Caminhos do coração #2

MEUS AMIGOS

–Porra Zezinho, eu te fiz o passe certinho, era só você chutar a bola pro gol caralho, por sua causa o nosso time perdeu.
–Vai se fuder Pedro! …foi você que chutou a bola a quase um quilômetro longe de mim, a culpa não foi minha, é você que tem o pé torto.
—Eu chutei certo sim, é você que não presta atenção, vai brincar com seus carrinhos e deixa o futebol para quem sabe jogar – acredito que ele falou isso fazendo referência a coleção de carrinhos que eu tenho.

O Pedro tem hora que fala umas coisas sem noção, mas é o jeito dele, no fundo ele é gente boa e um grande amigo, ele tem treze anos, ele é moreninho bem puxado para a cor negra com todo respeito e seus cabelos são bem enrolados, o erro tinha sido dele mesmo, mas ele é muito orgulhoso para aceitar.

—fala de-novo e eu te quebro os dentes!
—ficou maluco Zezinho? …somos amigos, não vou brigar com você, até porque você apanha de mim hehehe.
—não fiquei maluco e não perco pra você no vamo ver, você me tirou …retira o que disse agora.

Briga, briga, gritavam os outros tirando sarro de nós jogando lenha na fogueira.
—Tá bom, eu retiro o que eu disse, foi mal.

—ih …esses caras aí estão de palhaçada, eles não brigam com ninguém não, tá mais pra acabar em beijinhos isso aí – disse o Gabriel nos tirando e a turminha começou a rir.
—Vai tomar no seu cu Gabriel.

O Gabriel é um garoto loiro e muito metido, ele tem quatorze anos e é o mais chato da turma, sempre com suas piadas e brincadeiras de mal gosto, e também tem seu amigo inseparável o Elias, Elias é um garoto moreno claro mais ou menos da mesma idade do Gabriel e esse sim me da medo, apesar do seu jeito mais calmo ele tem um olhar de psicopata, só não sei qual dos dois é mais idiota.
—olha como você fala comigo Zezinho, eu não sou o Pedro não, pra mim te quebrar inteiro é fácil, eu te arrebento aqui e agora.
—eu não tenho medo de você não seu otário, só porque você é maior acha que pode me intimidar?
—Há Gabriel. Você é outro que só tem conversa também, vai deixar esse tampinha falar assim com você?
—cala a boca Elias! …vai querer mandar em mim também? …se eu bater nesse moleque aqui eu desmonto ele, não vou fazer isso com o menino.
– Vamos sair daqui gente, vai acabar dando ruim isso aí.

Disse o Junior nos interrompendo, Júnior é o meu melhor amigo ali da nossa turminha, eu o considero assim, ele tem a mesma idade que a minha, porém alguns meses mais velho, ele tem cabelos cacheados e ruivos que se balançam ao vento assim como os meus, algumas sardas em sua bochecha que o deixava muito fofo e charmoso, magro e pele branca, eu acho ele muito gostosinho.
—tenho cinco reais aqui, dá para pagar um sorvete para cada um – disse o Pedro.
—bora lá …partiu para a lanchonete da tia Nena.
—acho que você não vai querer pagar um pra mim né Pedro? …eu e você quase brigamos agora a pouco.
—larga a mão de ser bobo Zezinho, eu nunca iria brigar com você, mesmo que você me batesse primeiro, agora vamos.

