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3269 palavras | 1 |3.30
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Um conto lésbico adolescente num futuro distante.

Nove dias até o casamento.
1.1
— Isso é mesmo necessário? — a primogênita dos Awælésfér atraía a atenção do pai. Estavam numa nave, nos céus da colônia espacial Feras na órbita do gigante gasoso Tessália. Longos campos verdejantes formavam plantações de especiarias incontáveis em todas as direções. A nave era pilotada pela IA da família, que respondia pela alcunha de Nébula. A filha ainda insistia com o pai, vendo esse a ignorar. — Não podemos nos ver apenas no dia do casamento? O que tenho para falar com ela? E ela comigo? Não vê que é também constrangedor para a filha de mestre Vílkás?
O pai, gordo e cansado, já com trezentos e seis anos, tendo passado por quatro trocas totais de órgãos, expirava fumaça na nave da família, essa que tinha uma grande janela vítrea onde se viam as propriedades rurais nos centros dos hectares de plantio.
Muitas das casas possuíam naves próximas dos edifícios. Quadras esportivas, e compartimentos autômatos, com drones e androides cuidando das plantações, eram comuns.
Aos que viviam nas cidades entre as nuvens de Tessália, ou nas metrópoles nas luas próximas, Alceste, Apolo e Tânatos, aqueles que viviam nas colônias, Feres, Héracles, e Êumelo, eram burgueses. Ricos, diziam. E não estavam errados se comprassem as riquezas das famílias que cuidavam do campo com a daqueles que dividiam apartamentos entre cidades com bilhões de fodidos sobrevivendo de auxílio governamental ou subempregos para megacorporações, no entretanto, os verdadeiros senhores do universo se quer se aproximavam dos sistemas estelares superpopulosos.
— Pai! — a menina de quatorze anos buscava a atenção do velho pai.
— Seguimos as tradições. E você verá sua noiva da mesma forma que veria seu noivo se assim fosse necessário. Ligações consanguíneas são mais comuns hoje em dia. Para os herdeiros, meu sêmen e o sêmen de mestre Vílkás podem assegurar a sobrevivência de nossas casas. Não há nada a ser feito quanto a isso. Ainda não inventaram uma forma de duas mulheres gerarem uma criança, infelizmente.
— Eu não quero que enfiem seu sêmen em mim!
— É um tratamento como qualquer outro. Ou, talvez, possamos arrumar as coisas entre nós, como quando você era menor. — o pai encarou os olhos azuis escuros da filha e inquiriu. — Ainda lembra de nós dois?
— Como esquecer? — ela suspirou irritada. — Você não podia ficar sozinho comigo que me enxia de beijos. Onde em meu corpo há toque que não tenha o sabor de seus lábios? Por outro lado, ainda é meu pai um homem. Que uma mulher fará comigo?
— Fará o que bem quiser. — o pai corrigiu a filha. — É o direito dela.
— Eu gosto de homem! — insistiu a menina, que tinha seios fartos, mas que ao assumir posturas cismadoras não diferia de uma pirralha. O pai não conseguiu segurar o riso:
— E eu de minha filha. Nem eu tenho o que quero, e nem tu. Agora escuta que sou homem e devo a outro homem. Antes de seu nascimento, quando Vílkás e eu nas guildas éramos guerreiros de nosso Sacro Imperador, meu juramento e o dele se completaram. Que culpa temos se duas meninas nasceram de nossas esposas?
— Entre uma mulher e meu pai, prefiro o meu pai! — cisma e mais cisma infantil. A menina subiu no colo do homem, que a segurou no rosto, sentindo os fios pretos correrem pela face adolescente.
— E eu escolho minha filha acima de qualquer mulher ou homem.
— Então! — a menina se encheu de esperanças e velou a boca aos lábios só pai, que desviou, explicando:
— Acima de um homem e de uma mulher há honra, e isso não se quebra. Minha palavra é uma jura, e o respeito ao mestre que me salvou a vida é pacto. Como quebraria tamanha santidade? Antes à morte me atiro que de meus votos me desfaço.
— Santidade? Que tal ateísmo? Tantos são os que não creem? Me leve para casa e me deite na cama de sua esposa. Serei tua mulher, ou, como dizem os servos, sua escrava.
O homem beijou a testa da menina, e a afastou para o assento ao lado:
— É minha escrava, e por isso se casará com a primogênita dos Borgianwä.
— Não pode esperar a mamãe ter um filho homem? Quanto tempo isso pode levar?
— Você não é mais uma criança. Então, é tempo de falar sobre sua noiva. Mœg’Tullam Borgianwä já tem vinte e sete anos. Sua mãe tardou em me dar um herdeiro, e sabe como ela é com tecnologia, se quer vai ao médico. Nenhum auxílio externo foi aceito. Ela é um bicho do mato.
