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Uma blitz um tanto peculiar – parte 1

2375 palavras | 1 |3.76
Por

Um nerd de 19 anos sendo abordado por dois policiais em uma blitz: o preço para o liberarem? O que está entre as suas pernas.

Chamo-me Mateus, tenho 19 anos e moro com meus pais aqui, no Rio de Janeiro. Apesar de ser um carioca da gema, não me considero um exemplar genuíno para representar essa terra de sol, gente bonita, sempre sorridente e dourada, pois carrego a característica europeia herdada de meu pai, sendo tão branquelo quanto ele, assim como também sou tão magrelo quanto. Uso uma barba cerrada, já que acredito que me deixa com uma aparência menos idiota; óculos, óbvio, como a maioria dos nerds; xadrez e losangos geralmente se chocam nas roupas que uso; minhas camisas, quase todas, tem colarinho e algumas das minhas camisetas possuem o logo “de imagem não encontrada”.

Meu rosto é triangular; meus olhos, claros; os lábios carnudos e simétricos; minhas sobrancelhas e pestanas, escuras, apesar do meu cabelo castanho claro. Pratico alguns esportes, como natação, boxe e malho três vezes na semana, mas tão somente para manter um corpo saudável. Por mais que eu quisesse me tornar um homem rã (e eu não quero), o máximo que consigo alcançar com todos esses exercícios é uma silhueta timidamente definida.

Bem, chega de falar sobre mim. Minha cota de exposição já está mais do que tomada. Na verdade, toda essa introdução é um mero pretexto para retardar e por fim tomar coragem de narrar uma experiência sexual inusitada da qual, até agora, ainda não consegui assimilar inteiramente.

A propósito, não sou nenhum Don Juan no que diz respeito a sexo, mas também não sou nenhum ingênuo a ponto de achar que não existe libertinagem nesse mundo em que vivemos, mas até então eu nunca tinha me imaginado participar de uma loucura como essa que aconteceu, sem qualquer precedente, sem qualquer determinação de minha parte.

Não curto sair para baladas ou qualquer tipo de comemoração que reúna um bando de gente tentando ser e parecer mais que a outra, entretanto, de vez quando, me permito abrir exceções para algumas pessoas, que, aliás, estão se tornando produto de luxo na minha lista de contatos. Juca é uma dessas exceções, um grande amigo da faculdade e, por isso, num esforço hercúleo, eu saí de casa num sábado à noite para ir à festa de seu aniversário, encontrando e precisando lidar com um bando de gente falando alto, desejando serem ouvidas, disputando com músicas tocando a decibéis inconcebíveis para qualquer audição humana. E isso sem falar na cortina de fumaça de cigarros tomando conta de quase todo o ambiente e as mais variadas espécies de bebidas pululando entre mãos e bocas. Enfim, um somatório de situações que me forçaram a dissimular, além da conta, ser uma figura sociável e simpática, mas fiz a minha parte, e por incrível que pudesse parecer, acabei demorando mais do que devia nessa festinha, mas no início da madrugada consegui convencer Juca de que eu precisava realmente ir embora, apesar de suas contestações e pedidos para que eu dormisse por lá.

Sai de Laranjeiras e antes mesmo de deixar a zona Sul para trás, rumo à Barra da Tijuca, pude notar o quão deserto as ruas estavam. Um ótimo sinal. Conseguir chegar em casa sem maiores transtornos era o que eu mais queria. Precisava de um bom banho quente, me jogar na cama, tomar um comprimido para a dor de cabeça e dormir profundamente.

Já havia conseguido chegar à Barra e transitava tranquilamente pela Avenida das Américas quando fui surpreendido por uma blitz. Para qualquer pessoa que dirija, ser parado por uma operação dessas é algo mais que provável, e se o carro do motorista estiver com toda a documentação em ordem e com condições aceitáveis para trafegar pelas ruas, essa ação policial, certamente, não vai precisar ser encarada sob um prisma ameaçador. Ao menos comigo, nas poucas ocasiões em que fui abordado pela polícia, nunca precisei me sujeitar a qualquer tipo de negociação torpe a fim de me ver livre de qualquer tipo de abuso de autoridade.

Carregado dessa perene certeza, estacionei meu carro sem demora depois que os dois policiais, que estavam um pouco à frente da patrulha, me sinalizaram. Um deles não demorou a se aproximar assim que me viu de pé, já fora do carro. O PM era um sujeito não muito alto, cabelos grisalhos, ostentando uma barriga bem saliente e um semblante de poucos amigos. Aquela carranca dava a impressão de que era bem mais velho do que aparentava ser.

