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Eu e Beto – Era Abigail Armuch o nome da doida que te trouxe ao mundo, me contou Dona Olindina..

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Então meu filho, vc quer mesmo saber a história de como chegou à este mundo e essas paragens aqui perguntou-me Dona Olindina, quero respondi, mlk teimoso disse Beto à Dona Olindina, acaba sabendo coisas que pode não gostar, Dona Olindina olhou com carinho prá mim, é direito dele disse, conhecer sua história pela boca de quem dela participou e não por boca de gente curiosa que acabam distorcendo a verdade e falando besteiras.
Segurou minhas duas mãos nas suas e começou, nome da doida minha amiga e sua mãe era ou é Abigail Armuch, ou Abil como ela gostava de ser chamada, odiava o nome Abigail, nasceu numa tal Campos dos Goytacazes lá no RJ, lugar pequeno dizia ela, terra de mar bravio e gente brava e ruim tbm, pai dela era turcão vindo pro Brasil ainda menino com pais e irmãos, virou homem aqui e casou-se com sua vó, Lídia o nome dela mesmo contra a vontade da família que queria que casasse com uma dessas mulher que cobre a cabeça com véu, na terra deles era assim.
Tiveram três filhos, Abigail era a segunda, mais velho era um irmão mais bravo que o Pai ainda, o Turco era ruim demais contava ela, a caçula era mocinha calma, já novinha tava prometida prum Primo que nem conhecia e viria das Arábias prá tentar a sorte no Brasil e casar com ela.
Abigail apanhava muito tanto do Pai quanto do irmão, era rebelde e não aceitava esses costumes do povo do Pai não, só se dava bem com a mãe, mulher sofrida mas sempre alegre.
Pai dela, Mohammed ou coisa parecida não lembro, sempre teve ajuda da família prá ser rico na vida mas nada do que montava ia prá frente, lojas, nada, até fábrica de salgar peixe montou na própria casa, tb não deu certo, até as roupas deles xeravam à peixe dizia Abigail nessa época, ela odiava xero de peixe, aliás Abigail odiava qq bixo e criança tb, trabalhou de babá ainda menina pruma ricaça da cidade, pegou nojo de criança.
A Família do pai toda prosperava e ele se afundava cada vez mais, cansaram de ajudar e o deixaram à própria sorte, danado que não tinha de dinheiro, tinha de beleza, era um Homão muito bonito e gastava ainda o que não tinha com as doidas da cidade, a mãe prá ajudá-lo lavava roupas pras Senhoras lá e criava aves, galinhas, perus etc e o pai as vendia com o irmão nos fins de semana cidade afora.
O tal Mohammed seu Avô não sabia fazer nada além de vender coisas, único emprego que conseguiu foi ser lanterninha do único cinema da cidade que só funcionava fim de semana, então dinheiro naquela casa era zero, levava Abigail em dias de semana prá ajudar na limpeza do cinema, em troca ela podia ver todos os filmes que quisesse aos fins de semana, essa foi a desgraça da tua mãe eu acho, a mocinha pobre que só tinha dois vestidos, um que usava de segunda à sábado, o outro aos Domingos quando a mãe aproveitava e lavava o usado na semana toda entrava naquele mundo encantado, na tela nos papéis principais ela se via no lugar das atriz, lógico, ela era muito mais bonita, quem eram aquelas Gilda, bonequinha de luxo, a moça dum tal Casa Blanca prá competir com ela, não chegavam a seus pés, Beto riu interrompendo, danada era bonita mesmo então, Dona Olindina bateu as duas mãos e disse, não era mas achava e ficava a maluca, homem nenhum passava sem olhar praquele rosto empinado dela, aqueles olhos pretos que esse menino tem igual, ficavam doidos por ela mas uma coisa eu posso garantir, homem bonito prá ela só era se fosse rico, único pobre que ela amou foi o pai desse menino e até sair daqui nunca olhou prá outro homem, o falecido Seu Juvenal namorou com ela eu falei de cabeça baixa, ah aquele lixo, que Deus o tenha prosseguiu Dona Olindina, Abigail ia perder tempo com aquele homem, tendo um Pão igual teu Pai em casa, muito Macho sem vergonha aqui do bairro falaram que pegaram Ela depois que ela foi embora, só se foi em pensamento, Abigail nunca pisou em rua aqui sozinha, ou tava comigo ou com alguma moça daqui com Ela, era doida sua mãe, mas mulher de respeito como ela, poucas conheci na vida, conversava com homem nenhum não minha Amiga.
