anjos inocentes 4

— tá tudo bem querido, tá tudo bem – ela dizia enquanto alisava meus cabelos e secavam as lagrimas dos meus olhos com seus dedos.
— chora filho, chora que as lagrimas lavam a nossa alma e acalma a nossa mente.
— me perdoa mamãe, me perdoa, por favor- eu disse bem baixinho soluçando e sem quase sair voz.
—você não fez nada de errado querido, a mamãe te ama muito e não tem nada a ser perdoado.
Meu celular recebeu uma mensagem, era do Júlio que me esperava na esquina de sua casa junto com o Thiago, para irmos à escola juntos, e por falar em Júlio e Thiago, esses dois sempre estavam juntos, eles não se desgrudavam por nada, eu ia responder a mensagem, mas minha mãe o tomou de minhas mãos e ela mesma respondeu e em seguida ela o desligou.
Eu chorei muito nos ombros da minha mãe, não sei por quanto tempo, eu já não tinha mais lagrimas a sair dos meus olhos, e agora tudo o que me restava era a vergonha que eu sentia dela e de mim mesmo.
—está mais calmo filho?
—sim mãe, eu já posso ir para a escola?- eu perguntei olhando para baixo.
— não filho, hoje você não vai, e nem eu vou trabalhar, a gente precisa conversar.
—você está brava comigo mãe?
—não filho, eu não estou brava, só estou surpresa.
—tem alguma coisa de errado comigo mãe! Eu acho que estou doente.
— por que você pensa em meninos?
Eu só virei meu rosto para o chão e comecei de-novo a chorar, desta vez mais pouco, e com muita vergonha eu disse bem baixinho.
—sim.
— não tem nada de errado com você filho, isso que você sente é uma coisa normal que vem do coração, é mais comum do que você imagina, eu convivo diariamente com pessoas assim e aprendi a lidar bem com isto, gostar de pessoas do mesmo sexo não é uma doença e sim uma opção, é um sentimento que nasce com a pessoa.
—mãe!
— sim filho.
—você está triste né?
—e por que você diz isso filho?
—por que eu te decepcionei.
—nunca filho, você nunca vai me decepcionar, eu estou aqui e vou sempre te apoiar seja qual for à decisão que você ira tomar.
Neste momento eu a abracei muito forte e comecei a chorar novamente, más agora não era um choro de medo ou tristeza, era um choro de alivio, como se eu estivesse tirado um peso enorme das minhas costas, eu ainda estava com vergonha, quem não estaria em uma situação desta? Mas eu me sentia aliviado, tudo o que eu pensava é que fosse levar uma bronca, talvez até apanhar, apesar de ela nunca ter me batido, cheguei até pensar que ela me expulsaria de casa, que cabecinha inocente a minha pensar isto, mas sou criança, sou menino e tudo o que ainda sabemos é limitado, más minha mãe me entendeu e me apoiou, eu me sentia seguro e feliz por dentro como nunca em seus braços.
—obrigado mãe, eu te amo muito, muito ,muito.
—eu também te amo muito filho, e sempre estarei aqui para você.
—mãe!
—sim filho.
—e como a gente fica agora?
—como sempre foi … Nada irá mudar. Mas eu ainda quero saber em quem você estava pensando?
—aff… Eu tenho mesmo que dizer mãe?
—só se você quiser, não estou te obrigando.
—más é que eu tenho vergonha mãe!
—depois de tudo o que passamos você ainda está com vergonha filho?
—tá, eu vou falar, más não vai ficar brava hem!
—filho! Se eu tivesse de ficar brava eu já teria ficado. Agora diga quem é ele?
—é… É o Gustavo.
—sério filho?
— sim mãe, eu gosto dele.
—e ele sabe?
— nem sonha.
—vai contar para ele?
—eu quero muito, quero demais, más não posso, não sei se ele gosta de meninos como eu. Tenho medo de perder sua amizade se eu falar.
—más se você não se abrir com ele nunca irá saber, se ele gosta de você como você gosta dele, com certeza ele deve estar pensando o mesmo que você pensa, às vezes temos que nos arriscar por quem amamos.
—más se der errado e eu perder sua amizade? Ela é muito importante para mim.
—te entendo, então deixe as coisas rolar, se ele gostar de você vai demonstrar, e se acontecer nada de sexo viu.
