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Eu e Beto, lá na Mãe e em Dona Olindina me contando a história de como eu tinha vindo à este Mundo.

2317 palavras | 2 |4.08
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Beto me acordou assim que o dia clareou como já estava combinado, era dia de fazer exame no meu ombro, fiz um café preto rápido enquanto Ele tomava banho, íamos comer na padaria depois do exame, tomei meu banho depois e saimos, pegamos o ônibus lá perto da Oficina, uns dez minutos depois já estávamos chegando na Clínica, era bem cedo mas já tinha bastante gente lá aguardando atendimento, sentei num banco, Beto foi fazer minha ficha com a moça do balcão, ficamos lá sentados conversando e esperando, fica calmo bebê me disse Beto, tem injeção não e tb não dói nada, não demorou muito e um moço duns 30 e poucos anos, grandão e bonito chamou meu nome na porta, seguimos ele até uma saleta no fim dum corredor, lá dentro tinha uma médica sentada mas ele que fazia o exame, relaxe campeão me disse, dez minutinhos tá feito e não dói nada não, a médica fez umas perguntas pro Beto, o enfermeiro mandou eu tirar a camiseta, passou um creme melado no meu ombro, ligou um aparelho e ficou subindo e descendo meu ombro e braço, acabou a médica disse, Sábado resultado está pronto a partir das dez hs, a Clínica fecha às 13 hs, ok respondeu Beto, venho buscar no Sábado mesmo, conforme for na Segunda feira já levo pro médico.
Saímos, pegamos o ônibus, descemos lá na Cruzeiro perto da Oficina, ali era tudo, mercado, padaria, açougue, tinha um balcão à esquerda com banquetas prá sentar e tudo, a gente conhecia todo mundo ali, Beto nem perguntou o que eu queria, sabia meu gosto, mandou fazer dois sanduíches de queijo e presunto e pediu dois pingados prá nós, saímos, Beto ia só por o macacão e voltar prá Oficina, já perto de casa cruzamos com Luciano, Seu Aroeira e Claudionor que vinham trabalhar, deu tudo certo perguntaram, tudo certo, foi rápido respondeu Beto, cadê Preá, não dormiu direito respondeu Claudionor, tá lá com as queimação no estômago dele, se melhorar vem depois do almoço.
Entramos em casa, Beto colocou o macacão, vê se faz um chá bebê e leva prá Preá depois, pergunta se ele quer comer alguma coisa, se der faz minha salada de batata pro almoço, vou lá, mais tarde tou na área, pelo menos hj tu não tá sozinho aqui, me deu um beijo e saiu.
Fiz um chá de cidreira, levei prá Preá lá atrás, tava pálido o coitado, volta e meia ele sentia essas queimação mas ficava bom logo, não quis comer nada, entrei prá dentro e fui cuidar das coisas.
Tava tudo limpo em casa, arrumei as camas, lavei as roupas de Beto e Luciano e fui fazer a salada do Beto, arroz e mistura ia fazer depois, a salada precisava dum tempinho no pirex prá pegar o gosto do alho.
Fui ver Preá depois, tava dormindo, pelo jeito o chá tinha dado uma aliviada, nem liguei a vitrola prá não acordar Ele, peguei uns coentros no canteiro e levei prá por na salada e no picadinho que ia fazer.
Beto e Luciano chegaram meio dia e pouco, almoço tava tudo prontinho, foi lá na casa dos fundos, ouvi Ele chamando Preá prá comer um pouco, nem que fosse só salada, voltou, lavou as mãos, faz nosso prato lek, tou varado de fome disse-me, Preá veio, queria só arroz e salada me falou, almoçamos os quatro juntos, Beto se entupiu de comida e foi deitar no chão da sala um pouco, Luciano ficou na prosa com Preá que ia trabalhar de tarde, tinha melhorado já.
Beto levantou-se depois, falou prá mim deixar as coisas que ia levar prá Mãe já embrulhadas, chegando da Oficina ia tomar banho e já íamos pra lá, eu não via a hora, doido prá saber as novidades de María Giló e Inseto rs, foram trabalhar, arrumei a cozinha e dei uma deitada no sofá, tinha acordado muito cedo, acabei tirando uma soneca.
Fim de tarde, tomei meu banho e fiquei esperando Beto, chegou já dando bronca, caraio mlk, num acredito que tu tá sem se arrumar ainda disse berrando, já tomei banho Patrão lhe falei, enquanto tu toma ponho a roupa uai, ah bão continuou Ele rindo, me arrumei, peguei samba canção e regata prá nós usar se precisassemos dormir lá, tinha jantar pronto pro Luciano, Beto saiu do banho, se trocou e fomos embora.
