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Me chame de mestre Cap. 1

4591 palavras | 0 |3.86
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Sinopse: Alec Sutcliff é um típico garoto do ensino médio, tomado por inseguranças e traumas advindos do passado, que acabará de se mudar para uma nova cidade. Durante uma noite, voltando de um encontro com seus novos amigos, Alec é abordado por um desconhecido em meio a escuridão, e acorda apenas horas depois preso em um quarto de concreto. A partir desse momento sua vida muda para sempre. Aquele estranho abre a porta e Alec finalmente tem a oportunidade de conhecer seu sequestrador, Sebastian Antonoff.
Sebastian, um homem culto e de uma aparência descomunal, com seus cabelos escuros e olhos azuis oceânicos, possuí uma paixão obsessiva por Alec, e está disposto a fazer de tudo para conquistar o seu amor, mesmo que isso signifique se livrar de qualquer um que se coloque em seu caminho.
Juntos, naquela enorme casa branca, escondidos aos olhos daquela vizinhança pacata, Sebastian e Alec desenvolvem uma relação complexa, repleta de crimes, caos, amor e erotismo.

{…}

Nossos móveis eram retirados daquele enorme caminhão de mudanças e esparramados pelo quintal, aqueles homens que via pela primeira vez se espalhavam pelos cômodos, colocando os itens em seus devidos lugares, de acordo com as ordens da minha mãe. Observava toda aquela movimentação pela porta e janela do meu novo quarto, e pensava comigo mesmo o quanto sentia falta da minha antiga cidade, minha antiga casa, meu antigo quarto, que agora tinha sido deixado para trás.
Semanas atrás, eu e Adrian, havíamos sido surpreendidos pela felicidade contagiante de nossa mãe que invadia qualquer buraco minúsculo existente na casa, devido a uma promoção no trabalho, tudo parecia correr bem até que notamos seu humor mudar de felicidade extrema para nervosismo. Logo notamos que havia algo amais a ser dito, e foi assim que nós e nossa mobília fomos transportados para aquele lugar.
Um bairro de classe média, onde você não veria pessoas transportando seus jet–skis pelas ruas, indo em direção a suas casas de praia; mas também não ouviria alguém dizendo que há necessidades de cortar gastos aquele mês. Uma vizinhança de casas praticamente iguais, e um conflito silencioso de quem tem a grama mais verde e bem cortada. Questionamos nossa mãe sobre o local quando ela disse que havia encontrado a casa perfeita, mas aparentemente seu novo salário conseguiria lidar tranquilamente com a nossa nova vida.
Pela minha janela podia ver parte daquela vizinhança calma, até demais, uma criança brincava num quintal vizinho com um homem adulto, dois caras carregavam nosso sofá, andando por cima daquele caminho de concreto que ligava a calçada a casa. Grama verde, e algumas flores. Dei mais uma olhada naquilo que seria meu novo quarto, aquele grande espaço branco com caixas espalhadas pelo chão. Não estava animado com a ideia de lidar com elas, e pensava na possibilidade de passar a vida ali naquele lugar com as minhas coisas guardadas em caixas de papelão.
Nomeei cada uma delas com uma caneta preta enquanto as enchias com objetos e roupas, o que facilitaria abrir apenas aquelas que fossem necessárias. Poderia encostar elas nos cantos das paredes, e deixar meus móveis no meio do quarto, assim não correria o risco de me deparar com elas pelo chão quando levantasse a noite para ir tomar água.
– Já pode começar a desencaixotar tudo. Temos muitas coisas para fazer ainda. Adrian já está desencaixotando suas coisas? – Minha mãe andava e gritava pelos corredores, levando consigo as minhas chances de evitar lidar com a acumulada quantidade de caixas de papelão naquele quarto.
– Droga… – Sussurrei.
Me sentei no chão e comecei aquela tarefa tediosa e cansativa…
Horas depois estávamos nós três sentados na mesa da cozinha comendo pizza que havíamos pedido de um lugar da lista telefônica, ainda haviam várias caixas fechadas, inclusive minhas. Mas nosso animo já tinha se esgotado, pelo menos o meu e do meu irmão, minha mãe se mantinha animada a todo tempo, era óbvio o quanto ela estava feliz por estar ali. E eu estava feliz por ela, depois de todas as problemáticas que teve que enfrentar por minha causa, me sentia na obrigação de fazer com que tudo se saísse bem dessa vez.
Novamente em meu quarto eu me preparava para ir tomar, finalmente, um banho, quando uma mulher simpática e animada bate em minha porta.
