# # #

Arlequino e Jesteria – 5ª parte

1711 palavras | 0 |0.00
Por

Preocupação por parte da polícia dos recentes acontecimentos. Início de reencontro entre Jesteria e Arlquino.

No dia seguinte Arlequino ainda teve tempo de passear na ilha de Páscoa, famosa pela estátuas Moais, cuja construção continua ainda hoje um mistério para os historiadores. Regressou pouco depois do meio-dia para almoçar no Musset. Enquanto o Entertainment zapava (levantava âncora para navegar mais a sul), Arlequino reparou que os empregados, e alguns clientes, evitavam olhar directamente para ele, exactamente como faziam com Jesteria. Por não avistar esta última no barco, Arlequino supôs que havia de a visitar para saber se está tudo bem com ela. Passou por casa para pegar no vestido que lhe queria oferecer e finalmente bateu à porta dos seus aposentos. Jesteria abriu, vestida de pijama.
“Ah, ainda estavas a dormir, cara amiga?”
“Não.”
“Neste caso deverias abrir os cortinados, está um dia lindíssimo!” Dirige-se até à janela e abre as persianas.
“Fecha isso, ainda estava deitada.”
“Vê-me esse céu azul! havias-de apanhar ar.”
“Vai-te embora já, antes que eu mude de ideias!” Ameaçou Jesteria pegando lentamente no chicote.
“E se eu não for?”
“Deixa-me em paz.”
“Jesteria, ontem falei com a Charlotte, a rapariga que nos serviu bebidas ontem, e percebi uma coisa. Quero te pedir….” Olhou para o saco que trazia o vestido que pretendia oferecer à sua Jesteria. A estrela bailarina limitou-se a olhar para ele com um olhar inquisidor.
“Queria apenas… te pedir um pequeno favor mas deixa lá… Não fiques a deprimir, não te fica bem.” Concluiu finalmente Arlequino antes de sair.
A Ilha de Páscoa já tinha desaparecido do horizonte quando Arlequino permanecia absorto em seus pensamentos, perguntando-se se tinha ou não feito bem em não pedir desculpas à Jesteria. A próxima escala será na Patagônia… Será que a Jesteria vai recuperar até lá? Duas silhuetas já conhecidas do psicopata equatoriano se aproximavam com um ar sério.
“Boa tarde, senhor Arlequino. Precisamos de lhe colocar mais perguntas.” Afirmou um dos polícias.
“Relacionado com a Jesteria, novamente? Fui ter com ela hoje” Respondeu apressadamente Arlequino, antecipando. “Ela não estava muito bem, mas pareceu-me melhor do que ontem à noite. Bem, o que querem saber?”
“Onde é que viu a Jesteria pela última vez?”
“Fui visitá-la ao quarto dela.”
“E o que aconteceu quando a visitou?”
“Ela não… ficou feliz por me ver. Ela provavelmente está chateada comigo e quer estar sozinha.”
“Agradecemos a sua honestidade. Tem alguma ideia de porque ela está chateada consigo?”
“Mais ou menos. Quero eu dizer…ela está a exagerar. Não… agora que penso melhor, ela até está bastante bem tendo em conta o que lhe fiz ontem. Estou a tentar ajudá-la a recuperar-se.”
“Agradecemos a sua preocupação com o bem-estar dela. Porém, é importante que compreendamos todos os aspectos deste caso para fazer justiça. Há mais alguma coisa que nos possa contar sobre as suas interações com a senhora Jesteria?”
