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Novos Anjos Parte 25

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Mesmo exausto ainda demorei a conciliar o sono após a conversa com Arthur, é engraçado como as vezes 24 horas parecem ter uma duração muito maior, um único dia tão cheio de eventos parecia durar uma eternidade, acabei dormindo quase 2 horas da madrugada, acabei despertando com alguém acariciando meus cabelos, era o Luca.

Que horas são? Perguntei com voz de sono sem ainda conseguir olhar seu rosto.

São quase 5:00 da manhã- ele respondeu- desculpe eu não queria ter te acordado.

Não foi um sonho então né? Falei enquanto sentava na cama em sua frente e agora via seu olhar triste.

Não foi- ele me abraçou com força.

Ficamos lá bastante tempo abraçados sem nada dizer, palavras não iam adiantar de nada naquele momento, tudo o que podemos fazer agora é nos ater as boas recordações. Acho que ficamos uns bons 20 minutos lá abraçados e quietos, o Luca respirava fundo e fazia carinho nos meus cabelos e eu estava totalmente entregue ao momento, lidar com a perda não era fácil, quebrei o silêncio.

E agora, o que vai acontecer? Perguntei tentando enxugar as lágrimas que eu pensava que já tinham secado.

Eu fui com o papai no hospital, já liberaram tudo, fizeram os documentos, depois fomos a funerária onde vão fazer todos os preparativos pro velório, deve ser no Domingo de manhã.

Tão rápido assim? Indaguei.

Sim, aí vamos nos despedir da vovó- ele disse num lamento.

Por que isso aconteceu? O Que aconteceu? Ela estava tão bem e de repente não está mais… que droga, coloquei as mãos no rosto.

Não fica pensando nisso Paulo, todo mundo tem a sua hora, são coisas que a gente não compreende, que estão acima de nós.

Você acredita em Deus? Perguntei.

Claro, Paulo, você não? Ele perguntou espantado.

Acredito, acredito sim lógico, mas as vezes é difícil entender… Por que Deus tira as pessoas que a gente ama da gente? Ele não devia ser bom? Mas tá nos causando sofrimento.

Eu estaria mentindo se dissesse que entendo cara, mas realmente deve ter algum significado, a gente tem que ter fé.

A Titia disse a mesma coisa- falei incomodado.

Deve ter um significado, mas a gente ainda não tem como entender, somos simples seres humanos, a hora de todo mundo chega.

Esse papo de adulto me incomoda um pouco, parece meio que conformismo sabe?

Eu entendo, mas existem mesmo coisas que tão acima da gente, pensa no universo, olha quantas coisas incríveis e inimagináveis existem por aí que nunca vamos entender.

É você tem razão, pensar demais acaba não levando muito longe mesmo. Respondi melancolico.

Vamos tentar descansar agora- Luca levantou enquanto puxava o colchão extra do meu quarto e colocava ao lado da minha cama.

O vovô tá lá no seu quarto?

Sim, pelo remédio que o pai deu pra ele vai demorar pra acordar, ele ficou tão nervoso, vai ser um dia difícil hoje.

Só nos restou tentar descansar ao máximo mesmo, nada mais poderia ser feito, acabei me entregando ao cansaço de vez e acordei quase as 11:00 da manhã sentindo muita fome, achei estranho ninguém ter me chamado mais cedo… quer dizer, não tão estranho assim, todos devem ter mil e uma coisas para fazer, resolvi ir bem rapidamente escovar os dentes e me trocar, antes de descer verifiquei que não havia mais ninguém em nenhum dos quartos, fui até a cozinha e vi que o Pedro e o Filipe estavam sentados a mesa ainda tomando café com um semblante pra lá de horrivel.

Bom dia- cumprimentei baixinho.

Bom? Péssimo dia né? Falou Filipe largando um pedaço de pão de volta em seu prato.

Tá, desculpa, só falei- respondi meio sem jeito.

Tsc, que droga… desculpa Paulo, respondi no impulso. Ele me estendeu a mão chamando pra mesa.

Tudo bem cara, eu sei que não é fácil- falei me sentando ao seu lado e colocando a mão no seu ombro.

A gente nem pôde se despedir dela, foi acontecer tão de repente -Filipe suspirou e começou a chorar escorado na cadeira do outro lado.

A gente não pode ficar o resto da vida chorando- disse Pedro- Nem era isso que ela ia querer da gente.

Mas também não adianta ficar bancando o machão aí que nem você né? Retrucou Filipe irritado.

Mas não precisa ficar chorando que nem uma bichinha, ela não vai ressuscitar com isso. Pedro falou quase que debochando.

Você é um babaca, sabia? Fica fazendo deboche numa hora dessas. Mas você bem que gostava quando ela encobria as merdas que você fazia né? Filipe levantou da cadeira irado.

Melhor fazer merda do que falar merda que nem você. Pedro levantou o encarando.

Seu grosso estupido, pensa que eu não sei quem quebrou o vaso da mamãe com a bola? Mas quando a vovó encobria essas coisas você adorava né? Agora tá aí pagando de machão, nem parece que gostava dela de verdade.

Quem você pensa que é pra dizer o que eu sinto ou deixo de sentir por alguém? Pedro gritou apontando o dedo na cara do irmão. Me respeita seu cretino.

Ui, agora ele quer respeito- Filipe falou sarcasticamente- Nem parece o garotinho implorando pra vovó não contar que mijou na cama com 13 anos.