—MÃÃÃEEEEEE……
—é serio filho, você ainda é uma criança, sexo nesta idade não é saudável, só beijinhos e abraços.
Tá… Eu não tinha pensado em sexo ainda, más minha mãe querendo me prevenir disto só plantou mais uma sementinha na minha cabeça poluída de pré adolescente.
—vem filho, a mamãe vai ter um banho, a agua morna do chuveiro ajuda a relaxar e acalmar a mente.
Enquanto minha mãe me dava banho à gente ia conversando, agora bem mais calmo e me sentindo aliviado.
— mãe! O que você acha dele?
—do Gustavo?
—sim.
—ele é bonitinho, você tem bom gosto, e eu não quero te dar esperanças não viu, más acho que ele gosta de você.
—é sério mãe? – eu perguntei com um sorriso de orelha a orelha.
— sim, eu já reparei no jeito que ele olha para você, como te abraça, acho que até os seus amigos o Júlio e o Thiago já perceberam também, só você que não.
—ele gosta de mim mãe, ele gosta de mim- eu dizia e pulava de alegria.
—hei! Não se anima não menino, eu só comentei, ainda não sabemos, e se aquieta ai que você esta me molhando toda.
Minha mãe me levou ao restaurante, não era um restaurante desses caros, mas a comida estava deliciosa, já em casa bem na parte da tarde quem é que aparece? Sim, ele mesmo…o Gustavo que estava ali na minha frente acompanhado da minha mãe que sorria para mim.
—oi Gustavo- eu disse muito feliz indo apertar sua mão, más ele me abraçou.
—oi Gui – ele também disse feliz- estava jogando vídeo game?
—sim, quer jogar também?
—com certeza, eu vou te dar uma surra hahaha.
—duvido – eu o provoquei.
Começamos a jogar, estávamos nos divertindo bastante rindo de tudo, minha mãe nos serviu suco com alguns aperitivos e disse que ia sair, após um bom tempo que a gente se divertia e riamos bastante ele olha pra mim e diz:
—você parece diferente – ele disse olhando nos meus olhos.
—diferente! Como?
—sei lá, parece mais feliz do que o normal, tem mais brilho nos seus olhos.
—você quis dizer olhos castanhos e sem graça né? – eu disse rindo.
—não fala assim, seus olhos são bonitos.
— os seus que são- neste momento eu senti que pintou um clima, não que não tivesse pintado antes, más depois da conversa com minha mãe, eu via o mundo com outros olhos e eu falei me sentindo mais seguro das minhas palavras- eles são azuis claros como um lago de agua cristalinas.
Para minha decepção ele caiu na gargalhada, ele ria como se não houvesse amanhã, foi engraçado de velo assim rindo.
— é serio?- ele dizia e ria muito- é sério mesmo que você acha isso dos meus olhos? Ele disse e voltou a rir de-novo.
Velo assim feliz e no que a minha mãe disse lá no banheiro que ele gostava de mim, eu pensei…vou me abrir…vou falar que eu gosto dele…seja o que Deus quiser.
—Gustavo! Eu disse alto tremulando a voz chamando.
— sim- ele respondeu focando sua atenção em mim.
Ai meu deus mande um anjo para me ajudar… Eu estava muito nervoso, eu ofereci minhas mãos a ele e ele as segurou, seu semblante mudou como se soubesse o que eu iria dizer, eu achei que minha mãe tinha saído como ela nos disse, más ela chegou na sala e viu, ela percebendo o que estava prestes a acontecer saiu de fininho sem que ele visse fazendo sinal de positivo com seus dedos para mim nos dando privacidade.
Eu estava prestes a falar, más as palavras se enroscaram na minha garganta, perdi a coragem e tudo o que eu disse foi….
—posso ir à sua casa amanhã?
—é sério? Só isto que você tem para me dizer mesmo?-ele perguntou decepcionado.
—posso ir ou não?
—é claro que pode, ele disse e se levantou.
— hei! A onde você vai? Eu perguntei preocupado.
— desculpe, mas eu preciso ir embora – ele disse muito triste com os olhos cheio d’água.
—fique por favor- eu pedi.
— não posso – ele disse me dando as costas e saindo.
— DROGA, EU GOSTO DE VOCE – eu disse alto e comecei a chorar.

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