Amores Opostos Parte 8

-Você não pode ficar aqui sozinho, não desse jeito- tentei persuadir André a me acompanhar.

Eu já estou tão acostumado a ficar só- respondeu.

Mas você não precisa ficar só, dá uma chance, por favor.

Olha, eu sei que você deve estar pensando que a minha mãe que me deixa assim, que ela é irresponsável, mas não é isso- ele disse- Sou eu que insisto que ela não deixe seu trabalho por minha causa.

Mas ela podia arrumar alguém pra ficar com você- retruquei- André, você gostando ou não, você ainda é uma criança, e se acontece algo?

A gente mora num condomínio com muita segurança- André tentou me convencer.

De que adianta essa segurança toda se agora pela manhã você estava sozinho fora de casa no seu Taekwondo? Eu insisti.

Finalmente você acertou o nome- ele riu.

Para de tentar justificar tudo cara, olha eu juro que não tô fazendo essas coisas por pena ou caridade, você ficaria furioso se fosse isso não é mesmo? Eu gosto de você, se eu não gostasse acha que eu já não teria desistido e ido cuidar da minha vida?

É verdade, as vezes eu cheguei a achar que você me perseguia, sabia? André me olhou fixamente- Você realmente não desiste de mim.

Vem comigo- eu pedi- olha você pode ficar o final de semana na minha casa, a gente inventa uma desculpa, eu não conto pra ninguém que você passou mal.

Você é mesmo muito insistente- ele se aproximou do meu rosto.

Eu não seria se não tivesse certeza que você no fundo é uma boa pessoa- lhe fiz um elogio.

Miguel eu… ele recuou um passo- Olha, me desculpa por aquele beijo, eu não sei o que deu em mim, eu nem sei se você gosta dessas coisas e tal…

Não precisa se desculpar, eu jamais me ofenderia com um beijo, eu gosto mesmo de você e não tenho problema algum com esse tipo de coisa.

Então você acha que nós dois poderíamos… eu o interrompi.

Não diga nada André, não agora… olha não é que eu seja contra ou que não goste de você, eu já disse que eu gosto, mas…

Mas…? Ele perguntou quase que num susto.

André, pensa bem, você é muito novo ainda, olha não se aborreça com isso por favor, não tô te criticando, falar que alguém é novo ainda não é uma ofensa, é apenas uma constatação, você vai crescer um dia, eu também vou, temos muito o que aprender ainda sobre a vida.

Você tem toda razão, quem iria querer algo com uma criancinha como eu? Ainda mais tão problemática? Ele falou num lamento.

Nãooo. Não André não diga isso- segurei seu rosto com as duas mãos- todos temos problemas você pode superar tudo se você se esforçar e lutar sempre, André o seu irmão te amava, mesmo que estivesse em um momento de raiva na hora ele sempre quis e vai continuar querendo a sua felicidade, não pule etapas da sua vida.

Tá, você tem toda razão mesmo- ele disse

Você me dando razão duas vezes em um só dia, fico feliz com essa evolução toda- sorri e o abracei.

Ei, seu bobalhão, então vê se me ensina a ter um senso de humor pode ser? Ele riu também.

Viu só estamos aqui rindo juntos, vem, vamos arrumar algumas roupas e você pode vir pra minha casa, eu chamo um Uber.

E a sua bicicleta? Você pode colocar aí na garagem se quiser então- ele me disse agora educadamente.

Vou fazer isso, vai lá arrumar suas coisas enquanto isso- pedi.

Aquele dia estava mesmo provando ser de grandes acontecimentos, ao menos no nível de dois moleques quase adolescentes, mas no final das contas será que algo estava finalmente dando certo? Eu estava conseguindo dobrar aquele menino tão dificil de uma forma tão natural, era quase como se ele fosse um bichinho do mato que vez ou outra tem seus rompantes mas que no fundo logo pode ser domesticado. Ai caramba que comparação terrivelmente ridícula, eu pensei, tomara que eu nunca a expresse, eu realmente estava começando a gostar do André mesmo com seus altos e baixos.

Guardei minha bicicleta e pra nossa sorte consegui chamar um uber, meu celular estava com 10% de bateria, logo iria ficar incomunicável, já eram quase 15:00 e eu me indagava se meus pais já haviam voltado com o Gugu do hospital, era mais uma preocupação que agora voltou a minha cabeça.

