Amores Opostos Parte 3

Poxa Juan, não fica assim por favor- eu tentei me desculpar.
Mas essa história foi surreal viu? Disse Gabriel rindo- o moleque jogou mesmo água na sua cara?
Jogou, e mesmo assim o bestão aí ainda ficou passando a mão na cabeça dele- Juan respondeu em meu lugar.
Juan, pelo amor de Deus, você sabe que eu não queria te deixar chateado, eu só quis evitar que uma confusão maior ocorresse, poxa, eu tô pedindo desculpas. Fiz cara triste.
Você sempre desse seu jeito bonzinho demais querendo abraçar o mundo, que chato.
Você também tá sendo chato Juan, poxa ele tá pedindo desculpas , vocês são amigos a tanto tempo. Natália falou me defendendo.
Afff, tá bom, só vocês mesmo, só vou perdoar porque vocês tem aguentado minhas chatices esses anos todos.
Para de ser besta e vem cá Juan- lhe dei um abraço.

Natália e Gabriel então começaram a bater palmas como se comemorando nossa reconciliação rápida, alguns segundos depois Kaique e Tamires chegaram junto com o Jackson com uma bandeja cheia de salgadinhos e uma coca de 2 litros, nossa turminha estava completa.

Caramba, vocês assaltaram alguma festinha das crianças lá do infantil? Zombou Juan.
Ah, tá vai rindo então que você não ganha nada- Disse Tamires afastando Juan que já estava esticando a mão pra pegar um salgadinho.
Então de onde surgiu tudo isso? Perguntei curioso.
A minha tia abriu uma lanchonete nova, começaram hoje- respondeu Tamires, então minha mãe deu dinheiro pra gente comprar salgadinhos com ela pra já ir dando uma força.
Poxa que legal, e não podemos experimentar não? Perguntou Juan impaciente.
Você foi meio malcriado hoje né Juan, acabou de voltar da diretoria, acho que não merece não – Jackson disse rindo.
Lá vai o outro tocar no assunto de novo- reclamou Juan.
Bora, esquecer isso de vez gente, paz, ok? Natália deu fim a discussão distribuindo os salgadinhos entre todos.

Devoramos rapidamente quase metade dos salgadinhos, o Jackson com o Juan como sempre trataram de comer bem mais que todos, pegavam salgadinhos de punhados enquanto a Natália não tava olhando, já as meninas quase nem comiam nada.

Natália, não quer mais salgadinhos não? Perguntei-
Só mais um no máximo, tô de dieta, respondeu pegando um salgadinho da minha mão.
As meninas vivem de regime, hein? Disse Jackson, sobra mais pra gente.
Pois fique sabendo que já perdi 3 kg nesse final de ano, estou quase conseguindo diminuir um número das minhas roupas- falou Tamires se gabando.
Estou precisando chegar lá viu? Falou Natália- como você consegue? Final de ano a gente só engorda, mês que vem é aniversário da minha mãe, ganhei um vestido lindo de Natal e preciso urgentemente dimiuir um número pra ficar confortável nele e poder usar na festa.
Para de besteira, você tá ótima- lhe dei um selinho.

As meninas tavam bem na época mesmo de se preocuparem com as aparêcias, eu achava engraçado como queriam o tempo todo ser magras, eu pessoalmente não me preocupava muito com isso não, mas diferente dos outros eu por ainda ter acabado de fazer 14 anos ainda tinha meio que jeitão de criança e pra ser bem sincero eu não me importava muito com isso. Eu sempre fui o caçula de todas as salas que estudei por estar um ano adiantado, estava acostumado a ser o mais novinho da turma. Pensando bem agora notei, o André virou o caçula da turma e tá bem adiantado, 10 anos no 1º Ano, como será que ele conseguiu isso?

Por alguns minutos enquanto os outros conversavam e comiam me perdi em pensamentos novamente sobre aquele estranho garoto, tinham tantas coisas estranhas em relação ao comportamento dele e ao próprio fato de sua presença em nossa turma que não tinha como alguém tão curioso como eu deixar de lado. Logo meus pensamentos foram interrompidos pelo meu celular tocando, era minha mãe.

