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Quando a semana acabar – Parte 1

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Eu e meu vizinho Theo ficamos juntos em meu apartamento durante uma semana, enquanto seus pais viajavam. E essa foi a semana mais divertida e emocionante da minha nova vida solo.

Algumas coisas na vida, às vezes, acontecem como mágica. Coisas que não dá pra explicar, simplesmente acontecem. E essa história que vou contar, foi justamente assim.

Me chamo Murilo e tenho 22 anos. Eu sou daqueles com genética familiar, quando a aparência não condiz com a idade. Desde o ensino médio, sinto que meu corpo quase não mudou, pois sempre pareci uns 5 ou 6 anos mais novo. Até gosto disso, mas sempre tem algumas ocasiões que isso pega. Por exemplo, se eu quiser ir numa festa a noite, certeza que irão pedir um documento. Mas isso não me incomoda, sempre foi assim.
Quando me formei, resolvi investir meu tempo fazendo alguns trabalhos online, assim eu já ganharia uma graninha por minha conta. Nunca fui lá muito independente, mas queria ter minha própria vida. Logo, fiz alguns cursos pela internet e estudei línguas. Depois de uns meses, consegui um trabalho como tradutor. Seria perfeito pra mim, pois eu trabalharia em casa mesmo. Digo isso, pois não sou muito de sair, na verdade, sou bastante reservado desde a infância. Mas, não tenho dificuldade em fazer amigos.
Depois de um tempo, decidi tomar a grande decisão de ir morar sozinho, e como minha família é do tipo “vamos todos juntos”, foi um dia hilario quando finalmente eu resolvi sair. Já era hora. Então, com ajuda de uma tia,, consegui achar um apartamento bem legal no centro da cidade. É um pouco distante de todo mundo, mas seria ótimo pra mim. Não é muito grande, mas tem um bom espaço e é bastante confortável. Até adotei uma gata, que era o que eu mais queria. Sempre tivemos cães na família, então quis algo diferente. Batizei-a de Joline.
Fiz uma boa amizade com os outros inquilinos, e em alguns meses, quase todos me conheciam. Eu era o “menino com a gata”. Esses tipos de apelidos sempre me acompanhavam, e eu até gosto. Nós moramos no sexto andar, o que é ótimo, pois não curto muito altura. Dependendo do quão alto for, posso passar mal. Apesar disso, acabei me acostumando com o sexto andar. O pessoal vem me visitar de vez em quando, na nossa família, nunca deixamos ninguém. Sempre vai haver contato, mesmo a distância, o que é ótimo. Tudo estava muito bem, mas toda família tem alguns dramas…

Como eu disse anteriormente, sempre fui reservado. Eu era extremamente inocente quando criança, e demorou um tempo até eu começar a “complexidade” da vida adulta. Hoje em dia estou mais entendido, mas a mulecada atual aprende tudo rápido… Chega a ser assustador. E eu nunca pensei que isso seria tão presente na minha nova vida.
Depois de um tempo que me mudei, coisa de uns 4 meses, eu já tinha organizado praticamente tudo em meu novo lar. Isso só porque nunca fui de ter muita tralha, diferente do resto da família. Em mudanças, só faltava eles arrancarem um pedaço da parede da casa pra levar também. Eu já sou mais prático, então levei só o essencial e compraria o que precisasse depois.
Um dos vizinhos, seu Carlos, que por acaso já tinha feito amizade quando visitava o prédio, me ajudou bastante com a mudança. Ele simpatizou bastante comigo, pois disse que e lembrava muito seu filho mais velho. Me contou que o menino tinha mais ou menos a minha idade, e tinha se mudado pra Curitiba a trabalho. Ele ficara surpreso por eu também começar a vida adulta tão cedo, até eu contar minha real idade e ele quase cair pra trás de tanto rir com o espanto. Seu Carlos lembra muito meu pai, sempre de bom humor.
Ele mora logo ao lado com a esposa, dona Elisângela, e o filho mais novo, um garoto chamado Theo. Obviamente, conheci os dois bem rápido também. Eles são uns amores, e gostaram tanto de mim que foi como se nem tivesse saído da casa dos meu pais. E como tenho dois irmãos mais novos, não foi difícil me dar bem com Theo. Na verdade, ele grudou em mim de jeito, e poucas semanas, eu já era praticamente da família. Lembra quando eu disse no incio que algumas coisas acontecem como mágica? Pois é aqui que tudo realmente começa…

Theo, tem 12 anos, a mesma idade do meu irmão caçula. É um pouco menor, pele branca, levemente bronzeada, cabelos castanhos e aquela típica franjinha pro lado. Ele faz aula de teclado, adora escrever e é muito inteligente. Um das coisas que mais nos conectou, além dos jogos online que adoramos, foi a música. Eu sempre tive uma paixão profunda com a música e aprendi a cantar bem novinho. Gostaria de um dia explorar melhor esse talento, então até hoje é algo precioso pra mim. Theo adorou saber que eu cantava, e já me elogiou varias vezes. Certa vez, ele pediu pra dormir em minha casa só pra me ouvir cantar… Acredita nisso? Porque eu não acreditei. Contudo, seu Carlos disse que ele não poderia por causa da escola, só quando as férias chegassem. Eu já tinha dado carta branca ao Theo quando quisesse vir a minha casa, e nem dá pra descrever a euforia no menino quando as férias de meio de ano chegaram. Então, ele voltou a perguntar ao pai se podia ficar lá.
Curiosamente, um dos sócios de seu Carlos, que trabalha com empreendedorismo, ligou pra ele naquela semana. Disse a ele que iriam fazer algumas mudanças nos projetos, e a presença dele era necessária por pelo menos uns três dias, uma semana no máximo. Por causa disso, eles ficariam fora durante esse tempo, e Theo iria junto. Claramente Theo ficou chateado, então resolvi perguntar a seu Carlos se ele e a esposa aceitariam que eu cuidasse do filho até a volta deles. Eles aceitaram, e acho que nem preciso dizer a alegria que bateu no menino…
Então, no dia da viagem, eles me deram as instruções para com Theo. Eles saíram logo depois do almoço, e passaram em casa pra deixá-lo. Theo estava com um boné pra trás, vestindo um conjunto de verão e uma mochila nas costas. Dona Elisângela me entregou uma copia da chave da casa, caso Theo precisasse de algo, de um beijo nele e saíram.

– Comporte-se hein – disse ela a Theo.
– Tá bom! – respondeu.

– Mu!
– O que? – respondi.
– Eu posso pegar meu teclado depois? Minha mãe não me deixou trazer…
– Por que não?
– Ah, ela disse pra não fazer bagunça.
– Bom, por mim tudo bem. Depois a gente pega.
– Oba! Aí eu toco pra você e você canta – disse ele, todo animado.
– Nossa, você quer muito que eu cante, né?
– Eu quero! – respondeu sorrindo.
– Tá bom, mas vamos guardar sua coisa primeiro – disse a ele, enquanto fechava a porta.
– Tá bom, tá bom…

A partir dali, seriamos só eu e ele, durante uma semana.
Era difícil saber quem estava mais animado…

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