Chegamos em minha casa e não havia ninguém, pensei em ligar para meus pais mas meu celular descarregou o restinho de bateria no caminho, me apressei a colocá-lo pra carregar em meu quarto enquanto tentava deixar o André à vontade em minha casa.

Caramba, o seu quarto é bem legal Miguel- Ele falou meio entusiasmado- Quantos livros e revistas você tem aqui- ele pegou alguns e começou a folhear.

Posso não ser do seu nível mas modestia à parte sou bem esforçado sabia? Eu imaginei que você fosse gostar bastante desses livros que tenho aí.

Uau, ciências, Física, Matemática, Geologia, caramba, que demais- ele ficou empolgado como eu nunca imaginei ver- eu posso ler eles?

Claro que pode cara, fica da forma mais confortável que você puder, olha, eu tenho o beliche aqui, é que antigamente o meu irmão dormia comigo, agora ele tem o quarto dele mas o beliche continuou aí.
Posso ficar na cama de cima? André pediu com os olhos brilhando.

Hahaha, claro que pode, vai lá experimenta- eu ri de alegria, ele estava alegre como uma criança, quer dizer, ele era criança mas não se permitia ser, agora estava conseguindo finalmente se soltar.

Ei, tá cheio de bichinhos de pelúcia aqui- André falou enquanto deitava no beliche.
Ah, são os bichos do meu irmão, ele tem tantos no quarto dele que acabaram ficando esses aí, se te incomodar pode descer eles todos pra minha cama- Falei.

Não cara, não precisa não, pode deixar, ei posso ler esse aqui agora? Geografia do relevo Nordestino- ele leu em voz alta. Não acredito, quem tem um livro tão específico assim?

Claro que pode, e fique o senhor sabendo que o meu pai tem um montão de livros lá no escritório dele também, mas vai lendo esses aí que uma hora eu te mostro- falei enquanto ficava de pé entre minha cama e o andar de cima.

Miguel, eu… olha, obrigado por ser tão legal comigo mesmo depois de eu ser tão pé no saco. Ele falou me olhando fixamente.

Você não é um pé no saco, juro. Respondi. Nossa, “sou tão me no saco” o imitei fazendo graça, eu jamais imaginaria você falando essas expressões.
Seu idiota- ele falou rindo enquanto tacou um ursinho de pelúcia em mim, me fazendo quase perder o equilibrio.

Ah é assim é? Peguei meu travesseiro e comecei a bater nele de leve. Guerra de travesseiros, dei um grito.

Em poucos minutos um cenário altamente impensável, inimaginável e pra não dizer impossível se formou: de um lado uma trincheira de bichinhos de pelúcia nos separando e vários travesseiros nos servindo de munição, brincamos, jogamos um no outro, rolamos no chão, foi muito divertido.

Me solta, me solta- André gritava em meio a gargalhadas.
Ah, não era você o mestre do karatê versado em todas as artes marciais? Comecei a lhe fazer cócegas.

É Taekwondo seu burrão- ele falou em meio as risadas- saiba que eu sou faixa preta.

Então porque você não se solta do meu ataque de cócegas hein? Continuei fazendo ele rir.

Taekwondo é uma arte marcial com chutes basicamente, é dificil se soltar de um cara enorme como você e tão mais forte.

Hahaha, tá bom vou te soltar, eu cansei viu? Falei deixando-o livre. Cara é tão bom ver você rindo e se divertindo assim sabia?

Sério? Eu nem me dei conta, fazia tanto tempo desde quando eu brincava com o Bruno… ele pausou.

Ei, não fique assim, faça como está fazendo agora lembre das coisas boas de você com seu irmão- lhe fiz um carinho nos cabelos.

Eu…eu não sinto mais aquele nervosismo que eu sentia antes sabe? Eu não sei explicar… as vezes me dá raiva de algo que eu não consigo entender e eu faço as coisas de um jeito ruim.
Vamos devagarinho, eu acredito em você- falei docemente enquanto nossos olhos novamente se encontravam.

Obrigado por gostar de um bobão como eu- ele disse se aproximando mais de mim.
Eu… eu também tô gostando muito de você- coloquei meus lábios nos seus e lhe dei um beijo.

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