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O Vizinho Militar 28 – “Você sabe que é irresistível”

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Como num passe de mágica, o jogador saradinho vai do campo para a nossa sala num estalar de dedos.

Como é de imaginar precisei de algumas noites de “folga” depois da surra de mão que tinha tomado na bunda dentro daquele banheiro de bar. Machucou de verdade e pelos dias seguintes experimentava de uma ardência que pouco senti antes. Como um bom namorado que é, Jonas cuidou perfeitamente do homem que lhe serve os prazeres certos e não deixou a desejar no que diz respeito aos carinhos e amor merecidos. Me levou pra comer fora em restaurante caro e me beijou no estacionamento como um apaixonado, teve paciência para caminhar comigo nos corredores do shopping tomando sorvete como dois moleques e segurou minha mão sob os olhares de todos. Me chupou no estacionamento como numa ficada casual e me deixou leitar sua boca bonita adornada pelo dourado da bigode. Nessa noite, quando levanta os olhos e me mostra seu rosto rosado do esforço provocado ao se esticar e me chupar no carro, sussurra como me ama.

“Repete de boca cheia” eu digo.

Me engole, portanto, para soletrar um “eu te amo” engasgado de porra, pica e couro gasto.

“Vou pedir para ser machucado assim sempre.” Provoco.

Também me deixou usar sua bunda como há dias não deixava. Não é que me impedisse de procurar penetrá-lo, mas quase sempre transamos em uma explosão violenta de energias e acabamos os dois mortos sobre a cama molhada sem me dar tempo de querer outra coisa. O que me sobra de forças é usado para a recomposição dos meus restos. Nesta noite ele se colocou de costas cheirando a sabonete caro depois do banho e olhando sobre o ombro enquanto se empina como um pedante do sexo que nem sei ofertar. Não sou gigante como ele é, mas num cu pouco usado faço doer. O mover de montanhas deve soar como os gemidos de Jonas sobre o colchão. Treme, se abre, empina a bunda e é tão rosado em suas partes que me instiga a tornar tudo vermelho com pancadas fortes, com tapas servidos, mordidas violentas, chupões gulosos.

Nas noites menos quentes, quando não rolava um oral de ambos servíamos as picas e numa punheta terminávamos a noite. Nossa vida não é um perfeito filme pornô. Às vezes nos aconchegamos e dormimos. Somos humanos, mesmo eu jurando de pés juntos que Jonas deixa de ser às vezes.

Entendi que o meu grandão estava sentindo falta de meter quando ia saindo primeiro para o trabalho nesse dia e ficou me olhando do meio da sala com um ar felino que devora antes mesmo de atacar. Me olhou certeiro demais entortando a cabeça como quem prepara um bote e sorria de um jeito que era assustador e apaixonante ao mesmo tempo. Me aproximei para ter certeza de que estava todo duro até a alma e fui apalpando a coisa enorme crescida embaixo da farda camuflada do exército. O corpo todo firme se desenha na roupa quando vai trabalhar assim todo montado e eu fico com inveja de quem pode assisti-lo pelo dia inteiro desse jeito. Tenho certeza que muitos se rendem a uma punheta ao lado dele porque o homem é enorme e não é só isso. Ele é sexy, é misterioso de jeito charmoso que hipnotiza. Tem dia que acordo me perguntando como consigo mantê-lo ao meu lado na cama, mas tem dia que sei que é ele quem se questiona. Hoje é um desses casos em que Jonas deve se achar muito menos importante que eu depois que chego bem pertinho sentindo o quão está duro e sussurro dentro da orelha rosada.

“Você tá precisando comer um cu.”

Ele ri de um jeito engraçado e me agarra querendo mais que um beijo, mais que uma passada de mão, mais que um carinho logo cedo.

“Precisava só desse bom dia que me faz feliz, mais nada…” Responde brincando de roubar beijinhos curtos da minha boca.

“A sua pica tá pedindo, Jonas. Eu sei.”

“Como ela tá falando?”

“Arruma um cu pra mim” eu respondo criando uma voz falsa e mais fina que a minha própria fazendo o homem nos meus braços gargalhar.

“Para com isso.” Ele diz. “Tô satisfeito. Você já tá sarando. Nunca mais vou te machucar assim.”

“Pra você ver como ficar sem cu é foda. Me trate bem sempre, porque sem mim vai ser tranqueira.”

