Beto mandou meu Pai pro Hospital, todo arrebentado

Eles saíram, eu fiquei numa ansiedade danada misturada com medo, fiquei no quintal sentado na calçadinha na porta de casa, começou a escurecer nada de meu Pai aparecer, eu pedindo à Deus que não aparecesse mesmo, Beto e Assis voltaram, Beto parecia mais calmo do que quando saíram mas Assis, olhos verdões dele estavam como se tivessem em fogo depois da conversa que tiveram, o safado do coroa tá demorando pra chegar hj, parece que tá adivinhando falou o Beto, vai ver foi adiantar a escala no cais pro trabalho noturno eu disse, trabalho noturno dele vai ser comigo hj bebê e que trabalho ele terá, respondeu meu Beto.
Do nada Assis disse, chave do quarto tá lá na porta Oliveira? Não, tá aqui no meu bolso, tá aberta a porta, porquê? Me dá ela, vou trancar o lek lá, melhor pra ele, o canalha apesar de tudo é o pai dele, melhor não ver nada, boa idéia Assis, deu a chave à Ele, fecha ele lá, não vou ficar trancado, não quero eu falei, querendo ou não, vai sim, é pro teu bem lek, depois te solto falou o Assis, não, deixa que eu fico quietinho lá atrás repeti, leva ele Assis, danado é teimoso, leva na marra Beto já meio nervoso ordenou, corri pro fundo, me agarrei na pilastra perto da porta, Beto ficou lá na frente, Assis veio atrás de mim, vou ficar quieto aqui repeti, Assis pegou meu braço que tava agarrado na pilastra com força e puxou, se eu não soltasse a pilastra, acho que ela ia sair de onde estava, danado era forte mesmo, entra lek senão te jogo daqui mesmo lá dentro, entro ,eu disse mas deixa a porta aberta pow, não quero ficar preso ae, me levou pra dentro, fechou a porta, tu não tá preso, tá guardado e é pro teu bem lek, fica quietinho ae sem dar um pio, depois abro pra vc sair e foi lá pra frente, quarto tava escuro, continuei lá dentro com ele assim, a casa toda de repente ficou um silencio estranho, ajoelhei no chão e comecei a rezar, aí Deus, não deixe meu Pai machucar o Beto, não deixe o Beto machucar meu Pai, fiquei ali repetindo cem vezes isso.
De repente, ouvi lá longe Assis dizendo, tá vindo Oliveira, meu coração gelou, meu Pai estava chegando, passou uns dois minutos, ouvi o ranger do portão e o vozeirão do meu Pai entrando:
– tá ficando chique o barraco aqui, Assis tá lá fora igual segurança de clube, faz meu prato filho, teu Pai tá varado de fome gritou, lá do fundo ouvi em alto e bom som Beto falando: tu vai jantar hj é o sangue que vai engolir da própria boca seu safado.
Fiquei quieto, paralisado e gelado onde eu estava, ah Oliveira, tá botando as manguinhas de fora ou bebeu além da conta a voz do meu Pai respondeu em tom baixo e calmo, de novo Beto rebateu, manguinhas não, vou botar pra fora sim mas teus dentes seu safado, eu vi o chute que tu deu no lek hoje, a gargalhada de meu Pai ecoou lá onde eu estava trancado, ah, meu menino anda mostrando machucado na bunda pra tu ver é, não fdp, ele nem ia mostrar, eu vi foi na marra mesmo a voz do Beto disse, Oliveira falou meu Pai agora em tom alto, filho meu se não me obedecer apanha mesmo e hj ele vai levar chute e soco é no corpo todo pra aprender a não mostrar bunda pra ninguém, tu não tem filho pra querer me ensinar a criar o meu, faz os teus, depois vem me dar lição de moral, ae Beto gritou: não tenho filho seu velho safado, mas se tivesse, não ia estuprar ele, não sou da tua laia, por uns instantes parecia que o mundo tinha parado, um silêncio mortal pairou no ar, ae logo depois, o som que eu ouvia chorando trancado lá atrás nunca tinha ouvido antes, pareciam socos, corpos caindo, rolando no chão de cimento, gemidos, gritos e não foi por pouco tempo não, eu rezava praquilo acabar mas parecia não acabar nunca, depois de muito tempo a voz que ouvi era do Beto: não vai fugir não safado, tu num é macho, a brincadeira nem começou ainda, macho aguenta porrada, em seguida como gemidos saindo da boca e não a voz, meu pai falava, tá bom Oliveira, chega, tou cheio de dores, Beto rebateu no grito, ah fdp, tu sente dor é, tu perguntava pro menino quando tu espancava e estuprava ele se tava doendo, tu perguntava verme, respondeeeeeeee ou vai sair daqui numa cadeira de rodas, responde lixooooooo, num é como tu tá pensando Oliveira, ele gostava, ele pedia, ah fdp, ele tb pediu pra tu trazer ele pra cá é, pra arrancar sangue dele quase todo dia, respondeeeee verme