Mas voltando lá pra tal Goytacazes, teu Avô se animou com as vendas das aves e teve uma idéia, criar carneiro, cabras, prá matar e vender de manhã aos fins de semana, comprou um burro e uma carroça e começou a empreitada, prá desgraça de Abigail ela que ia na carroça vender as carnes com Ele, a grande atriz desfilava pela cidade toda suja de sangue, os colegas da Escola gritavam ao vê-la passar, óia a carruagem da princesa, tua mãe odiava aquele povo e aquela vida pobre, só era feliz no cinema vendo as feiosas num papel que devia ser dela, jurava prá si mesma que na primeira oportunidade fugia daquela vida, se casaria com um ricaço e ia ter vestidos de seda, de rendas prá trocar até três vezes ao dia igual suas primas ricas e feias tinham.
Os fins de ano eram os únicos dias felizes dela, iam prá casa dos tios ricos, Abigail comia as delícias olhando pras primas horrorosas com aqueles vestidos magníficos e ela sempre com o mesmo, de pobre, não era justo pensava ela, era nesses dias que todos os anos os tios davam um dinheirinho à ela e aos irmãos, o de Abigail ela juntava, eram esses tostões que a levariam prá Capital onde ela casaria com um jovem bonito e rico e nunca mais voltaria a ser pobre de novo.
Aos 17 anos seu pai decidiu que era hora dela casar, o noivo seria um próspero parente, dono de sapataria em São Paulo, era uns 30 anos mais velho e feio além de pobre, Abigail não queria um vendedor de sapatos, queria o Dono da fábrica que fabricava eles, isso sim, resolveu que era chegada a hora de ir embora prá sempre daquelai miséria, voltaria sim um dia, gostava da mãe mas num carro de luxo com chofer particular, vestida de rendas e joias até os pés, como uma moça tão linda quanto ela merecia.
O trem que ia prá Capital passava lá às cinco e trinta da manhã todo dia, Abigail se preparou, pegou suas poucas economias e as 04.30 da manhã saiu quietinha e escondida de casa à caminhos da estação, quando a família acordou naquele dia, Abigail soube por carta da mãe meses seguintes e viram que ela tinha fugido de casa e do casamento já acertado, seu irmão pegou a mesma machadinho que usava prá matar carneiros e bodes e correu prá estação atrás dela, prá ter irmã puta de brasileiros, ele a preferia morta mas quando chegou na estação sua mãe já estava longe dali, ia olhando a paisagem e imaginando o vestido com 20 metros de calda com o qual adentraria a Candelária em breve, ninguém naquela casa conhecia Abigail, ela nunca pénsou em ser puta, nem tinha interesse em homem algum, ela só queria casar com homem rico, ter vida de luxo igual as feias do cinema tinham, ir prá Paris fazer compras sempre que tivesse vontade, oferecer jantares prá alta sociedade do qual ela fazia parte, até seu novo nome ela ia imaginando, Abil Armuch Mairink Veiga, Abil Armuch Guinle, uma vida de glamour e luxo à esperavam na cidade maravilhosa, kkkkkkkk Beto gargalhou, agora sei de onde esse teimoso tira as ideias dele, puxou essa tal Abil Dona Olindina, volta e meia me diz que nós vamos morar um dia em casa com pôneis, vacas e lagos de 500 metros cheio de cisnes e peixes, só se eu ganhar na esportiva sozinho, pior que nunca jogo, Dona Olindina riu tb, olha Beto, desde que nasceu todo mundo aqui diz que esse menino num é filho de pobre não e eu vejo muito suor na vida dele mas lã na frente, vejo ouro, muito ouro, cuidado, esse garoto num nasceu prá morrer pobre não, Deus queira continuou Beto rindo, vou começar a fazer umas fézinhas na Esportiva então prá dar esses lagos prá ele.