“Meu ursinho…” Ele sussurra beijando meu pescoço de forma molhada. Quer me ver suspirar. Gosta quando arrepio. “Cu não sobra nessa cidade.”

Ele leva dois tapas meus quando fala e se protege risonho e provocador. Segura meus pulsos e me faz grudar no seu peito estufado.

“Vai me trocar por qualquer cu usado nessa cidade ridícula?”

“Tô ficando velho, não maluco. Trocar você?” Ele quer mais beijo na boca e sempre consegue. Chupa minha língua demorado, deixa saliva pra eu provar, morde meus lábios com os seus durinhos e termina falando sedutor com uma voz arrastada que me agrada muito. “Poucas coisas nessa vida são tão boas quanto você e nenhuma delas é outro homem. Você é o único.”

Eu sei. É por isso que traço meus dedos brincalhões em um carinho que passeia as costas, segue pelos ombros grandes e termina nos cabelos curtinhos da nuca. Ele se arrepia dentro de um beijo meu e imagino que assim ele mela a cueca. Sai se contorcendo pela porta e me manda um beijo do corredor.

Mas eu sei que ele quer mais. Todos nós antes de sermos homens, somos bichos. E nesse caso, Jonas é um dos grandes.

Como tenho somente uma reunião marcada para esse dia, tiro a manhã para correr no parque a pedido de Alex, esse amigo das antigas que já apareceu por aqui. Aceitei o contive, não porque precisava correr e eu nem daria conta disso uma vez que estava me recuperando da traquinagem no banheiro do bar, mas porque precisava sair um pouco sozinho também. Alex é um ursinho de 22, um bebê, e me contou que corre há dias com uma galera “geração saúde”. Disse que precisa mudar o ritmo da vida, que pretende beber menos e se alimentar melhor, mas chega no parque tomando uma Coca-cola. Me faz rir sempre. Vem acompanhado de Laura e Rafa. Tomo um susto quando reconheço o garoto de pele negra brilhante exposta pela regata curtinha que chega mostrando o sorriso desconcertado de quem não esperava o encontro. Me cede um abraço depois que eu largo Laura, a amiga de Alex que tinge o cabelos de vermelho, que faz tatuagens grotescas pelo corpo branco, e finalmente me bate nos ombros ainda surpreso.

Sim, Rafael. O Rafa, aquele sobrinho do coroa ricaço que carrega as camisetas e joga no mesmo time da pelada aos finais de semana com o meu galego.

“Que doidera. Ainda no final de semana a gente estava lá no campo, né?”

Alex me olha desconfiado, é claro.

“Como assim lá no campo? Vai me dizer que agora você joga futebol, sua bichinha falsa?” Ele pergunta enciumado por qualquer que seja o motivo e nos faz rir.

“Jonas.” Eu digo como que em código para Alex e o meu olhar pede que os detalhes fiquem em segredo. Ele entende e eu continuo. “Rafa é do time dele, né? Sobrinho do… Esqueci o nome.”

“José” ele me ajuda a lembrar.

“Isso, ele mesmo. Mas que coincidência boa.”

“Pois é, que coincidência. Se bem que você e Alex se parecem…” Rafa fala enquanto começamos uma caminhada lenta. Alex sai na frente com Laura grudada em seu braço e parecem ter muito o que conversar, Rafa sobra no meu passo e fala baixinho enquanto me olha meio de lado.

“Mas qualquer gordinho branco e barbudo serão parecidos” eu brinco.

“Mas vocês não são.”

“O quê? Gordos?”

“É.”

“Ser um gordo menor não me faz quase magro, rapaz. Eu não tenho problema com isso. Se fosse um gordo grandão também não teria. É por isso que me chamam de urso, porque para alguns eu não sou gordo, sou cremoso.”

Ele ri e no meio dessa risada a sua mão mais próxima de mim acaba grudando em meu ombro. Dá um tapinha suave e depois me empurra para longe um pouquinho do seu corpo.

“Você é engraçado. Não parecia assim lá no futebol.”

“Eu não estava no meu habitat natural” falei gesticulando como se isso fosse o mais óbvio.

“E qual é o ambiente dos ursinhos?”

“Não deveria estar interessado assim na Laura com quem chegou parecendo mais íntimo?” eu penso. Minha resposta é outra. “Ah, sou mais de ficar em casa, preparar um jantar, abrir um vinho, ouvir música baixinho, fofocar no tapete da sala… essas coisas. Bar mesmo só de vez em quando e um parque quando Alex surta e diz que precisa melhorar a saúde.”