Você é um palhaço mesmo- Pedro partiu pra cima do Filipe agarrando ele pela blusa.

E onde eu estava nessa hora? Bem eu estava no mesmo lugar, quase entre eles mas totalmente paralisado com a situação que se formou, não consegui dizer uma única palavra, estava totalmente sem ação na verdade eu tava mesmo é quase pra entrar em pânico, os gêmeos sempre foram grudados um no outro, nunca desde que vim morar aqui eu vi eles brigando, não desse jeito, não nesse nível, pra minha sorte e “azar” deles o Luca apareceu na cozinha naquele momento em que eu já achava que eles iam partir pra briga.

O que tá acontecendo aqui? Luca levantou bastante a voz enquanto apartava a discussão separando os dois. Vocês estão ficando malucos é? Dois irmãos que nunca brigaram e agora isso, tentem mostrar um mínimo de respeito pela memória da nossa vó, vocês acham que ela ia gostar de ver essa cena?

A culpa é toda desse idiota que fica com veadagem, você acha que só porque eu não tô me debulhando em lágrimas eu não me importava com a vovó seu babaca? Pedro gritou.

Já chega Pedro e vê se modera essa sua línguagem- o Tio Daniel falou entrando na cozinha e vendo toda a situação.

É ele, pai… é ele que não tá nem aí pra nada, nem se importa com os outros- Filipe disse chorando enquanto correu pra sala e se atirou no sofá.

Já chega disso- Falou Tio Daniel irritado como poucas vezes eu vi- Daqui a pouco está chegando um monte de parentes aí e o avô de vocês vai voltar e não quero saber mais de bagunça, Luca, Paulo vão já se arrumar, vestir uma roupa que vamos sair. E você Pedro, vai imediatamente se desculpar com o seu irmão, entendeu?

Mas pai, foi ele que começou- disse Pedro reclamando.

Ele que começou e você que vai terminar, eu disse imediatamente, não me deixe mais aborrecido do que já estou.

O Tio Daniel após colocar toda a situação em relativa ordem rapidamente saiu novamente, só ouvi de longe o barulho dele ligando o carro, provavelmente ainda havia muito a resolver e o stresse dele era totalmente justificavel e compreensível.

Antes de seguir as ordens do meu tio eu e Luca ficamos parados no pé da escada observando o Filipe e o Pedro que se aproximava do sofá.

Tá bom, eu sou um idiota, me desculpa. Pedro falou ao irmão. Filipe nada respondeu, apenas grunhia baixinho chorando.

Vai cara, o que quer que eu diga? Que sou um babaca, um otário? Quer que eu te dê meu sangue? Um órgão, sei lá, vai responde alguma coisa por favor.

Palhaço- Filipe respondeu baixinho.

Qual é cara? Tô aqui pedindo desculpas não estou?

Porque o papai mandou- Filipe respondeu malcriado.

Não, não, porra o que você quer que eu faça pra acreditar em mim, eu juro que tô sendo sincero, não vamos brigar mais, vai? Por favor me perdoa.

Não fala mais comigo, nunca mais. Filipe afundou a cara no travesseiro do sofá.

Vocês estão vendo né? Pedro se voltou para nós dois na escada, eu tô pedindo perdão, tô quase implorando mas ele nem liga, depois vem me acusar de não ter coração. Pensa que eu não tô sofrendo também? Mas eu tô, muito, eu juro. Ele se sentou no degrau das escadas e se pôs a chorar, ao perceber o movimento Filipe levantou do sofá e foi até o irmão.

Não chora, vai? Eu não quero te ver mal. Ele disse. Eu acredito em você sim.

Eu só falei da boca pra fora, juro, me perdoa- Pedro lhe deu um abraço.

Tá todo mundo muito nervoso hoje- Se manifestou Luca- Mas não adianta de nada ficar brigando, pronto já passou, todo mundo fez as pazes bem rápido né? Vamos todos nos arrumar como o papai pediu que logo vai estar cheio de gente aqui em casa.

Como espectador de tudo fiquei aliviado de ver que tudo acabou dando certo bem rapidamente, era verdade que todos estavam nervosos mas o único jeito de deixar nossa vó feliz era tentar continuar unidos como sempre fomos. O Pedro e o Filipe sempre foram o contraponto um do outro, a titia diz que eles se completam, enquanto o Filipe é calmo e sensível o Pedro é mais durão e gosta de ficar na dele. Perceber isso num outro ângulo me incomodou um bocado, principalmente na hora que o Pedro usou alguns termos como “Veadagem” e “viadinho”, aquilo me pegou em cheio e agora eu já não estava mais tão certo sobre revelar tudo para minha família, minha confiança foi lá pra baixo.

Não demorou muito e de fato começou a chegar um monte de gente, parentes que eu não via a um tempão, primos e primas dos meus tios, algumas tias e até alguns que eu realmente não tinha lembrança alguma, parece que a nossa casa foi escolhida como base, tinham até alguns primos mais novos do que eu mas provavelmente eles nem entendiam direito porque estavam ali e ficavam brincando ao redor, eu obviamente não tinha vontade alguma de brincar, e o momento mais triste ocorreu, o meu avô chegou com minha tia.

