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Lembranças… Parte 2

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Continuação deste conto: /2021/06/lembrancas-3/

Eu estava com medo do que poderia acontecer e alguns minutos depois, para minha surpresa, as duas vêm pra sala na maior calma. Olho pra Lorena e ela aparenta estar recuperada. Ela sai da sala e Alícia se senta no sofá. Ela pega o controle um pouco receosa como de costume:
– deixa eu assistir Lucindo?
– tu sabe que não precisa pedir.

Os três tinham um certo medo de mim em alguns aspectos, e como a maioria das outras vezes eu não sabia explicar o porquê. Fui comprar pão e voltei. Fui no quarto das garotas e bati levemente na porta:
– vai embora por favor! – responde Lorena, com um tom muito sereno.
– olha, isso não pode ficar assim. Eu faço tudo pra tu ficar melhor.
– quando eu tiver preparada a gente conversa.
– tá bom.

Eu nunca quis namorar alguém, nem ficar ou beijar. Eu lembro que eu apenas me masturbava. Mas só pro contraste, aquele trio era ousado. Algumas vezes eles traziam colegas e um quarto das vezes rolava beijos do lado de fora de casa. Carlos só ficava com garotas, Lorena alternava e Alícia era a mais equilibrada, raramente beijando um convidado/a. Mas lembro de uma vez que ela trouxe uma garota radiante como Hiroshima pra casa. Bem mais escura que ela, a negra tirava o fôlego de qualquer um só de olhar. Lábios carnudos, seios muito apalpáveis, bunda de atriz pornô. Deu pra ver a excitação no rosto de Alícia. Levou a garota pra uma árvore no quintal, acariciou-a suavemente a fim de reduzir a hesitação e aos poucos foi beijando, lambendo o pescoço e tudo mais. Foi lindo de assistir mas eu poderia ter me ferrado lindamente porque Lorena chegou na hora. Sorte que ela não percebeu o canto onde as duas estavam:
– acho que já dá pra gente conversar.

Passaram-se dois meses desde o acontecimento e eu não tinha mais esperanças de descobrir o motivo da tristeza dela perante aquilo:
– sério?
– seríssimo!
– se puder ser nesse exato momento melhor ainda.
– não foi bem tua culpa eu ter ficado daquele jeito. Eu sei que tu não tentaria fazer nada com a minha irmã.
– mas então pelo que foi? Faz tempo que eu quero saber.
– é muito complicado – ela começa a soluçar.
– não acha melhor a gente sentar?

Sentamos num tronco de uma árvore caída. Espero ela retomar o fôlego:
– o nosso pai não tentou só matar nossa mãe.

Ela nem completou e eu já tinha sacado, mas eu não queria pôr tudo a perder.
– foi num domingo. Ficaram só eles dois em casa.
– a Alícia e o teu pai?
– sim. Ela tinha acabado de sair do banho. Foi se trocar e a porta tava um pouco aberta. Pelo espelho ela viu uma mão e pensou que fosse do Carlos. Ela disse “sai daí Carlos”. A mão saiu mas ela não foi fechar a porta. Pelo espelho do guarda-roupa ela viu um homem batendo punheta e ela percebeu que não era o Carlos mas ficou paralisada e não conseguia dizer nada. Ela pegou um estilete que tava perto e continuou segurando até o pai sair de lá. Imediatamente ela foi fechar a porta com o estilete na mão. Ela só conseguia chorar e só minutos depois percebeu que tinha um papel embaixo da porta. Ela puxou e era uma folha de caderno escrito assim: “não conta pra ninguém”.
– eu não imaginava que era tanta desgraça junta.
– e isso nem é o pior. Ela chegou a ser…

Nessa hora a gente ouve um barulho de pisada. Ela interrompe, enxuga as lágrimas e suspira.
– quando tu estiver preparada me conta tudo por favor.

Ela apenas acena um “sim” com a cabeça.

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