“Bom… Acho que ninguém reclamaria desse seu habitat natural.” E continua.

“Acha mesmo?” Eu pergunto quase que totalmente voltado para ele e me calo por um segundo olhando a sua cara bonita que sob o sol parece ter sido feita para a beleza. É perfeito nos traços, o nariz arredondado combina com a boca grande, os olhos castanhos claros se destacam da cor da pele, o cabelo baixinho quase raspado pede um toque pra ver se espeta as pontas dos dedos. “A gente poderia…” E quando volto a falar Alex nos interrompe lá da frente em um grito.

“As senhoras poderiam andar mais rápido? É pra hoje essa corrida.”

Rafa rir do amigo enciumado sem motivações concretas e inicia uma corrida lenta me forçando a seguir o mesmo passo com uma mão no meu ombro que guia, mas também incentiva e acarinha. Os dedos ficam um tempão grudados no tecido suave da minha camiseta e até amassam a região quando desgrudam.

Corremos por uma pista própria para isso por alguns minutos e percebi ali que meu corpo estava apenas acostumado com os tratos suaves. Quando corro sinto ardência onde Jonas machucou, mas depois de alguns passos ameniza até não ser incômoda e até trazer a ideia de alívio, o que me deixa mais tranquilo. Paramos entre as sobras gostosas de uma árvore para sentar no gramado e tomar uma água. Alex e eu morremos. Tem suor em cada centímetro da cara enquanto Laura e Rafa se exibem ainda completamente secos. Eles riem, conversam baixo quando vejo Alex chegar junto em claro tom de fofoca.

“Eles já ficaram, acho que dá pra ver, né? Mas Laurete tem um receio…”

“Receio” Eu pergunto curioso.

“Sim, ela tem medo de ser traída porque Rafa é bi. Um bi meio fajuto que só fica com mulher e raramente pega um cara, mas um bi mesmo assim.”

Na hora o meu peito gela e as minhas pernas ficam fracas e chego a pensar que é bom estar sentado. Lá da frente o alvo do assunto me olha com o seu sorriso bonito, dar uns pulinhos como que se preparando para entrar em campo e nos chama com palminhas encenando um treinador enérgico.

“As senhoras poderiam deixar de fofocar e correr pelo menos meio km agora. O que acha?”

Alex reclama qualquer coisa que eu não escuto e levanto rápido ainda preso ao olhar que se mantém também preso ao meu. De novo ele volta ao meu ombro como se precisasse me empurrar para acordar e dar partida ao meu corpo pesado.

“Sem molezas por aqui, rapaz.” Ele diz. “Veio pra correr… Então vai correr.”

Alex, que corre realmente meio km, diz que vai pela lateral da pista para pegar água de coco e carrega Laura junto. Rafa, que me incentiva a continuar, diminui o seu ritmo para uma caminhada e me dá tempo para respirar quando pergunta por Jonas. Ele sabe que estávamos juntos, mas não imagina quão juntos. Digo, sem medos ali, que namoramos, mas que foi uma preferência nossa deixar meio escondido naquela manhã . Ele responde o suficientemente sério para ser entendido que foi besteira nossa e que não deveria ter feito isso. Todos ali são amigos de Jonas há muito tempo e tinha certeza que nenhum deles agiria diferente, mesmo aqueles menos abertos. E foi se aproveitando do tempo que demos a nós mesmos para aproveitar o silêncio que fazia naquele lado do parque que ele perguntou.

“Lá atrás parecia que você ia propor algo.”

“Eu?”

“Sim, parecia. A gente falava do habit, essas coisas.”

“Ah, é.” Eu me fiz de esquecido. Nem sequer olhava diretamente para ele enquanto caminhava.

“O que era, afinal?”

“Nada não” menti descaradamente.

Rafa deu dois passos rápidos e se colocou na minha frente. Não parou de andar, agora fazendo isso de costas. Sorria e me fazia sorrir assim. Balançava os braços como um menino e me fazia olhar seu peito em movimento. Um moleque sarado sempre atrai nosso olhar não importa qual seja o nosso gosto.

“Queria me propor de viver o seu habit?” Ele presume. Ainda está de costas para a estrada, ainda me olha e me faz sorrir.

“Pode ser.”

“Pode ser?” Ele repete. “Não. Chama direito. Faz um convite.”