Demorou bastante até eu conseguir me aproximar, um grande corredor de pessoas se juntou na minha frente onde um por um iam cumprimentando meu avô, conversando com ele as vezes vários minutos, claro que a vez dos adultos ficava na nossa frente, finalmente minha tia chegou com meu avô perto de mim e eu lhe encarei, ele estava tão triste, mesmo tendo mais de 70 anos meu avô sempre tivera um rosto tranquilo, sem rugas e até com quase todo o cabelo que uma pessoa naquela idade pode desejar, não aparentava a idade que tinha. Mas naquele momento parecia que 20 ou 30 anos tinham caído em suas costas, eu jamais havia visto ele naquele estado, tudo o que consegui fazer foi lhe dar um abraço, que logo foi se tornando coletivo com Pedro, Filipe e Luca, nada diziamos, era apenas o nosso momento dos netos e do vovô tentando expressar a dor daquele acontecimento.

Após o abraço nossos olhares se encontraram, ele nada disse, apenas sorriu e balançou a cabeça como se querendo dizer que estava tudo bem, pegou um lenço e fez questão de enxugar as lágrimas de cada um de nós um a um, foi um gesto simbólico muito bonito e triste ao mesmo tempo, mas acho que todos entenderam como um motivo para ter forças e seguir em frente.

Aquele dia passou devagar, alguns parentes ficaram e outros foram até o local do velório onde as despedidas iriam acontecer no Domingo pela manhã, a vovó estava lá, pedimos para ir ver mas minha tia não permitiu, talvez fosse realmente chocante demais ver o corpo sem vida de uma pessoa tão querida, eu sei bem pois eu passei por isso com a minha mãe.

Chegado o Domingo o velório aconteceu, muitas pessoas falaram, lembraram de momentos da vida de nossa avó, alguns momentos me eram familiares outros nem tanto, foi tudo muito rápido e triste, não adianta de nada ficar descrevendo até porque eu tentei ao máximo não fixar aquele momento em minha cabeça, tentei pensar apenas nos momentos da companhia da vovó ao meu lado e de meus primos, nos bons momentos, ao final me aproximei do Arthur e do Flávio que estavam em uma outra fila de cadeiras mais afastada.

É… agora acabou tudo- suspirei.

Você está bem? Perguntou Flávio me estendendo a mão.

É difícil, é complicado né? Falei. Mas a gente tem que seguir a vida, era isso que ela ia querer.

Você tá certo- disse Arthur me abraçando- tem que pensar assim mesmo, sua vó ia querer isso, de todos vocês que sejam felizes e sigam a vida.

É meio engraçado, sabem? Ela nem era minha vó de sangue. A mãe da minha mãe era outra pessoa, ela já faleceu há muito tempo, nunca conheci.

A gente não sabia disso- Falou Flávio meio espantado.

Pois é, mas ela nunca me tratou diferente por não ser neto dela, sempre foi uma avó de verdade pra mim e é isso que eu vou guardar aqui dentro de mim.

Você tem tanta força Paulo, eu queria muito ser que nem você, sabia? Flávio bateu em meu ombro.

Seu bobão, seja sempre você mesmo, eu te adoro assim desse jeito que você é- dei um sorriso-

É legal te ver assim sorrindo de novo, me desculpa não poder ficar mais com você, a minha mãe disse que a gente não vai poder demorar muito. Flávio lamentou.

Tudo bem, não se preocupa com isso, muito obrigado por ter vindo, muito obrigado por ser meu amigo- lhe dei um abraço forte.

Você já sabe quando volta pra escola? Flávio perguntou.

Amanhã ué- respondi.

Você vai amanhã pra escola? Arthur se espantou.

Vou sim, não adianta ficar perdendo aula por isso, não quero me atrasar nos estudos, acho que era o que minha avó ia querer, não posso virar o neto burro.

Seu besta, de burro você não tem nada- Flávio riu- Então a gente se vê amanhã, tchau gente.

Nessa hora eu percebi mais do que nunca como era bom ter amigos, o Flávio era um menino tão bom e a gente aumentou ainda mais a nossa amizade e intimidade com… vocês sabem o quê. Eu nem parecia mais aquele garoto sozinho que voltou dos EUA sem ter feito um único amigo.

Tinha o Arthur também, claro, mas ele era mais do que um amigo, ele era o meu amor, o amor da minha vida e eu continuava muito apaixonado por ele, claro que eu acho que todo amor, todo relacionamento assim tinha que ter a amizade também envolvida e o Arthur ia ser sempre meu amigo também, meu amado amigo.

E você Arthur? Já vai também? Perguntei me virando para ele.

Não sei, mas acho que não vamos demorar, meu pai tá muito incomodado, ele nem queria vir sabe? Ele lamentou.

Tá tudo bem em casa? Me preocupei.

Mais ou menos- ele respondeu- Minha mãe e meu pai discutiram muito hoje antes de vir pra cá, eles tão…

Estão o quê? Indaguei para que completasse a frase.

Deixa pra lá , não é justo eu ficar despejando meus problemas num momento desses, vai passar…

Fala, por favor- supliquei- Lembra o que aconteceu da última vez que você quis ficar guardando as coisas só pra você? Confia em mim vai, eu sou bem mais forte do que você imagina.

É que… é a minha mãe…bem… eles tão brigados faz tempo e eu ouvi algumas vezes ela falando que quer se divorciar- ele falou baixando a voz.

