Perdi a aposta e as pregas

Eu não falei sério. Nós homens temos a manias mesmo de falar isso, quando acha que não tem como perder.

Eu sempre fui bom de sinuca. De verdade. E costumava apostar alto. Participava de torneios de bairro. Mas isso não foi num torneio. Foi no bar perto de casa. Tava bebendo de boa e um cara tava tirando onda com geral lá. E eu fiquei na minha. Não era dali. Então o pessoal começou a me chamar pra tirar ele. E eu não tava muito afim. Tinha discutido com a esposa e só queria beber uma ou duas e ir embora. Mas ele falou que não tinha dinheiro homem pra ganhar dele ali. A galera falou que ele não ganhava de mim e ele ficou puto por isso e começou a me provocar. Então fui lá ver. Pra barzinho até que ele jogava bem. E eu entrei de boa. Só que não melhor de três, eu suicídei. Ia parar. Mas ele bateu na mesa e me chamou de fraco. E isso me irritou. Então resolvi jogar a sério. E como ele me provocou eu disse que se perdesse pra ele que eu daria a minha bunda. Mas disse com raiva e na certeza de que não tinha como. E ele virou bem sério pra mim e disse que beleza. Botou quinhentos reais na mesa. Eu falei que não, que não queria apostar. Mas ele disse que eu já tinha apostado e que se ele perdesse ia me dar os quinhentos e se eu perdesse que ele ia me comer. Poxa! Não tinha a menor chance de eu perder pra ele. Seria os quinhentos mais fáceis da minha vida. Mas aí, ele apontou o dedo pra mim e disse que se eu perdesse ia ter que pagar. Eu ri e disse que tava legal. Não achava que isso fosse possível. Só que o filha da puta estava escondendo o jogo. E como venceu a primeira da melhor de cinco, resolvi jogar tudo que sabia. Mesmo assim ele venceu a segunda. O bar ficou lotado. A galera estava me vendo tomar uma surra e ainda tinha a questão da aposta. E enquanto jogávamos, chegou mais três amigos dele. Cara de bandido sério. Eu tinha que vencer as três que faltavam. Mas não era mesmo o meu dia. Era o meu inferno. Praga da mulher. Suicidei na terceira. Parecia final de copa. O bar lotado e aquela zoação. Então ele recolheu o dinheiro com o Kiko no balcão e foi pro banheiro. Eu fui saindo de fininho. Mas os amigos deles, sem alarde, me mandaram esperar um pouquinho. Fui forçado a entrar no SUV deles. Não me trataram mal no carro. Só me intimidaram e meu disseram para ficar de boa. Estavam falando de um cara que tinham matado, mostrando os vídeos entre eles. Outro terror psicológico. Fiquei apavorado. Conheceu a pensar que talvez fosse tudo já armado pra me pegar. E era mesmo. Um cara riquinho que eu tinha humilhado no sinucaspoint. O cara que me ganhou era campeão de Minas. Os outros três eram contratados. Bem… Fui levado para uma casa numa comunidade e me deram cerveja, cigarro. Mas o tempo todo com aquele ar de que deu ruim pra mim. E pouco tempo depois chegou o riquinho com um cara que mais parecia um cavalo. Eu fui intimado a me comportar e até rebolar. E se tentasse fugir ou gritasse que eu… Bem… O negão garantiu que ia pegar leve comigo. Mas eu fui destruído. Eles filmaram a minha humilhação. Fui obrigado a chupar e até engolir. Se eu desse parte… Se eu tentasse qualquer coisa… Me levaram até a praça e me fizeram descer, me liberando. Eu precisei levar pontos e até tomar aquele remédio. Tive que mudar de cidade. Mas nunca mais fui o mesmo. Me senti desmoralizado. O médico que me tratou foi quase que um psicólogo. Me fez entender que não era o fim. E nos tornamos amigos. Separei da mulher um tempo depois. Comecei a sentir vontades estranhas com o tempo e me abri com meu amigo médico e gay. Hoje somos casados. No papel mesmo. Sem macho ou fêmea. Isso é rotulo imposto. Somos apenas um casal e pronto.

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