Dona Olindina continuou, quando o trem chegou no RJ, Abigail se maquiou, retocou o batom, imaginava que um milionário jovem à olharia assim que pisasse a estação, se apaixonaria e pediria sua mão ajoelhado ali mesmo, tinha certeza que moça bonita igual ela, aquela capital nunca tinha visto
E ela desceu do trem, nunca tinha estado na Capital do Rio e do Brasil, nunca havia visto tanta gente junta na vida, ficou abobada parada no meio da estação, olhando aquele povo, mulheres, homens, todos bem arrumados esperando seu príncipe rico que não apareceu lógico, homens olhando praquela mocinha perdida ali não faltaram mas nenhum rico apareceu prá falar com ela.
Ela cansou de ficar parada ali, tava com fome, saiu e entrou na primeira padaria que viu, pediu pão com manteiga na chapa e um café com leite só, não podia gastar, ia precisar do dinheiro prá conseguir um lugar prá ficar, a moça que a atendeu era simpática, Abigail perguntou à ela se conhecia alguma pensão barata ou coisa parecida onde ela pudesse ficar, a moça indicou a própria pensão onde morava, tinha que pegar o bonde para chegar lã, explicou direitinho e lá foi sua mãe prá tal pensão, a Dona a atendeu e gostou de Abigail, a achou uma moça educada, tinha várias opções de hospedagem, com refeições, sem, quarto individual ou coletivo, Abigail escolheu o mais barato, ficou num quarto com outras três moças e sem refeições.
A pensão não era das melhores mas era familiar, não era permitida a entrada de homens ali, Abigail tomou um banho, vestiu o mesmo vestido e foi dar uma volta pelo centro da cidade, quem sabe não encontrasse seu marido rico nesse dia mesmo.
Não encontrou, nem naquele nem nos dois dias seguintes, dinheiro era curto, ela se virava comendo bolachas com água no quarto mesmo, no quarto dia saiu em busca de um emprego, precisava se manter ali naquele mundo desconhecido até seu marido aparecer, não andou muito não, conseguiu um emprego como vendedora numa loja de calçados, não quis ser dona de sapataria, acabei numa como empregada me contou ela rindo.
O Patrão era homem bravo e exigente com os empregados e empregadas, ela ia embora sempre cansada prá pensão, precisou comprar dois vestidos para trabalhar, um só não dava, o pouco dinheirinho dela ia sumindo e nada de marido rico aparecer, os que a cortejavam na loja só queriam aquilo que todo homem quer e mais nada, isso dela nunca iam conseguir, tava guardando pro marido.