Alô, mãe? Está tudo bem? Por que está ligando a essa hora? Estou na escola ainda.
Alô, sim mas ainda está no horário do intervalo não é?
Sim, estou, aconteceu alguma coisa? Perguntei preocupado.
Aconteceu sim, mas é uma notícia maravilhosa, lembra que seu pai fez as provas do concurso para Juiz a vários meses atrás? Pois então, ele passou e foi convocado.
Sério mãe? Dei um pulo e todos ficaram me olhando- quem maravilha, que ótimo. O Papai deve estar superfeliz.
Pois então, ele está ocupado hoje, ia ter uma audiência pela manhã , então ele ainda não sabe, vamos fazer uma surpresa em casa quando ele for almoçar, lá pelas 13:00.
É mais ou menos a hora que eu chego em casa. Falei.
Eu vou buscar você para que chegue mais cedo, ela disse.
Eu saio 12:30, e o Gugu?
Já estarei com ele, de lá pegamos rapidamente o bolo que encomendei e vamos pra casa. Sua tia Vera vais estar lá arrumando a festa surpresa.
Que legal mãe, o pai merece, estou muito feliz por ele.
Então até daqui a pouco- falou desligando.

Que notícia maravilhosa , a anos que o papai já se matava de estudar para fazer concurso para juiz, sei que é um dos concursos mais dificeis que existe, agora além de um salário muito bom ele finalmente vai ter a estabilidade de ter um emprego concursado, com certeza tem que ficar orgulhoso.

Ei Miguel- Natália me chamou- não vai contar a fofoca pra gente não?
Hein? Claro que vou- respondi saindo do quase transe que me encontrava.
O que aconteceu? Perguntou Gabriel- finalmente falando depois de devorar todos os salgadinhos restantes.
Gente, meu pai foi chamado pra ser Juiz- falei entusiasmado.
Que maravilha- disse Natália me dando um beijo. Seu pai merece. Todos começaram a sorrir e me cumprimentar.
Calma né gente? Quem passou foi ele, não eu- gargalhei.
Seu pai é muito gente fina- disse Jackson, ele com certeza merece.
Valeu gente, vocês são demais.

O intervalo acabou e voltamos para a sala, ao entrar logo notei que o André estava em sua mesa, pelo jeito nem havia saído de lá, estava comendo um sanduiche com suco e lendo um livro que parecia ser o o livro de Química, sim, acho que era essa a próxima aula, uma matéria meio complicada, agora fiquei curioso para saber como ela vai se sair.

Logo um Senhor bem magro e alto entrou na sala de aula, tinha jeito de já ter mais de 40 anos e apresentava alguns poucos cabelos grisalhos aqui e ali, com um sorriso para a sala ele se apresentou.

Bom dia gente, meu nome é Gabriel e sou o professor de Química, sei que vamos ter bastante desafios esse ano e espero poder contar com a ajuda de todos para seguir por um bom caminho e que todos possam alcançar seus objetivos.
Essa não, mais um Gabriel pra encher o nosso saco- Jackson zombou dando uma risadinha.
Muito bem, você aí conversando- o professor apontou pro Jackson, que se virou para ele todo nervoso pedindo desculpas.
Foi Mal prô, é que…
Tudo bem- falou o professor- o que eu quero agora é conhecer cada um de vocês e o que vocês já sabem sobre Química. Seu nome é?
Jackson- respondeu envergonhado fazendo várias pessoas darem risadinhas ao redor.
Muito bem Jackson, o que você sabe sobre Química, o que ela estuda?
É…bem.. a Química estuda… a matéria?
Perfeito, é isso mesmo- a sala inteira aplaudiu- e o que seria matéria?

Essa foi mais difícil, acho que ninguém tava querendo arriscar, mesmo eu não conseguia me lembrar de cabeça qual era aquele conceito.

Matéria é tudo aquilo que possui massa e ocupa um lugar no espaço, possui volume. Respondeu André pra perplexidade de todos.
Excelente, muito bom- disse o professor- Seu nome?
André- respondeu seco como sempre.
Muito bem André, então saiba você e todos que esse ano vamos ter uma grande amiga que devemos estudar, é a Tabela Periódica, já ouviram falar dela?
Sim, a Tabela Periódica é é uma disposição sistemática dos elementos químicos ordenados por seus números atômicos, configuração eletrônica, e recorrência das propriedades periódicas- Disse novamente André.
Temos aqui um aluno bem afiado com a disciplina- falou o professor, muito bem. E alguém sabe dizer qual é o primeiro elemento da tabela?
É o Hidrogênio, seu símbolo é “H” e sua massa atômica é de 1.00794 e número atômico 1- continuou a responder André.
Caramba, o moleque é uma máquina sussurrou Gabriel no meu ouvido.
Depois do outro lado da tabela vem o Helio de Simbolo “He” e massa atômica de 4. 002602 e número atômico 2, é um gás nobre. O número atômico 3 é o Lítio “Li” cuja massa atômica é 6.941, um metal alcalino, o número 4 é …
Tudo bem, interrompeu o professor- vamos um pouco mais devagar para todos poderem acompanhar, certo? Obrigado, André não é? Disse Bastante espantado.

