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Arlequino vs Jesteria – 7 ª parte (final e romance)

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Terceiro e último encontro aqui narrado entre os dois protagonistas.

No dia seguinte, por volta do meio dia, Jesteria apareceu observando os maus tratos a que tinha sido sujeito o seu agressor.
“Quem raios teve a negligência de te fornecer um cobertor? Acorda meu amigo…Estás com péssimo aspecto. Já é meio dia. Vou-te libertar. Ou espera… Por outro lado, creio que a grande maioria dos passageiros ainda está a dormir. Quero que eles vejam que ficaste aqui preso durante toda a noite. Queres beber mais alguma coisa? Ainda não fui mijar hoje. Estou a brincar, relaxa, vou-te buscar um copo de água ♣”
Depois de trazer uma caneca de água e de a empurrar pela garganta de Arlequino, Jesteria, pediu-lhe para esperar mais duas horas assim preso, e que depois o libertaria. Em tom de agradecimento, Arlequino ofereceu-se para lhe beijar os sapatos, com um tom sobranceiro, de quem estava disposto a suportar bem mais, dizendo-lhe que estava bem e que não havia necessidade de ela se ter levantado tão cedo.
Duas horas depois, Jesteria finalmente libertou Arlequino.
“Bem, suponho que já não preciso mais de “vestir” isso ♠” disse apontando para a coleira enquanto a tirava. “
“Jesteria, vou para o meu quarto dormir… Vemo-nos por aí.”
“Bom descanso meu querido Arlequino ♥”

Como derradeiro ultraje, Arlequino ainda teve a ousadia de remover o cobertor, revelando a mensagem escrita nas costas e as marcas sangrentas do chicote. Pegou nas suas roupas e sem nenhuma expressão peculiar desceu até ao quarto onde, emfim, tomou um banho vigoroso de água quase a ferver antes de comer uma sandes que encontrara no seu frigorífico. Consumido pelo cansaço dos episódios recentes, deitou-se na cama onde mergulhou num sono profundo até ao alvorecer do dia seguinte.

*Eu sei que prometi não intervir mais, mas ainda escrevo o que me apetece. Como muita gente sabe, existe em Grego Antigo várias palavras principais para “amor”. Muitas permanecem nos dicionários e costumes da Grécia contemporânea, mas importa-me aqui detalhar o seu significado mais originário:
– ἔρως (eros), de onde provém a palavra erotismo, e significava o amor romântico e sexual entre dois amantes. É o desejo de carne crua.
– ϕιλία (philía) de onde deriva filosofia, por exemplo; isto é; gostar+saber, ou gostar de saber. Filae representa o amor fraterno e a amizade límpida como a água. Entre um casal, eu diria que também pode ser empregue quando os parceiros andam de mãos dadas ou conversam no jardim..
– ἀγάπη (agápē) é usualmente associado ao amor incondicional. Tal como philía, não é necessariamente associada ao amor sexual entre duas pessoas. Há um pouco de agapé quando se ajuda uma pessoa que vive na rua, ou em maior dose quando sacrificamos parte das nossas vidas para os nossos filhos ou a arriscamos por amor à pátria. Num casal, eu gosto de pensar que se trata da sublimação de um desejo corpóreo e concreto para uma névoa espiritual e intemporal.
Para alguns filósofos, essas três palavras formam a trindade do amor.
Relativamente ao amor familial, porém, os gregos tinham outra palavra: στοργή (storgé)
O fenómeno, “stalker”, não é de todo contemporâneo. Em grego dizia-se μανία (mania), pouco em voga na língua Portuguesa (mais usada em Francês) exprime hoje em dia a noção de loucura ou de um desejo imoderado. Acabo de descobrir que Mania era a deusa etrusca da morte. Interessante. Para uma reflexão filosófica sobre as virtudes e defeitos da mania, recomendo a leitura do Fedro de Platão. Existem outras mais palavras, mas não me parece relevante mancioná-las aqui.
Apenas acrescento que a palavra pornografia vem do grego πόρνη, (porné, ou seja prostituta) e γράφειν (gráphein, ou escrever). Contrariamente ao que eu pensava, parece que porné vem de πέρνημι (pérnēmi), palavra que existe igualmente em mais línguas proto-indo-europeias. Pérnemi é usualmente associado ao acto de vender, no entanto, acabei de ler um artigo interessante, que não me parece de todo relacionado com o conto, e por isso deixo apenas a referência.
https://archive.chs.harvard.edu/CHS/article/display/3901.10-purchase-and-redemption