Sério? Sinto muito Arthur- tentei lhe consolar com um carinho no rosto.

Talvez seja melhor mesmo assim, não é como se ele tivesse sido um pai e marido exemplar até hoje.

Eu não imaginava que estava nesse nível- lamentei novamente.

Deixa pra lá, não vai ser nem o primeiro nem o último divorcio do mundo, não é isso que vai me fazer ficar pra baixo né? Disse Arthur numa clara tentativa de parecer durão.

Se precisar de mim sabe que sempre estarei com você. Lhe beijei a bochecha.

Eu te amo tanto Anjinho, tenho tanto medo de te perder… Tenho medo de… o dia que meu pai descobrir…ele não vai levar numa boa eu tenho certeza disso.

A gente vai enfrentar tudo juntos, lembra? Você não está sozinho- falei carinhosamente. Eu também te amo.

Você vai contar tudo pra sua família? Arthur interrogou.

Vou, mas só se e quando você estiver bem com isso. Falei num tom sério. Você pode ir lá em casa amanhã depois da aula?

Acho que posso, meus pais vão estar trabalhando e não vão nem saber se eu voltar pra casa antes que cheguem.

O seu pai detesta que você vá lá pra minha casa né? Falei meio triste.

É tão evidente assim? Arthur se espantou.

Eu percebo que mesmo depois de tudo ele mal fala com meus tios e sempre parece muito incomodado quando estamos por perto.

Esse é um dos maiores motivos deles brigarem, meu pai se irrita com isso, ele diz que não quer que a gente se misture, ele diz cada coisa que… desculpa, prefiro que você nem saiba.

Eu aguento, pode dizer- falei.

Ah não Paulo, esquece isso, droga porque fui comentar? Você já tá com a cabeça cheia aí.

E agora com a cabeça cheia de curiosidade- dei um sorrisinho.

Lá vem você querendo fazer graça com assunto sério. Ele reclamou quase bravo.

Desculpa, não tô fazendo graça, mas se for o único jeito de fazer você me contar…

Afff, você consegue ser tão chato as vezes, sorte sua que eu te amo- ele falou meio bravo e meio conformado.

É claro que eu te amo seu bobo, virei seu rosto pra mim e lhe dei um beijo na boca, não importa os meus problemas, eles nunca vão ser tão grandes a ponto de eu te deixar na mão, nunca vou te deixar sozinho.

Seu besta, e se alguém vê a gente se beijando?

Mas ninguém viu, vai me conta.

Cara o meu pai é complicado… ele suspirou… mesmo depois de tudo ele não é nem um pouquinho grato com o que sues tios fizeram por ele, pelo contrário, ele só reclama e fala mal.

Como assim?

Ele odeia ir lá pro programa de reabilitação, e não gosta de saber que eu vou pra sua casa, ele diz que eu só tô me aproveitando, que tô vivendo de favores e esmolas dos outros.

Isso não é verdade Arthur- Tentei consolá-lo ao notar um princípio de choro.

Mas pra ele é- o meu pai é assim, ele quando fala não mede as palavras…

Sinto muito, eu sou uma besta, desculpa por te fazer falar- eu disse num tom de tristeza.

Que você é uma besta isso não se discute- ele falou sorrindo e engolindo o choro- bora tentar esquecer isso por enquanto, seguir em frente, lembra?

Tá bom então seu bobo, eu te amo muito sabia?

Te amo também, a gente se vê amanhã na aula então- ele me deu um selinho e se foi.

O restante do dia transcorreu normalmente, mais normal do que eu imaginava até, parece que tudo aquilo tirou um peso enorme de todos nós e cada um a sua maneira sabia que deveriámos seguir em frente com nossas vidas, é assim que funciona, é assim que sempre vai ser. Até o meu avô agora parecia mais tranquilo, mais sereno, no final da tarde alguns parentes que ainda permaneciam se juntaram na casa do meu avô e juntos todos tomaram café e provavelmente colocaram a conversa de adultos em dia, o meu avô ainda não sabia o que faria com sua casa, minha tia havia tirado a semana de folga para ajudá-lo.

Não tive mais problemas para dormir , na verdade acabei caindo no sono antes das 22:00 h, acordei por volta de 5:30 da madrugada quando vi algumas mensagens de texto do Arthur e do Flávio da noite anterior me desejando boa noite, como não havia respondido na hora resolvi que falaria com ambos de manha durante as aulas.

Como já estava mesmo acordado resolvi logo escovar os dentes e tomar banho para me arrumar, em 20 minutos eu já estava na cozinha, como ainda não havia ninguém resolvi ir arrumando a mesa para o café. Logo meus tios apareceram com meu avô, ele já parecia estar bem melhor, não é que ele ou qualquer um de nós realmente se importasse pouco mas criamos mesmo a filosofia de seguir em frente, afinal de contas ficar se lamentando dia após dia é uma prática inútil. Logo meus primos apareceram e todos nos servimos do café da manhã.

Vô , o Senhor vai ficar com a gente agora? Perguntei enquanto mastigava uma torrada.

Vou ficar mais alguns dias, mas quero logo voltar pra casa, não quero ficar tirando o espaço de vocês- ele respondeu.

Que é isso vô? Falou Luca- Se é pelo meu quarto o Senhor pode ficar com ele todinho pra você, eu me arrumo lá junto com o Paulo.