Passaram-se três meses, ela já tinha completado seus dezoito anos, vinha descendo uma avenida na saída da sapataria prá pensão quando ela o viu vindo em sentido contrário, meu Deus pensou ela, sempre foi o único amor da minha vida, era ele com certeza num elegante terno branco vindo em direção à Ela, suas novenas e trezentas à Santo António tinham sido atendidas, as mulheres passando por ele nem o enxergavam, ninguém pulava nele prá lhe rasgar as roupas como ela via nas revistas ou ouvia na Rádio, era Ele, Santo António lhe trazia seu Cauby de presente, em segundos ela imaginou coisas que nem em um ano conseguiria fazer, o casório seria na Candelária, ela não permitiria ser em outra igreja, isso depois dele levá-la à Paris prá comprarem o enxoval e roupas das grandes estilistas para Ela, o vestido de noiva tb seria feito lá, Cauby era milionário, nada negaria à sua maravilhosa futura esposa, Abil Armuch Peixoto, até seu nome ia ser de madame, o lindo rapaz sorriu prá ela, ela retribuiu e ele seguiu seu caminho, ela ficou parada na calçada, depois virou-se, ele estava parado tb olhando prá ela, suas pernas tremeram, o melhor cantor do Brasil estava perdidamente, completamente apaixonado por ela, ele voltou ao seu encontro, olá princesa lhe disse, prazer e falou seu nome, não era seu Cauby, Abigail só via o que queria ver, não reparou nos vários cerzidos que aquele terno branco tinha, se apresentou pensando, é milionário com certeza e já se via na casa de uma sogra Mairink Veiga, Guinle ou Souto Aguiar apresentando à futura nora às damas da alta sociedade carioca, o sorriso do ricaço era encantador, a lábia também, ele à convidou prá irem jantar naquela mesma noite que se aproximava ali perto mesmo, num bom restaurante, a pegaria na pensão as oito em ponto, a doida tomou três copos de água com açúcar assim que pisou na pensão, ela mal acreditava
que a sorte enfim lhe sorria.
O jovem além de lindo e rico era pontual, às oito hs em ponto a dona da pensão a avisou que um bonitão à aguardava na calçada, ela tinha colocado o vestido dos domingos, era o melhor que tinha, saiu, ele estava vestido com o mesmo terno e a pé, prá que automóvel pensou ela, o restaurante era ali perto ele já havia lhe dito.
No restaurante, ele pediu vinho e lhe deu o cardápio para ela escolher o jantar, a doida bebeu duas taças, nunca bebia, sentia as paredes do restaurante rodarem à sua volta, era o amor tão falado pensou ela, faz o mundo girar mesmo.
A conversa dele era maravilhosa, marido melhor ela não acharia nunca pensava, danado do teu Tio Pai garoto disse-me Dona Olindina, tinha uma lábia de malandro, até eu cai nela antes da tua mãe aparecer, bastou jantarem e com mais uma taça de vinho Abigail estava completamente tonta, ele à levou pro Hotel onde estava e naquela noite Abigail conheceu o Amor, ele não se aproveitou dela não, tinha ficado apaixonado por ela mesmo como ela imaginava, único problema era ele ser pobre, Abigail nem se preocupou em perder a virgindade, era com seu marido mesmo.
De manhãzinha ele a acordou, a doida achava que estava num castelo mas era só um hotel barato, o sem vergonha era noivo de Teresa, irmã maís velha de Giló mas era doido tbm, já tinha contado à Abigail onde morava, à pediu em casamento pelado na cama mesmo e disse que ia voltar naquela noite prá cá, Abigail tinha que aceitar, ele tinha tirado a virgindade dela, ela tinha gostado, tinha que casar com ele, combinarem dele ir buscá-la a noite na pensão, ela foi direto pro emprego acertar as contas com o Patrão.
Prá encurtar a história chegaram aqui no outro dia e o bairro ferveu, Teresa queria até cortar os pulsos de desgosto mas não teve jeito, o casamento deles foi acertado no civil, na igreja ia demorar mais, Teresa de raiva se casou com Valter antes dos teus pais casarem e foi um festão lá na casa da sogra dela.
Lógico que Abigail nao gostou daqui, era muita pobreza prá ela, mas o safado jurou que ia levá-la prum lugar melhor, da varanda ela veria os navios deslizando no mar, a levou mesmo, pro morro do Pacheco, logo na subida, era um banheirinho, cozinha e quarto o palácio que sua mãe teve por lar, nem sala tinha, da varanda se via os navios lá embaixo mesmo mas até a varanda era dividida com os donos da casa, prá desgraça maior a dona ainda criava perus no quintal, Abigail odiava aqueles bixos mas ela estava apaixonada, o marido era trabalhador, sempre teve dois empregos, vinha almoçar em casa, depois só aparecia depois da meia noite quando saia do jornal.