Depois de um leve passeio matinal e de uns mergulhos na piscina, Arlequino almoçou e tomou café no Justine onde se deparou com Jesteria:
“Boa tarde Arlequino, vejo que estás visivelmente recuperado, como te sentes?”
“Tenho o corpo dolorido, dói-me tanto em todo lado que não sinto coisa nenhuma. Mas até diria que me sinto bastante bem.”
“Ahah… Posso me juntar a ti? ♦”
“Claro, pega uma cadeira, Jesteria. Estás particularmente linda hoje. E tu, como te sentes?”
“Muito bem, meu amigo ♥” Disse ao esticar as pernas sobre a mesa, revelando boa parte do interior da sua saia larga.”
“Alegra-me ver-te assim. Prova dessas asas de frango, são das melhores que alguma vez comi.”
“Obrigado mas acabei de almoçar. Vim só beber um cafezinho para apanhar ar. Deixa-me oferecer-te algo de especial logo à noite, se nos encontrarmos no bar ♠ “(Apontou para o cardápio)
“Algo…de especial? O que queres dizer?”
“Ahah! não te preocupes. Vou indo, até mais logo ♥”

Pelas 21h, o sol desaparecia lentamente no horizonte, visto que Entertainment já se encontrava quase à mesma latitude que o estreito de Magalhães.
Após jantar no de Musset, Arlequino chega ao bar Justine onde encontrou novamente Jesteria bebendo champanhe com vários amigos, todos eles sentados no balcão.
“Boa noite Jesteria, vejo que hoje não fui o primeiro a chegar ao nosso bar. Boas noites meus caros, sou o Arlequino.” (Virando-se para os companheiros de Jesteria)
“Ah deixem-me apresentar-vos este cavalheiro, o senhor Arlequino, natural da ilha equatoriana pela qual passámos uma semana atrás… como se chamava mesmo…?
“Puerto Ayore? Acrescentou o Jean. Então aquela ilha remota tem habitantes permanentes?
“Nasci e fui criado lá mas confesso que estive mais de uma década sem meter os pés na minha ilha natal. A ilha é fantástica mas para alguém que não consegue ficar quieto no mesmo lugar torna-se rapidamente aborrecido.”
“Ah, mas o senhor por acaso não é aquele escravo que passou a noite de ontem preso ali mesmo, na proa do barco? Parecia estar em muito mau estado. Uma sorte que consegue estar de pé hoje! Espero que não leve a mal a cuspidela que lhe proporcionei ontem.”
“Sim era eu mesmo, deveras, Jessie. Jesteria, não me digas que a surpresa que tens para mim consiste em…”
“Oh era apenas uma brincadeira meu amigo. E apontei para o cardápio, lembras-te? Charlotte! Mais um daqueles cocktails que há pouco me serviste. É um pouco forte, mas acredito que seja do teu agrado ♠”
“Ah eu estava com receio que quisesses fazer algo semelhante ao de ontem.”
“Aqui têm os cocktails. Essa rodada fica… por conta da casa. Fico contente que vocês tenham… feito as pazes. Ambos parecem estar de bom humor… apesar de tudo.” Disse a Charlotte com um sorriso genuíno.
“Não era preciso, mas agradecemos, Charlotte. Arlequino, que raio de resposta foi essa? Não me digas que ainda permaneces em busca de redempção? ♣ (Ao dar um golo da sua bebida encostou-se orgulhosamente à cedeira)
Pensativo, e ao receber o cocktail Death in afternoon que a Jesteria apreciava particularmente, Arlequino finalmente respondeu:
“Talvez… Não, acho que não. A noite está particularmente movimentada, não é verdade?”
“Realmente está. Certamente é uma das últimas oportunidades de aproveitar um serão com um tempo clemente. A Jessie disse-me há bocado que chegaremos à Terra do Fogo dentro de três dias ♦”
“Será a última etapa antes de chegarmos à Antártida, não tenho particular interesse em ir mas imagino que será um destino inesquecível.” Comentou o João
“Eu estou aqui bem, mas se fosse o capitão, mudaria o rumo para ilhas mais equatoriais.” Acrescentou a Jessie.
“Bem, eu já passei um verão na Antártida, é uma experiência esquecível. Permaneci um verão inteiro. A carne de pinguim, quando convenientemente preparada, é dos melhores gourmets que alguma vez comi. Mas não há mulheres, verdade seja dita.“
“E não teve medo de tanta solidão? Não há nenhuma cidade por lá… nada com que nos entreter. Foi para lá em alguma expedição científica ou…”
“Apenas por capricho. Para ser mais exacto, o meu médico recomendou-me há uns anos que eu passasse alguns meses sem ver mulheres. Aproveitei o convite feito por uns amigos aventureiros e fomos para o continente inóspito que haveis de conhecer daqui a duas semanas.”
“E o que se faz lá?” Perguntou o Jean
“Porra nenhuma…♠” Interveio a Jesteria
“Sim, de facto não se faz porra nenhuma… Saúde meus amigos!” Confirmou o Arlequino.
“Cheers!”
“Por novos começos! ♥”
À medida que o charme do serão e as bebidas faziam efeito, os clientes do Justine e, em particular, o grupo de Jesteria, conversaram e riram por horas a fio sobre aparentemente nada digno de relevo.
Deixando o Justine sem se aperceberem, Jesteria e Arlequino compartilharam alguns desejos e preocupações que os assombravam há muito tempo.
“Fico contente por te ver sorrir novamente, Jesteria.”
“Ahah… Também gosto de falar contigo, Arlequino.”
A voz de Jesteria assumia um tom mais suave, nunca antes visto pelos passageiros do Entertainment. Inclinando-se ligeiramente para a frente, ela posou a mão sobre a dele, traçando círculos suaves no pulso do amante.
O que seguiu foi mais glamour, saltemos para quando os dois amantes entraram nos seus aposentos.

