Caminhos do coração #5

UMA REVELAÇÃO

Assim que entramos, nos sentamos no sofá enquanto o Junior ligava seu vídeo game, ele colocou num joguinho de corrida.
—vocês demoraram – disse o Junior enquanto o jogo carregava.
—acho que nem demoramos tanto assim – disse o Pedro.
—foi por causa da minha irmã, hoje era o dia de eu fazer as tarefas de casa e ela não quis fazer pra mim, aquela chata.
—Mas se era o seu dia, você não pode reclamar Zezinho.
—Eu sei Pedro, mas é que eu sempre quebro o galho dela quando ela precisa, e hoje ela não quis me ajudar.
—entendo – disse o Pedro – ter irmão é muito ruim, o meu sempre pegava no meu pé, ainda bem que ele casou e foi morar com a mulher dele.
Sim. O Pedro tem um irmão mais velho e ele se casou há pouco mais de quatro anos, eles moram aqui também nessa cidade, ele e a mulher dele tem um filho antes do casamento, o João Lucas, ele tem cinco anos.
—vocês não deviam falar assim, meu sonho foi sempre ter um irmão ou uma irmã – disse o Junior triste.
—e você já conversou com seu pais sobre isso Júnior? – perguntei.
– Sim, muitas vezes, mas eles levam na brincadeira e dizem que se eu já dou trabalho imagina dois, acho que sempre vou ser filho único.
—há Junior, mas tenta falar…………………….

Esquece isso e vamos jogar, vocês estão me deixando triste.
O vídeo game do Junior não é lá essas coisas, é um Playstation dois ultrapassado e já estávamos até enjoados de jogar os mesmos jogos de sempre, mas pelo menos era melhor que o meu …era o que tínhamos para se divertir, enquanto jogávamos não resisti e fiquei a admirar o Junior, o seu lindo corpo de menino, do seus cabelos cacheados cor de fogo, das pintinhas pretas em seu rosto, do seu belo sorriso mostrando os seu dentes perfeitos …é! …eu tenho que admitir para mim mesmo, me apaixonei pelo meu melhor amigo, mal conseguia me concentrar no jogo com ele ali ao meu lado esbarrando a todo momento sua perna na minha, ele se divertia jogando e nem percebeu que eu olhava pra ele, más quando eu desviei o olhar para a televisão acabei encarando o Pedro, ele estava me olhando fixo …droga Pedro! …eu sei que você percebeu, disfarcei e continuei a jogar, como só tinha dois controles tínhamos que revezar, quem perdia passava para o outro, e assim passamos a tarde se divertindo como sempre.
—Vou embora amigos – eu disse já me levantando e esticando meus braços me espreguiçando.
—acho que eu também vou – disse o Pedro.
—más já? ….fiquem mais?
—não dá Junior, meus pais devem estar para chegar.

—Nem me fala Zezinho, os meus pais são chatos pra caramba também, se eles chegarem em casa e eu não estiver tenho que aguentar duas horas eles falando na minha orelha.
O Pedro disse e nos despedimos do Junior, como a casa dele fica mais ou menos na mesma direção da minha fomos conversamos, conversamos sobre coisas fúteis, mas aí o Pedro vai e me faz essa pergunta iniciando uma conversa nada agradável.
—e ai! …quer falar sobre o Junior?
—falar o que sobre ele?
—Você gosta dele?
—Claro! …ele é meu amigo assim como você.
—Não me leve a mal Zezinho, o que eu quero dizer é se você sente alguma coisa por ele mais do que amizade?
—Qual é cara! …está me tirando Pedro?
—Eu percebi o jeito que você olhava para o Junior hoje, pra falar a verdade eu já venho notando um comportamento estranho entre vocês dois há muito tempo.
—ficou louco Pedro?! …esta me chamando de viado?
—não. Claro que não.
—pois é o que esta parecendo com essa sua conversa, que ideia maluca a sua achar que gosto de homem? …eu não sou gay não porra.