“Tá convidado” eu provoco.

“Não assim. Faz um convite direito.”

Ele não dá nenhum outro passo e uma vez que está parado faz o meu corpo, ainda em movimento, ir de encontro ao seu peito. Apoio as duas mãos nele e depois me esbarro inteiro. Ele me segura, ri da minha falta de jeito ou falta de coordenação e emoldura meus ombros com os seus dedos negros e lindos.

“Vai, fala. Rafa, eu estava pensando…” Ele começa tentando me imitar. “E se a gente fizesse uma janta lá em casa? Com vinho e tal…”

“Porra, você já tá falando…”

“Vai, continua.”

“Então, Rafa…” Eu fui encenando e ele rindo. “Tava correndo ali de boa e pensei… Seria interessante fazer uma massa pra gente hoje. Alex, a Laura, você. Jonas ia chegar e achar muito engraçado todo mundo junto.”

“Eu topo” ele disse logo.

“O vinho é por sua conta” respondi na mesma pressa.

“Sua cara pede dois.”

“Dois vinhos?” Franzi a testa curioso.

“O que mais poderia ser?” Ele saiu rindo na frente novamente de costas pra mim.

“O que mais poderia ser?” Repito somente para mim mesmo. Fiquei para trás rindo com as minhas pernas bambas, meu rosto corado e as minhas mãos suadas. Não seria possível aquele carinha, bonito daquele jeito, interessante daquela forma, dando em cima de mim. Seria? Eu deveria estar imaginando coisas. Tem dias que a gente acorda achando que somos tudo isso.

Laura e Alex ficaram animados com o convite. Queriam preparar mais coisas, já foram dando uma infinidade de palpites quase transformando o jantar em uma festa, mas fiz as podas necessárias e fui direto em concluir que aquela noite não seria para passarmos dos limites. Nada além de um jantar entre amigos e um bom vinho pra deixar todo mundo alegre. Feito. Até terminamos mais cedo a corrida para que cada um finalizasse o dia da forma mais tranquila possível.

Reunião acabada, cheguei em casa pelo meio da tarde. Arrumei superficialmente o apartamento, preparei mantas sobre os sofás, aspirei o tapete, pedi pelo delivery o que faltava para a massa, tomei um banho morno e no toque senti que já estava mesmo sarado. Consegui preparar a higiene com tranquilidade e até me animou a possibilidade de transar com Jonas naquela noite cheio da leveza que o vinho nos empresta. Os convidados chegaram mais cedo, como todo mundo deixou bem claro que gosta de chegar. A noite ainda nem tinha se formado por completa. Alex e Laura foram se instalando pelo sofá depois que eu apresentei o apartamento para os três e tomaram o controle da televisão brigando pelas escolhas da música. Decidiram, amigáveis, que uma playlist nos atenderia. Rafa, sempre um passo atrasado em relação aos dos dois amigos, ficou sozinho atrás dos sofás quando eu dei a volta e tomei os dois vinhos de suas mãos.

“Dois” eu disse olhando os rótulos. Eram vinhos caros. Um branco chinelo e outro rubi intenso italiano. “E dois bem caros. Não sei se precisava.”

“Acho que é suficiente” Rafa retrucou. “Eu gosto de coisa boa.”

“Tem cara de chatinho mesmo” provoquei.

“Cinco minutos na sua casa e já tentou me insultar.” Ele foi dando a volta para sentar e assistir o clipe que os outros colocavam na tela. “Tomara que Jonas seja mais simpático.” Ele quase riu, mas queria manter a pose.

“Se acostume” Alex se intrometeu. “Esse aí é um troço rabugento. Não demora nadinha e ele nos expulsa alegando sono. Uma senhora nesse corpo mole. Uma senhora!”

“Alex!” Eu repreendi. “Eu falo da vez que pagamos motel pra você cair roncando do meu lado?”

Rafa gargalhou no sofá menor enquanto eu saía para a cozinha com os vinhos nas mãos e Laura, eufórica, dava gritinhos colocando lenha nessa fogueira que eu acendi. Todos nós rimos, mas Alex queria mais.

“Eu jamais transaria com você. Essa aí foi minha versão para a famosa dor de cabeça.” Ele disse.

“Eu que não transaria com você. Não sei qual número eu seria daquela noite. Sei lá… talvez o quinto?”

“Que piranha!” Laura gritou do lado de Alex e ele, rindo, brincou de descabelar a amiga numa briga falsa.