Hahaha, não se preocupe meu filho- falou meu avô sorrindo- eu só pareço um bom velhinho mas vocês logo iam enjoar com meus hábitos aqui se ficasse no dia a dia, além do mais eu sou mais durão do que vocês pensam, com certeza a minha velha não ia gostar nadinha se eu ficasse pra baixo por tempo demais por causa dela, provavelmente iria ficar bem brava comigo.

Ah, papai, é tão bom ver o Senhor sorrindo assim logo tão cedo- Minha tia falou visivelmente contente.

A gente aprende de tudo sempre nessa vida- meu avô respondeu- vamos ficar animados e seguir adiante, tenho certeza que era o desejo dela.

Assim que se fala vô. Lhe dei um abraço. O Senhor é tão forte, é um exemplo pra nós todos.

Não sou tão forte como pensam, mas dá pro gasto- ele respondeu carinhosamente.

Mas o Senhor acabou de dizer que era mais durão do que a gente pensava, assim eu fico confuso viu? Filipe retrucou.

Hahaha, coisas de velho… daqui a pouco eu estou ficando gagá mesmo- ele falou fazendo um cafuné no Filipe.

Mas realmente o Senhor tem que pensar em relação a sua casa- Meu tio entrou na conversa- Não pode ficar morando sozinho lá agora, o Senhor é sempre bem vindo em nossa casa, se for o caso podemos mudar para uma maior.

Ah, isso não, eu sei que é difícil viver com um velho cheio de manias e hábitos estranhos, ia acabar dando trabalho pra todos.

O Senhor nunca vai dar trabalho pra gente vô- Pedro falou num sobressalto.

Ah meu neto, eu sei disso, mas é que eu gosto de ter meu canto também, sabe? Poder receber minhas visitas pro café…

Ei vô, tem uma casa lá na outra rua aqui do condomínio que tá a venda a um tempão, o Senhor podia dar uma olhada né? Lembrou Luca. Aí o Senhor ficava na sua casinha mas pertinho da gente.

O seu avô ainda tem muito o que pensar Luca, depois podemos ver essas coisas- minha tia interrompeu.

Não, não, sabe que eu até que gostei da ideia? Meu avô levantou da mesa e deu um tapa nas costas do Luca. Capaz de eu ir dar uma olhada lá para pegar informações, Luca, você vai me mostrar exatamente onde é, tudo bem?

Mostro sim vô, que tal se o Senhor vier agora com a gente quando eu for deixar os meninos na escola, aí eu dou a volta no quarteirão e passo bem em frente e podemos tirar uma foto da placa de venda com os telefones.

Sem exageros então viu? Minha tia disse num tom sério- Pai nada de ficar fazendo coisas no impulso, já não basta aquele monte de apartamentos que o Senhor acumulou esses anos todos na cidade.

São investimentos querida, todos eles estão alugados, nunca me deram prejuizo, além do mais um dia vou deixar um para cada um dos meus netos.

O Vovô tem grana sobrando mão- Luca deu risada-

E é justamente por isso que tem que ter responsabilidade com os gastos, quando se tem muito é fácil perder muito também.

Tudo bem querida, não se preocupe que qualquer coisa que eu decidir prometo que só farei depois da sua aprovação- vovô deu um sorrissinho maroto.

Mas então… vamos todos? Disse Luca- vai todo mundo escovar os dentes pra não deixar o vô esperando, 5 minutos e todo mundo lá na garagem, beleza?

Não vai fazer nenhuma gracinha com seu avô, ouviu bem Luca? Nada de ficar tagarelando ideias no ouvido dele- Minha tia falou toda séria.

Pode confiar- meu avô disse enquanto caminhava junto com o Luca até o carro dandos umas risadinhas bem esquisitas.

Arrumamos nossas coisas e fomos até o carro, ficou meio apertado com nós três no banco de trás e o vovô com o Luca na frente, mas seria só uma volta rápida no quarteirão, coisa de 10 minutos no máximo pro meu avô poder ver direitinho a casa ao menos por fora. Demos a volta no quarteirão e o Luca parou bem em frente dela, era uma casa bem parecida com a nossa já que todas casas do condominio seguiam um mesmo padrão, na frente havia um pouquinho de mato acumulado, a casa estava vazia. Aparentemente era o modelo de casa de 3 quartos do condominio, deveria ter um quintal um pouco menor do que o nosso, a pintura tava bem acabadinha e o telhado um pouco sujo de folhas, mas nada que não pudesse ser resolvido em poucos dias.

Parece bem interessante- meu avô falou- anota aí o telefone Luca, vou ligar hoje mesmo e marcar uma visita, se tudo der certo até o fim da semana eu compro ela.

Caramba vô, o Senhor é bem maluquinho, hein? Bem que a mamãe avisou- Luca caiu na gargalhada enquanto eu e meus outros primos ficamos de olhos arregalados.

Não foi você quem disse que eu tenho dinheiro sobrando? Não se preocupe que qualquer coisa se não der certo é só deixar alugado, não é mesmo? Ele riu que nem criança.

O Senhor parece mais é que tá se divertindo com isso hein vô? Eu falei.

Dinheiro não é mais importante quando a gente chega numa certa idade, agora que a vó de vocês não está mais aqui tudo que eu tiver vou deixar pra vocês.

Ah, vô, a gente não liga pra isso não, ninguém aqui quer as suas coisas, queremos é que o Senhor fique muito tempo com a gente. Luca falou quase numa reclamação.

