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Novos Anjos Parte 24

2107 palavras | 4 |4.71
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Eu perdi totalmente a noção de tempo e espaço, tudo que eu sentia era uma enorme dor no peito, como se meus pulmões tivessem encolhido, eu puxava o ar mas a quantidade nunca era o suficiente, borrões pretos piscavam em frente à minha visão e minhas pernas pareciam feitas de gelatina, eu não tinha mais certeza de onde eu estava. Lentamente comecei a ouvir uma voz que parecia distante me chamando, era uma voz muito familiar, uma voz doce que eu quase já havia esquecido, me esforcei para abrir os olhos e logo a vi, ela era tão linda, os cabelos loiros que nem os os meus, seu rosto mesmo magro como eu lembrava naqueles últimos dias em que passamos tantas necessidades parecia sereno e feliz sorrindo para mim, tentei piscar algumas vezes na tentativa de clarear ainda mais aquela imagem, infelizmente o efeito foi contrário, lentamente o rosto de minha mãe foi sumindo, sumindo, sumindo…

Mãe, volta mãe, não vai embora ainda- me lamentei baixinho.
Calma meu Anjo, estamos aqui pra você, respire. A voz ainda era familiar mas não era mais de minha mãe.
Mãe? Cadê você? Por que você me deixou? Minha visão começou a ficar menos embaçada.
Sou eu meu Anjo, a Tia Julia. Ela apertou minhas mãos com força. Temos que ser fortes agora, tente se levantar por favor, respire fundo.
Tia, é você? Eu perguntei ainda desnorteado mas já conseguindo ver seu rosto. O que aconteceu comigo?
Você teve uma queda de pressão e desmaiou meu Anjo, foi uma notícia muito dura de ouvir, eu sei, nunca estamos preparados para isso. Ela me abraçou.

Agora eu conseguia visualizar toda a cena ao meu redor, em minha frente Arthur chorava copiosamente abraçado com o Flávio que apenas me encarava com olhar de tristeza e lágrimas rolando até suas bochechas. Logo em seguida eles se separaram, a mãe do Arthur o chamou em um canto enquanto a mãe do Flávio lhe puxou para outro, fiquei um momento a sós com minha tia.

Quanto tempo eu desmaiei tia? Perguntei choroso.
Não se preocupe com isso agora meu Anjo, foi menos de 2 minutos.
Tia… como isso foi acontecer? Por que isso tinha que acontecer com a vovó? Voltei a chorar.
Oh, meu Anjo… meu Anjinho querido- Minha tia me acalentou- isso acontece, vai acontecer com todos em algum momento, ela morreu em paz.
Mas assim tão de repente? Lamentei- Isso faz doer muito mais forte.
Eu sei meu Anjo, você melhor do que ninguém entende isso, tudo o que podemos fazer é tentar seguir em frente, tentar ter fé em Deus e acreditar que tudo tem um sentido, mesmo que não seja compreensível para nossas cabeças.
Tia… será que a vovó vai para o mesmo lugar que a minha mãe?
Sim querido, eu tenho fé que sim, um lugar melhor, de muita paz e luz- ela sorriu para mim.
Tomara que elas se deem bem né? Levantei enxugando as lágrimas e tentando esboçar um sorriso.
Elas vão meu Anjo, com certeza vão.

Depois disso muitas coisas mudaram no nosso fim de semana que deveria ser de festa, arrumei minhas coisas de volta na mochila, teria que retornar para casa, ao terminar percebi o Arthur também com suas coisas arrumadas, provavelmente meus tios vão deixá-lo de volta em sua casa com a mãe dele, pensei. Ele veio de mansinho até mim e me abraçou.

Sinto muito Paulo, muito mesmo- ele disse.
Obrigado- respondi- obrigado por estar sempre ao meu lado, eu te amo tanto- falei baixinho em seu ouvido.
Eu queria ter tido a chance de conhecer mais ela- ele suspirou.
Você vai voltar pra sua casa agora? E o Flávio, cadê ele?
Tá lá em cima com a mãe dele, estão conversando. Você tá bem? Eu fiquei tão aflito quando te vi desmaiando.
Eu sou um frescurento mesmo- me lamuriei- desculpa por fazer vocês se preocuparem tanto.
Não diz isso Anjinho, é normal acontecer algo assim, deve ter sido um choque enorme pra você.
É, eu lembrei da minha mãe, do dia que ela morreu, naqueles minutos que fiquei desmaiado acho que sonhei com ela, acredita?
Acredito sim anjinho, tenho certeza que assim como a sua mãe a sua vó agora vai morar aí no seu coração. Aquela frase foi tão fofa que continuei a chorar em seus ombros.

