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Esconde Esconde

1340 palavras | 3 |3.57
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Estava escodida atrás do guarda-roupas do quarto azul e ouvia, bem distante, Bruno contando até dez.

_… seis, sete, oito, nove, dez. Lá vou eu. – ele contava e iniciava as buscas.

A casa era grande e só tive tempo de correr até o topo das escadas e me esconder no primeiro cômodo que estava com a porta aberta.
Já era tarde e as crianças estavam brincando, e como a opção era conversar com os homens semi bêbados ou as senhoras que só falavam em casamento, preferi ficar com as crianças, me escondendo da vida adulta – e dos próprios adultos.

_Achei você! – uma voz rouca soou próxima ao meu ouvido e dei um pulo.
Um rapaz alto de pele bronzeada estava me encarando com um sorriso estampado no rosto.
_Quem é você? – perguntei com a mão no peito, sentindo meu coração bater mais rápido que ritmo de escola de samba.
_Pergunta curiosa já que é você quem está invadindo meu quarto. – o moço fez uma expressão fingindo confusão e se afastou até chegar a cama e se sentou.
Provavelmente ele notou a confusão que deveria estar visível em meu semblante e se apresentou.
_Eu sou Miguel, dono do quarto. – ele gesticulou para o cômodo.
_Ah!
_Ah? – ele parecia se divertir a cada respiração que eu dava.
_Meu nome é Mariana. Vim de companhia com minha avó, dona Abi. – me expliquei.
_E nas horas vagas você é babá? – ele estava sendo irônico.
_Melhor lidar com criança do que com adultos sem noção. – respondi dando de ombros.
_Você tem razão. Adultos não tem muita noção, ainda mais aqueles que invadem o quarto de desconhecidos. – ele não parecia irritado com minha “invasão”, mas me olhava com curiosidade.
_Sinto muito por isso. Já vou indo. – apontei para a porta um pouco sem graça.
_E correr o risco de ser descoberta? – ele voltou a estampar um sorriso no rosto.
_Isso. Prefiro me arriscar. – falei um pouco petulante, como se estivesse em uma competição que só eu participava, mas Miguel parecia cada vez mais cordial com minhas respostas.
_Seu cabelo é vermelho natural? – o rapaz perguntou quando eu já estava na porta.
_Como? – fiquei confusa por um instante.
_Seu cabelo. – ele apontou para mim – É dessa cor ou você pinta?

Meu cabelo é mesmo ruivo. Tão ruivo que no sol parece que minha cabeça está pegando fogo. Desde de criança sofro com essa tonalidade marcante dos fios, mas aprendi a usar roupas menos chamativas ou coloridas, para evitar o contraste na minha paleta.

_Infelizmente. – confessei meio desanimada.
_Não gosta dessa cor? – ele pareceu interessado.
_É muita informação. Preferia um cabelo comum, sem chamar atenção. – respondi.
_Pois eu acho seu cabelo lindo. – ele se levantou e veio em minha direção. – Combina com seu tom de pele.
_O…obrigada. – respondi envergonhada e sem outra resposta.
_Seus olhos também são lindos. – ele estendeu a mão e tocou minha bochecha. Instintivamente, ao invés de me afastar e sair do quarto, fechei meus olhos e me permiti sentir o calor de sua palma em meu rosto.

Senti meu corpo formigar e meu estômago revirar. Não é como se nunca tivesse sentido o toque de um homem, mas essa aproximação repentina de um desconhecido me deixou paralisada e sentindo coisas que nunca havia sentido antes. Respirei fundo, preparando para me afastar, mas antes de abrir os olhos senti seus lábios colados nos meus.

Um gosto quente invadia meus sentidos e cheiro de café e menta se misturavam na minha boca. Sua língua pedia passagem ferozmente e encontrava a minha num rítimo agressivo sem ser desesperado.
Miguel enlaçou um de seus braços em minha cintura, puxando-me para perto do seu corpo, também quente. Parecia que ele pegava fogo e meu corpo todo passou a ter a sensação de formigamento.
Tão perto de mim, levantei os braços e enlacei seu pescoço, me dando maior equilíbrio e controle da situação. Embora eu estivesse sendo totalmente guiada, puxa-lo para mais perto parecia exatamente o que deveria fazer.