“Posso contar mais mas… não sei se entendo bem o que vocês procurem.”
“Estamos à procura de qualquer informação que nos ajude a compreender o que aconteceu.”
“Falaram com ela hoje? O que vos pareceu?”
“Conversámos com ela esta tarde, visto que de manhã ela se recusou a sair da cama. Ela afirma que caiu sozinha no oceano e que tudo não passou de um acidente. No entanto, ainda estamos a investigar minuciosamente. Não seria a primeira vez que uma donzela se recusa a falar verdade por medo de represálias. Já ouviu falar no síndrome de Estocolmo?”
“Claro, mas não creio que seja o caso da Jesteria. Diria antes, todavia, que, orgulhosa como ela é, se não foi um acidente ela certamente preferiria não o dizer. Qual é a vossa opinião?”
“Nosso trabalho consiste em reunir factos e apresentá-los ao tribunal. Temos as nossas suspeitas, mas devemos permanecer objetivos na nossa investigação. Mais uma vez, senhor Arlequino, obrigado pela sua colaboração.”
Depois desse novo encontro com os polícias, Arlequino foi ao bar, ver se encontrava a Jesteria ou a Charlotte.
“Olá Charlotte, como vais?”
“Está tudo bem Arlequino, e contigo? Dormiste bem?”
“Sim, muito bem. Viste a Jesteria hoje?”
A Charlotte estremeceu um bocado ao vê-lo novamente perguntar pela Jesteria, antes de simplesmente responder:
“Ainda não a vi hoje.”
“Eu visitei-a por volta do meio-dia. Ela pareceu-me estar um pouco melhor mas ainda não é a mesma Jesteria que conhecemos. Sabes de alguma coisa que eu possa fazer por ela?”
“Dar-lhe tempo… Mas, Arlequino… estamos a falar da Jesteria. Tem cuidado…Ela pode ser…imprevisível, percebes? Não és o único capaz de ir aos limites… Não quero que nada de mal te aconteça… Eu ouvi falar sobre aqueles desgraçados que tentaram brincar com ela mais cedo. Acho que a polícia ainda não fez a ligação com os acontecimentos… Digo… não a acuso de nada… E não sei o que se passou exactamente, mas… sinto-me mais segura contigo do que com ela, e já me assustas bastante.”
“Desculpa lá ter puxado o assunto. Esquece isso e arranja-me um café que quero aproveitar a esplanada para ler um livro.”
“Arlequino, acredito… que ela seja capaz de fazer tudo para se vingar. Tenho um mau pressentimento.”
“A sério? Ainda bem que não lhe pedi desculpa então. Parece mais divertido ♠”
“Arlequino…”
“Hoje também trabalhas até às dez da noite?”
“Não. Hoje já estou… quase de saída. Amanhã faço o turno da noite.”
“Ah! E o que achas de me ajudares a limpar a casa de banho hoje?”
“Eu não sei… talvez. Deixa-me acabar o trabalho e já vejo, pode ser?”
“Claro, Charlotte. Mas está tudo bem?”
“Está tudo bem. O teu café. Boa leitura.”
Não dá para ler muitas páginas em quinze minutos, mas é necessário estabelecer prioridades, pensou Arlequino quando, finalmente, viu a Charlotte, meia envergonhada:
“Tudo bem, Arlequino, já acabei o meu turno, queres que eu… te ajudo a limpar a casa de banho?”
“Agradecia.”