— E a desgraçada não arrumou um pretendente até os vinte e sete anos? — surpresa e irritação esculpiam o tom de Gryzækov olfren Awælésfér.
— Escuta, que é sério o que digo. Ela, desde muito nova sofreu nas mãos de um tio. E não é virgem como a minha menininha.
— Sou virgem porque você torava meu cu e me alimentava com porra! Só não perdi o cabaço!
— Não importa, é virgem. — o pai, sereno, tornava à história de Mœg. — A esposa de mestre Vílkás decidiu morrer pouco tempo depois do nascimento da menina, e ela foi cuidada na casa de um dos tios. Ele também era de nossa guilda, e a mim, tinha o valor de um irmão.
— Que porra de irmão. — observou a adolescente.
— É, de fato. Ele a abusava diariamente. E não existiu paz para a pequena durante anos. Dos sete ao quatorze anos a criança foi mulher na cama do crápula. E não como você foi minha amante. Eu te amei, ele não. Ele visava a destruir. Há na queda da beleza, no apodrecer da pureza, no adoecer da inocência, algo que só os maus enxergam como alegria. Eles se alimentam disso. E não há de dor medida que satisfaça o ébrio corruptor. São insaciáveis. Nesse tempo era a bela Mœg’Tullam prometida de um jovem da Schelfan’yr. Ele, que se recusou a receber entre os braços uma mulher já maculada.
— Que terrível. Ele cancelou o casamento!
— Sim. E mesmo diante da nobreza do mestre não existiu pretendente à bela primogênita. E foi assim até eu descobrir essa história. Quando soube, me ajoelhei diante de Vílkás, e jurei a mão de meu primogênito. Enquanto isso a filha dele envelhecia. E hoje, com meu amor completando quatorze e vossa futura amada completando vinte e sete, a jura se completa. Como manda a tradição. Nove dias antes do casamento acontece o encontro entre noivo e noiva, ou noiva e noiva. E depois só se encontrarão no altar.
— Assim me faz de desprezível ao ansiar outro se não ela. — Awælésfér desistia.
— Orgulho é o que tenho de quem mais amo. — o pai segurou o rosto da filha e a beijou. As linhas se encontraram e ela sentiu as coxas acenderem, quentes. E depois, para o provocar, ela separou os lábios deles, explicando:
— Agora esses lábios são de minha noiva. Degusta meu último gosto. — e afastando as mãos do pai, ela concluiu. — Aprecia também os últimos toques.
— Eu mereço… — lamentou o pai antes de voltar a fumar o cachimbo soprando fumaça no metal da nave.
1.2
A mansão dos Borgianwä, em metal e madeira de cedro, surgiu no alto da colina. Alguns drones sobrevoavam uma estação energizada, recarregando para o restante da estação.
Assim como na Terra, o berço da humanidade, as quatro estações existiam emuladas por um sistema que copiava as antigas alterações climáticas. A própria Terra já não existia, contudo, os ciclos de dia de vinte e quatro horas, as semanas se sete dias, e os antigos meses, ainda possuíam os mesmos nomes e medidas. Uma herança que jamais se perderia.
Mesmo as raças alienígenas, incontáveis pelo infindo espaço, não influenciavam aos antigos costumes da humanidade.
A mansão seguia pela terra, e abaixo, no metal da colônia espacial, que olhando do espaço era semelhante a um cilindro vitrificado onde se viam as extensas plantações. Plataformas menores, também protegidas, mas sem moradores, eram ligadas por passarelas ao corpo principal da colônia espacial Feres. Nessas plataformas existiam plantações de árvores frutíferas cuidadas unicamente por inteligências artificiais e drones.
Eram os nobres os programadores das inteligências artificiais. E o patriarca dos Awælésfér devia tudo o que sabia ao patriarca dos Borgianwä, o mestre Vílkás, ainda mais velho que o barbudo descendo da nave com dificuldade, sendo ajudado pela filha.
Era incomum que as meninas deixassem o lar antes da idade do alistamento. E as meninas que não eram primogênitos só deixavam a casa dos pais nove dias antes do casamento, e no casamento propriamente dito. Aquela era a primeira vez que mestre Vílkás via a adolescente Gryzækov:
— Como está crescida essa menina! Será uma linda esposa para minha preferida. — Vílkás não via Awælésfér desde os seis anos dessa. E a preferida de Vílkás assim o era devido às outras filhas e filhos pertencerem a outros casamentos, relacionamentos que não eram nada além de problemas ao velho homem. — Entre. Mœg lhe espera na biblioteca, ela está ansiosa, não a tome por afoita. É também o alistamento o que ela aguarda.