– Invadindo seu espaço… – Minha mãe disse sorrindo entrando em meu quarto.
– Oi, mãe. – Lhe sorri de volta.
– Então… gostou da nova casa? – Ela com certeza não perguntou isso ao meu irmão.
– Sim, é bem bonita.
– Amanhã você vai começar na escola nova, e eu sei que por estarmos um pouco atrasados no ano letivo, e os outros meninos estarem enturmados, as coisas podem ser difíceis no começo, mas…
– Mãe, eu estou bem. Sério. Aquilo não vai acontecer de novo. – Olhava pela janela, aquela rua deserta. Um silencio dominou o quarto por alguns segundos. Ela parecia não saber o que dizer;
– Só quero que saiba que eu estou aqui. E seu irmão também. E amamos você incondicionalmente. – Aquele sorriso simpático novamente dominava seu rosto.
– Eu sei, mãe. Também amo vocês. – Me forcei a dar um sorriso que dissesse da forma mais sincera possível: “tudo está bem”.
– Agora vá tomar banho, e dormir, pois, amanhã temos muito a organizar aqui ainda. Na verdade, você e seu irmão têm. Terei que ir para o escritório resolver algumas coisas.
– Tudo bem, mãe. Já vou. – Outro sorriso esforçado.
Ela me deu um beijo na testa antes de sair do quarto. Olhei pela minha janela uma última vez antes de ir para o banho. Algo aparentava estar em pé atrás de uma árvore na casa da frente, parecia alguém, observando de longe da mesma forma que eu. Pareceu se mover ao me ver, desaparecendo em meio a escuridão. Era real ou simplesmente a luz lunar me pregando uma peça? O silencio sepulcral pairava por toda a rua.
{…}
Acordei no dia seguinte, olhando para o teto e me perguntando em que lugar eu estava. Levei alguns segundos para me dar conta de que não tinha sido raptado, mas sim que estava em meu novo quarto. Me rastejei da cama até o banheiro, onde molhei meu rosto e escovei os dentes. Não me ajudou muito a me animar. Continuei a me rastejar, dessa vez descendo as escadas e indo em direção a cozinha, na onde se encontrava meu irmão. Estava apenas de cueca, jogado em uma cadeira, uma tigela branca ao seu lado, com cereal, leite e uma colher. Tira farinha de cereal no canto dos lábios. Seus olhos concentrados em seu celular.
– Bom dia. – Disse ao chegar na cozinha.
– E aí… Bom dia. Dormiu bem? Quer cereal? – Ele fazia tantas perguntas desde o “grande acontecimento”.
– Dormi. Quero sim.
– Vou arrumar para você.
– Acho que sei colocar leite e cereal em uma tigela.
– Foi mal, nervosinho.
– Desculpa.
Seus olhos fixaram nos meus.
– Não, não. Eu estou apenas brincando com você. – Ele deu risada, tentando ser simpático. Mas eu podia notar o nervosismo em seu tom voz.
– Coloca cereal para mim? – Perguntei, tentando corresponder a seu sorriso. Ele pareceu feliz.
Me sentei em uma outra cadeira enquanto meu irmão me servia e ficava puxando assunto comigo sem parar.
– Está ansioso pela nova escola? Eu estou ansioso até. Espero que o pessoal aqui seja de boa, que nem lá na nossa antiga cidade. Tomara que as meninas sejam mais bonitas pelo menos. Ou os meninos… sabe? Para você no caso. – Ele dizia, com o braço atrás da cabeça, sorrindo, seus esforços para me fazer rir eram bastante perceptíveis, e me dava uma pontada de felicidade, também tristeza por saber que ele se importava e se preocupava que tudo pudesse acontecer outra vez.
Tinha me envolvido em uma relação complicada com um cara mais velho a um tempo atrás, e Adrian sabia de tudo. Inclusive foi o responsável pelo fim daquela problemática relação, demorei algum tempo para perdoa-lo, mas finalmente levei em consideração que a única coisa que ele tentava fazer naquela tarde era me proteger.
Comia meu cereal enquanto ouvia Adrian tagarelar continuamente. Ele parecia um completo bobão, e eu o amava por isso. Quando terminei meu cereal me levantei da cadeira em um salto. Segurei seu rosto e limpei os vestígios de cereal dos seus lábios com meu polegar.
– Agora eu preciso me arrumar para conhecer os vários meninos bonitos da nova escola. – Falei com certo ar de sarcasmo, e sai da cozinha, o deixando ali.