Hahaha, eu sei, eu sei, mas pela lógica eu tenho menos anos de vida do que vocês, certo? E não custa nada a gente ser precavido. Nossa, mas eu gostei mesmo foi da localização, é tão pertinho da casa de vocês, eu já começo a ter até umas ideias… ele riu.

E o Senhor deixaria a sua casa atual alugada também? Perguntou Pedro enquanto o Luca retornava com o carro para deixar o vovô em casa.

Ah, isso eu ainda vou pensar, mas estou tendo algumas ideias, então pensei que eu poderia vendê-la e dividir o valor numa poupança para vocês.

Ah não vô- disse Luca- Não precisa ficar dando coisas pra gente, tudo o que queremos é o senhor conosco, não é meninos? E todos concordamos com um “sim”.

Mas o único prazer de um velhinho como eu é agradar os meus netinhos queridos- disse o vovô- Além do mais vai ser pra Faculdade de vocês, e não esqueçam que a vovó queria que todo mundo tivesse estudo.

Tá bom vô, a gente aceita- disse Luca conformado, mas sem exageros, promete?

Até parece que uma ou duas casinhas vai me deixar falido- meu avô sorriu enquanto deixava o carro para retornar para casa- Tenham um bom dia de estudos- se despediu.

Pra ser bem sincero eu nunca soube realmente de onde vinha tanto dinheiro que o meu avô tinha, mas sei que ele começou de baixo e sempre trabalhou muito a vida inteira, já trabalhou em banco, foi dono de banquinha de churrasco, até ir crescendo mais e mais e ter as empresas dele, até restaurante ele tinha, mas chegou uma hora que ele resolveu se aposentar e vendeu tudo, mas com certeza vendeu muito bem porque dinheiro nunca lhe faltou, os tais apartamentos que ele tinha na cidade não eram coisa pequena, tudo apartamento grande de 3 ou 4 quartos em bons bairros, ele deixava alugado e acho que devia viver só com a grana desses alugueis, a vovó vivia dando bronca nele porque ele ainda ficava fazendo esses “investimentos”, a grande verdade é que ele não conseguia parar quieto mesmo, sempre fez questão de ser muito ativo a vida toda.

Depois dos meninos ficarem na escola deles chegou minha vez, eu em geral era o último já que a Monte Rei era um pouco mais distante da escola dos meus primos, fiquei contente de perceber que estavamos “normais” tão depressa, sem brigas e sem tristeza, como a vovó iria querer que fosse, o meu único “probleminha” naquele momento acabou sendo que por conta da parada para o meu avô ver a casa acabei chegando atrasado pra aula, por sorte o Luca deu uma enrolada na fiscal da escola dizendo que atrasamos por causa do trânsito e ela me deixou entrar sem levar advertência.

Tentei entrar na sala o mais silenciosamente possível para que o professor não me notasse, aparentemente eu consegui, cheguei até minha mesa sem que o professor me notasse, dei uma olhadinha ao redor fazendo sinal para alguns colegas e de um lado cumprimentei o Arthur e do outro… cadê o Flávio? Justo ele que sempre chega junto com a mãe na escola ainda não estava na sala.

Arthur, cadê o Flávio? Sussurrei.

Não sei- respondeu Arthur- mandei mensagem mas ele nem visualizou.

Será que aconteceu alguma coisa? Indaguei-

Sem conversa por favor, o professor falou em voz alta mas pra nossa sorte sem se virar pra ver quem era.

Arthur apenas me fez sinal indicando que depois a gente falava, tivemos que deixar a aula rolar com a dúvida sobre nosso amigo, o professor logo passou um exercício super chato e complicado, pra minha sorte o Arthur como sempre afiado me ajudou a resolver. Terminado o primeiro tempo de aula o professor tratou de impiedosamente começar a encher a lousa de matéria novinha em folha, como de costume o professor verificou os alunos atrasados fora da sala e permitiu que entrassem no segundo horário, três alunos em meio a uma pequena bronca do professor entraram, entre eles o Flávio com uma cara meio de bravo.

Ei Flávio- eu chamei- tá tudo bem? Por que chegou só agora.

Afff, depois eu explico- ele falou com cara de irritado- que saco, levei a maior bronca do velho.

Vamos sentando aí por favor sem barulho? O professor reclamou. E senhor Flávio, o “velho” é seu padrasto e nosso diretor, um pouquinho mais de respeito tudo bem? Deu pra ouvir a risadinha da sala inteira com a bronca direta do professor pro Flávio que ficou até vermelho não sei se de raiva ou vergonha.

Resolvemos esperar até o intervalo, com certeza o professor do terceiro horário não ia dar colher de chá também e era melhor evitar novas broncas, finalmente terminada a terceira aula fomos em direção as mesas da cantina para o intervalo.

Poxa Flávio, o que aconteceu? Você chegou atrasado e passou a aula inteirinha emburrado. Perguntei enquanto sentava com nosso lanche.

Ah, nada…frescura lá do velho que agora deu pra pegar no meu pé. Retrucou bravo.

Poxa Flávio, vocês ainda não se acertaram? Perguntei

E nunca vamos nos acertar, eu queria que esse idiota sumisse da minha vida. Flávio bradou.

O que foi que aconteceu? Perguntei.