Pegamos o ônibus lá na General, passava mais linhas de ônibus lá, já tava o movimento de sempre de operários e marinheiros na rua atrás de diversão mas o menino moreninho simpático do porão e sua mãe, pelo menos aparentava ser, ainda estavam na calçada conversando com um casal de idosos, o Ônibus 31 veio, pegamos ele, sentamos atrás, estávamos cheios de pacotes.
Beto não era muito de conversar dentro de ônibus, costume feio dizia Ele mas uma hora começou a dar risada, que foi, perguntei, nada não lek disse Ele, tou lembrando de tu na briga meu doidinho, comenta nada lá com a Mãe não, senão ela pensa que isso acontece direto lá em casa, eu ri, era ruim eu falar isso prá minha mãe, ia levar uma bronca de duas hs dela.
Descemos em frente ao cemitério que eu conhecia pedaço por pedaço por fora e por dentro, em bairro de pobre cemitério é como um parque, a gente passeava direto nele rs, fomos na padaria comprar pão, leite, queijo, mortadela etc, era rotina de Beto levar um monte de coisas lá pra casa, depois entramos no açougue do lado, Beto comprou umas carnes e seguimos prá casa.
No Bar do Compadre, ele tava em pé conversando com seu Artur sentado numa mesa, assim que nos viu já falou, ê Oliveira sumido, ficou rico mesmo hein, só se for de Saúde disse Beto, conversamos um pouco com eles e fomos prá casa.
As casas no caminho eram tudo gente conhecida, dava um oi rápido e seguiamos, se eu fosse conversar com todo mundo só chegaríamos meia noite na minha véia.
No portão véio de madeira meus quatro patos de estimação já vieram nos receber, conheciam meu cheiro aqueles danados que eu criava desde filhotinhos, muitas vezes eu ficava até doente quando minha mãe falava em por os coitados na panela rs, os dois cachorros eram a mesma coisa, entrava, depois saia e ficava uns dez minutos alisando os pulguentos, ave maria falava Beto, é gostar muito de bixo isso.
Entramos, todo mundo ali adorava Beto, nós chegava, tinha muito doce e delícias na certa, meu irmãozinho caçula de 5 anos que ainda não andava, autista, ele vinha em ultra velocidade engatinhando, escalava nossas pernas procurando os dadinhos Dizioli que ele adorava e nós sempre levavamos pra ele, não sei se beijo vcs ou dou uma piza falou minha mãe, que sumiço danado foi esse, todo mundo de SP aqui no carnaval querendo ver vcs, correria mãe respondeu Beto, muito serviço, fim de semana quero é ficar de boa em casa mas pq o pessoal não foi lá, todo mundo sabe onde nós se esconde, foram disse minha mãe, dois carros cheios na Segunda feira, não tinha ninguém lá, eita que deram azar então falou Beto, a gente tá sempre em casa mas na Segunda fomos tudo passar o dia na praia, fizemos até amizade com um casal aqui de perto, eu sei falou minha mãe, Andreza e Itinho, um povo muito prestativo, mãe dele é minha Amiga desde que cheguei do norte, carregamos muita água juntas nos baldes antes da SBS chegar aqui, tempo duro, pois é disse Beto, domingo eles vão lá de novo, almoço ela se prontificou a fazer.
Tínhamos levado tanto doce e chocolates que seu Manoel tinha me dado e Beto não tinha deixado eu comer que meus irmãos nem quiseram conversa, se atracaram nos doces.
Ficamos na cozinha, minha mãe guardou as coisas e já foi conversando e temperando o lagarto que Beto pegou no açougue, já ia por na panela, Ele adorava recheado com bacon e linguiça e ficava uma delícia mesmo.
Vou ali no portão um pouco eu falei, que nós conversamos ontem teimoso disse-me Beto com cara de quem queria me fuzilar, ai é falei rindo, lembrei agora, eu entendia meu Beto, só não conseguia convencer à mim mesmo que não devia brincar mais de zepe, queimada, corrida de saco, pega pega, pular corda e aquelas delícias todas, inda mais ali que até homem casado brincava com a gente rs.