{…}
Adrian dirigia animado olhando as ruas que passávamos e qualquer garota que cruzasse nosso caminho.
– Você realmente acredita que elas irão transar com você só por causa desse seu olhar pervertido?
– Se eu não fosse seu irmão… E se eu te desse esse olhar aqui… – Ele fez o olhar quando paramos em uma faixa de pedestre. – Você transaria comigo?
– “Com toda certeza…”– Rimos juntos.
Ele parou em uma vaga no estacionamento.
– Ei… qualquer coisa é só me chamar que eu vou correndo, está bem?
– Se o ketchup da cantina acabar pode ter certeza que irei te ligar. – Baguncei o cabelo dele e ele sorriu. Então saímos do carro.
E lá estávamos nós, andando por aquele enorme corredor, repleto de pessoas falando alto, jogando suas mochilas em armários e nos encarando, se questionando quem eram os dois novos garotos que invadiam seu corredor. Meu irmão cumprimentava qualquer um que o encarasse, principalmente se fossem garotas. Algumas até sorriam para ele e trocavam olhares. Ele sempre foi bonito, desde o momento que veio ao mundo. Nunca houve um momento em que ele fosse apenas relativamente não tão bonito assim. Ele costumava dizer que eu era do mesmo jeito, mas minha mente não permitia acreditar em tal fantasia.
Meu irmão tinha um corpo atlético devido aos esportes que tanta amava, cabelos extremamente pretos, olhos de azul profundo e marcantes, seus lábios eram rosados, e seus dentes eram perfeitamente alinhados e brancos. Ele era alto e forte, e nunca namorava nenhuma garota, pois sempre estava se envolvendo com uma diferente. Eu, embora com algumas características parecidas como os cabelos pretos, sempre fui muito magro, pálido demais, sem vida, um borrão em uma foto. Adrian tinha charme, e eu era apenas…eu. E havia tido apenas um namoro catastrófico, o qual fazia de tudo para esquecer.
– Qualquer coisa ein… – Adrian me puxou de volta para a realidade, e quando notei estávamos na frente daquela que seria a minha sala de aula.
– Está bem… – Sorri carinhosamente para ele.
Só depois que entrei na sala que ele finalmente se foi. Haviam algumas pessoas ali, me olhavam com curiosidade, sorri timidamente para elas e me sentei em uma carteira no fundo da sala, olhando perdidamente pela janela, vendo as árvores balançarem com o vento. Lá longe um homem de camisa social, calças pretas, boné e óculos que parecia refletir a luz parecia me observar enquanto segurava uma casquinha de sorvete que comprou de um senhor ali perto. Não podia ver seus olhos, mas parecia que eles se cruzavam com os meus. Ele não se mexia, e nem fazia questão de lamber o sorvete que em breve começaria a derreter.
– Oi… Você é novo? – Uma voz alta e aguda tirou a minha concentração daquilo que olhava, me virei para o lado e me deparei com uma garota e um garoto me encarando.
– Oi… Sim. Me mudei ontem. – Consegui responder, me virei para a janela rapidamente e o homem não estava mais ali.
– Que incrível! – Ela era tão animada. – Me chamo Victoria, mas você pode me chamar de Vick. Esse é o Bruno, e você pode chama-lo de Bruno mesmo, ele odeia apelidos. – O garoto riu com ela.
Vick era uma garota de pele azeitonada, cabelos e olhos castanhos claros, um rosto em formato de coração, mais ou menos da minha altura, magra, e com unhas recém feitas, era uma garota realmente bonita, mas não passava uma energia de egocentrismo, o que a deixava ainda mais bela. Ao seu lado, um garoto de pele branca, cabelos loiros repicados que caiam abaixo de suas orelhas, olhos escuros, e boca rosada. Sorria timidamente para mim.
– Me chamo Alec. E todos me chamam de… Alec mesmo. – Tentei ser simpático.
– Uau. Com esse nome você poderia ser facilmente um primo distante do Edward Cullen.
– Edward?
– Oh meu Deus. Você nunca assistiu Crepúsculo? É tipo o melhor romance desde Titanic.
– Seria melhor se você tivesse mentido que o conhece, assim evitaria ela dando aula sobre vampiros para você de agora em diante. – Bruno falou, me encarando. Dei uma risada tímida.