_Para! – falei me afastando e tentando tomar fôlego. – Por que fez isso?
_Porque você não me impediu. – ele respondeu ainda próximo demais.
Encarei Miguel boquiaberta, incrédula com sua ousadia. Seus olhos faiscavam de encontro ao meu e senti meu coração acelerar novamente, sentindo que ele me despia com o olhar hipnotizante.
Eu sabia que se permanecesse ali estaria perdida. Não conseguiria correr nem gritar. Após sentir seu gosto eu tinha certeza que não seria capaz de afasta-lo novamente caso investisse uma segunda vez.
Sem pensar muito, me virei e disparei escada abaixo. Precisava manter distância de Miguel ou não seria capaz de raciocinar.

Passavam das onze e eu estava viajando em pensamentos, relembrando o beijo. Ouvia vozes ao meu redor mas só me atentei quando minha avó puxou meu braço, fazendo com que meus devaneios se dissipassem.

_Já estou indo me deitar. Talvez queira ir também, já que parece estar dormindo sentada. – ela me olhou divertida e assenti me levantando e despedindo das mulheres que ficariam mais um pouco.

Deitada na cama do quarto de visitas, um dos muitos que haviam naquela casa, fiquei olhando para o teto sem conseguir pegar no sono. Meus pensamentos voltavam para o quarto azul. Sendo sincera, para o azul que inundava os grandes olhos de Miguel enquanto me encaravam.
Será que ele estava acordado? Olhei para o relógio do celular e passava das duas horas da manhã. Não seria possível, ele deveria estar dormindo. Que pensamento idiota. O que eu tenho a ver com o que ele está fazendo?!

Peguei o travesseiro e o pressionei contra meu rosto, parta abafar as ideias estúpidas que se apossavam da minha mente. De repente ouvi uma batida leve em minha porta mas pensei que fosse mais uma loucura. Novamente ouvi o toque suave contra a madeira e me levantei para ver quem era.
Abri uma fresta, somente para conseguir ver quem era, mas me mantive atrás da porta. Para minha surpresa, Miguel estava parado do lado de fora.

_O que está fazendo aqui? – perguntei desconfiada mas com certo alívio por vê-lo.
_Não consegui dormir pensando em você. – ele respondeu com a voz baixa e rouca.
_Se esforce mais. – falei e empurrei a porta para fechar, mas sua mão impediu que a fechasse por completo.
_Me deixe entrar! – ele falou mas não foi uma pergunta.
_De forma alguma. Vá para seu quarto, alguém pode te ver ai. – respondi.
_Não vou demorar, só quero… – ele deixou a frase morrer.
_Eu mal te conheço. Nem estou vestida decentemente. Não deve estar achando que vou te convidar para meu quarto. – expliquei o óbvio.

Sua respiração falhou e ele ficou em silêncio por um momento longo demais. Pensei que ele iria embora, já que sua mão não forçava mais a porta. Ledo engando. Quando dei por mim, Miguel forçou um pouco e entrou no quarto sem nenhuma dificuldade, fechado a porta atrás de si.

_Você está louco? – questionei um pouco assustada, me abraçando para esconder o decote transparente da camisola.
Miguel não respondeu, apenas se aproximou e beijou minha boca com mais ferocidade que a primeira vez.
_Miguel, você está louco! – repeti as palavras, dessa vez afirmando.
_Se quiser que eu pare, peça. – ele falou e logo voltou sua língua para minha boca.
Claro que eu deveria impedir aquela nítida violação, mas minhas mãos ganharam vida própria e passaram a percorrer o corpo do homem faminto que parecia devorar meus lábios.
_Não consegui tirar seu gosto dos meus pensamentos. – ele beijava meu pescoço enquanto sua mão passeava pelo tecido fino da minha camisola.

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3 Comentários

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  • Responder Tiotesão ID:jv5zd5lb703

    Continua

  • Responder Tzinnxt ID:1eksxlgllbf9

    Querem a continuação?

  • Responder A ID:5pbamce3hri

    Um dos melhores que li em toda vida