“Alguém aqui sabe brigar” Rafa disse depois da risada que deu.

“Eu não comecei nada” me defendi.

“Acho bom a senhorita parar de putaria e começar logo as coisas. Eu quero comer bem e beber também. Gosto do melhor. Anda vadia, me sirva!” Alex esbravejou.

Claro que caímos todos em uma gargalha e do balcão da cozinha eu lancei um daqueles olhares observadores sobre Rafa. Como era de imaginar e como eu queria, ele exibia o corpo naquela noite. Usava uma camiseta branca mais larga de tecido encorpado que não impedia do seu peito desenhado ficar evidente quando ela toca a pele, um shortinho preto que termina na metade das coxas, mas que sentado ele sobe ainda mais e um adidas branco sem meia no pé. As coxas ficam abertas e delinearas quando ele se encosta confortavelmente no sofá e os músculos do braço são exibidos quando ele os dobra sob a nuca. Me olha de onde está e sorri divertido pela briga encenada. Eu balanço a cabeça como quem diz que Alex não vale nada e me coloco nos meus afazeres. Logo Jonas chega e eu quero estar na sala quando ele entrar pela porta e encontrar Rafa assim, todo jogado, em seu sofá.

Não vejo quando chega a mensagem rotineira avisando que está subindo, estou na sala servindo umas bruschettas como entrada. A porta se abre quando estou entre os dois sofás com a bandeja pairando no ar. Como é a direção de quem entra, vê primeiro portando Alex e Lauda no sofá maior, gira o corpo e me encontra logo em seguida e seus olhos desviam dos meus para encontrar os olhos sorridentes e curiosos de Rafa. Os dois riem. Jonas um pouco surpreso, Rafa bem mais divertido.

“Eu não fui convidado para a festa? Desde quando vocês se conhecem assim?” Ele pergunta logo. Aponta para o amigo de time pouco íntimo largado ao ocupar o sofá menor.

Ri depois da gargalha de todos na sala e eu vou buscar ele no meio do caminho.

“Você conhece Alex. Já nos viu juntos no bar, lembra?” Ele concorda comigo enquanto joga num canto qualquer a mochila que mantinha pendurada no ombro. “Essa é Laura, amiga de Alex. Ela é ótima. Achei divertidíssima.”

“Lindíssima. Adorei as tatuagens. Isso é dragão? Lindo!” ele completa em elogio. Ela concorda e agradece.

“Aquele… Bom… Estava de bobeira ali embaixo e eu chamei pra subir” me referi a Rafa que só ria da situação.

“Não, sério. Só pode ser amigo de Alex. Mas desde quando?” Jonas indaga indo cumprimentar o amigo mais conhecido primeiro. Eles trocam um aperto de mão barulhento, se puxam para um abraço grosseiro meio de lado e o negro lindo se joga novamente no sofá. Vejo como os dois se comportam e só consigo pensar na saudade que sinto de…

“Oxe, pois você está enganando sobre mim. Ando com todo mundo, até com o jogador caro aí” Alex interrompe meus pensamentos.

“Você atira em qualquer um que se mova” Jonas brinca lembrando a fama que o meu amigo tem.

“Esse aí não me quer. Acha que já não tentei? Laura faz mais o tipo dele” Alex retruca jogando a amiga na conversa que se esconde atrás da garrafa de cerveja que ela toma. Não deixa barato a provocação e lhe serve um tapa no ombro como repreensão. Os dois riem num tom de muitos segredos compartilhados.

“Para de drama, você sabe que é irresistível.”

“Tá falando isso agora na frente deles, mas quando eu tentei te beijar você veio com o papinho de sermos só amigos. Também não quero mais. Vai ficar me querendo, Rafael. Perdeu tempo.”

“Vacilou, bonitinho.” Laura emenda no discurso do amigo.

“Não rola mais nem um beijinho?” Rafa convence com o seu ar inventado de arrependimento.

“Nada. Agora baba!”

“Acabou comigo.” Rafa se lamenta.

“Ele sabe… Uh… Disso?” Jonas me pergunta num passo para mais longe do meio da sala. Por sorte os três se perdem na brincadeira que fazem entre eles e eu tenho tempo de puxar o galego para os meus braços por um minuto.