Eu nunca tive dificuldades para me socializar, mesmo em minha antiga cidade. Emma e Patrick eram a prova disso, sabíamos que seriamos melhores amigos assim que nos conhecemos no fundamental, e depois disso não nos separamos mais, até agora. Eles tinham feito um piquenique para mim, um dia antes de eu entrar no carro e deixar tudo para trás. Ambos haviam feito um álbum com nossas fotos, para que eu não os esquecesse. Como se isso fosse possível. A verdade, é que eles eram aquilo que eu mais sentia falta em minha antiga cidade. Mais que tudo.
Lembrava de quando matávamos aula para ficarmos andando em um prédio abandonado que havia ali perto, ouvindo músicas e conversando sobre algum filme ridículo que tinha sido lançado aquela semana e que com certeza iriamos ser os primeiros da fila para assistirmos e rirmos do quanto as atuações e os efeitos especiais foram horríveis. Ou de quando dormíamos um na casa do outro e passávamos a noite vendo novelas asiáticas e nos entupindo com doces, pizzas, pipoca e soda.
– Essa aula de química é um saco, a sorte é que o Sr. Velmon é um gostoso. – Victoria, Vick, sussurrou para mim e para Bruno.
Eles haviam me arrastado com eles até outra mesa e me feito sentar próximo durante todas as aulas que tínhamos juntos.
– Sim, para ser seu avô. – Bruno respondeu em um tom irônico. Rimos baixo.
Felizmente o senhor Velmon ou qualquer outro professor daquele dia não me fez passar por algo humilhante como me apresentar para toda a turma e falar sobre minha antiga cidade, escola, e minhas expectativas naquele novo local. O máximo que havia acontecido foi dois professores perguntarem meu nome e dizerem: “Seja Bem-Vindo!”.
– Então… Alec… qual é seu tipo de garota? Ou… Garoto? – Vick tagarelava no intervalo, enquanto comíamos. Pelo menos eu e Bruno comíamos, Vick não tinha paciência para comer quando ela poderia falar sobre mil e uma coisas ao mesmo tempo.
– Acho que não tenho um tipo… – Mentira.
– Hm… Eu curto homens mais velhos. Na minha opinião eles são super mais evoluídos que os garotos do ensino médio.
– Lá vem a defensora da gerofilia discursar outra vez… – Bruno comentou rindo, e eu acabei rindo com ele. Trocamos olhares.
– Meu Deus, o Sr. Velmon nem é tão velho assim. Ele deve ter seus 45 anos? – Ela balançava um pedaço de aipo no ar enquanto falava.
– Talvez beire os 60…
– Mas está super conservado…
– Quero ver você dizendo isso quando ver o pênis dele.
– Você é nojento. – Vick deu um empurrão em Bruno, e ambos ficaram gargalhando.
– Você se mudou para cá com quem? – Ela me olhava.
– Ah… com minha mãe e meu irmão mais velho.
– Calma, Vick. Ele com certeza deve ter menos de 70, não faz seu tipo. – Eu e Bruno trocamos olhares e risos novamente.
– E seu pai? – Vick perguntou diretamente, Bruno olhou de forma estranha para ela.
– Ele morreu quando eu tinha seis anos.
– Aí que droga. Foi mal… – Ela pareceu desconfortada com a resposta.
– Está tudo bem.
– Mas então… A gente podia marcar de sair nós três qualquer dia desses, eu e Bruno podemos te apresentamos a cidade. Se você quiser é claro. – Ela deu um sorriso sem graça, acredito que estava tentando destoar da pergunta anterior.
– Tudo bem. Podemos marcar sim.
– Então me dá seu celular, vou salvar nosso número aqui. Não, Bruno, ele não irá mandar foto do pênis para você. – Vick fazia uma expressão dramática ao falar, todos rimos com ela, e naquele dia nossa amizade começou.
{…}
A medida que os dias se passavam as coisas iriam ficando mais naturais, embora Emma e Patrick ainda me fizessem uma falta profunda, sempre imaginava eles comigo nos mais variados momentos, como quando eu saia com Vick e Bruno, eles eram extremamente divertidos, e as vezes até me lembravam meus melhores amigos, isso fazia com que eu sentisse um grande aperto no coração ao lembrar de tudo que vivemos juntos em nossa animada cidade. Mas procurávamos conversar todos os dias por chamada de vídeo, e as sextas sempre víamos um filme juntos, mesmo que distantes não queríamos permitir que a vida nos forçasse a nos afastar.
