Fruto do Meu Crime

Chamam-me de Renato. Sou preto, 38, 1,75, 15 cm. Tenho duas casas, uma no interior e outra na cidade. Tudo iniciou-se no sítio do meu falecido sogro. Janete tava consertando a casa que ganhou de herança. Em uns sacos velhos ela encontrou uma fotografia de sua mãe ensanguentada. Ela cai no chão em prantos ao lembrar daqueles tempos. Depois de um bom tempo chorando, eu a consolo falando que ela ainda poderia fazer diferente de sua mãe. Nesse momento ela aproveita para me contar:

– eu não encontrei um momento melhor.

Depois da reforma, vendemos o sítio, ela não tinha boas lembranças de lá. Dividimos com sua mãe e compramos uma casa na cidade. Não éramos de classe-média mas não éramos pobretões. Eu tinha finalizado a faculdade de engenharia química, mas ainda não sabia se era menino ou menina. Isso começou no passado, mas prefiro relatar primeiro o presente.

Regina tem quinze anos. Mestiça, magra e malhada, eu pago a academia dela. Janete não sabe do passado, e com esse maldito passado minha filha me chantageia. Alguns desejos são fáceis de atender, outros nem tanto. O pior foi vê-la fumando. Foi um inferno. Ela disse que se eu contasse pra sua mãe ela falaria tudo. Pensei em muitas tragédias: em contar tudo de uma vez, em me matar. Por sorte ela disse que não gostou de fumar e largou. Não sei se já chegou a beber, talvez sim, talvez não. Ela que manda na minha vida e não o contrário. Considero como um golpe baixo, não é como se ela ainda sofresse pelo passado. É uma vingança, então creio que a honra dela está mais do que lavada.

Duas vezes por mês ela transa comigo. Diz que me odeia como um pai mas me acha um cara gostoso e de boa pegada. Certa vez ela trouxe duas amigas, vestidas de forma bem sugestiva. Ela sabe que curto novinhas, ela vê os vídeos que eu vejo. Se eu não deixar ela ver meu celular, já sabem. Me envia fotos rebolando com as amigas. Manda vídeos tocando siririca a noite, mas deixa a porta do quarto trancada. É uma menor mas é uma putinha, dona de si. Mesmo com tudo isso eu ainda a amo como uma filha e me arrependo do que fiz no passado, mas ela nunca deixou eu completar essa frase. Certa vez ela aproveitou que Janete tinha viajado e chegou em casa 01:00. Antes eu tava louco de raiva e tristeza, chorando e ela recusando as ligações. Entrou confortavelmente em casa com um roupão preto transparente revelando uma lingerie de mesma cor. Parecia que tinha feito um striptease.

– Regina, o que é isso?!

Fingiu que não ouviu e foi para o quarto. Enfurecido, pego o cinto de couro que deixei no sofá. Eu nunca bati nela, mas lembrei das vezes em que eu era alvo de vassouras, colheres de pau, frigideiras, ripas e outros por muito menos do que minha filha fez. As vezes é difícil não fazer com outros o que não queremos para conosco. Não tava visando o que ela acabara de fazer, eu tava com raiva do conjunto completo de atitudes que ela tinha comigo. A porta tá entreaberta.

– tô cansada do último programa, deixa pra outra dia. E esse cinto na mão? Hehe! Vai me educar, papai?
– teu pai é pobre pra tu fazer programa?
– não é tu que sempre fala na transa que eu sou uma vadia? Só fiz o que as vadias fazem.
– eu não falo sério nessas situações.
– pelo contrário! São nessas situações que tu fala a verdade.
– quando eu fazia aquilo no passado não era visando nesse estado que tu se encontra.
– se vai mandar o mesmo papo de sempre pode cair fora.
– sou eu que mando aqui.
– ah é?! Vai, me bate. Depois conto tudo pra mommy.

Aproximo-me mais. Admiro sua postura austera, desafiante. Seguro seu pescoço e a trago para perto de mim…

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