“Disso o quê?” Eu estou me movendo lento sobre ele, chegando como quem dança na ponta dos pés, arrastando os dedos pelos ombros revestidos pela farda camuflada tocando a tensão desse dia comprido. Ele responde me roçando na cintura e espia o amigo ocupar o meu lugar de garçom sobre os meus ombros.

“Da gente. Pelo jeito que ele me olhou quando entrei tenho certeza que sabe. Além de que ele está na nossa casa… Tinha que saber, né. Eu não tô entendo nada, lindo.”

Vamos em passos contados para a cozinha, primeiro porque quero roubar um beijo dele ao lado da pia, depois porque lá terei tempo de explicar. Falo sobre o parque mais cedo e a minha surpresa ao encontrar Rafa lá para a corrida. Do convite para uma massa e vinho entre amigos e aviso logo que adiantei em quão termos está nossa relação. Falo enquanto finalizo o corte dos recheios da massa e aviso que o tempo de preparo é o mesmo de um banho que ele precisa tomar. Ele não se importa quando minhas mãos cheirando a bacon passam pelas laterais do seu rosto e trazem o homem grandão para um beijo lento. Ele se afunda em mim com saudade falando através do beijo sobre a vontade que está de terminar esse dia enfiado em mim. Sua língua não ajuda na fala, ela se estende em carícia na minha. Numa espiada curta vejo que Rafa estende o olhar sobre nós dois ali no canto. Desvia o olhar uma vez, duas…

“Então ele sabe de nós.”

“Claro que sabe…” Digo. “Acha que isso pode te causar algum problema?”

“Ele é bacana. Dá pra ver que é. Duvido muito que ele vá usar isso contra mim lá com o pessoal. Sempre achei ele descoladinho, devia imaginar que anda com uma galera assim.”

“Então estamos bem?” Minha fala sai pertinho da boca pra seduzir e amenizar qualquer situação ruim.

“Sempre bem” ele diz rápido. “Isso não é nada. Sem falar que a gente estava precisando de uma coisinha aqui. Um jantar, música alta. Saudade de beber com visita.”

“Perfeito” respondo me aninhando no cheiro quente que exala do peito largo dele. “Agora vai tomar tomar banho. Te adoro assim, te quero assim, mas vai lá… Volta cheiroso pra mim, grandão.”

Ele vai resistindo aos beijos que insisto em deitar sobre o queixo bonito dele. Sai rindo, me batendo de leve e saltando brincalhão quando prometo mordidas nas costas largas.

Toca “Paper” do ARDN como som ambiente quando começo os refogados. Alho, cebola e pimenta do reino perfumam o ambiente. Os três lá na sala pegam outra cerveja enquanto dizem ser a última porque vão abrir um vinho logo em seguida e elogiam o cheiro. Dá fome. A massa borbulha na água salgada quando Jonas, limpo e cheirando a sabonete, chega caçando os espaços mais sensíveis da minha nuca.

“Estou com saudade” ele sussurra.

“De quê exatamente?” Provoco.

“Do seu toque, do jeito como sua boca se abre quando quer…”

“Te engolir?” Tento adivinhar. Me empino para que a gente se encaixe. Quero provocar essa noite.

“Me engolir” confirma. “Saudade da sua língua ao redor da cabeça da minha pica. Sugando… Suspirando… Implorando.”

“Quanta saudade está sentindo, moço. Não estou sendo bom contigo esses dias?”

Ele me vira porque gostar de falar certas coisas olhando dentro do meu olho. Rouba um beijo rápido antes de falar. Lá atrás, na sala, Rafa nos espia de canto. Aproveita quando tomba a cabeça para trás tomando o último gole da cerveja.

“Você sempre é bom pra mim. Bom até demais. Às vezes nem mereço o quanto é bom comigo. Nem de brincadeira pense isso, mas…”

“Mas…” Não importo que o bacon passe do ponto. Quero minhas mãos ocupadas na cintura grossa do meu homem. Ele até me cede o pescoço para um cheiro meu. Me afundo nele como quem ousa a bravura de um mar noturno. É grande e denso como são os mares, mas a cor noturna está sobre a pele do rapaz que nos observa da sala. Eu vejo de onde estamos.

“Mas é bem verdade que eu tô com uma saudade danada de me enfiar por aqui, por ali…”

“Não vai demorar em matar sua saudade.” Sai em suspiro no pescoço. “Estou pronto pra você, grandão.”

“Expulso todo mundo agora ou faço o simpático e sirvo um vinho antes de bater a porta?”

