Amores opostos Parte 5

O que acontece com esse menino afinal de contas? Só hoje ele já foi arrogante e rude pela manhã e na hora do jantar foi inicialmente amável e agradável, depois foi extremamente grosso e mal educado com a própria mãe então do nada a gente começou um bate papo meio maluco sobre química e ele até riu de uma piada sem graça, pareciámos até velhos amigos conversando bobagens. Agora do nada, sem aviso nenhum ele está me beijando, além de tudo esse moleque é gay? Quer dizer…não tenho nada contra gays, claro que não, mas isso me pegou de surpresa, esse beijo tava durando muito mais do que eu imaginava, eram vários segundos que pareciam intermináveis mas o que mais me deixava intrigado naquela situação toda era o fato de que eu não estava fazendo nada para impedi-lo, já se passaram 3 segundos, 5 segundos, 6, 7 e eu não movia um músculo para que ele parasse.

Finalmente ele parou de me beijar, mas não foi menos constrangedor pois agora ele passou a me encarar, a olhar profundamente em meus olhos, quase como se procurasse alguma coisa, não sei o que, algo dentro dos meus olhos que ele pudesse dar alguma explicação ou justificativa para aquele momento, até que finalmente ele falou.

Me desculpa Miguel.
Não precisa se desculpar por isso, bem talvez você tenha que se desculpar sim por um bocado de outras coisas. Falei.
Eu não sei…não sei se devo…não sei se posso…
Do que você está falando? Perguntei.
Eu tenho que ser melhor sabe? Tenho que ser melhor que os outros, tenho que ser o melhor.
Calma André, eu não estou entendendo nada do que você está falando, vem vamos descer e conversar todo mundo.
Não, não me deixa, não me deixa sozinho- suplicou.
Não estou te deixando sozinho, estou te chamando pra vir junto comigo.
Fica comigo aqui por favor, fica comigo- ele me abraçou.
Tudo bem, eu fico- sentamos em sua cama ainda abraçados.

Ficamos vários minutos apenas abraçados, ele chorava sem fazer barulho algum, mas eu sentia suas lágrimas molhando o meu ombro, cada lágrima que saía de seus olhos pousava pesadamente em meus ombros, mas eu aceitei aquele peso, eu não ia deixar aquele menino sofrer daquele jeito sozinho.

Você Sente muito a falta dele não é?
Sim- respondeu baixinho.
Você devia amar muito ele.
Sim, muito.
Aposto que ele também te amava muito.
Não quero mais falar disso, doí muito- falou quase engasgando num soluço.
Tudo bem, tá tudo bem- falei- Quer ficar mais um pouco assim? Passei a mão em seus cabelos.
Quero. Deu uma de suas curtas respostas.

Mais alguns intermináveis minutos se passavam, não que eu quisesse sair logo dali, como eu disse antes eu não queria deixar o André na mão, mas eu também pensava no que estaria acontecendo lá no andar debaixo, provavelmente iriam subir para cá se eu me demorasse mais ainda, o melhor a se fazer era descer e tentar dar uma solução razoável para aquilo tudo.

Olha André, eu tenho mesmo que ir agora- falei enquanto acariciava seus cabelos. Se demorar muito logo vão vir para cá.
Eu sei, o que vamos fazer agora? Perguntou me olhando triste.
André, o que está feito está feito, não dá pra desfazer, mas podemos tentar remediar, você sabe como não é mesmo?
Não sei se consigo, você me ajuda? Me leva até lá?
Você tá enxergando? Cade seus óculos? Você tirou na hora da janta e não colocou mais.
São só de leitura- ele disse.
Tudo bem, esquece os óculos, vamos lá.

Descemos lentamente pelas escadas com ele segurando meu ombro, não era como se ele estivesse fraco ou mesmo passando mal, mas eu sentia que ele precisava desse apoio, ao chegarmos na sala meus pais ainda conversavam com a mãe de André.

Muito bem, já estamos de saída- disse minha mãe- o Gustavo está com um pouco de febre e é melhor medicá-lo logo, além do mais já passou da hora de dormir e não queremos incomodar mais.
Espera- eu disse- André que falar algo, não quer? Lhe dei uma leve cutucada.
Sim, eu sinto muito, peço muitas desculpas pelo meu comportamento essa noite. Desculpe também mãe- ele olhou para sua mãe que ergueu os ombros e arregalou os olhos num espanto que surpeendeu a todos.
Tudo bem querido- ela lhe abraçou- Eu sei como você se sente quando falamos sobre o Bruno.
Mãe… podemos não falar desse assunto…por favor? Pediu com uma voz melancolica.
Tudo bem querido, tudo bem, vamos nos despedir de nossos amigos, certo?
Aceitamos suas desculpas- disse meu pai e depois minha mãe. Nos despedimos e fomos até o carro, no caminho notei que o Gustavo deu um beijo na bochecha do André, o que lhe arrancou um leve sorriso.