escroto, é mentira dele Oliveira, nunca fiz nada nele a força não, acredita em mim, acredito sim, em tu e Satanás véio safado, assim que vcs chegaram aqui, tu estuprou ele enquanto eu tava debaixo da tua janela verme, ouvindo ele implorar toda hora pra tu parar pq tava doendo e tu falando, a dor ensina filho, teu pai merece uma dorzinha, desde aquele dia que quero estuprar tb, estuprar essa cara safada tua verme, fala, grita fdp agora que o menino tá mentindo, grita que ele que queria, gritaaaaa, quero ouvir, não Oliveira, grita FDP, não tou ouvindo, grita alto, tou surdo, não Oliveira, não é bem assim, ele me provocava, tu é homem tb, sabe que a carne é fraca, sei vermeeeeee, chega Oliveira, tou quase desmaiando já, Nao chega não fdp mas vou parar, tou com nojo de tar aqui sentado em cima de ti, do teu sangue podre em mim, tu ainda vai encostar um dedo nele, respode3eeeee, não Oliveira, juro que não, vc pode continuar morando aqui, vai ver com teus olhos, por favor chega, tu tá me matando, tenho familia pra sustentar, tu sabe, sei vermeeeeee, graças à Deus ninguém na tua família é igual tu, vou parar, não sou assassino mas vira essa cara arrebentada pra mim agora, vou acabar de quebrar teu nariz, não Oliveira, pelo amor de Deus não, não aguento mais dor, vira fdp, vou quebrar teu nariz contigo olhando nos meus olhos e eu os teus, quero guardar isso na memória, Oliveira, Assis tá lá fora, vcs são novos ainda, fazemos um acordo, eu dou ele pra vocês, o mlk é obediente, vcs vão gostar, lá no fundo agora ouvi o grito do meu Pai, um grito que nunca tinha ouvido na vida, um grito quase sobrenatural, depois silêncio, um silêncio sepulcral.
Uns minutos passaram, ouvi a torneira do tanque jorrando água, alguém tinha aberto, a porta onde eu estava se abriu, eu no chão vi Assis acender a luz me estendendo a mão, tava chorando Ele, vem mlk, teu sofrer acabou.
No quintal Beto tava com a cabeça embaixo da torneira do tanque, a bermuda e o peito cheio de sangue, pelo chão no reflexo da lâmpada no quintal, apareciam pocinhas de sangue já coagulado, meu Pai estava como que meio sentado, meio ajoelhado de cara pro muro lateral, a camisa toda em pedaços e encharcada de sangue, não conseguia ver o rosto dele, tava de costas pra nós, ia na direção dele, Beto se virou pra mim, lábio sangrava no canto, um olho meio fechado dum soco talvez, mesmo assim riu falando, tenho coragem de te bater não bebê, mas o Assis têm, se for lá no verme do teu pai, mando Assis te dar uma surra como tu nunca tomou na vida, Assis do lado quieto, Beto abraçou Ele, obrigado disse, não fiz nada respondeu Assis, não te chamei pra me ajudar na briga não camarada, desse eu sei que dava conta, te chamei foi pra cuidar do meu menino se rolasse arma ou coisa parecida, pra vc agora sou Beto, nunca mais me chame de Oliveira, tu é família agora.
Meu Pai lá jogado, só, Beto entrou comigo e Assis pra dentro, foi pro chuveiro, saiu, o sangue que tava nele tinha sumido, machucado nele, só se via num olho e no lábio mesmo, o sangue era todo do meu pai, passou pelado pela gente, foi pro quarto colocar roupa, voltou arrumado e de óculos escuro, põe roupa bebê, não tem comida, tou com fome, bora comer na rua, hj não é dia pra tristeza, eu vou é comemorar, coloquei a roupa que ele tinha me dado, quando passamos pelo meu pai ali na mesma posição, ele pôs o pé nas costas dele, obrigado por ter dado teu filho pra mim e pro Assis seu verme mas ele já é meu bebê, não precisei machucar ele não pra isso, foi tudo na base de carinho e afeto, tu nem sabe o que é isso, vai pensando numa explicação pra tua família, pq Sábado, eu, Assis e meu menino bom estaremos lá, meu aniversário tu não vai estragar, quanto à pescaria muda pro outro sábado, sol e nariz quebrado não dá certo, sangra demais, quando estávamos saindo no portão meu pai implorou baixinho, por favor, mandem um táxi aqui, preciso dum hospital, tu é muito macho, rasteja até a praça que tu acha um Beto respondeu.
Saímos, comemos, beberam, na volta Beto pegou umas coisas na farmácia pro lábio e olho dele, lógico que eu cuidei direitinho, do meu Pai ao chegarmos, nem sinal mas eu sabia que nessa história não haveria vencedores, conheço meu Pai como ninguém.
E o Niver do meu Beto batendo à porta, com festinha surpresa e tudoooooo.

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