos, hahaha
É só hoje viu? Falei- pra gente ir se ambientando e vocês conhecem o pessoal lá em casa.
Vocês estão esquecendo de uma coisa muito importante- falou Arthur.
O quê? Perguntamos quase juntos eu e Flávio.
O sinal já tocou, estamos atrasados para a última aula, vamos correr.
Meu Deus e só agora você avisa? Gritou Flávio meio desesperado.

Saímos que nem loucos correndo pela escola, estranhamente Arthur que deveria ser o mais preocupado ficou pra trás, mas imaginei que fosse por conta dos livros que carregava, corremos, viramos, pra esquerda, direita, passamos da quadra de esportes, caramba só agora percebo que a escola é tão grande? Finalmente vejo a porta da sala de aula se aproximando, olho pra trás e vejo o Flávio ofegante quase se atirando na maçaneta da porta que se abre com força e temos a visão de uma sala… vazia. Olho novamente pra trás e consigo avistar Arthur chegando e rindo quase sem controle.

Hahahaha, vocês deviam ver a cara que fizeram, foi engraçado demais, esqueceram que a última aula hoje era vaga?
Arthurrrrr, eu te mato- falou Flávio ofegante- Que brincadeira boba.
Ah, tá, desculpa- respondeu ele ainda rindo muito- Mas não foi divertido?
Divertido pra você- falei- meu pulmões parece que vão pegar fogo, preciso urgente de um tubo de oxigenio.
Sempre dramático- disse Arthur. Hahaha- Não fiquem bravos comigo, vocês precisavam de um exercício.
Muito engraçado mesmo hein? Flávio olhou com cara de bravo.
Me perdoa, eu não resisti- disse Arthur.
Tá bom, como prova de que eu perdoei vou ali trazer uma coca, tô morto de sede com essa corrida, vocês querem? Por minha conta hoje- puxou uma nota de 20 do bolso.
Tá rico hoje Flávio- falei- eu aceito sim, obrigado. Vamos te esperar aqui, eu preciso recuperar o fôlego.

Ficamos eu e Arthur na sala de aula enquanto Flávio foi comprar os refrigerantes, pronto, depois de vários dias chegou um momento em que de novo ficamos sozinhos eu e Arthur. Alguns segundos de silêncio dominaram o ambiente, foi o tempo em que juntei forças e criei coragem pra começar a falar.

Então… é… como você está esses dias? Perguntei pra começar uma conversa.
Tudo bem…quer dizer… normal né? Respondeu
E o seu pai? Vocês já conversaram depois daquele dia?
Ele… ele tá lá seguindo o tratamento dele, até foi em umas entrevistas de emprego depois, tá tudo tranquilo, eu acho.
Fico feliz em saber disso e…
E o que? Perguntou Arthur curioso.
D- desculpa- guaguejei- sobre aqueles dias…não quero que você pense que tô evitando o assunto… você sabe… aquele assunto…
Tudo bem- falou baixinho- a gente quase não consegue ficar sozinhos né?
Somos nerds muito estudiosos? Sorri
Somos? Arthur se aproximou do meu rosto.
Eu não queria que você achasse que tô enrrolando, eu na verdade tô muito arrependido de não ter falado sobre isso logo naquele dia.
E como iámos falar se toda hora alguém batia na porta? Além do mais foi bom ter um tempo pra pensar.
E você pensou? Perguntei- se arrependeu de alguma coisa? Me afastei um pouco.
Não, o que eu disse e penso não mudou, só aumentou com o passar dos dias. E você?
A mesma coisa- olhei nos seus olhos.

Claro, agora era o timing perfeito pra um outro beijo maravilhoso, mas logo veio o barulho da porta, era Flávio voltando com uma coca de 1 l e um monte de salgadinhos. Novamente vamos ter que esperar outro momento.

Nossa Flávio- falou Arthur espantado- esses 20 Reais renderam bastante, hein?
Tavam sobrando lá na cantina, me venderam super barato, melhor que deixar estragar né?
Vamos correr então pra comer isso aí que daqui a pouco a van vai chegar, eu e o Paulo estamos ficando mestres em perder a hora- riu Arthur.
Não esqueçam que tem almoço lá em casa- falei.

Comemos o pequeno lanche e depois de arrumar nossas mochilas fomos aguardar a van, seguimos a caminho de casa onde finalmente o Flávio iria conhecer meus primos, mas eu só conseguia pensar naquilo que Arthur tinha me dito antes, como ficarmos mais tempo a sós? Eu ia bolar algum plano com toda certeza.

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