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Amores Opostos Parte 7

2324 palavras | 7 |4.76
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Estamos de volta com Amores Opostos, espero que todos possam apreciar as novas aventuras.

Aquele beijo me pegou de surpresa, não apenas o fato de que um pirralho daquela idade saber beijar daquele jeito mas também o beijo em si, eu já beijei garotas, mas nunca um garoto, quer dizer… não que eu tenha nada contra mas aquilo realmente me deixou sem reação, talvez por isso mesmo tenha demorado mais tempo do que eu imaginava mas alguns segundos depois voltei a mim.

O que você tá fazendo? Para com isso. Me afastei soltando-me de sua boca.
Desculpa- ele disse em tom passivo e visivelmente abalado com minha recusa.
Que droga André, o que diabos você tem na cabeça? Falei alto.
Me perdoa, me perdoa- ele sentou no sofá ao lado com as mãos no rosto em prantos. Eu sou maluco mesmo, não tem como você ou qualquer pessoa gostar de mim nesse mundo.
Para de se fazer de vítima- falei- você que não colabora, quantas vezes estendi a mão tentando um gesto de amizade e você negou? Você me chamou de estranho hoje, Aquilo doeu sabia? Reclamei.
A gente mal se conhece- ele falou.
Exatamente a gente mal se conhece, como você pode achar que me ama? Na verdade mais parece que você me odeia isso sim, droga, você tá me deixando muito confuso, sabia?
A minha cabeça é uma bagunça mesmo, me desculpa. Falou num soluço.
Você já disse isso antes, vai ficar usando isso como desculpa pra tudo? Ou a desculpa que você mais prefere usar é a do Bruno? Indaguei sem lembrar o quão perigoso era cutucar esse ponto fraco dele.
O que você sabe sobre o meu irmão? Ele gritou parando de chorar e apontando o dedo com raiva pra minha cara e fazendo menção de partir pra cima de mim. Segurei suas duas mãos com força e o encarei.
Sei várias coisas que sua mãe disse e olha eu sinceramente sinto muito pelo seu irmão, quer você acredite ou não tô sendo sincero e verdadeiro, vê se para de ficar todo agressivo toda vez que alguém fala do assunto, você não é todo inteligente, bota a cabeça no lugar moleque- Falei muito sério e até ríspido o que pareceu até assustá-lo um pouco mais foi o suficiente para desarmá-lo.
O que ela disse? Ele perguntou voltando a se encostar no sofá meio que conformado.
Ela disse que você perdeu o pai muito cedo, e que o seu irmão pela diferença de idade acabou sendo visto por você como um irmão e como uma figura paterna também, disse que ele morreu num acidente de carro que você estava junto com ele mas não se feriu muito.
Só me arranhei- ele disse derramando lágrimas baixinho- o Air bag do carro amorteceu a batida, mas mesmo assim não foi o suficiente pra fazer o mesmo pelo meu irmão…
E por que essa agressividade toda quando alguém fala do assunto? Por que mesmo que alguém te estenda a mão você recusa de forma tão grosseira e afasta as pessoas? Eu percebi ontem a noite que não é isso que você realmente quer.
Eu…eu…eu não sei- ele gaguejou…nem sei como… nem sei como tô conseguindo falar agora…
Tenta falar… as vezes falar ajuda, sabia? Desabafar um pouco, olha eu tenho uma proposta pra você.
Que proposta? Ele perguntou curioso.
Vamos fazer de conta que nada aconteceu até agora e tentar começar do zero?
Não gosto de “fazer de conta” isso é coisa de criança. Ele resmungou.
Mas você é criança, sabia disso? Será que tudo isso te fez esquecer?
Não fala assim. André disse fazendo menção de ficar irritado novamente.
Quer saber de uma coisa André? Eu posso não ter conhecido o seu irmão e nem saber os detalhes sobre a vida dele ou a sua, mas de uma coisa eu tenho certeza, se ele realmente te amava de verdade o maior desejo dele que você fosse feliz.
Não , não, você não sabe de nada, maior desejo dele era… era… droga…droga… Por que eu não fiz o que ele queria? Por que eu não fiz o que ele queria? Meu irmão morreu por minha culpa, foi minha culpa, eu que devia ter morrido naquele dia. Falou melancólico enquanto se encolhia no sofá num choro sofrido que agora me deixava angustiado, eu não sabia mais como medir as palavras, não entendia mais o que poderia melhorar ou piorar a situação.
Desculpa, estendi a mão e coloquei no seu ombro em um gesto que surpreendentemente ele não rechaçou- Você tem toda razão, eu não sei de nada, mas com certeza existia carinho e amor entre vocês, esse mesmo amor que tá aí tão profundo no seu coração e você tem tanta dificuldade de colocar pra fora.
Eu não sei mais o que eu faço da minha vida, eu nunca vou saber se o que eu faço é o suficiente pra deixar ele satisfeito, nunca vou saber se o que eu faço era exatamente aquilo o que ele queria.
E o que ele queria André? Perguntei.
Acho que preciso arrumar forças pra conseguir contar a história toda pra você.
Você só faz isso se você quiser, não vou te forçar a nada. Fiz um carinho em seu rosto que ele também não recusou.
Você é o único que me ouve, eu sou tão insuportável e mesmo assim você não desiste de mim, me diz o motivo?
Eu… eu simplesmente não consigo ver nos olhos de alguém um sofrimento tão grande e ficar sem fazer nada.
Você tem piedade de mim? Você sente pena não é? Ele lamentou.