Eu saí ontem a noite pra dar uma volta… lá no condominio mesmo… Sei lá o que esse besta falou pra minha mãe mas ela me botou de castigo- Flávio contou.

Mas e agora de manhã? Você não veio com eles? Por que chegou tão atrasado? Arthur indagou.

Ai… é meio complicado- Flávio disse tentando fugir do assunto- olha, depois eu explico tá bom, eu tô meio chateado agora. Ah, fiquem aí no lanche, eu vou rapidinho ali no banheiro e já volto.

Arthur e eu nos olhamos enquanto Flavio ia andando até o banheiro, tinha algo de muito errado, mais óbvio do que isso era impossível.

Ele tá escondendo alguma coisa da gente- Disse Arthur num suspiro.

Tá mesmo- falei- mas o que a gente pode fazer? Não podemos forçar o Flávio a contar, se for algo errado a gente tem que fazer ele perceber por sí mesmo que tá cometendo alguma bobagem.

É um problema atrás do outro, isso é incrível- Arthur lamentou-

Ei… a gente supera tudo juntos, lembra? A gente come probleminhas como esse no café da manhã- Falei tentando animá-lo.

O que eu faria sem você meu anjinho? Eu tô tão nervoso hoje também… como vai ser lá com a sua família hoje?

Vai ser de boa, eu tenho certeza- falei tentando ser confiante.

Mas o velório da sua avó foi ontem, todo mundo deve estar de cabeça cheia, a gente não devia esperar mais pra arrumar um novo problema?

Que problema Arthur? A gente não pode ir com a cabeça achando que isso é um problema, eu te amo, você me ama, a gente só vai tornar isso público pra eles.

Ah, eu tenho medo anjinho, sei lá… que eles não me vejam mais do mesmo jeito, que achem que eu tô querendo algo com você só pra me beneficiar…

Você tá se deixando levar pelo que o seu pai disse? Não pensa assim, poxa não é como se você tivesse me seduzindo pra roubar minha herança, isso é coisa de novela Arthur.

Hahaha, só mesmo você pra me fazer rir nesse momento, eu queria ser confiante que nem você, sabia?

Confiante? Que nada… eu vou ficar me tremendo todo na hora, mas o importante é que vamos enfrentar juntos.

Tá bom, pelo menos hoje vai ser um problema a menos nas nossas costas, agora tem isso do Flávio também, olha, ele tá voltando- Arthur apontou.

Como você demorou Flávio- falei lhe dando um tapa nas costas.

Vai querer controlar meu xixi agora é? Ele falou meio bravo.

Tá bom, tá bom, me desculpa, só falei porque senão o recreio acaba e você não come seu lanche.

Mas também não precisa responder assim né Flávio? Arthur me defendeu.

Tudo bem gente, não vamos discutir por bobagem por favor- tentei colocar panos quentes na situação.

Droga, tudo bem… quer dizer… não tá tudo bem… me desculpa Paulo- Flávio falou meio que mordendo os lábios.

Eu não me ofendi Flávio, tá bom eu aceito suas desculpas mas fala com a gente vai? Não precisa ficar carregando as coisas nas costas sozinho, somos amigos lembra? A gente sempre vai dividir os problemas pra não deixar o outro carregar sozinho. Vai fala, o que tá acontecendo de verdade?

Não… é que… é sério…não tem como eu contar… não dá agora… não posso…

Não pode mesmo Flávio? Ou não quer? Arthur indagou.

Juro que não posso, envolve outras pessoas além de mim… por isso não posso falar…

Tem a ver com o seu padrasto? Por que ele implicou com você por sair ontem a noite? Se foi só dentro do condomínio qual seria o problema em dar uma volta?

Problema nenhum , eu acho, ele que é um chato- Flávio reclamou.

Sim, a menos que…a menos que você tenha ido pra algum lugar fazer alguma coisa que ele não aprova. Disse Arthur tentando deduzir alguma coisa.

Ele não pode aprovar ou desaprovar nada , não é meu pai, não pode dizer quem eu posso ou não posso ver… Flávio falou irritado.

Então você foi ver alguma pessoa? Indaguei.

Droga- Flávio resmungou ao notar que falou demais.

Eu e Arthur já estavamos prestes a continuar interrogando o Flavio quando uma velha figura apareceu na nossa frente como se renascido dos mortos, a muitissimo tempo não tivemos mais o desprazer de vê-lo, era o Gustavo, aquele mesmo brigão que quase bate na gente lá no capítulo 2 da história, mas que azar, o que será que ele quer?

Ei Flávio, vem aqui que quero falar com você- ele falou num tom de ordem.

Ei, calma aí, ele tá com a gente- Arthur tentou interferir.

Cala a boca ô magrelinho, o assunto é particular certo? Então recomendo que peguem o lanchinho aí de vocês e corram bem depressa de volta pra sala de vocês enquanto eu ainda estou de bom humor. Gustavo ameaçou.

Você não pode falar assim com a gente, estamos dentro da escola, eu chamo um professor e você tá ferrado- levantei a voz.

Quer ficar sem nenhum dentinho nessa sua boca viadinho? Ele me segurou com força com apenas uma das mãos na gola da minha camisa- Eu posso te encontrar em qualquer outro lugar fora da escola e ninguém nunca vai saber.