—calma Zezinho, eu só estou comentando porque acho que ele também gosta de você.
—sério?
—Sim.
Por alguns segundos viajei nos meus pensamentos, fiquei tão feliz que foi impossível esconder o meu ar de felicidade e um pequeno e discreto sorriso se formou nos meus lábios.
—Quer dizer então que você gosta dele mesmo?
—CALA A BOCA PEDRO! …eu já disse que não sou gay caralho – eu disse voltando a ficar bravo com ele.
—e o que tem de errado em ser gay?
—porque? …você é?
—não. Você sabe que eu gosto da Sabrina.
—pois eu também não quero ser gay.
—não quer? …ou não é?
—não sou – eu disse sem graça por ter deixado escapar essa.
—Você sabe que pode confiar em mim né Zezinho.
—Claro. Você é um ótimo amigo.
—Então me conte, vou entender e te apoiar, prometo que não falo pra ninguém, você gosta dele?

—VAI TOMAR NO SEU CU PEDRO – eu disse bravo e o empurrei, mas ele não caiu.
—calma Zezinho! …não fica bravo.
—pois eu estou muito bravo sim, você esta dizendo na minha cara que sou viado!! … e pior! …esta falando que eu gosto do meu melhor amigo.
—gosta?
—Gosto, mas não do jeito que você está falando, e quer saber? …você vai por um caminho e eu vou por outro, se não vamos acabar brigando – eu disse bravo e segui.
—espera Zezinho – ele disse ao me ver se afastando dele, mas eu não lhe dei ouvidos e segui por outra rua.
—O que está acontecendo com você Zezinho? – perguntou a minha irmã enquanto íamos para a escola.
—não está acontecendo nada …porque?
—Estou te achando estranho desde quando você chegou ontem, está mal humorado? …brigou com seus amigos?
—Não briguei com eles, é impressão sua.

Realmente aquela conversa com o Pedro ontem me deixou bem mal humorado, mas ele disse uma coisa que não saiu da minha cabeça …ele disse que o Junior gostava de mim, quero dizer …ele acha que o Junior gosta de mim …será que ele estava certo? …será que o Junior gosta de mim? …não.

Não é possível, ele não é gay e o que ele sente por mim é só amizade, nada mais que isto.
—Vou lá ficar com minha amigas – disse a minha irmã assim que chegamos à escola.
—tá …vai lá, eu vou ficar um pouco por aqui, as aulas ainda Vai demorar alguns minutos para começar.

Hoje a professora vai nos dizer o resultado da prova que fizemos ontem, mas eu estava tranquilo, tenho certeza que me saí bem, tenho certeza que o Junior se saiu muito bem também, ele estava muito concentrado e estudou muito assim como eu.
– E aí Zezinho, ainda bem que te encontrei aqui sozinho – disse o Pedro – a nossa conversa ontem não acabou bem.
—há que saco! …vai falar de-novo sobre aquilo, desta vez não vou me segurar Pedro, vou brigar com você aqui.
—se acalma Zezinho, eu não vou mais falar sobre aquilo não.
—acho bom.
—quero te pedir desculpas.
—desculpa!
—Sim. Você me perdoa por aquela conversa?
—se não tocar mais nesse assunto.
—prometo – ele disse e ofereceu a sua mão.
—Então está perdoado – eu disse a apertei a sua mão.

—E ai amigos – disse o júnior chegando ali.
—fala júnior …onde você estava?
—Foi mal, eu acordei tarde hoje e perdi a hora.
—o que aconteceu? …você nunca se atrasa – eu disse.
—é que eu fiquei pensando muito no resultado da prova, estou preocupado para saber se tirei uma boa nota, por isso não consegui pegar no sono logo.
—não esquenta Junior, estudamos muito juntos, acho que você estudou até mais que eu, tenho certeza que você vai se sair bem melhor que eu.
—não quero ser o melhor, me saindo bem eu já estou contente, meus pais vão ficar felizes.
—vão se sair bem vocês dois, tenho certeza – disse o Pedro – eu sei o quanto se esforçaram muito para essa prova.
—ih …tava bom – eu disse.
—é aquele chato do Gabriel – disse o Pedro.
—e ai pessoal – ele disse com todo aquele jeito marrento dele.
—o que você quer com a gente, Gabriel? – perguntei.
—Só vim trocar umas ideias com vocês.
—Então fala logo e nos deixa em paz – disse o Junior.
—porque estão falando assim comigo? …não fiz nada pra vocês.
—não fez hoje – eu disse.
—Esquece isso, são águas passadas.

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