Não acho que sentir pena serviria de alguma coisa pra ajudar, só iria ferir o seu orgulho não é mesmo? Não, não é de pena que você precisa.
Vamos pro meu quarto? Ele perguntou- Eu preciso deitar um pouco, eu… vou te contar tudo.
Tudo bem, vamos- respondi enquanto o ajudava a se levantar e nos dirigimos ao seu quarto.
Senta aí, ele apontou a cadeira próxima da cama enquanto se acomodava deitado.
Obrigado- falei num tom mais amistoso.
Olha… antes de mais nada me desculpa pelo que eu fiz e disse eu acho que me deixei levar com… com aquele beijo.
Se o que te preocupa é algum tipo de preconceito eu não tenho nenhum. Lhe interrompi.
Não, tudo bem, não é exatamente isso, até porque pelas nossas idades , principalmente pela minha acho que isso é a coisa que a gente menos deve pensar né?
Ah, agora você lembrou que só tem 10 anos não é? Eu não vejo problema nenhum nisso, pra começar por que isso parece te ofender tanto? Ninguém disse que você é criança no sentido de te insultar, apenas você é criança, é o que você é neste momento.
Pensando racionalmente você está coberto de razão- disse André.
E ninguém pensa mais racionalmente do que você, cara você é inteligente muito acima de qualquer um na escola toda, como alguém tão inteligente toma atitudes tão burras o tempo todo?
Hahaha- que engraçado, ele deu uma risadinha- A poucas horas atrás eu acho que se ouvisse a palavra “burro” de alguém pra mim ia ficar muito bravo, mas sim, você tá com razão de novo.
Você sempre foi inteligente e estudioso assim? Perguntei curioso.
Coincidência ou não… acho que é aí que começa a minha história…
Estou ouvindo- Falei num tom sério.
Já faz tanto tempo que eu não converso com alguém… e nunca sobre o Bruno, nunca, nem com a minha mãe nem com quem quer que seja…
Só fale se você estiver à vontade com isso- Segurei sua pequena mão e mais uma vez tive a surpresa de não receber uma recusa dele.
O meu irmão era um cara muito legal, sabe? Ele cuidava tanto de mim, não deixava na de ruim me acontecer, nunca. Quando eu ficava triste me consolava, quando eu tava sozinho me fazia companhia… mesmo sendo adulto.
Ele fazia muito bem o papel de irmão mais velho, eu sei bem como é isso.
Mas naquele dia… naquele dia… ele tava bravo comigo… ele nunca ficava bravo comigo mas eu consegui fazer ele ficar bravo… André colocou as mãos no rosto e começou a chorar novamente.
Vem cá André- coloquei as mãos em seus cabelos- se for tão dificil não precisa continuar.
Não, agora que eu comecei e preciso sim, preciso muito colocar isso pra fora agora, nesse momento.
Tudo bem- mas saiba que eu tô aqui com você. Falei tentando ser carinhoso.
Todo mundo pensa que eu sou superinteligente e estudioso mas nem sempre foi assim, pelo contrário, eu era muito preguiçoso, queria brincar o tempo inteiro, jogar bola, ir pra piscina, mas nunca estudar a sério.
É um pouco dificil imaginar você assim- sorri numa tentativa de animá-lo.
O meu irmão era muito sério nos estudos, ele queria se formar em Direito, queria ser juiz que nem a nossa mãe, chegar até o Supremo, ele dizia que era um sonho um dia ser Ministro.
Todo sonho pode se tornar realidade se a gente se esforçar muito- falei.
Sim, mas e eu? Ele olhava pra mim e via que eu não queria nada com nada, eu cheguei ao cúmulo de quase reprovar no 1º e 2º Ano do fundamental. Naquele dia eu já estava no 3º Ano e tudo indicava que a história ia se repetir, até pior, eu acho que eu ia mesmo ser reprovado, naquele dia eu matei aula só pra poder passar o dia inteiro jogando bola com os moleques da rua.
Toda criança faz isso as vezes, não é pecado nenhum- falei.
Mas pra ele foi a gota d’agua, ele perdeu o dia dele de aula na Faculdade me procurando que nem um louco pela cidade, quando me achou ele me arrastou do campo de futebol mesmo eu berrando e gritando de raiva por aquilo.
Sinto muito por isso- eu disse.
Ele me colocou a força no carro, mas eu não parava de fazer birra e discutir, ele tava furioso como nunca, era a única coisa que deixava ele irritado, acho que ele tinha ideia de como pode ser ruim o futuro de alguém que não estuda, principalmente quando se tem todas as oportunidades que eu tinha e as recusava por preguiça.
Acho que agora eu estou começando a entender- Apertei sua mão com mais força.
No caminho de volta aconteceu aquilo… eu não lembro o que causou o acidente, não lembro de nada, tudo o que eu lembro é de ter acordado dentro do carro de cabeça pra baixo sem conseguir me mexer, o impacto foi tão forte que o cinto de segurança do meu irmão se partiu e ele…ele… ele estava em cima de mim…não ele…só o corpo dele…ele estava morto em cima de mim…ele sangrou até a morte em cima de mim… ahhhh- André colocou as duas mãos sobre a cabeça e começou a gritar e chorar bem alto- Ahhhh, a culpa foi minha, se eu ao menos tivesse feito o que ele disse, se eu estudasse mais, se eu não tivesse matado aula naquele dia, meu irmão ainda estaria vivo, eu matei o meu irmão, eu que matei ele…
Calma André… calma… eu tentava contê-lo enquanto ele se debatia fortemente. Você não tinha como saber, não foi culpa sua.
Você não entende…o meu irmão morreu… ele morreu com raiva de mim, ele fez tudo por mim, cuidou de mim e morreu com raiva de mim…