Abigail ficava só manhã e tardes inteiras, se debruçava na varanda olhando encantada praquele monte de navios, imaginava quantas atrizes famosas, madames estavam dentro dele em suas cabines descansando dos champagnes e dos bailes que deviam durar a noite toda, a coitadas nem percebia que ali dentro só havia peões, estivadores, que aqueles navios eram tudo de carga mas as noites eram sempre boas, o marido mal dormia, era semvergonhice a noite toda.
Não demorou muito, fins de semana os dois vinham prá cá, teu pai começou a aparecer
sempre triste, a mãe que te criou apertou Ele e ele confessou, Abigail estava grávida de ti, tá bom Dona Olindina interrompeu Beto, mlk já sabe o que interessa, quero saber do resto eu disse, teimoso disse-me Ele, conheço o resto desta história, a Mãe me contou no dia que te pedi à Ela, é só coisa ruim bebê, vai bagunçar tua cabecinha, melhor ele saber por mim que acompanhei tudo continuou Dona Olindina do que acabar sabendo por boca de curioso que não conhece direito a história.
E vc tá triste pq vai ser Pai meu irmão disse sua mãe tia, não mana respondeu Ele, Abigail já marcou com uma fazedora de anjos, vai tirar, não quer nenhum bixo comendo as carnes dela, na sua família bebês são feitos prá nascerem meu filho não prá serem arrancados e jogados no lixão, tua mãe partiu prá cima de Abigail que estava na sala e disse muito braba, vai tirar meu sobrinho não sua doida varrida, não quer criar eu crio, se tirar te denunciou na polícia, vc vai ficar aqui até essa criança nascer, tua mãe é brava quando quer meu filho, a doida ficou foi com medo dela e ficou aqui a gravidez toda, foi assim que começou nossa amizade.
E ae eu nasci eu falei, Dona Olindina riu, nasceu lógico, tás aqui, nasceu uns 6 meses depois dessa confusão toda, nasceu bonito e esperto e esses olhos pretos foi a única coisa que tu herdou da doida, são iguais os dela.
Dói filho mas tem que saber a verdade, Abigail não gostava de ti, acho que não gostava nem dela, só via dinheiro a doida, nunca te amamentou, teu irmão mais velho tinha 26 meses quando tu nasceu, ainda mamava, essa mãe que te criou te amamentou desde a hora que vc veio ao mundo, nos dois primeiros dias lá na Santa Casa e depois aqui na sua casa também.
Meu Pai tb não me quis eu perguntei, quis disse Dona Olindina, mas já era tarde, já já vc entende tudinho, depois que Abigail ficou aqui esperando vc nascer, o casamento acabou, ela aqui e teu pai já namorando a branquela com quem se casou depois, danada rastejava atrás dele feito cobra tua tia, safado gostava, logo tavam juntos lá no morro, na mesma casa que Abigail tinha vivido.
Abigail ainda tinha esperança de achar um homem rico prá casar, o pai que te criou já tinha te registrado como filho dele e de tua mãe por pedido dela, assim que acabou o resguardo Abigail disse que ia embora, nem sabia prá onde, vc já registrou o bixo disse prá tua mãe, pois o crie, eu não nasci prá trocar frauda não, criarei esse neném lindo com gosto, já crio três, crio quatro sua maluca, Abigail foi embora daqui numa manhã em que tinha chovido a noite toda, pegou sua maletinha de couro e zarpou, nem um beijo te deu, ela saiu com o nariz empinado em direção à avenida prá pegar o bonde, pelas casas em que passava as portas que até hj muitas casas ainda tem, iguais as minhas e as da sua casa que se abrem em duas, servindo de porta e janela ao mesmo tempo, iam batendo e se fechando com força mostrando prá doida que ela não devia nunca mais voltar aqui no Bairro, ninguém aqui se conformava em ver uma mãe abandonando um bebê tão lindo e indo embora, achavam que mulher assim sem coração só existia em fotonovelas, nas novelas da Rádio Nacional, no mundo real nunca.