Ele mesmo ri e me faz gargalhar. Me larga porque quer abrir o vinho e vê que tenho um macarrão para terminar. Procura cinco taças iguais enquanto roça as costas nas minhas usando do pouco espaço na cozinha e da proximidade entre os móveis, pega o vinho branco geladinho e abre rápido sobre o balcão. Chega na sala servindo cada uma das taças somente o suficiente para esquentar as extremidades dos dedos. Não precisa de muito para isso. É um vinho encorpado. Me deixa uma taça ao lado do fogão, um beijo na orelha e ocupa o lugar vago ao lado de Rafa. É óbvio que se apertam para que dois grandes sentem e gosto como se assemelham no jeito. Não fisicamente, até porque o meu galego é muito maior. Ombros mais largos, mais alto, pele mais alva, coxas mais grossas, braços mais fortes, enquanto o mais novo tem essa pele de um tom escuro misterioso, olhos escuros e castanhos, boca carnuda e amarronzada com leves toques de rosado. Os dois usam esse short curto que sobe até a metade das coxas, mas diferente de Rafa, Jonas usa regata. Inclusive, é dentro dessa peça e se espremendo que os ombros nus roçam os ombros cobertos do jovem. Espio de longe como aquele sentado ao lado do meu namorado fazia para mim e sorrio pensando no quão absurdo os dias podem ser. Num, estamos no campo, admiro de longe os garotos sarados e no outro ele está sentado na sala de Jonas e nos olha curioso.

Mas eu tenho uma massa para servir.

O brócolis entra no refogado quase no fim para não perder a crocância e por cima de tudo vem o macarrão recém saído da água fervente. O amido da água deixa juntinho e tudo se tempera com mais sal, pimenta, salsinha picada na hora e queijo ralado como neve sobre o monte de massa. O toque no fim é um azeite português. Não é preciso mesa quando todos se esticam pelo sofá com os pratos nas mãos e taças presas às coxas. A configuração segue a mesma em cada sofá, por escolha minha sento no tapete mesmo. Logo o vinho rubi é servido a tempo das últimas garfadas e outro que estava guardado no armário vai para a geladeira. É nossa terceira taça. Estamos indo para a quarta. Enquanto tem macarrão nenhum álcool marca presença, mas terminamos de comer e de repente os sorrisos se abrem mais. Alex, sem surpresas, quer saber dos homens do quartel, Laura expressa que é das artes e diz querer nos ver na galeria onde trabalha. Ali surge a promessa de outro vinho, mas dessa vez na rua. Rafa quer elogiar o apartamento, diz que Jonas não parecia ter bom gosto e ri das suas próprias provocações. É claramente brincalhão e eu gosto de como ele não tem medo de incitar as caras feias de Jonas, mesmo que encenadas. Tocam outras músicas, Alex puxa Rafa para um forró no tapete, eu dou espaço para os dois e sento ao lado de Jonas que se apressa em passar o braço sobre meus ombros tentando acariciar minha nuca. Minha mão em sua coxa pede para subir. Não é boa ideia, mas esse homem me procura. Ele mesmo segura meus dedos e os força contra o calor do short. Me arrasta para a parte interna e me deixa a pouco centímetros do volume que as bolas fazem no tecido.

“É desse jeito que você acaba o jantar mais cedo” sussurro em segredo.

“Topa?”

“Segura essa vontade. Quero curtir meus novos amigos.”

“E o amiguinho antigo?”

“Amiguinho? Está falando mesmo dele? Pode colocar isso aí no aumentativo. Pode exagerar.”

Ele ri e não se rende a minha boca roxa de vinho. Me beija rápido, mas com tempo para uma chupada na ponta da língua. O beijo provoca ruídos e Alex brinca que estamos segurando o casal na sala. Ele já está tonto e diz que não pode ir além da taça que está terminando. Laura concorda e vai na ideia do amigo. Rafa ergue as mãos e diz, rendido:

“Consigo mais duas.”

Mas ele fala isso olhando Jonas.

Temos tempo para a sobremesa antes das despedidas de Alex e Laura. Comem da torta pronta que eu pedi pelo delivery e prometem que foi um jantar delicioso. Eles sabem que Rafa está de carro, então não se preocupam em ir primeiro, mas dizem da porta, em tom de ameaça, que é bom ele estar animado assim quando sairem juntos de novo. A resposta de Rafa surge pelo dedo do meio girando no ar. O moleque está solto.