O quebra- cabeças estava começando a fazer sentido, o quanto ele se sentia culpado por não estudar como o irmão querido pedia, o que explicava o motivo de agora ele ter abandonado quase tudo na vida para se dedicar apenas a estudar e ser o melhor em tudo o que pudesse. Aquela dor que eu via ele sentindo era tão forte, quase palpável, eu me envolvi demais, agora não poderia de jeito nenhum largar esse menino assim desse jeito. Finalmente consegui conter André num abraço, ele se entregou completamente ao não conseguir se desvencilhar de mim e agora apenas chorava e chorava em meus ombros.

Tá tudo bem… tá tudo bem- eu falei tentando lhe consolar- Eu não vou te deixar sozinho, não vou.
Por que você não desiste de mim, eu sou problemático demais, eu não sirvo pra ninguém.
O seu irmão foi lá te buscar… ele fez isso porque ele não queria te ver crescer e sofrer, ele não ia nunca desistir de você, a raiva que ele tava… raiva é uma coisa de momento, mas uma raiva de momento nunca vai poder ser maior que todo o amor que ele demonstrou por você durante toda sua vida…pensa nisso.
Você é tão…tão maduro…como você consegue? André indagou enxugando as lágrimas.
Não sei explicar, mas podemos aprender juntos um com o outro, o que você me diz?
Miguel, você quer ser meu amigo? Ele perguntou me olhando profundamente nos olhos.
E não é isso o que eu quis desde o primeiro dia? Respondi lhe dando um abraço apertado.

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7 Comentários

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  • Responder paulo cesar fã boy. ID:7121w172d3

    bom. já li este, agora deixa eu ir para o proximo

  • Responder greenbox ID:5dkw5c5ezyj

    Caros amigos leitores do cnn eu alguns dos melhores escritores de conto românticos estamos migrando para outras plataformas por motivos óbvios não por falta de interesse dos leitores e sim pela forma que somos tratados ninguém aqui é uma aberração eu já retirei alguns contos e vou tirar outros atenciosamente greenbox.

  • Responder Kanedaken ID:gqawlf18i

    Fofo demais esse final. Feliz que a história retornou aos trilhos.

  • Responder Notman ID:bemn9j5xik

    Aguardei muito tempo ansioso pela continuação. Pensei que vc tivesse desistido.

  • Responder blue ID:pjuoodlmg5p

    Fico muito agradecido com suas palavras, infelizmente as vezes acontecem tantas coisas no nosso atribulado dia a dia que não conseguimos fazer as coisas como gostariamos, nem todos entendem isso mas prometo que todo meu esforço será para continuar até o fim da história.

  • Responder Pseudônimo da Poesia ID:10wj8i5dfqqf

    Muito feliz que voltou com a história, Blue! Por favor, não demore a publicar novos capítulos.

  • Responder Seila ID:1e5uh8momhmp

    Eu ainda não li esse novo capítulo, mas por favor eu te peço por favor que não demore a escrever, foram longos 3 meses para um novo capítulo, isso pode fazer nos os leitores a cansar de esperar e a ficar desinteressado a continuar acompanhando sua história