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Novos Anjos Parte 23

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Depois de uma pausa os Novos Anjos retornam, espero que todos gostem da nova temporada.

Ficamos mais alguns minutos juntinhos no chão mesmo, como três filhotinhos satisfeitos depois de “brincar” muito, era como se o tempo estivesse congelado agora e todo aquele momento tão íntimo parecia durar milhares de anos. Resolvi me “atrever” a cortar nosso silêncio.

Como estão se sentindo? Perguntei num susurro.
Estou me sentindo muito bem- disse Arthur sorrindo.
Estou me sentindo tão leve- disse Flávio- parece que a gente se conectou de vez, como se fossemos íntimos e conhecidos a milhares de anos.
Isso é tão fofo Flávio- respondi
É meio engraçado, eu nunca tive amigos como estou tendo agora, sempre estudei na mesma escola e nunca consegui sequer ter vontade de me aproximar de alguém, desde aquele tempo.
Que tempo? Perguntou Arthur curioso.
A nossa escola nem sempre foi grande assim como é hoje, já foi bem pequenininha, sabe?
Ah, claro, muitas escolas começam assim, que bom que cresceu tanto- eu disse.
É, mas teve uma época que quase fechou de vez- disse Flávio meio nostalgico.
Sério Flávio? Como foi isso? Indaguei.
No começo era apenas meu pai e minha mãe, depois meus dois tios entraram também, mas mesmo assim as coisas não tavam dando muito certo, não sei de detalhes, eu era muito pequeno, mas aí ele chegou e tudo mudou…
Ele quem? Perguntei curioso quase ao mesmo tempo que o Arthur.
O Raul, e velhote meu padrasto- Flávio respondeu meio cínico.
Desculpa dizer isso Flávio- Arthur levantou a cabeça- Mas.. você as vezes não é meio desrespeitoso com ele? Tipo…eu entendo que deve ser chato toda essa coisa de ele ter ficado no lugar que era do seu pai e tal, mas isso acontece toda hora, casais se divorciam e casam com outros. Tem algum motivo pra você lidar tão mal com isso tudo?
Tem, claro que tem- ele disse quase num lamento- Eu sempre evitei esse assunto né? Não é que eu não confie ou não ache a nossa amizade grande o bastante pra isso é só que… é uma coisa que não diz respeito apenas a mim e… e… eu tenho muita vergonha disso- falou enquanto começava a chorar.

Flávio parou de falar, lágrimas escorriam de seus olhos que agora estavam perdidos olhando para cima e claramente tentando evitar contato com os nossos, era a primeira vez que eu via o Flávio chorar, ele sempre pareceu o mais forte de nós e agora lá estava tão vulnerável, tão triste e sentido por algo que fugia da nossa compreensão e entendimento.

Olha Flávio- não precisa falar se não quiser, se não se sentir pronto, não pense que isso vai abalar a nossa amizade, ninguém nunca disse que amigos tem que contar absolutamente tudo uns para os outros para serem amigos de verdade, as vezes temos mesmo que guardar algumas coisas só pra gente, nnão vamos te julgar por isso, vamos respeitar.
A sua maturidade fede- ele disse dando um sorrisinho de lado bem cínico.
Sério? Eu disse- Fede a quê? A cocô de cachorro? Ou aquela lama saindo do esgoto lá da esquina? Rimos todos juntos.
Já notaram que em situações tensas sempre aliviamos com uma piada super sem graça? Falou Arthur.
Nós somos os “sem graça” disse Flávio enquanto enxugava as lágrimas e agora sorria junto conosco.
O importante é que estamos juntos- falei.
Sim, claro- disse Flávio- Eu só realmente não queria que vocês mudassem a visão que vocês tem de certas pessoas por causa da minha imaturidade.
Como assim Flávio? Perguntei.
Eu vou contar… eu sei que pode parecer apenas uma birra do enteado que não aceita o novo marido da mãe, mas não é, teve muita coisa ainda.
Eu deduzo que o seu padrasto que ajudou a escola a se reerguer financeiramente e crescer, não foi isso? Disse Arthur.
Acertou em cheio Arthur- falou Flávio, foi isso mesmo- ele chegou e usou lá a grana dele pra ajudar a escola, saímos do vermelho e em pouco tempo já estava crescendo mais e mais.
Mas no meio disso tudo os seus pais se divorciaram né? Falei
Sim, a mamãe nunca perdoou o meu pai por ele quase ter levado a escola à falência, mas eles demoraram pra se separar mesmo assim, eles continuavam insistindo em morar juntos, e eu acho que provavelmente era por minha causa.
É engraçado como os adultos as vezes se comportam mais como crianças do que nós né? Disse Arthur- Pensam que vai ser melhor viver juntos e brigando do que se separarem, tudo por pensarem que filhos seguram casamento.
Pois é, até que o Raul comprou a parte da escola do meu pai, ele ficou tão mal, ficou tão arrasado, a escola que ele criou desde o zero não era mais dele… Flávio suspirou.
Então foi isso? Perguntei- Por conta desse episódio ele ganhou sua antipatia né?
Não, não foi por isso, claro que eu me senti mal de ver meu pai daquele jeito por “culpa” do Raul, mas… no fundo até eu sendo criança percebi e tinha que admitir, se não fosse o Raul a escola teria acabado pra sempre.
Então foi por causa do divorcio e por ele ter ficado com a sua mãe? Interrogou Arthur.
Sim, foi isso, e teve mais uma coisa… Flávio deu um grande suspiro, parou por alguns segundos e depois tomou fôlego… A minha mãe e o meu pai não se separaram logo, e durante meses antes do divórcio ela e o Raul eram… eram amantes.