O meus amigos leitores, que falta de educação a minha, deixa eu me apresentar a vocês, eu me chamo José e sinceramente não gosto desse nome, más fazer o que né, foi meus pais que me colocou esse nome então só me resta aceitar, mas todos me chamam de Zezinho, e também odeio esse apelido, quero dizer, eu odiava, mas agora que me acostumei com ele passei a gostar, quem me colocou esse apelido foi a chata da minha irmã gêmea, ela começou a me chamar assim e os meus pais foram na onda dela também começaram a me chamar de Zezinho, quando percebi a cidade inteira estava me chamando de Zezinho e é como diz o ditado, quando se não gosta de um apelido é aí que ele pega mesmo, mas vamos lá, deixa eu falar um pouco mais de mim, eu tenho onze anos, sou magro e minha pele é branca, não que eu seja racista por dizer que sou branco, longe disto, é que estou só falando como eu sou, meus cabelos são pretos e bem lisos.
Minha querida e amada mãezinha, ela tem trinta e três anos, ela não é gorda, mas também não é muito magrela, e ela é muita vaidosa até mesmo no trabalho, seus cabelos também são pretos, pra falar a verdade todos na minha família tem os cabelos pretos. Ela se chama Joana e trabalha no caixa daquele supermercado que eu falei agora a pouco. Ela entra às oito horas da manhã e sai às seis horas da tarde, por ser uma cidade pequena o mercado fecha mais cedo e não muito tarde como nas grandes cidades e fica aberto aos sábados até o meio dia, mas às vezes pode acontecer de ficar um pouco mais quando o movimento está bom.
Tenho um ótimo pai, bom amigo, carinhoso e um bom conselheiro, ele bebe, mas não para ficar alto, ele só bebe mesmo uma pinguinha de manhã, outra antes do almoço e outra antes da janta e não é de sair muito, às vezes ele bebe um pouco mais no final de semana com os amigos dele mas ele é bem de boa mesmo estando alcoolizado, Ele se chama Jair e trabalha no armazém de grãos, é um armazém que recebe os produtos que são colhidos nos sítios e fazendas ao redor, na época da colheita é bem corrido, às vezes ele e os outros que ali trabalham vão até às dez horas da noite ou mais, meu pai chega em casa só o caco coitado, mas depois que passa a colheita fica mais calmo, o serviço desacelera um pouco.
Agora chegou a vês de eu falar da chata da minha irmã, tenho certeza que se ela ler essa historia vai ficar uma fera comigo kkkk …más foda-se. Eu acho ela chata mesmo e ela me acha chato também, coisas de irmãos, acho que todos tem esses tipos de rivalidade kkk …ela se chama Ana Clara, más a chamamos de clarinha, esse apelido quem deu a ela foi a minha mãe e ela adora ser chamada de Clarinha. Como eu já disse ela é minha irmã gêmea então tem a mesma idade minha, só não sei quem foi o primeiro a nascer, dizem que sempre tem alguns minutos ou segundos de diferença, nossos pais nunca nos contaram para não brigarmos por isso. Os seus cabelos são compridos igual aos da minha mãe e como já falei todos na minha casa tem cabelos pretos.
Na nossa pequena cidade é muito difícil ter uma casa alugada, as propriedades aqui são muito baratas, nem se compara aos valores exorbitantes das grandes cidades, aqui quase todos são donos de suas propriedades. Minha casa é azul, acho muito linda a cor, ela é grande com garagem para dois carros, mas só temos um, uma camionete veraneio que mais parece um furgão, para quem não conhece esse tipo de veículo pesquisa aí e vão ver, é um veículo antigo mas muito confortável e está em muito bom estado de conservação, não somos ricos, mais ou menos bem de vida eu considero talvez um pouquinho pra menos kkkk. Na nossa casa tem uma gostosa área e um lindo gramado na frente com bastantes pés de flores onde minha mãe passa os finais de semana cuidando, ela ama esse jardim, eu e minha irmã se revezamos para aguar durante a semana, pelo lado de dentro uma grande cozinha e uma sala razoavelmente grande também, dois banheiros e cada um tem o seu quarto. Bom. Eu acho que isso é tudo, se eu esqueci alguma coisa me perdoem, eu vou falando depois …agora chega de enrolação e vamos prosseguir com a nossa história, só deixa eu ver onde parei mesmo. Há! …já me lembrei.
—Podem escolher – disse o Pedro abrindo o freezer – mas não escolhem um muito caro, com cinco reais só dá para pagar três de fruta.
—Valeu Pedro, obrigado mesmo, da próxima vez eu pago – eu disse já pegando o sorvete de abacaxi que escolhi.
—não se preocupa com isso Zezinho.
—nesse calor caiu bem, eu estou todo suado.
Disse o Junior limpando a testa com a borda de sua camiseta, eu não deixava de reparar seus cabelos molhados.

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