Papai sabe o que tá fazendo. 3

Papai não é magro não. Ele tem uma barriguinha coberta de pelos e as coxas são grossas, branquelas e bem peludas. Ele usa barba às vezes, e ela fica meio branca, meio cinza. Eu sempre achei ele bonito. Ele tem um sorrisão e costuma ser simpático com todo mundo, mas eu não deixava que ele preferisse as outras pessoas. Eu que era o filho dele! Vandré é alto, mais que o meu pai. Não tem muito pelo não. Não tem barriga e é mais musculoso, mas não muito.

Eu lembro que Vandré sempre foi mais magro que o papai porque ele fazia mais exercício e era mais novo também. Papai tinha feito 35 e o amigo dele tinha 30, eu acho. Lembro a idade do pai porque fizeram uma festona lá em casa. Todos os amigos dele foram e as amigas da mamãe também. A casa ficou cheia por um tempão, a noite toda. Até o pai bebeu umas coisas, que eu vi. As outras crianças que foram não gostavam muito de mim porque eu sempre preferia ficar entre os adultos por mais que eles dissessem que eu deveria ficar com os meninos da minha idade.

O tempo todo meu pai e o Vandré ficavam sozinhos conversando e toda vez eu fugia e ia lá ficar com eles, mesmo quando ainda tinha muita gente na festa. Eu lembro que eles não faziam carinho em mim como quando a gente estava só e eu entendia que é porque ninguém poderia ver. Eu sabia que era só entre a gente. Ninguém era carinhoso com as outras crianças e nem podiam ser.

Teve uma hora que quase todo mundo foi embora junto e a minha mãe falou pro meu pai que eu já deveria ter ido pra cama. Ele falou que eu ia dormir e sem fazer cena de querer ficar no quintal onde estava o resto dos convidados.
Vandré nos acompanhou até o meu quarto e eu só tirei a roupa pra deitar. Papai disse que de manhã eu tomava banho. Nem vou dizer que lembro ter adorado. Papai ficou sentado na beira da cama e o Vandré em pé segurando uma lata de cerveja enquanto eu estava deitado, todo coberto já.

– Sabe o que você não pediu, Eric?

– O quê? – Eu perguntei ao meu pai.

– O beijo de boa noite do tio.

– Ah, mas nem o senhor me deu ainda.

– Mas eu vou dar, ué. – Ele disse rindo.

Aí o papai se esticou todo e beijou meu nariz e me fez rir. Depois voltou pro canto da cama e falou pro amigo dele me dar o beijo de boa noite, mas o Vandré me deu um beijo no rosto e o meu pai corrigiu.

– Pode ser na boca. Só um beijinho mesmo.

Eu lembro de ter visto o Vandré fazer uma cara de quem tinha gostado. Eu gostei também de saber que poderia dar um beijo na boca dele igual eu via os outros darem, até outros filhos. Às vezes meu pai me dava um selinho também quando me deixava na escola. Não era sempre não, mas às vezes ele me dava. Aí o Vandré se abaixou de novo e fez um biquinho pra eu beijar, e eu beijei. Fez até um barulhinho engraçado. A boca dele estava geladinha.

– E o do papai?

Aí eu levantei e fiquei de joelhos na cama pra beijar o papai. Ele fez biquinho também e depois pediu outro. Era bom beijar o papai daquele jeito. A boca dele era bem quentinha, porque ele não estava bebendo mais, e a barba dele espetava um pouquinho o meu queixo. Depois de um monte de selinhos ele me pegou no colo e me deixou de frente com as minhas pernas abertas sobre as coxas. Ele segurou o meu rosto e ficou brincando de me dar um monte de beijo. Eu ria e pedia pra parar, mas era só brincadeira mesmo, porque eu queria que ele continuasse. Ele brincava de beijar meu rosto, o meu pescoço e a minha orelha. Era gostoso porque a barba fazia cócegas e fazia tempo que ele não brincava de me atacar assim.

– O Tio não ganha nada de nada? Poxa!

– Ganha sim. – Eu respondi o Vandré.

Ele me pegou no colo e fez do mesmo jeito, só que numa vez ele abriu a boca e usou a língua. Eu não achei estranho ter beijado a língua, tanto é que pedi pra ver outra vez e ele mostrou, colocando ela pra fora. O papai viu e se levantou. Eu vi que tinha uma volumão na calça dele. Quando o Vandré mexeu a língua, eu beijei a pontinha dela e o papai pediu pra ver outro. O Vandré mostrou de novo a língua e eu beijei ela um monte de vezes enquanto ele ria. Ela babou minha boca e o meu queixo, eu lembro. Não era ruim não, só estava amargo por causa da cerveja. Eu não sabia que cerveja era amarga daquele jeito.

– Na minha. – O papai disse.

Aí ele mostrou a língua e eu beijei ela um montão também. Passei um tempão beijando a língua do papai e ele às vezes fazia eu ir buscar ela dentro da boca dele. Era estranho, mas era bom. Ele também beijou a minha algumas vezes. Eu ficava indo pra boca do Vandré e depois pra boca do papai.

– Você beija o papai agora. – Eu falei pro Vandré.

Ele riu e disse que não precisava, porque o meu pai não ia dormir. Eu insisti que queria ver, já que tinha beijado eles dois. Aí o Vandré olhou pro meu pai e riu esticando a língua. Meu pai riu também e deu um beijinho nela. Eu pedi mais e ele até chupou um pouquinho, agora com o amigo dele mais sério. Eu lembro que eles se beijaram movendo a cabeça de um jeito que eu não conhecia. Ficaram até um tempinho a mais e o beijo deles era barulhento.

– Você fez eu beijar o seu pai. – O Vandré disse rindo comigo no colo. Eu pulei pra cama e vi os dois arrumando os paus dentro das calças.

– Ele já está olhando, Vandré.

– O pessoal já deveria ter ido, né? A gente ficava aqui pouquinho, deixava ele pegar.

– Eu posso? – Eu perguntei animado.

– Não filho, tem muita gente aqui. Já demoramos demais, mas eu prometi pro tio que nós vamos sair pra brincar. Só nós três.

– Só nós três. – O Vandré respondeu. – Você quer fazer mais coisas comigo?

– Eu quero. Com o papai também.

– Sim, com ele também.

– Agora é dormir. E sem enrolação. Dou dois minutos. – O pai não estava brincando, mas sorria pro Vandré.

E eles deixaram um abajur ligado antes de sair e só encostar a porta. Eu lembro de ficar sentindo por muito tempo um gosto estranho na boca antes de dormir e só podia ser o gosto da boca deles.

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