Minha mãe ficou caprichando na janta, eu e Beto fomos prá Dona Olindina, ela queria conversar com nós dois nesta noite, chegamos, ela com a mesma disposição e boa vontade de sempre, foi prum quartinho ao lado da sala com Beto, eu fiquei sentado numa cadeira na sala, era Dona Zíngara que falava baixinho com Beto, dela eu não ouvia nada mas ouvia Beto repetindo, não posso me dar ao luxo de ficar dias sem trabalhar Dona Zíngara, é muito compromisso que tenho lá em casa, eu não sabia o que era, só sabia que Ela queria que Beto largasse a Oficina por algum motivo e por algum tempo.
Os dois sairam do quartinho, Dona Zíngara veio até a mim, me deu uma baforada de cigarrilha na minha cara, Beto do lado quieto só passava a mão nos cabelos direto, sempre que tava preocupado com alguma coisa fazia isso, tá tudo bem com sua pessoa garotão perguntou-me com uma voz toda diferente da de Dona Olindina, tá sim lhe respondi, ela fez o sinal da cruz na minha testa e disse, dará tudo certo menino, pense sempre assim mas vai passar por uma coisa muito ruim mas Sr Omulu sempre estará zelando por ti, pelo amor de Deus Dona Zíngara disse Beto, chega de coisa ruim pro meu mlk, lhe imploro, chega, é Rapaz respondeu Ela, a vida é sempre um grande presente, até a cruz recebida as vezes pode ser um presente, deixar a pessoa mais forte prás coisas que vão vir, mlk num guenta mais cruz não continuou Beto, aguenta, o Maioral lá em cima sabe o que faz, mlk é mais forte que tu pensa respondeu Ela, agora vou subir ou descer né disse Ela dando uma gargalhada, conversa minha hj foi rápida, agora o garotão prepare os ouvidos, meu cavalo tem é coisa prá contar prá ele, Beto já sabia como era a partida, ela deu três pulos prá traz, Beto sempre atrás prá amparar, Dona Olindina voltava sempre meio tonta daquele transe mas voltou bem, vou passar um café nos disse, conversa levará horas, a Mãe não tem coragem mas sendo Eu creio a única amiga que Abigail talvez tenha tido na vida, ela pediu que eu contasse tudo prá esse menino afortunado, hora dele saber que a mãe era doida mas puta como disse o safado à Ele, até o dia que saiu daqui abandonando ele ainda bebê, nunca foi.
Ela trouxe o bule prá sala e três xícaras duralex e começou a falar, falar por várias hs, quando parou, era mais de meia noite, eu tava chorando e muito, ela e Beto também.
Voltamos prá minha mãe, Dona Olindina tava cansada, não quis ir jantar com a gente, entramos, os manos e manas já tavam tudo dormindo, Maria Giló nós esperava na cozinha junto com minha Mãe, naquela casa comida não tinha hora, sempre havia panelas quentes sobre o fogão, minha mãe me abraçou forte, Maria Giló tb, eu tava meio estranho, tonto sei lá, minha mãe fez nossos pratos, Beto e Giló se acabando no lagarto recheado, eu comi um pouquinho só, come criança, disse-me Beto, vida é assim mesmo, se pararmos de comer nos tombos nós fica é doente, não adianta nada, Ele mesmo botou um pedação de carne no meu prato e disse, coma, tou pedindo não, tou mandando.
Acabamos de comer, já era madrugada, Giló foi prá casa dela, nem perguntei nada dela e de Inseto, tava digerindo o jantar e aquela longa história ouvida, cama de Beto na sala e meu sofá já tavam arrumados prá nós deitar, deitei, Beto colocou a samba canção verde água e a regata azul marinho que eu tinha trazido prá Ele, eu olhei, tá lindo falei, vontade de morder, é sem vergonha disse Ele rindo, em casa tu num me fala essas coisas, sabe que se falar eu te guindo doído na piroca né, aqui não posso, tu aproveita safado, dorme bebê, já já nós acorda e se manda, saudade da nossa cama lá já tou.
Levantamos bem cedo, cuscuz, pão na mesa, tomamos café e voltamos prá casa depois de prometer mil vezes prá minha Mãe que a gente não ia demorar prá voltar não, no ônibus eu ainda ia no trajeto todo imaginando tanta coisa que Dona Olindina tinha me contado, aquela mulher de quem eu só sabia o primeiro nome agora tinha vida, pais, histórias, da noite pro dia tinha aparecido como pessoa na minha vida e bem ou mal era ela que tinha me trazido ao mundo.

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2 Comentários

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  • Responder Bsb novinho ID:muj51ezrk

    Po da uma focada nesse conto Vey e único que ainda leio

    • Marcus ID:19p2lvrzj

      Abraços. Boa noite Querido. Postei há pouco.