Quando nossa aula terminava mais cedo, avisava meu irmão e saia com Vick e Bruno, andávamos pela cidade, íamos em lanchonetes, ou ao cinema; e as vezes Vick nos levava para a sua casa, e passávamos o resto da tarde flutuando em sua piscina. No começo tive dificuldades para entrar, pois sabia que entrar significava tirar minha roupa, ambos pareciam perceber meu desconforto e tentavam neutralizar a situação. Vick ficava apenas de biquíni, enquanto Bruno usava de shorts de banho. Ambos tinham corpos bonitos, e evitavam fazer comentários ou ficar encarando o meu, embora eu notasse os olhares discretos e constantes de Bruno para mim. Então me jogava dentro da água e assim me sentia mais seguro de olhares que pudessem me atingir.
Alguns dias depois, enquanto ajudava Bruno a pegar refrigerantes no freezer de Vick, e enquanto ela pegava vodka do seu pai, escondida, ele me deu um beijo, segurando meu rosto e fechando os olhos. E então finalmente entendi a verdadeira razão dos seus olhares.
– Me desculpe. – Aparentou ficar envergonhado.
– Está tudo bem. – Sorri para ele.
Acredito que o tom do meu sorriso fez com que ele entendesse que poderia me beijar quando quisesse, pois, a partir daquele dia ele sempre me beijava, fosse nos corredores da escola, banheiro ou sala de aula vazia. Seus beijos eram doces e suaves, mas me deixavam em conflito. Estávamos começando a construir uma amizade, uma que eu estava gostando muito, então tinha receio de tudo ser destruído e com isso ele se afastar de mim, levando Vick consigo, afinal, ela era amiga dele primeiro que minha. Dessa forma eu estaria sozinho novamente, em busca de novas amizades mais uma vez. E por ter tido a sorte de ter feito amizade com eles desde o primeiro dia de aula, não queria estragar tudo.
Obviamente existiam outras pessoas com que conversávamos, como Felipe, que passava mais tranquilidade que uma aula de meditação; Kate, que costumava roubar roupas em lojas caras, mesmo tendo dinheiro para compra-las, dizendo que isso era uma vingança contra o trabalho escravo feito por grandes marcas; Will, que adorava conversar com meu irmão, por ambos serem apaixonados por futebol e garotas; e Angela, uma devota fã de bandas femininas de metal. Mas Vick e Bruno se tornaram rapidamente as pessoas que eu mais tinha ligação ali, então não gostava da ideia de perde-los.
Em uma manhã de segunda-feira tive finalmente a coragem de conversar com Bruno sobre o assunto, e felizmente ele conseguiu entender completamente a situação, sendo assim, voltamos a ser amigos, sem os beijos e qualquer segunda intenção, e por incrível que pareça Vick nunca ficou sabendo sobre nada, até porque imagino que ela faria um enorme discurso sobre estarmos trocando beijos escondidos dela.
Além da minha amizade com Vick e Bruno terem evoluído rapidamente durante os dias que se passavam, outra evolução interessante foram as caixas, que haviam sido finalmente esvaziadas, e assim meu quarto tomou sua forma. Minha mãe levou eu e Adrian em uma gigante loja que vendia qualquer coisa existente no planeta, lá pudemos pegar bugigangas para decorar nossos quartos. Escolhi adesivos, lâmpadas, tapete, objetos de mesa; e meu irmão cismou que ele precisava de oito gatos da sorte em seu armário.
– Você não precisa de oito gatos! – Exclamava minha mãe.
– É exatamente o que eu preciso.
Enquanto ele convencia a minha mãe sobre a importância dos gatos, eu observava uma estante cheia de globos de neve. Costumava achar que eles eram vendidos apenas no natal, mas aquela loja parecia estar preparada para qualquer feriado que pudesse acontecer durante o ano. Alguém pareceu se mover rapidamente no final do corredor quando olhei naquela direção, só pude ver rapidamente seu braço comprido coberto por um casaco. Ele desapareceu. Estaria me observando?
Chegando em casa meu irmão correu escadaria acima, animado em enfileirar seus gatos, depois nos gritou para que fossemos ver, ele olhava animado para a estante, como se tivesse ficado exatamente do jeito que ele havia planejado, como uma criança que finalmente consegue aquele brinquedo que passou meses sonhando em ter. Era incrível o quanto ele se apegava a coisas simples da vida. Como quando erámos mais novos e eu pintei um quadro para ele de aniversário. Não era como se eu fosse um Michelangelo, mas fiz o meu melhor para nos pintarmos de mãos dadas, felizes, em cima da lua. Ele pendurou o quadro em se quarto e passou dias comentando com nossos familiares que eu tinha pintado um quadro só para ele. E mesmo quando mudamos ele fez questão de o levar consigo nas caixas.