Nesse momento começou um burburinho na sala, todos ficaram meio perplexos com o que viram, aquele garotinho de 10 anos era craque em Química também? De repente alguém gritou do fundo da sala pra fazer graça. “ Número 40”.

Número 40 é o Zircônio, de símbolo “Zr” e massa Atômica 91.224, é um metal de transição- falou André sem nem pensar muito.
Número 18 outra pessoa gritou.
Argônio, outro gás nobre seu símbolo é “Ar” e sua massa atômica é 39.948
Número 83- mais um gritou tentando testá-lo
Bismuto, Símbolo “Bi” e número atômico 208.9804, outro metal de transição.
Número 51, outro grito.
Já chega pessoal, tá bom- falou o professor interrompendo. Garoto quanto você sabe da tabela?
Toda- respondeu André.
Muito bem, vamos continuar a aula- falou meio desconcertado.

O Restante da aula foi normal, quer dizer…qualquer coisa seria normal depois daquilo que vimos, o André realmente era um garoto muito acima da média, muito acima pelo visto. A última aula foi de Inglês e ele novamente mostrou que sabia muito, tudo o que a professora falava ou perguntava ele respondia em inglês. O menino era um prodigio.

Apesar do dia atípico eu tinha que voltar para a realidade, ao término da aula me despedi dos meus amigos e corri para a saída da escola para não deixar minha mãe esperando. Do lado de fora notei André sentado como se esperando alguém vir buscá-lo, minha mãe ainda não havia chegado. Resolvi tentar puxar conversa com ele mais uma vez.

E aí André, tá esperando a condução? Perguntei sem obter resposta alguma, ele apenas me encarou- Ei cara, você mandou muito bem nas aulas de hoje, você é inteligente pra caramba.
Ainda não é o suficiente- ele murmurou.
Como assim? Perguntei curioso- novamente não obtive resposta- Tudo bem, desculpa, não quero me meter na sua vida pessoal. Você com certeza tem lá seus motivos. Ficamos alguns segundos em silêncio, quando eu estava quase saindo ele perguntou.
Por que você mentiu naquela hora pro Diretor?
Hã? Ah, sei lá você parecia mal tava chorando não seria legal ficar de castigo no primeiro dia de aula.
Eu odeio que me vejam chorar… ele disse num tom melancolico.
Olha, a gente pode ter começado mal hoje, mas se quiser… podemos ser amigos. Falei.
Vim pra escola pra estudar, não pra fazer amigos- respondeu ficando sério novamente.

Aquelas palavras me deixaram sem ação, ao mesmo tempo não consegui deixar de sentir muita pena daquele menino, como ele deveria ser infeliz e solitário, eu quase conseguia sentir a dor dele em mim. Infelizmente naquele momento não havia nada que eu pudesse fazer. Minha mãe chegou, me despedi de André mesmo sabendo que não iria ser cumprimentado volta, por algum motivo estranho ele agora estava sempre em algum lugar em meus pensamentos.

Resolvi tentar “virar a chave” naquele momento, ao chegar em casa encontrei meu tio Guilherme e e minha tia Nádia, irmãos do meu pai, eles me puxaram para um canto escondido da sala onde iriámos esperar meu pai que estava prestes a chegar. Do outro lado minha mãe com o Gugu e meus avós segurando um bolo que parecia estar bem gostoso pela quantidade de morangos em cima dele, os segundos passaram e passaram, espiamos pela janela, 3, 2, 1… todos gritaram assim que meu pai entrou… SURPRESA…

Todos partimos pra cima de meu pai que ficou bastante impressionado com a surpresa, até fez piada.