Boca de mingau foi calada vestida com seus trapos atrás dela até a avenida, lembra dela, lembro respondi chorando, pois foi ela que me contou os últimos passos da doida aqui, quando Abigail passou na porta das Rainha, as duas meninas deram uma cusparada das boas em Abigail, as Rainha que Dona Olindina falava eram duas moças negras que moravam no bairro, Rainha era o sobrenome delas, Dona Olindina continuou, já no ponto Boca de Mingau ficou parada, quando o Bonde Linha 1 parou e Abigail subiu nele, ela começou a gritar, vai embora sua puta, sua vagabunda, se voltar um dia aqui eu te mato, imagine meu filho, aquela voz estranha de Boca de Mingau gritando, qq um ficava com medo, na esquina de onde nunca saiam as oito filhas de Quitéria entraram no embalo e começaram a gritar tb quando o Bonde passou em frente elas, puta, vagabunda, foi assim que a doida saiu daqui, foi prá onde foi, chegou lá com os sapatos sujos de lama e toda cuspida prosseguiu rindo Dona Olindina.
Eu chorava agora era por boca de mingau, nunca imaginei que ela fosse apegada assim comigo quando era bebê, eu e a molecada toda da área quando ela passava nós ficavamos gritando, boca de mingau, ela tinha um defeito na boca a neguinha, acho que é lábio laporino o nome ou coisa parecida, ela chorava e gritava, seus peste, quando eu morrer venho buscar um a um de vcs, um dia ela morreu mesmo, eu tinha uns sete anos de idade, povo falava até que ela tinha se matado, por muitos dias nem eu nem criança nenhuma quis saber de brincar na rua, morriamos de medo dela vim pegar nós.
E Abigail foi embora e nossa vida continuou, vc perdeu uma mãe e ganhou 30, meninas, moças, mulheres brigavam prá te por no colo e cuidar de vc, tu ria prá todo mundo, não estranhava colo de ninguém, um dia tua mãe resolveu pedir prá escreverem lá pra tua avó no Pernambuco e avisar que ela tinha outro neto, a véia respondeu e junto mandou a única foto que tinha de teu pai, era do batizado dele, não teve quem não chorasse olhando aquela foto, a foto era vc, igualzinho ele sem tirar nem por e continuam iguais até hj e o danado achava que vc não era filho dele, quando viu a foto falou prá irmã, temos que consertar meu erro, por o menino no meu nome, não tua mãe disse à ele, se quer filho, faça outro, meu bebê ninguém no mundo me tira.
Pois é, vc queria saber sua história, agora sabe, esqueça a doida, tua única mãe é a que está esperando vcs prá jantar ae do lado agora, ela te amamentou, ficou noites e noites cuidando de tuas febres, é a única mãe de verdade que vc tem meu filho, vão, já é tarde, ela acorda muito cedo e Beto e vc vão embora cedo também.
Entrei na cozinha de minha mãe chorando ainda quando ela e Giló me abraçaram forte, Dona Olindina tinha razão, era a única mãe que eu tinha fora as outras 30 lá do bairro que me paparicavam igual filho até hj mas uma parte da história ela não quis me contar, Beto me contaria já em casa na noite seguinte.

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3 Comentários

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  • Responder Bsb novinho ID:muj51ezrk

    Esperando ansiosamente pelo próximo espero que não demore Dduas semana pra postar por favo né

    • Marcus ID:19p2lvrzj

      Boa noite Querido. Postei hoje. Um abração.

    • Marcus ID:19p2lvrzj

      Vou tentar postar outro até Sexta-feira, prometo