Naquele momento senti meu coração apertar, aquela palavra “amantes” me remete muito fortemente a traição, meu Deus então ela traiu o pai do Flávio, era óbvio o ressentimento que ele devia ter do padrasto, foi desonesto, foi injusto, foi contra as regras do jogo aquilo que fizeram.

Meu Deus Flávio, você tem mesmo certeza absoluta disso? Perguntei. É uma acusação muito grave.
Não é acusação, eu vi com meus próprios olhos- ele disse com raiva- eu já desconfiava de algo porque o papai começou a sair muito a noite e beber e de manhã cedo eu ia pro quarto da minha mãe e a porta estava trancada, mas eu era criança, não sabia teorizar que fosse alguma coisa dessas, poderia apenas ser ela com medo do meu pai chegando bêbado em casa como várias vezes chegou, mas um dia ela esqueceu a porta aberta e eu entrei e vi…vi eles dois dormindo juntos na cama- Agora sim o Flávio levantou e sentou na beirada da cama desabando num choro lamurioso.
Não fica assim Flávio- eu disse enquanto lhe fazia carinho nos cabelos numa tentativa de consolo.
Vocês entendem agora? Ele foi tão desonesto, ele humilhou o meu pai da pior forma possível.
Isso deve ter te afetado muito não é? Disse Arthur se juntando a nós no carinho.
Foi dificil encarar tudo depois disso- falou Flávio num lamento- eu olhava pros lados e via as pessoas na escola de um jeito diferente, era como se eu olhasse e percebesse que todos sabiam, que tavam zombando do meu pai, da minha família.
Mas ninguém tinha como saber Flávio- falei.
Eu sei que algumas pessoas souberam sim, depois com certeza as coisas vão se espalhando, por isso eu nunca criei amizades com ninguém na escola, era como se toda hora tivesse uma fofoquinha sobre o assunto, pessoas apontando pra mim, eu sei porque eu ouvi comentários, e mais de uma vez, até de pais de outros alunos.
Mas Flávio- disse Arthur- você nunca parou pra conversar com seu padrasto, sei lá, talvez tenha alguma coisa, talvez vocês possam se entender?
Conversar com ele? Nunca- ele enxugou o rosto ficando sério. Não vou nunca dar papo pra ele, nunca.
A gente entende que você tem todo direito de ficar bravo, ainda mais porque eles nunca quiseram discutir ou esclarecer o assunto com você- Eu comentei.
Não acho que fariam isso- disse Flávio- Você sabe muito bem que no fundo só veem a gente como moleques que não entendem de nada.
Tudo bem, tudo bem, eu não acho que temos o direito de nos intrometer em algo tão pessoal da sua família, mas eu vou torcer muito pra que um dia vocês possam se entender de verdade. Falei lhe abraçando.
Obrigado gente, de verdade- falou Flávio enquanto Arthur também entrava no abraço triplo.
Eu não sei vocês mas eu tô morto de fome- disse Flávio- já chega de conversa triste por hoje, bora comer alguma coisa.
Mas vamos tomar banho antes né? Falou Arthur.
Ah, vão vocês tomando banho enquanto eu vejo o que tem na cozinha pra comer, tem toalhas limpas no banheiro. Cada um em um banheiro ok? Deu uma grande risada.
Estraga prazeres- eu disse rindo enquanto ia até o banheiro do quarto.
Vai Arthur, pode ir no banheiro aqui do corredor- apontou Flávio, fica a vontade tá bom.
Tá legal, valeu Flávio- disse Arthur- a gente não demora, eu também tô com estomago gritando de fome.

Tomamos banho e nos vestimos em tempo recorde, era a fome apressando nossos passos, nem deu tempo de dar um beijinho no Arthur enquanto saímos do banheiro, mas teremos outras chances, fomos até a cozinha e encontramos o Flávio arrumando algumas coisas na mesa.