Terminamos todos de arrumar nossas coisas, a mãe e o padrasto do Flávio vieram nos cumprimentar, logo após eles Flávio veio até mim de cabeça baixa.

Desculpa Paulo, eu… eu não sei o que dizer numa hora dessas- ele suspirou e me deu um abraço.
Tudo bem Flávio, ninguém nunca tá preparado pra isso, obrigado por ser o amigo que você é pra mim.
A minha mãe falou comigo depois que conversou com sua tia, nós iremos no velório quando tudo estiver pronto, conta sempre comigo cara. Flávio me deu um aperto de mão.
Valeu, a gente se fala então, obrigado de novo.

A viagem de volta pra casa foi melancólica, fui no banco da frente do carro de minha tia sem dizer uma palavra, na verdade ninguém falou absolutamente nada no trajeto inteiro até chegarmos na casa do Arthur. Eu queria muito a companhia dele naquele momento, mas sabia que não era uma opção pedir tal coisa, tive que me conformar em me despedir com um abraço e a promessa de que nos encontrariámos em breve, em seguida ficamos apenas eu e minha tia no carro no longo trajeto que seria até nossa casa.

Tia…como tá o vovô? Lembrei dessa importante pergunta.
Não fique mais preocupado meu anjo, ele está bem… ficou bastante nervoso no hora mas seu tio deu um calmante e agora ele provavelmente está dormindo.
Coitado do vovô. Voltei a chorar- O que vai ser dele agora? Ele vai ficar tão sozinho.
Vamos tentar pensar uma coisa de cada vez, lógico que por enquanto ele vai ficar conosco, depois ele poderá tomar uma decisão.

Chegar em casa foi a pior parte, encontrar os meus primos tão desolados, o Pedro tava afundado na cama dele chorando, a vovó era madrinha dele e ele tinha um carinho todo especial por ela, do lado dele o Filipe era o mais cabeça fria, ele devia estar fazendo um esforço enorme, já nem chorava mais, só pra tentar dar força pro irmão gêmeo dele, eles nunca se desgrudavam, era uma união tão bonita a deles, agora mais do que nunca eles iam precisar um do outro.
Meu tio não estava em casa, mesmo aquela hora da noite ele estava atribulado tentando resolver as questões burocráticas que envolviam o momento, o Luca havia ido com ele. Naquele momento não havia mais muito a se fazer, eu não podia ficar pedindo atenção para a minha tia, não numa hora dessas, afinal de contas era a mãe dela que havia falecido, eu me perguntava, será que ela sentia o mesmo que eu? Perder uma mãe pode ser uma coisa tão devastadora, não importa a idade.

Tia, a senhora quer alguma coisa? Perguntei- um chá ou um chocolate quente, sei lá… precisa de alguma coisa?
Obrigada meu anjo, não precisa não, eu é que devia estar fazendo essas coisas. Ela falou carinhosamente.
Tia… eu sei como é perder a mãe, não precisa fazer nada por mim agora, eu também tenho que fazer por você.
Talvez quando somos adultos vemos as coisas de forma diferente- ela disse enxugando as lágrimas. Não estou triste porque sei que ela se foi em paz. Olha, por que você não tenta agora tomar um banho bem quentinho e relaxar? Se quiser comer alguma coisa…
Não, nós comemos bastante lá na casa do Flávio antes de vocês chegarem, mas eu vou sim tomar banho agora e tentar dormir um pouco, me sinto cansado.