*
– Percebeste o que eu quis sublinhar com as minhas referências etimológicas ligadas ao amor?
– Quero lá saber. Estás para acabar o teu conto, esquece essas referências etimológicas chatas como o caralho!
– Por falar em caralho… Sabias que a etimologia dessa palavra é misteriosa? Sem dúvida o seu uso é anterior à marinha. Mas parece que a origem é anterior ao império romano. Repara que em grego χάραξ (carax).
– Quero lá saber…
– Espera. Já reparaste como se escreve “Roma”, ao espelho? “amoR”
– E?
– Não sei, mas não me parece coincidência. E Amor pode muito bem vir de a-mor; isto é; o que não conhece a morte.
E, o que eu queria com o meu conto, era apenas colocar em combate várias formas que o amor pode assumir.
– O teu tempo de antena acabou! Acaba mas é a história entre Jesteria e Arlequino.
– Tudo bem, perdoe-me leitor, caso essas digressões tenham sido para si uma leitura não-consentida. Onde fiquei? Parece que perdemos alguma coisa.

Caminhando sedutoramente na direcção de Arlequino, balançando provocativamente a saia, Jesteria aproximou-se do amante, antes de tirar a saia e as cuecas, disse por fim:
“Vejamos agora se aguentas a minha bondade.”
“Qual bondade? Anda lá e coloca a tua cona sobre o meu caralho.”
Sem aviso, Jesteria empurra Arlequino e abrindo as pernas, coloca o pénis dele dentro dela. Depois de um breve grito de prazer os amantes beijam-se, a língua deles invadindo a boca do outro.
“Querias isso não querias?”, rosnou Jesteria com fúria.
Os gemidos dela tornaram-se prazeres puros enquanto os seus seios oferecidos eram lambidos com paixão. Com ainda mais determinação ela cavalga com mais força enquanto Arlequino implora por mais, Suas mãos agarram-se firmemente numa dança erótica sem igual. Arlequim, moveu um pouco o seu corpo convidando Jesteria a acompanhá-lo, antes de aumentar o ritmo e de a foder de lado. Com novos beijos, as bocas dos amantes encontraram prazeres diferentes dos que alguma vez tinham conhecido. Depois de lhe morder suavemente o pescoço, Arlequino, deu umas pancadas no rabo da Jesteria, que respondeu com um rasto de unhas nas costas do amante.
Uns minutos depois, Arlequim avisou:
“Estou a vir-me… Sai se não quiseres engravidar.”
“Eu também. Vem-te dentro de mim, meu querido.”
Os olhos de Jesteria estavam meio encerrados enquanto enrolava o corpo do amante com seus braços. “Obrigada” proferiu finalmente. Sem responder, Arlequim limitou-se a beijar a testa da pessoa com quem tinha lutado nos dias anteriores e ambos deixaram uma lágrima escapar dos seus olhos…

“Boa noite tarado.”
“Boa noite vadia.”
“Boa noite, meu mestre.”
“Boa noite, minha dona.”
“Boa noite, meu amor.”

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