Larga ele- Arthur tentou tirar a mão de Gustavo de mim-

Muito bem, eu largo- ele respondeu me jogando pra frente que nem um boneco de pano quase me levando ao chão. Agora vai com seu namoradinho e volta pra sala de vocês que eu quero falar com o Flávio.

Você é um animal- Arthur falou trêmulo.

Então acho bom ficarem bem longe de mim senão daqui a pouco a escola toda vai saber o segredinho de vocês.

Do que… do que você tá falando? Perguntei preocupado- Flávio, você vai com ele? Não vai dizer nada? Eu vou chamar o Diretor aqui, agora.

Se fizer isso a escola toda vai saber do caso das duas bichinhas aqui- ele apontou pra nós dois- Vocês por acaso acham que ninguém sabe? Caiam fora senão eu conto pra todo mundo.

Naquele momento notei Arthur me olhando branco que nem um papel, o pensamento dele era fácil de imaginar, certamente era o mesmo que o meu: como diabos aquele brutamontes sabia disso? E o que ele queria com o Flávio?

Deixa que eu vou e resolvo tudo aqui- falou Flávio notando como estavamos aflitos- vão pra sala, já vai acabar o intervalo.

Flávio, a gente não vai te deixar sozinho com esse cara- gritei- nem que a gente apanhe aqui e agora, não vamos te abandonar- Arthur concordou do meu lado.

Vão logo, eu me entendo com ele, vão logo- Flávio falou quase implorando- Deixa que eu resolvo, por favor… se vocês forem meus amigos de verdade pelo amor de Deus, atendam esse meu pedido.

Tentei retrucar mais uma vez mas o Flávio fez novamente sinal para que fossemos, resolvi que o jeito era deixar sua vontade prevalecer naquele momento, o Gustavo não ia poder fazer nada de tão grave com o Flávio enquanto estivessem dentro da escola, imaginei, chamei o Arthur e fomos em direção a sala.

Boas meninas, assim que eu gosto- Gustavo ainda debochou.

Se o nosso amigo não voltar em 15 minutos a gente vai fazer um escandalo entendeu seu bruto? Arthur falou com raiva- eu chamo policia, bombeiros e o FBI se for o caso.

Infelizmente foi o máximo que pudemos fazer, voltamos pra sala de aula e sentamos desolados em nossos lugares. Só restava esperar… 15 minutos, juro por tudo que há de mais sagrado que se em 15 minutos contados o Flávio não voltar eu vou dar um jeito de ir atrás dele, nem que tenha que dar a louca e sair correndo da sala no meio da aula.

O que foi tudo isso anjinho? Arthur indagou enquanto respirava fundo.

Eu não sei, o Flávio tá metido em alguma encrenca com esse cara, lembra que desde antes de a gente se conhecer ele já vivia envolvido com ele e os pais desconfiavam de algo errado?

Droga, a gente devia ter feito alguma coisa- Arthur lamentou.

Fazer o quê? O Próprio Flávio quase implorou pra gente deixar eles conversarem.

Tomara que seja só conversa mesmo, eu tô com medo anjinho, tô pensando mil coisas malucas aqui, e se ele tiver metido com alguma coisa séria, tipo drogas? Sei lá…

Esse tal de Gustavo é bem capaz mesmo- falei- Ei você não tá notando algo estranho? A sala ainda tá vazia, não voltou ninguém até agora, o sinal nem tocou, e cadê a professora?

Voltamos a atenção para a porta da sala, resolvemos ir olhar o lado de fora, só aí percebi que estava um acumulo enorme de pessoas pros lados dos vestiários e banheiros, caramba, aconteceu alguma coisa, tem muita gente.
Sem nem conseguir esperar o Arthur corri em direção ao local, tentando chegar próximo só ouvi um professor gritando para todo mundo se afastar.

Todos mundo saindo de perto agora, afasta todo mundo- ele gritava- deixa ele respirar.

Meus Deus, ele quem? Pensei- mais alguns passos a frente e vi vários professores e funcionários colocando uma pessoa desmaiada em cima da maca de primeiros socorros- Meu coração apertou- Arthur chegou ofegante ao meu lado e segurei sua mão. Tinha sangue na cabeça da pessoa na maca e…era o Flávio.

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8 Comentários

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  • Responder Anônimo ID:3ynzdhgz8rb

    Excelente contos estou louco pela continuação

  • Responder paulo cezar fã boy ID:7121w172d4

    poxa jozeto! assim voce me mata do coração e de curiosidade. os finais dos seus capitulos sempre são muitos tensos. kkkk

  • Responder babydopapai ID:1360jpxv9j

    Adorei quem querer conversar eu sou uma mulher trans iniciada pelo tio e pelo pai
    Teleg Babydopapai

    • ROLA PRETA ID:6stwyke20b

      Nossa baby você me deixou tarado .
      Quero foder você sua putinha.

  • Responder Jozeto ID:8eez5vpd9a

    Agradeço demais suas palavras.

  • Responder Kanedaken ID:nvtn5wh3pqy

    Os bronheiro que só vem aqui pra fazer o menininho roxo vomitar acharam chato? Mas que pena hein. Cara, a história tá demais, pra quem acompanha DESDE O INICIO que nem eu, tá ficando sensacional. Todo dia venho aqui ver se já tem capítulo novo

  • Responder Lancer ID:1d4tbi0aa40t

    Chato

    • Ant ID:1clcovh9vgew

      Pois é