Uma insegurança maior ainda que a do dia anterior ganhava o corpo de Charlotte enquanto ela acompanhava Arlequino. Apesar de se ter mostrado um ser amante doce, Charlotte sentia-se inexplicavelmente insegura. Quando finalmente chegaram ao corredor que dava para a suite de Arlequino, os dois polícias do costume – visivelmente mais stalker que os próprios stalker – conversavam frente à porta de Arlequino.

“Ah, senhor Arlequino, encontramo-lo novamente. Tem notícias da miss Jesteria?”
“E posso saber o que os senhores estão a fazer à porta da minha cabine?”
“Deixamos um guarda frente aos aposentos da Jesteria mas inexplicavelmente ela parece ter desaparecido. Acabei de enviar um agente para o bar que o senhor costuma frequentar para lhe perguntar se não se importava de nos deixar verificar se encontramos algo de suspeito nos seus aposentos.”
“Estejam à vontade mas não a vi mais desde hoje de manhã.”
“Agradeço a sua colaboração.”
Pouco tempo depois o oficial prosseguiu:
“Não encontramos nada de suspeito, pedimos desculpa pelo incómodo. Sabe, senhor Arlequino, segundo os mais recentes relatos que obtivemos, o senhor foi a última pessoa que esteve com a Jesteria antes de ela cair no guarda mancebo. Não existe nenhuma queixa crime, mas o nosso dever de assegurar o bem-estar dos passageiros nos obriga a mantê-lo sob vigilância. Espero que entenda que o não estou a acusar de nada e caso conteste as minhas insinuações poderá ir ao nosso posto para que uma análise ao seu sangue seja feita.”
“Não é que eu tenha mais que fazer mas certamente vou me esquecer de assim proceder. Seja como for, o que me importa é o bem estar da Jesteria.”
“Quanto a isso, posso apenas dizer-lhe que, apesar de ter desejado confirmar que a Jesteria não se encontrava nos aposentos do senhor, o meu instinto me diz que ela saiu da sua cabine por conta própria. O que me leva a pensar que ela deve andar a tramar qualquer coisa. Ouviu falar sobre os corpos ensanguentados encontrados no outro dia?”
“Vagamente, sim.”
“Acreditamos que a Jesteria tenha cometido vários homicídios por negligência, por não cumprir as normas de segurança dos vossos jogos eróticos. Continuo sem perceber como a Jesteria foi salva. Gostaria de me elucidar a esse propósito, senhor Arlequino?”
“Parece-me…que se trata de uma curiosidade sua e não de uma necessidade laboral. Se assim for, posso dizer-lhe o que sei, porém, por enquanto, caso não tenha percebido (apontado para a Charlotte), tenho prazeres prioritários.”
“Como desejar. Mas permita-me dar-lhe um conselho. Não se meta com a Jesteria. Ela é perigosa.”
“Pode deixar ♥*”
*Parece que, de facto, Arlequino adquiriu a indesejável tendência da Jesteria. Ao pontuar suas frases com símbolos de cartas.
Depois de os policiais abandonarem a cena, Arlequino reparou na expressão insegura da Charlotte.
“Está tudo bem, Charlotte?”
“Não…quer dizer, sim, mas… se não me levares a mal…prefiro retirar-me.”
“O quê que se passa?”
“Nada… apenas sinto que deves resolver as tuas coisas com a Jesteria primeiro. Eu… vou me embora… vemo-nos amanhã.”
Sem perceber a reação da Charlotte, Arlequino limitou-se a constatar que ela desistiu da ideia de o acompanhar no quarto por causa da intervenção dos polícias. Finalmente decidiu dirigir-se para outra esplanada para ler o seu livro. Todavia, no corredor que leva ao convés superior, Arlequino foi subitamente atacado por um braço que lhe fez uma gravata antes de o estender ao chão. Quando se recompôs viu a Jesteria com um olhar ameaçador.
“Apanha ♥”
“Isso parece-me ser um daqueles equipamentos capazes de imobilizar alguém através de uma descarga elétrica.”
“Uma arma de eletrochoque. Passou-me pela cabeça usá-la contra ti ♥”
“E porque não o fizeste?”
“Porque acho mais divertido usar apenas… esse meu chicote!” Ao revelar o seu chicote, Jesteria atinge com ele a cara de Arlequino.
“Parece ameaçador. E tem a vantagem de não deixar cicatrizes.”
“Diz-me, Arlequino, preferes morrer agora, ou depois? ♦”
“Depois.”

Avalie esse conto:
PéssimoRuimMédioBomExcelente
(0 Votos)

Por # # #
Comente e avalie para incentivar o autor

Nenhum comentário

Talvez precise aguardar o comentario ser aprovado
Proibido numeros de celular, ofensas e textos repetitivos