Não consegui dormir tranquilo aquela noite, tinha tanta informação pra pensar de uma só vez que eu simplesmente não conseguia relaxar para dormir. Quase 3:00 da madrugada e nada de conseguir pregar os olhos, de repente alguém entra em meu quarto e pula em minha cama, levo um grande susto e dou um pulo, era o Gustavo.

Gustavo, pelo amor de Deus, quase que você me mata do coração, o que aconteceu?
Não consigo dormir- ele disse choroso se atirando em meus braços.
Você tá quente pra caramba, parece que a febre não passou nadinha, tá doendo alguma coisa?
Aqui tá doendo muito- ele apontou para os joelhos, e a cabeça também.
Tá igual ou pior do que na hora que saímos da casa do André? Perguntei preocupado.
Você não vai brigar comigo? Me olhou dengoso.
Claro que não, me conta, o que aconteceu?
Eu não aguentei, vomitei na cama.
Ah, Gugu, você tinha que ter chamado alguém antes, não pode ficar passando mal sem avisar ninguém.
Desculpa- começou a chorar.
Vem, não chora que vai piorar, não foi culpa sua, ninguém vai brigar com você não, vamos chamar o papai.

Peguei o Gugu no colo e fomos até o quarto de nossos pais, pra minha sorte a porta só estava encostada pois eu não ia conseguir abrir a porta com ele no colo, entrei tentando não fazer barulho e chamei meu pai que estava dormindo do lado esquerdo da cama voltado para a porta.

Pai, Pai…acorda pai por favor.
Hmmm? Meu pai começou a se mexer- por sorte tem sono leve- O que foi Miguel?
O Gugu tá se sentindo mal, ele ainda tá com febre e até vomitou.
Vamos lá- disse meu pai sentando na cama, senta aqui do meu lado Gustavo. Miguel, pega o termometro aí na gaveta do armário do banheiro.
Aqui está- lhe entreguei o termometro.
Segure bem forte embaixo de seu braço Gustavo- meu pai ordenou- depois do tempo de medição passado ele verificou a temperatura. Caramba, está com quase 39 de febre.
O que houve? Perguntou minha mãe que acabara de acordar e agora percebeu todo nosso movimento.
A febre dele aumentou, o Miguel disse que ele já vomitou.
Tá doendo muito a cabeça papai- ele falou choroso.
Não tem jeito, vamos ao hospital agora mesmo- disse meu pai preocupado.

Meus pais se arrumaram rapidamente e levaram o Gugu ao pronto socorro, a mim restou apenas ficar sozinho em casa para limpar a bagunça em seu quarto e a enorme preocupação para encher ainda mais minha cabeça, eram quase 4:00 da manhã já, quem sabe aquele trabalho todo não me faria ter sono?

Fui até o quarto do Gustavo, ele havia vomitado no chão, já estava seco, o que deixava com um cheiro bem ruinzinho, pelo menos não vomitou na cama, senão seria mais trabalhoso ainda, improvisei um esfregão com a vassoura e um pano úmido e tratei de limpar aquela bagunça bem rápido.

Ao terminar tudo aquilo fui ao meu quarto e voltei a deitar, o jeito era tentar dormir e esperar noticias dos meus pais e meu irmão, mas por algum motivo o que tomou conta de meus pensamentos foi o André, lembrei novamente de seu beijo, onde será que ele aprendeu a beijar? Bem, não foi um beijo profissional é lógico, mas foi bem longe de ser um beijo totalmente desajeitado, do nada percebi que estava com meu pau duro. Não acredito, pensei, estou mesmo tendo uma ereção pensando num garoto? Além do mais ele ainda não fez nem 11 anos, eu já tenho 14. Tudo bem nem erámos tão diferentes assim já que eu ainda tinha estatura mais baixa, mas mesmo assim, era impensável imaginar alguma coisa entre nós, ainda mais que esse garoto carregava tanta coisa na cabeça que não acho que um relacionamento desse tipo daria certo, mas… por que será que ele me beijou? Eu não tinha como falar com ele no final de semana, não havia pegado contato algum seu, acho que vou ter que esperar mesmo até a segunda feira.

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