Volto da cozinha com a terceira garrafa de vinho pela metade já servindo minha própria taça. Jonas que tinha levantado para se despedir decentemente senta no tapete e usa o sofá como encosto. Cruza os calcanhares estendidos num claro descanso, tomba a cabeça sobre as almofadas enquanto ergue a taça pedindo do meu vinho e me oferece os lábios em um biquinho. Sirvo, portanto, vinho e vários beijinhos. Uso o espaço livre onde o meu militar apoia a cabeça para sentar e ele se encosta à minha coxa pedindo carinho nos cabelos curtos demais. Gosto quando está mais longo e ele sabe disso. Alguns desses carinhos descem pela barba ralinha que espeta. A taça onde Rafa bebe e o vinho servido está no tapete ao lado da garrafa pertinho de nós. Ele vem do banheiro do nosso quarto terminando de se arrumar com a barra da camiseta presa ao queixo tentando amarrar o cordão do short. A forma como puxa a peça para cima deixa espaçar aos nossos olhos a frase “Hierba Mala” tatuada pertinho de uma das suas entradas para a virilha.

“Hierba Mala?” O galego lê em um espanhol terrível.

“É como me chamam” Rafa responde do alto.

Jonas me olha com a cabeça tombada sobre minhas coxas. Sorri singelo, pede outro carinho nos cabelos com olhos pidões e fala sem desviar a atenção dos meus olhos.

“O que te faz um…”

“Hierba Mala” completo num espanhol perfeito.

Ainda não olhamos o garoto em pé ao nosso lado, estamos ocupados apaixonados pelo olhar um do outro. Tem álcool suficiente no corpo de Jonas para deixar avermelhada a pele no alto de suas bochechas. Passo meus dedos por elas com suavidade e seguro as laterais do rosto enquanto me curvo para um beijo todo invertido. Nossa posição me faz roçar o queixo quadrado dele com o meu nariz e sorrimos desajeitados, mas excitados.

“Disseram outra vez que eu sou viciante.” Rafa responde.

“Viciante como uma erva malvada” eu falo ignorando completamente a imagem dele que se move em busca da taça. São os olhos de Jonas que me hipnotizam.

“Eu mesmo nunca disse isso.” E ele ri se balançando em pé ao som da música calma que toca agora. “Mas se acham… Como é que vou discordar?”

Por fim Jonas se ajeita no tapete e agora olha diretamente o rosto do moço no meio da nossa sala. Ri do jeito como ele se balança sozinho e toma um gole da sua taça quase vazia outra vez. Como bebe rápido. Quanta sede ele tem. Estende um braço para trás ao falar porque quer alisar minhas coxas enquanto assiste a dança do outro.

“O que faziam para ter certeza disso? Alguém deve ter experimentado a Hierba, né?”

“Estavam…” Ele para de falar para tomar outro gole grande do vinho e sua taça também quase seca. Enxuga o lábio molhado com as costas das mãos e continua. “Me beijavam aqui.” Ele usa a mesma mão para tocar a região da tatuagem e levanta a camiseta o suficiente para exibir de novo as letras sobre a pele escura. Ele brilha mesmo sob uma luz não tão forte. O moleque parece feito de alguma matéria preciosa. É bonito em tudo.

“E foi assim que a lenda surgiu.”

“Não sou narcisista ao ponto de elevar isso ao nível de uma lenda, Jonas.”

“Até porque para que as lendas ganhem forças elas precisam de relatos. Quanto mais, melhor.”

“Exatamente. E nem foram muitos que passaram por aqui” ele diz despreocupado. Sente a música e balança os ombros. Chega a fechar os olhos nisso.

Jonas outra vez toma a cabeça sobre o meu colo, me olha profundamente nos olhos, deixa escapar um sorriso maléfico que eu conheço bem e pisca como quem começa a montar um segredo.

“Dois é um bom número para acrescentar à contagem. O que acha?”

O que Jonas diz parece tão codificado que Rafa abre os olhos para nos olhar lá do alto e por alguns segundos ele não sabe exatamente o que responder porque aparenta não ter entendido o rumo daquela oferta. Termina a taça noutro gole, outra vez seca os lábios com as costas das mãos, da um passo em falso pro lado e me ver jogas as costas no sofá relaxado. Busca alguma resposta no meu olhar e encontra.

“Dois homens. Dois corpos. Duas bocas provando a erva. É bom pra você?” Pergunto, finalmente.

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