— Sim, meu bom senhor. — respirando fundo. Segurando o longo vestido verde tão escuro que tocava o tom negro, a Awælésfér caminhou até a entrada da mansão. Uma androide, que era como máquina antiga, com cabos e fios à mostra, sem aspecto humano, apontou a direção do segundo andar.
Os homens se abraçaram e não tardou para caminharem no gramado, chegando até uma construção de madeira onde bancos e uma mesa com uísque o aguardavam.
Enquanto subia as escadarias principais da mansão, a filha escutou o riso do pai ser acompanhado pelo de Vílkás.
No segundo andar, a maior das portas revelava estantes em até três andares. Livros e pergaminhos a perder de vista. Colunas e novas estantes acompanhavam os passos de Gryzækov até o oposto da sala. Numa poltrona, uma mulher, num vestido carmesim e branco, longo, e com rendas escorrendo ao chão frio de metal, a aguardava.
Um drone serviu o chá, e até mesmo adicionou açúcar mexendo as colheres mas xícaras com pequenas hastes metálicas. Depois de servido o chá, o drone em metal negro, pouco maior que uma cabeça humana, seguiu até uma das estantes próximas e iniciou o trabalho de limpeza.
— Sou sua futura esposa, Mœg’Tullam Borgianwä. É um prazer conhecê-la. — a mulher tinha longos fios escarlates, lisos, que encaracolavam próximo das pontas, na altura dos fartos seios, ela usava um decote chamativo. A expressão séria dela, os lábios vermelhos, e os olhos atentos, também azuis, como os de Awælésfér, tornaram a apresentação da noiva algo advindo apenas após o apreciar silencioso de tamanha beleza:
— Sou sua futura esposa, Gryzækov olfren Awælésfér. O prazer é todo meu.
A ruiva levantou da poltrona e deu a volta ao redor da adolescente. Que com o rosto corado não soube como iniciar qualquer diálogo.
— Você sabe do meu passado? — Mœg indagou. — Das imundícies, sabe ou precisarei te explicar o motivo de ainda permanecer solteira?
— Sei, minha senhora…
— Senhora? Você é minha prometida. Use meu nome. O nome de meu pai. Aliás, me chame de amor, ou do que preferir. — a ruiva se aproximou da adolescente e tocou os lábios dessa, de forma bruta, a segurando, forçando as línguas num beijo que persistiu enquanto o robô drone desceu uma fileira de livros, continuando a limpeza. — A sós lhe dou até o direito de me chamar de vadia, puta, ou como ansiar.
E a ruiva prosseguiu, encarando os olhos a fitando:
— Tem nojo de mim? Minha pureza foi arrancada e no lugar depositaram tanta podridão que hoje não me diferencio de meu violentador. A febre dele me é norte.
— Não, Mœg…
— Tenho o poder de encerrar esse casamento, mas só o farei diante de nojo. Não forçaria você, ou qualquer outro, ou outra, a dormir ao lado de quem despreza. Todos os outros sentimentos podem ser alterados, ou aprendidos.
— Você não me enoja. Seu tio sim. O que aconteceu com ele?
— A vingança foi feita. E seu pai foi o responsável. Ele foi morto, depois de alguns anos de tortura. Esse é um passado que já me abandonou. Dele meu ódio é maior por não poder me casar.
— E buscava tanto assim um amor? Ou, compartilhar a cama com alguém?
— Ambos, mas, acima desses objetivos carnais, existe algo superior. Para se alistar é necessário estar em matrimônio. E, ao contrário de nossos pais, que com códigos e programações ajudaram as guildas e o exército contra as ameaças à Império, eu, minha amada, luto com a aura. Não há um dia que não treine. E é o sabre de luz a minha arma.
Os sabres de luz, entre uma infinitude de outras armas, eram alimentados pelas auras dos portadores. Munições comuns, e até mesmo disparos com armas de longo alcance, não afetavam as auras ao redor dos corpos dos chamados Eleitos, aqueles que vibravam na mesma frequência da realidade, os maiores guerreiros desse tempo, os Funestos.
— Que coincidência. — assumiu Awælésfér. — É essa a minha arma também. Para o terror de papai que tanto buscou alguém para o auxiliar no laboratório. Tenho treinado também, mesmo que sem tanto afinco.
— Seus olhos desviam dos meus. — Mœg observou, atraindo o olhar da adolescente.
— Sempre me imaginei casando com um homem. — confessou Gryzækov.
— E como um homem pode lhe agradar mais que eu?
— Bem, ele tem… — a palavra era indelicada demais para a adolescente, tudo bem a dizer na frente do pai, mas, ali, diante da prometida, era diferente.