Seguindo o conselho da minha tia fui até meu quarto , antes de entrar dei uma olhada no quarto dos meus primos, eles estavam agora dormindo, juntos na mesma cama, senti um enorme aperto no coração. Tomei um banho quente bem rápido, vesti meu pijama e me joguei na cama, estava totalmente exausto com tudo aquilo.
Deitado na cama tinha uma sensação muito estranha, era uma daquelas vezes que se está tão cansado, tão cansado mas mesmo assim não consegue dormir, eu estava agora perdido em pensamentos, vinha a minha cabeça a minha tia e a forma como ela encarava tudo aquilo, adultos e crianças são tão diferentes assim numa mesma situação? Ela tinha “obrigação” de ser forte, de se mostrar “durona “ mesmo agora? Lembro como a morte da minha mãe me deixou mal, devastado, ser adulto é tão diferente assim? Será que um dia eu também vou ter essa força toda?
Aquela montanha de pensamentos invadia minha cabeça como uma verdadeira avalanche, agora eu pensava no Arthur, em como eu gostaria que ele estivesse ali me dando carinho, me abraçando, em como as coisas podem acabar de uma hora pra outra, num piscar de olhos sem aviso sem alarme, uma hora você está feliz com seus amigos esperando um gostoso e divertido final de semana juntos e na outra você está afundado no travesseiro sem saber o que vai acontecer, a vida é curta demais, pensei e tomei uma decisão, era quase meia noite mas mesmo assim peguei meu celular para falar com o Arthur.

(Paulo) Oi, você ainda tá acordado?
(Arthur)Tô sim e você?
(Paulo) Claro que eu tô né? Senão como ia estar mandando mensagem? Fiz carinha de riso.
(Arthur) Que bom ver que você tá de humor melhor, eu imagino como deve ser difícil.
(Paulo) Pois é, já chorei bastante, mas agora tô melhor. Desculpa te incomodar a essa hora, eu não consigo dormir.
(Arthur) Tudo bem, eu também não estava conseguindo dormir, tava pensando em você, só não mandei mensagem mais cedo porque aconteceram umas coisas aqui em casa…
(Paulo) Que coisas?
(Arthur) Deixa pra lá, agora o que importa é você, está se sentindo bem?
(Paulo) Tô sim, eu tava aqui na cama…pensando…
(Arthur) Deve estar com a cabeça cheia né? Vamos tentar dormir e amanhã a gente conversa.
(Paulo) Não, espera, tem algo muito importante que eu preciso falar com você.
(Arthur) O que é? Pode falar então.
(Paulo) Eu estava pensando em muita coisa, muita coisa, sobre a vovó ,a minha mãe, a nossa família…sobre você… então eu cheguei em uma conclusão.
(Arthur) Qual conclusão?
(Paulo)Talvez eu não tenha pensado nisso quando minha mãe morreu, mas agora… agora eu percebo que a vida é tão curta, que tudo pode acontecer. Uma hora somos crianças, logo vamos passar a adolescentes, adultos e não nos damos conta de como o tempo passa depressa e como deixamos de fazer as coisas.
(Arthur) Eu consigo imaginar.
(Paulo) Desculpa por tanto textão, eu vou tentar ser mais direto, eu não quero mais ter segredos com ninguém, depois que tudo isso passar… eu quero contar para a minha família tudo, sobre nós…
(Arthur) …
(Paulo) Esses três pontinhos significam que você não gostou disso?
(Arthur) Claro que não, só não sei o que dizer…
(Paulo) Tá tudo bem pra você? Eu não quero fazer isso se você não quiser.
(Arthur) Não… quer dizer…Sim, tá tudo bem sim, eu sinceramente acho que a sua família vai receber isso muito de boa… o problema é a minha…
(Paulo) Sou eu que vou contar, se você não se sente preparado pra contar pra sua, tudo bem…
(Arthur) Desculpa… eu acho que é melhor assim.
Paulo) Não precisa se desculpar, cada um faz no seu tempo, eu acho que o meu tempo chegou agora.
(Arthur) Tudo bem, de boa então.
(Paulo) Eu te amo muito.
( Arthur) Também te amo.
(Paulo) Amanhã a gente se fala, vamos dormir).
(Arthur) Boa noite Anjinho.

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4 Comentários

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  • Responder Eliseu ID:bqhhdtqm

    Longo demais

  • Responder Angelman ID:1dxldgev13j6

    Saiu um olho da minha lágrima aqui

  • Responder Nelson ID:8cio2sam9k

    Esses meninos são lindos. Amo eles.

  • Responder paulo cesar fã boy ID:3ij0y0lj6ia

    adorei, voce demora más escreve de uma forma maravilhosa. me sinto dentro da historia.