Poxa gente, muito obrigado, nem é meu aniversário hoje- falou.
Não é uma comemoração de aniversário, eu soube hoje pela manhã, você foi chamado para o cargo de juiz do concurso que você fez, parabéns querido- minha mãe lhe deu um beijo.
Obrigado, muito obrigado- meu pai cumprimentou a todos com os olhos marejados.
Como você se sente agora Vossa Excelencia? Perguntou meu tio fazendo graça.
É Meritissimo tio, eu falei rindo.
Muito obrigado de novo a todos- disse meu pai- sei que queriam fazer uma surpresa e eu gostei muito, mas pra ser bem sincero eu já sabia, haha.
Já sabia como pai? Perguntei curioso.
Ora, todos no escritório e no fórum me cumprimentaram hoje pela manhã, então eu fui conferir a correspondência digital e lá estava o aviso de nomeação no Diário Oficial.
Mas vamos fazer de conta que foi surpresa não é? Disse minha mãe.
Claro que sim, aliás eu tive uma grande surpresa hoje além dessa.
Qual foi ela? Perguntou minha mãe enquanto servia uma fatia de bolo.
Lembra da Ruth? Que estudou conosco o ensino médio e depois fez Faculdade de Direito junto comigo?
Claro que me lembro- disse minha mãe- eu ainda mantive contato com ela depois que ela se mudou com o Marido e os filhos, ela também é Juiza pelo que eu saiba.
Pois então, ela foi transferida para cá ano passado.
Verdade? Eu vou gostar muito de revê-la pessoalmente, depois de tudo que ela passou, espero que esteja bem.
Sim, eu soube que ela se casou novamente depois que o primeiro marido morreu e teve outro filho, mas infelizmente o segundo marido também faleceu.
Coitada dela pai- falei entrando na conversa.
Pois sim e não é tudo, eu soube que ela pediu transferência para cá algum tempo depois que o filho mais velho dela morreu num acidente de carro horrível. Explicou meu pai.
Pobrezinha, eu soube disso também, tentei ajudar na época mas ela ficou mal, acabou se isolando um pouco, mas vai ser bom se podermos reatar a antiga amizade e nos encontrarmos.
Vai ser mais cedo do que imagina, disse meu pai- Recebi um recado dela nos convidando para jantar na sexta feira em sua casa.
Que maravilha- disse minha mãe.

Pronto tinhamos já um primeiro compromisso social da vida de juiz do meu pai, seria a ocasião perfeita para minha mãe nos fazer ir ao shopping e ficar horas e horas esolhendo roupas novas, argh, era um saco. Pra piorar a situação minha mãe não tinha intenção alguma de deixar pra depois, assim que os cumprimentos, e o bolo, acabaram ela já queria ir.

Poxa mãe, justo agora? Indaguei- pra que a pressa? A gente pode ir amanhã ou depois, é só pra sexta feira.
Acontece que hoje eu tirei o dia de folga então no restante da semana não teremos tempo. Respondeu nos apressando.
O Gugu tá cansado- falei.
Claro, ele não para de correr um minuto de um lado para outro.
Minhas pernas tão doendo- ele falou choroso.
Vem Gugu- falei enquanto lhe colocava no colo- Você vai sentadinho no carro e descansa tá bom. Eita que menino pesado, lhe dei um beijo na bochecha.

O restante do dia transcorreu sem grandes novidades, no dia seguinte fui normalmente para a escola e lá estava o André, comecei a reparar mais ainda nele, apesar do seu jeito tão reservado quando se tratava das aulas e dos estudos ele era muito falador, hoje tivemos Geografia, História e Biologia e ele novamente se destacou mostrando um conhecimento impressionante de todas as matérias, apesar de tudo seu semblante continuava sempre sério, como se nada lhe deixasse satisfeito, além do mais nem preciso dizer que ele não tava nem aí pra falar ou se enturmar com ninguém. E Assim foi a semana inteira, tentei apenas observar de longe e de vez em quando levando algumas broncas do Juan.

Por que diabos você tá tão interessado nesse moleque? Se eu não te conhecesse ia achar que tá apaixonado. Zombou Juan.
Deixa de ser chato cara- você não tem compaixão não? Olha como ele tá sempre sozinho- apontei para o André que estava sentado num banco comendo seu lanche enquanto lia alguns livros como sempre. Resolvi me aproximar ignorando os protestos do Juan.
E aí André, tudo bem? Posso me sentar ao seu lado?
O lugar tá livre- falou secamente sem me olhar.
Então…o que tá achando da escola e das aulas? Tentei puxar assunto.
Muito fácil, só tô perdendo meu tempo aqui. Disse.
Ah, sério? Bem eu já notei que você é bastante inteligente, você domina todas as matérias, como você consegue?
Estudando muito, o que você deveria estar fazendo ao invés de perder tempo com papo furado- ele disse enquanto se levantava me dando as costas.