Não fazia ideia de que muito em breve sentiria tanta falta daquele quadro idiota na parede do seu quarto, ou dos seus gatos malucos balançando os bracinhos sem parar; nem dele me perguntando todas as manhãs se eu havia dormido bem e se gostaria que colasse cereal na tigela para mim; nem de nossa mãe gritando pelos corredores da casa para levantarmos logo, pois “a vida é daqueles que acordam cedo”, dizia ela em alto e bom som enquanto tomava seu café.
Não sabia exatamente onde, ou quando, eu cometi aquele deslize… Se foi no momento em que decidi sair em um final de tarde de sexta-feira com Vick e Bruno para ficarmos jogados pela praça olhando os garotos caírem em seus skates; se foi quando perdi a noção do tempo e quando notei a noite e a escuridão já haviam repousado sobre a cidade; ou se foi quando disse “não precisa, eu vou caminhando, é perto de casa.”, para a minha mãe quando ela ligou dizendo que meu irmão iria me buscar. Ou se meu único erro foi ter tido o azar de ter cruzado seu caminho em um certo momento da minha vida.
Era apenas em torno de um quilometro a trilha que me levava de volta para a minha rua, não haviam casas em volta, apenas árvores, e o caminho era iluminado pela luz forte da lua e das estrelas. Adorava andar por aquela trilha, era calmo e sossegado, principalmente durante a noite, sempre fui aficionado por ambientes noturnos. O vento frio gelava meu rosto fazia mechas do meu cabelo se desprenderem e baterem em minha face. Minhas duas mãos dentro do meu casaco, uma delas segurando meu celular. Flutuava em meus pensamentos quando notei que as luzes formavam sombras no chão, as árvores, suas folhas balançando no ar, meu corpo, e brevemente algo esguio logo atrás de mim. Era uma pessoa. Em que momento ela apareceu? Ela havia saído por entre as árvores sem eu perceber? Talvez meus fones tenham me impedido de ter a ouvido. Talvez a culpa tenha sido dos meus fones? Ou da minha falta de atenção?
Virei meu rosto levemente para trás, quando vi um homem. Usava uma camisa branca, e um casaco preto, uma calça jeans da mesma cor, sapatos, óculos de grau, e luvas de frio, escuras. Sorriu para mim e pareceu dizer algo que não consegui ouvir. Tirei meus fones.
– Olá? – Perguntei, ouvindo de longe a música que tocava em meus fones.
♫ Take my breath as your own ♫
– Olá. – Ele me olhava fixamente, como se estivesse incrédulo.
♫ Take my eyes to guide you home ♫
– Posso ajudar?
♫ Cuz I’m still here breathing now ♫
– Sim. Você poderia me informar onde fica a rua 42? – Pareceu mudar de humor repentinamente, e de distante passou a estar animado.
♫ I’m still here breathing now ♫
– Se você seguir esse caminho chegará na 36, depois é só ir subindo até chegar na 42.
♫ I’m still here breathing now ♫
– Você mora em qual?
♫ And I’m still here ♫
– Na 36… – Achei estranha sua pergunta.
♫ Cuz I’m still here breathing now ♫
– É, eu sei. – Ele voltou a mudar de humor, dessa vez ficando sério.
♫ I’m still here breathing now ♫
– Então é só fazer isso que eu falei… vou indo nessa. – Me despedi dele e fui me virando de costas para seguir em frente, pensando em acelerar o passo.
♫ I’m still here breathing now ♫
– Você fica muito bonito quando a lua te ilumina em sua janela. – O ouvi dizer, me paralisando por um instante, em seguida me virei para ele mais uma vez.
♫ And I’m still here ♫
– Que? – Me assustei ao perceber que ele já estava muito próximo a mim. Foi quando notei que suas duas mãos estavam atrás do seu corpo, ele segurava algo. Um sorriso diabólico se formou em sua face, e logo imaginei que algo muito ruim iria acontecer.
♫ But you’re not coming back ♫
Ele se jogou sobre mim.
♫ And you’re not coming back ♫
Me forçou a ficar de bruços no chão.
♫ Cuz you’re not coming back ♫
Um tecido com um aroma agradável foi colocado sobre meu nariz.
♫ Until I’m set free ♫
E logo a luz se apagou, e uma escuridão profunda tomou conta do lugar.
♫ Go quiet through the trees… ♫

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