— A carteira, garoto — o coroa me pediu entre os dentes.

Sempre detestei ser tratado dessa forma, garoto, mas não ia me indispor àquela hora e muito menos com um policial mal humorado estacado à minha frente… Só mais alguns minutos e eu seria decerto liberado e logo depois estaria em casa…

Apanhei a CNH no bolso da calça e a estendi na direção do policial, que praticamente a arrancou da minha mão sem qualquer cerimônia, ao mesmo tempo que sinalizava para que o seu parceiro se aproximasse. Juntos, enquanto examinavam minha carteira, alternavam olhares sobre mim. Provavelmente estavam tentando me reconhecer por baixo da barba cerrada, conclui. Não poderia haver outro motivo para demorarem tanto assim para averiguar uma simples CNH, até porque era o que faziam com frequência.

— O que você está fazendo uma hora dessas andando pelas ruas?

O coroa carrancudo perguntou com uma voz arrastada conforme voltava a me encarar. Minha dor de cabeça estava dando sinais de que iria aumentar, mas ainda assim me controlei para não responder o óbvio, afinal de contas, o cinismo não é uma opção adequada para enfrentar esse tipo de situação.

Respondi, por fim, não só ao primeiro questionamento, como também aos que se seguiram, com as justificativas devidas, rebatendo de pronto o carrancudo.

— Essa sua carteira é falsa? — ouvi o segundo policial, que até então vinha se mantendo em completo silêncio.

Confesso que não soube interpretar de imediato se aquela frase se tratava de uma pergunta ou de uma afirmação. Olhei para o tal policial recém-falante, um sujeito aparentando ter uns 40 e poucos anos, e que era um pouco mais alto, e certamente mais jovem, que o seu companheiro de farda, e esquadrinhei o seu rosto a fim de identificar o propósito da sua abordagem.

— Então… — ele voltou o olhar a minha CNH, retornando sem demora o rosto na minha direção — Mateus… Aqui diz que você tem 19 anos, mas sua cara não aparenta mais de 16, mesmo com esse projeto de barba…

Deixei escapar um suspiro a fim de denotar minha latente impaciência. Por um instante acreditei que ele estivesse me zoando, o que não me surpreenderia. Sustentar uma aparência nerd não era para qualquer um, mas o seu rosto estava tão cerrado quanto o do companheiro prostrado ao seu lado.

Cocei a cabeça e finalmente confirmei a veracidade do documento.

— Realmente você não aparenta a idade que tem — ele corroborou com um tom pausado na voz — Essas roupas que está usando parecem serem mais largas que o seu tamanho. A barba, os óculos, um conjunto típico de alguém que quer parecer mais velho do que realmente é.

Dei de ombros. Aquela conversa já estava se estendendo de mais e não tinha razão de ser. Estiquei meu braço direito e pedi minha habilitação de volta.

Não sei qual dos gestos incomodou mais o coroa carrancudo, pois ele imediatamente deixou claro que não havia gostado nem um pouco da minha reação, me chamando de abusadinho, e voltando-se para o parceiro, completou:

— Certamente deve ser mais um mauricinho rodando pela madrugada buscando diversão dentro do carrinho do papai.

Os dois começaram a rir. Rir, não. Gargalhar. Nem pareciam que vinham ostentando até ali o semblante carregado de mau humor.

Aquela súbita mudança de ares me deixou puto. Respirei fundo mais uma vez e com o braço estendido repeti meu pedido: queria minha CNH de volta.

Um silêncio tomou conta do ambiente e a rua deserta só fez aumentar o incômodo que se instalava entre nós ao tempo que o coroa carrancudo voltou a fechar a cara enquanto o seu parceiro fazia força para conter o que restava do escárnio atirado contra mim.

Dando um passo a frente, o policial mais velho, ficando a poucos centímetros de onde eu estava, bateu na palma da minha mão, me forçando a recolhê-la.

— Você bebeu garoto? — perguntou incisivo.

Engoli em seco. O coroa estava sendo sarcástico ou havia percebido um resquício, alguma reação de que realmente eu havia ingerido aquelas quatro Ice na festa na casa do Juca?

Não consegui responder nada de imediato. O policial então deu mais um passo e ficamos literalmente cara a cara, respirando quase o mesmo ar.

— O gato comeu sua língua, garoto?

Meneei a cabeça e respondi em negativa. Uma sonora gargalhada foi o que recebi de volta.

— Ainda por cima se acha espertinho, né, seu moleque? Apanha o bafômetro – o coroa ordenou para o companheiro, mas sem se virar — Vamos ver se o senhor mauricinho aqui está dirigindo bêbado…

— Eu não vou fazer o teste — interrompi sem pestanejar — Não sou obrigado e vocês sabem muito bem disso.