Com mais essa resposta atravessada resolvi que era hora de voltar para onde meus amigos estavam, Juan obviamente zombou de mim com o clássico “ eu não te disse?”. Mas eu realmente não estava conseguindo entender por qual motivo a cada dia que se passava aquele menino preenchia mais os meus pensamentos.

Desculpa ter que falar Miguel, mas você tá sendo muito besta- falou Gabriel.
Você também é? Já não basta o Juan pegando no meu pé? Resmunguei.
Não precisa ficar bravo- falou Juan- tá, desculpa pegar no seu pé, mas vamos todos concordar que você tá fazendo por merecer, não entendo como ou porque você está tendo tanto interesse e paciência com esse pivete.
Sei lá, poxa, ele parece tão sozinho, fico com pena quando vejo , as vezes me lembra o meu irmão.
Não se parece nadinha com ele- falou Jackson ao lado- Mas mudando de assunto a gente vai ter futebol hoje lá no clube?
Afff, não posso- respondi- Hoje é o tal jantar na casa de uma antiga amiga dos meus pais, parece que não se falavam havia um tempo e agora vamos ser todos obrigados a fazer a social, parece que ela é Juiza também.
Credo, boa sorte então- disse Gabriel meio que caçoando de minha sorte.
Ah, mas amanhã a tarde o papai convidou todo mundo pra ir tomar sorvete naquela lanchonete perto do condomínio, todo mundo pode ir?
Eu vou- disse Juan- não perco sorvete grátis nem pensar.
Vai ser que horas? Perguntou Jackson- amanhã eu vou almoçar na casa do meu pai.
Umas 16:00- respondi, dá pra você?
Dá sim, tô dentro- falou
E você Gabriel? Perguntei me voltando a ele.
Tô dentro, me manda mensagem amanhã.
Beleza gente, eu aviso as meninas daqui a pouco pelo celular, a gente se vê amanhã então, me despedi e fui até minha condução.

Hoje foi dia de voltar de van, claro que eu preferia que viesse alguém me buscar, mas isso estava ficando cada vez mais raro por conta dos compromissos dos meus pais, agora com certeza papai vai ficar muito mais ocupado daqui em diante, ser juiz é um trabalho muito importante e que exige demais.

Chegando em casa encontrei Dona Rita, que trabalhava em nossa casa tentando fazer o Gugu almoçar.

Miguel, você finalmente chegou, seu irmão tá terrível hoje viu? Ela disse- Não quer comer nada do almoço.
Não tô com fome- ele falou todo manhoso.
Como não está com fome Gugu? Depois do dia inteiro na escola tem que repor as energias almoçando direitinho- eu disse.
Mas não quero, minhas pernas tão doendo- reclamou
Ainda com isso? Você não tá correndo demais na hora do recreio não? E já aposto que anda comendo besteira no lanche.
Deve ser isso mesmo- disse Dona Rita- olha aqui o lanche dele- apontou para a lancheira ainda cheia.
Poxa Gustavo, você não comeu nada do lanche na escola e ainda tá recusando o almoço- dei bronca.
Eu não tô sentindo fome, não tenho culpa- falou já choroso.
Tá bom, tá bom, depois vou falar com a mamãe dessa sua falta de apetite.
Não fala não- ele começou a chorar- ela vai brigar comigo.
Gugu, para de ser dengoso- falei- não vou deixar ela te dar bronca, ok? Mas tem que falar, não tô dizendo que é culpa sua, mas não é normal ter tanta falta de apetite, de repente você pode estar com algum problema e ela te leva ao médico.
Ah não, médico não… chorou mais ainda.
Ai, ai, deixa agora eu consolar o chorão aqui- peguei ele no colo. Dona Rita, deixa aí guardado o prato dele, daqui a pouco eu tento fazer ele comer mais um pouquinho.
Tudo bem, mas tem que ver mesmo essa falta de apetite desse menino- respondeu.

Subi as escadas a duras penas com meu irmão no colo e fomos até meu quarto.
Agora tá bom viu Gugu? Eu falei- sem choro ok?
Tá bom- ele enxugou as lágrimas.
Olha, vamos fazer um acordo? Eu deixo você jogando no meu computador e daqui a pouco você tenta comer mais um pouquinho, tá bom?
Tá, mas a mamãe não vai brigar?
Se você prometer que vai comer direitinho eu não conto nada pra ela.