— Pensa pequena esposa. Primeiro, que pênis é maior que meu punho? Segundo, se não for o bastante, que rola é maior que meu braço? E se é formato o que busca, que caralho não pode ser comprado, em qualquer tamanho e largura, de látex ou qualquer outro material, eu posso usar um cinto. Ou, se exigir, faço a cirurgia e troco minha boceta por uma pica do tamanho exato da entrada até seu útero, ou deixo um pouco maior, para bater na entrada do útero, sei como isso pode excitar, fui feita de puta por um doente, mas teve seus bons momentos.
Algo tão banal, pensou Awælésfér.
A adolescente se envergonhou de não ver algo tão simples.
— Ou é porra o que deseja?
— Não, isso não. — assumiu a filha que tanta porra comeu do próprio pai por tantos anos.
— Fala com propriedade? Já teve alguém? É você, como eu, uma não virgem? Confesse. Não tem nada a esconder de mim, que em sua cama te farei mulher.
— Não. Bem… — Gryzækov olfren Awælésfér possuía muitos segredos, mas sentia não conseguir guardar da ruiva a encarando de perto.
— Se é por vergonha, perca isso. Meu violador tinha uma coleira e uma corrente, e eu era dele o animal. Como um relógio, por anos, de meia em meia hora ele me alimentou de porra. E quando sentia vontade me fodia o cu. E muitas vezes tirava horas para fazer minha boceta gozar, fui dele escrava dos mais imundos desejos. Não há algo que sua mente possa conceber que ele não tenha, por dezenas de vezes, realizado com a criança que fui. Vergonha? De mim? Nunca minha amada. Eu é que devo me desculpar por apresentar tamanha desgraça diante de imensurável pureza.
— Diante de tantas verdades e confiança. Como posso me calar? Não insista, pois, se conto apenas parte do que vi, e vivi, e por apenas uma parte ter o direito de compartilhar. Existiu alguém para mim, mas, não como para você. Existiu um homem que amei.
— Um homem? — surpreendida, a ruiva sentou e puxou a morena para o colo. — Conte, quero saber, ele te amou?
— Não sei se como uma mulher ou como uma deusa.
— Ele comia seu cu?
— Sim. — Gryzækov corada assumiu.
— Então te amou como uma mulher. E que mais ele levou de ti?
— Muito, contudo, não a virgindade. De resto, também me alimentou daquilo, e até usei de sêmen como maquiagem. Esses homens são uns pervertidos.
— E nós também. — a ruiva observou.
Demorou um pouco, porém, Awælésfér aceitou:
— Sim, nós também.
As bocas se encontraram. E elas permaneceram unidas. Com a ruiva segurando a boceta da adolescente por cima do vestido, e com a adolescente segurando os seios da mulher com as duas mãos, por dentro do decote.
Os mamilos de Mœg endureceram, e quando as bocas se separaram a baba ainda as unia.
Mœg devorou a saliva e tornou a beijar a adolescente, que retribuiu sentindo a boceta segura esquentar na mão da mulher.
Pouco foi dito após o início dos beijos, e só deixaram a posição para voltarem a se beijar de novo mais confortavelmente. Por fim, antes de se despedirem, Mœg prometeu:
— Só nós veremos de novo diante do altar. Como você foi jogada nisso contra a vontade, e eu não sou o que você esperava, lhe permitir ter um amante, aquele que você ama. Farei que não vi, e até o aceitarei em nossa cama. Essa, minha criança, é minha prova de amor.
— Se engana, meu amor. — ao aceitar a condição em que estava, Awælésfér disse adeus ao passado. — Aquele que amei já não amo. E é você minha escolhida. E não me tenha como moderna. Exijo de tu o que oferto, amor para uma e ninguém mais.
— Se oferta tanto a mim, que palavra tenha se não juramento? Sou sua, para sempre!
Um novo beijo, e os pais das duas chegaram na biblioteca:
— Se entenderam melhor que o esperado. — ébrio, o gordo pai de Awælésfér não perdia o sorriso.
— Não a agarre desse jeito! Tenha modos, Mœg’Tullam! — a reação de Vílkás diferia, mas se via nele semelhante alegria que a transparecendo no amigo.
— Eu é que a agarrei. — com os braços no pescoço de Mœg, a voz de Gryzækov era provocação, mas acalmou o mestre. — É a minha esposa, não?
E todos riram.
Enfim, havia alegria na casa dos Borgianwä.

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PéssimoRuimMédioBomExcelente
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1 comentário

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  • Responder Mary ID:phsqzx7zygu

    Adorei o conto, quando será que irá sair mais?