— Ora, ora — tá mostrando as garrinhas?

— Por favor… — respirei fundo (de novo) e por pouco desisti de sustentar o olhar do PM quase grudado no meu rosto — Eu só estou querendo chegar a casa. Nada, nada além disso. Estou vindo de uma festa… Agora estou com uma dor de cabeça…

— Tá se justificando demais, garoto. Quem não deve não teme.

— O senhor poderia, por favor, parar de me chamar de garoto?

A respiração do coroa ficou ainda mais pesada à medida que seu semblante pareceu se tornara ainda mais carregado.

— E do quer que eu te chame? Você é um garoto e pronto!

O outro policial se aproximou com o aparelho do bafômetro em riste, carregando-o como se estivesse exibindo um prêmio. Dei um passo para trás.

— Eu já disse que não vou fazer o teste — repeti entre os dentes. Uma fera acuada prestes a se defender.

Os dois PM’s trocaram um olhar de cumplicidade e se voltaram para mim. O rosto de cada um deles não escondia a satisfação do anúncio da sentença que deram logo a seguir: não poderiam, com certeza, forçar a me submeter ao teste do bafômetro, mas iriam, então, recolher o meu carro e me levar para a delegacia em face de minha recusa, como demandava a lei.

Deixei meus ombros caírem e não pude evitar balança a cabeça, incrédulo com o que acaba de ouvir.

— Mas como hoje estamos de bom humor, mocinho… — continuou o coroa, carregado de ironia quando se referiu a mim com aquela nova alcunha — Vamos te deixar escolher a melhor forma para quitar a sua infração.

Uma “contribuição” ou a delegacia foram as alternativas oferecidas. Cara ou coroa, foi o que eu ouvi sem rodeios.

Uma sensação de revolta começou a tomar conta de mim. Encarei os dois policiais quase que instantaneamente. As cartas, finalmente, estavam à mesa e minha paciência esgotada.

Não titubeei em recusar aquela oferta descabida. Argumentei que não estava bêbado e que tampouco iria fornecer nenhum tipo de contribuição , e caso o fizesse eu estaria assinando embaixo de todo aquele disparate.

Ponto.

Imaginei que seria arrastado para a delegacia naquele exato momento, mas me surpreendi com a reação nem um pouco severa dos dois policiais. Ambos se entreolharam e começaram a rir, gargalhadas de deboche suportadas por semblantes carregados de malandragem.

O PM quarentão então se aproximou de mim, colocou uma das mãos sobre o meu ombro e me disse, entre uma risada e outra, que eu realmente era bem abusado e sem noção da realidade. Preferi ignorar o comentário enquanto me desvencilhava da sua mão e voltei a pedir minha carteira de volta. Não tive escolha. Precisei esperar o acesso da crise de cinismo dos dois chegar ao fim.

— Muito bem, garoto — o coroa interviu — Não vai contribuir da maneira que queremos, mas não pense que vai se vir livre do pagamento do seu tributo — ele arqueou uma das sobrancelhas ao finalizar a frase, parecendo um juiz declamando com demasiado orgulho sua decisão final.

Contive-me para não gritar e exigir os meus direitos, mas ponderei. Já tinha ido longe demais e não estava no local e nem na hora para tentar dar uma de justiceiro, um Che Guevara suburbano, além do mais eu não sabia, no final das contas, com que tipo de profissionais eu estava lidando.

Mesmo contrariado, decidi que era preciso terminar com aquele impasse. Puxei a carteira do bolso de trás da minha calça, mas não tive tempo de abri-la para fazer o que precisava ser feito. Senti uma mão sobre a minha virilha, apertando o meu pau. Era o coroa carrancudo. Gelei.

— Agora somos nós que não queremos o seu dinheiro, mauricinho – disparou firme, deixando transparecer um sorriso cretino na cara meio enrugada.

Não tive tempo de elaborar qualquer pergunta sobre que ele estava fazendo, pois numa fração de segundos fui empurrado por sobre a porta traseira do meu carro com a mão forte do coroa se recusando a largar a minha virilha.

— O que é isso? — Perguntei genuinamente ofendido.

— Fica calmo garoto. Vamos te liberar. Mas antes vai ter que nos deixar brincar um pouquinho com essa rola e só iremos te deixar ir embora depois de ficarmos bem, bem satisfeitos.

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1 comentário

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  • Responder Eu ID:7r03u2aiqk

    Sou do RJ tbm manda msg no meu insta Edusz.7