Depois de acertarmos as coisas fui tomar banho e trocar de roupa, eu sim estava faminto, quando saí do banho vi o Gugu entusiasmado jogando, por algum motivo me pareceu ver a imagem do André ali sentado no lugar dele, feliz e sorrindo com um jogo bobo no computador, sem compromisso, sem preocupações de estudar e estudar, simplesmente sendo criança. Será que eu estava ficando louco? Pensei, de onde vinha todo esse meu interesse nele? Resolvi tentar tirar aquilo da cabeça.

A tarde se passou normalmente e bem rápido, felizmente consegui com jeitinho fazer o Gustavo comer quase todo seu almoço, ele realmente estava meio enjoadinho hoje, mas que criança de 6 anos não é assim né? Eu já estava acostumado com os bons e maus momentos dele, talvez fosse isso que me deixava ter tanta paciência com a arrogância do André.

Início da noite, agora sim ia começar a parte realmente chata do dia, eu simplesmente odeio essa coisa toda de jantar na casa de gente estranha, de ficar fazendo essa coisa toda de fazer a social, mas fazer o quê? Agora meu pai vai ser importante e a juiza além do mais é uma antiga amiga deles, tomara que tudo saia bem.

Depois de todos vestirem as melhores roupas possíveis fomos todos para o carro do papai, acho que a casa da amiga deles não devia ser muito longe pelo que me contaram era um condomínio grande de casas que tem dentre os tantos aqui pelo bairro, coisa de 20 minutos disse minha mãe.

Mãe, essa amiga de vocês é Juiza também né? Perguntei.
É isso mesmo, a alguns anos já, mas estava em outro Estado.
E ela veio pra cá por causa do filho que morreu? Que triste isso.
Sim, era um rapaz tão jovem, não tinha 20 anos ainda, agora ela vive só com o filho mais novo, deve ter uns 10 ou 11 anos.
Coitada, deve ser uma coisa terrível isso tudo. Falei.
Sim, mas de forma alguma vamos tocar nesses assuntos, tudo bem? Disse minha mãe num tom severo.
Claro, claro- respondi.

Não demorou muito e chegamos, era um grande condomínio de casas, muito bem iluminado, logo fomos anunciados na portaria e entramos, haviam vários quarteirões, era imenso, quase como um mini bairro, várias casas grandes, algumas parecidas com belos telhados bem arrumadinhos e outras com grandes lajes quadradas.
Estacionamos em frente a casa de número 64, era bem grande e iluminada, era quase dificil de acreditar que só 2 pessoas moravam nela. Descemos do carro e uma mulher alta de cabelos castanhos claros nos aguardava bem em frente, descemos do carro e minha mãe logo se dirigiu a ela lhe dando um abraço.

Meu Deus Ruth, a quanto tempo, você está ótima- disse minha mãe.
– Por favor, sejam bem vindos- respondeu agora cumprimentando meu pai. E Esses dois lindos, são seus filhos?
Ruth, esse aqui é o Miguel, nosso mais velho e o Gustavo. Disse meu pai.
Muito prazer- lhe dei os populares beijinhos no rosto, para o Gugu obviamente sobraram as clássicas puxadas de bochecha.
Mas que garotinho mais fofo- ela disse. Entrem meninos, vocês vão conhecer o meu filho também, ele é um pouco quieto mas tenho certeza que vão se dar muito bem.

Fomos recebidos por um Senhor vestido como garçom que nos apontou a sala de estar, coisa de gente rica. Dentro da casa tudo muito bonito e bem arrumado, a sala tinha um sofá imenso azul marinho em frente a uma TV gigantesca onde fomos apontados a aguardar enquanto meus pais continuavam alegres a conversar com a amiga. Logo ela veio novamente até nós enquanto olhava em direção a escada.

As visitas já chegaram, desça logo querido, venha conhecer os filhos dos amigos da mamãe.

Percebi que um garoto baixo veio descendo pelas escadas, não consegui ver seu rosto prontamente pois estava olhando as mensagens no celular.

Venha logo André, cumprimente os meninos.- disse Dona Ruth.
Com é que é? Pensei num salto. André??? Me virei para o garoto, sim, era aquele mesmo André da escola que estava bem na minha frente agora.

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