Olha gente tem uma lasanha aqui no congelador, vocês curtem? Perguntou Flávio.
Tá louco cara? Quem não adora lasanha- falei- Caraca, essa é grande hein? É de 1 Kg?
Sim, acho que dá pra nós três né? Indagou Flávio enquanto colocava no forno agora aquecido.
Vamos ver…dá 333 gramas pra cada uma- disse Arthur.
Até na lasanha você mete matemática? Flávio meio que reclamou.
Claro que não, tô só zoando- respondeu.
Sabe que eu acho super engraçado quando vocês ficam discutindo sobre os estudos? Parece duas velhas rabugentas- apontei pra eles.
Já imaginou como a gente vai ser bem velhinho? Perguntou Flávio enquanto passava um pacote de biscoitos pra gente aguentar a fome até a lasanha ficar pronta.
Sabe que eu até imagino sim? Eu disse- eu olho pro meu avô as vezes e penso como eu vou ser naquela idade.
Seu avô é muito gente boa Paulo- elogiou Flávio- Pena que a gente não falou muito com ele, e a sua vó cozinha cada coisa gostosa.
É, eu gosto muito deles dois, a minha vó me trata como neto mesmo.
Como assim te trata como neto? Se você é neto ela tem que te tratar assim- ele riu meio confuso.
Ah, é que o Paulo ainda não te contou né? Falou Arthur.
O Quê? Interrogou Flávio.
Ah, é que ela não é minha vó de sangue, a mãe da minha mãe era outra pessoa. Depois o meu avô casou com ela e teve minha tia.
Ah, então a sua mãe era a irmã mais velha? Flávio perguntou mais uma vez .
Isso aí- respondi.
Opa, olha aí o forno apitando- apontou Flávio- já passou o tempo de assar a lasanha.
Vamos lá garoto, pega lá uma coca cola na geladeira Arthur, Paulo, pega uns copos aí nessa prateleira em cima da pia.

Repartimos a lasanha em três e comemos que nem condenados, conseguimos a façanha de esvaziar uma garrafa de coca cola de 3 litros, aquilo me fez ficar lotado, eu não aguentaria comer mais nem um grão.

Cara isso tava muito bom- falou Arthur.
Não acredito que a gente bebeu 1 litro de coca cola- falei.
Só se foi você porque eu com certeza tomei quase 2 litros, haha- disse Flávio, é meu vício.
Mentiroso, você tá traindo o guaraná- zombei.
Outro dia eu tenho certeza que vi ele com uma Fanta, esse moleque é um safado.
E O Sprite então? Eu ri- Tá traindo a coca cola com ele também? Falei e 1 segundo depois me dei conta da nossa brincadeira idiota imprópria.
Flávio, aí caramba a gente é muito idiota mesmo, desculpa… foi sem querer…
Relaxa cara, eu sei que vocês nem tavam pensando naquele assunto- tamos de boa como sempre.
Foi mal Flávio- Arthur se desculpou.
Esquece isso, ei bora jogar videogame? Podem deixar a louça ali na pia.
Deixa comigo disse Arthur recolhendo os pratos e levando pra pia.
Ah não Arthur- gritou Flávio- Você é visita, não precisa começar a lavar os pratos, deixa isso aí.
Tudo bem, eu já tô acostumado, deixa que eu lavo aqui e vocês vão aí ligando o game, eu espero a segunda rodada.
Seu bobão- disse Flávio- eu nem falei qual é o jogo.
Você não gosta de futebol? Perguntei- Bora um joguinho.
Claro, jogo de futebol é obrigatório- disse Arthur voltando da cozinha.
Vou te dar uma surra- zombou Flávio, vai ser o novo 7X1.
Vai sonhando- rebateu Arthur.

Ficamos jogando alegremente até próximo das 20:00 quando a mãe e o padrasto do Flávio chegaram, para minha surpresa meu tio e minha tia estavam juntos além da mãe do Arthur, imediatamente uma luz vermelha se acendeu na minha cabeça, será que vão fazer alguma reunião? O que houve? O Churrasco estava marcado para amanhã, minha tia se dirigiu até mim com um olhar sereno e triste, algo realmente havia acontecido.

Tia, o que houve? Perguntei preocupado- Por que todos vieram a essa hora da noite?
Meu Anjo, eu sinto muito- ela disse enquanto fazia um carinho em meu rosto- estava tão espantado que só agora notei que usava óculos escuros, vi que haviam lágrimas escorrendo por trás deles.
O que aconteceu tia? Falei já choroso e com o coração acelerado enquanto Arthur e Flávio olhavam sem entender direito o que estava acontecendo.
Foi a vovó meu Anjo, ela não está mais aqui, mas ela se foi sem dor nenhuma.

Minha cabeça começou a rodar, senti um gelo enorme percorrendo minha espinha, minha tia me segurou pelas mãos e quase que imediatamente meu nervosismo extremo me fez desmaiar.

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5 Comentários

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  • Responder Jozeto ID:1ejg4w5f143j

    Ainda tem.mais por vir…

  • Responder Angelman ID:1dxldgev13j6

    Eu sou mal por pensar, “ainda bem que foi a avó”

  • Responder Green box ID:1eokuhey283w

    Agora sim voltamos a ter algo de bom pra ler Parabéns a coitadinho do meu Paulinho kkkk

  • Responder paulo cesar fã boy ID:8315r14zra

    tava com saudades. não demora para postar o proximo capitulo ou vou ai te puxar pela perna kkkk

  • Responder Quick ID:1clcovh9vgew

    Oba! Que bom que voltou.