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Favores – Introdução

562 palavras | 9 |4.33
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“Mais uma noite indo dormir com o estômago cheio de porra”

Olho as horas na tela do celular uma última vez antes de apagar as luzes. Quase uma da manhã. “Mais uma noite indo dormir com o estômago cheio de porra…”

Ando com um passo errático até a cama de solteiro, pois minhas pernas finas ainda doem por causa de todo aquele tempo que passei ajoelhada sobre o tapete felpudo de nossa sala.

Sinto a brisa gelada entrar pela janela e agitar minha camisola fina. “Bem que ele disse que a noite estava linda hoje…”, penso enquanto me enfio sob o cobertor, olhando o céu estrelado e lembrando de sua voz quase afetuosa falando sobre o quanto adorava as noites de outono. Um comentário um tanto quanto fofo, admito, não fosse o fato de eu estar com sua rola entalada na goela enquanto escutava suas palavras.

Seguro um breve ímpeto de choro que tenta abrir caminho até meus olhos e me encolho sob o cobertor até ficar em posição fetal. Involuntariamente, levo a mão até o meio das minhas coxas arrepiadas.

Nunca achei que odiaria a sensação dos meus dedos deslizando sobre o melzinho que escorre da minha buceta. A prova irrefutável de que, de alguma forma irracional, aos poucos, eu estou que estou começando a gostar disso.

“Não tem nem uma semana e já tô assim…” penso com um misto de amargura, revolta e vergonha. Recusando-se a deixar meu corpo cansado adormecer, minha mente passou a divagar sem foco num loop de confusão emocional.

“Quanto tempo vai levar, hein? Um mês? Talvez mais que isso? Vai ver até menos…” dei uma risadinha baixa e nervosa “Vai ver já virei uma puta e nem percebi…”

Puta. Essa palavra girou por alguns segundos na minha mente. Essa palavrinha venenosa que quase toda mulher já ouviu alguma vez na vida. A alcunha dada tanto pra quem vende o corpo em troca de dinheiro quanto pra quem não segue o modelo de comportamento de uma moça direita.

Puta.

Eu sempre fui direita. Não santinha, mas sempre fui direita. Nunca dei motivo pra ser taxada de puta pela forma como levava minha vida sexual. Só que agora eu me encaixava no outro significado desse termo.

Não, não estou vestindo roupas curtas em nenhuma esquina. Não estou fazendo anuncio de programa na Internet, nem nada do gênero. Na verdade, pra quem está da porta pras fora desse apartamento, eu continuo sendo a mesma Cassandra que eu era há 5 dias: uma dentista gaúcha de 28 anos, dona de uma beleza pra lá de comum, sem grandes destaques na vida pessoal ou profissional e cuja única reviravolta recente na vida foi ter se divorciado há 6 meses depois de 4 anos acomodada num casamento quase tão interessante quanto um mingau de aveia.

Ainda assim, cá estou eu agora: tentando dormir com as entranhas cheias de porra depois de chupar o cacete de um sujeito que eu considerava meu melhor amigo, mas que, há cinco dias, passou a me usar como sua vagabunda particular em troca de moradia e alimento.

Nos próximos relatos, vou contar um pouco mais da história que me trouxe até aqui e explicar pra vocês como fui transformada de uma dentista comportada e pacata em uma puta que literalmente está vendendo o corpo para sobreviver.

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9 Comentários

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  • Responder Anônima ID:1se799zi

    Interessante a sua história ou relato. Conta mais se a sua história for verdade ou não, porque agora eu fiquei curiosa! Eu fiquei curiosa para saber, o que faz alguém que diz que “Sempre foi direita, não santinha, mas sempre foi direita” e que se diz Dentista, chegar a esse ponto, a esse nível? Eu fico me perguntando, o que faz uma pessoa que se diz dentista, que tem uma carreira, uma profissão chegar ao um nível desses? O que faz uma “DENTISTA” se submeter a isso, em troca de moradia, de alimentos, a ponto de ter que vender o corpo para sobreviver? Será a crise do desemprego que está afetando muita gente, ou foi a reviravolta do divórcio, que transformou você no que você é hoje? Ou será que você se submete a isso porque quer, porque gosta e senti prazer com tudo isso? Ou porque você já está dependente de tudo isso ou (outros)??? “E como você diz que nos próximos relatos, vai contar um pouco mais sobre a sua história, e explicar como você foi transformada de uma Dentista comportada e pacata em uma puta que literalmente está vendendo o corpo para sobreviver.” Vou ficar aguardando os próximos!

  • Responder Lucas Fonpores ID:40vpqpbzd9a

    Caramba, me deixou curioso, aguardando atualizações

  • Responder Rebecca 185 ID:8kqv8oskv4

    Adorei o conto

  • Responder Rafaella ID:7xbyxpzb0i

    Se vc se sente desse jeito, menosprezada.. Denuncie ele por assédio moral e sexual, ou outra coisa qualquer. Afinal sexo é uma coisa de ( no mínimo ) duas pessoas, e as duas devem sair do ato com prazer e bem.

    • Nathalia (NATY) ID:830xy01pv1

      Amiga Rafaella , me desculpe , mas eu tenho andado meio sumida , alguns problemas meio sérios acontecendo …Mas sobre meu comentário , nem é por minha causa que eu falei sobre isso, é que realmente eu acho estranho os rótulos que são colocados em nós , e nos homens não, por exemplo, se a gente transa , é porque é safada , vadia , essas coisas que dizem por ai, o cara que transa com a gente continua sendo apenas o homem, nunca é chamado de safado , tarado , puto , essas coisas entende ? O que eu quis dizer , é sobre essa diferença de tratamento que há entre nós e eles .Quanto a mim , eu não ligo , sei da minha condição que assumi quando resolvi seguir essa vida , é cá pra nós , eu gosto dessa vida , da liberdade que ela me proporciona, entende ? Beijos e até mais querida

    • Rafaella ID:7xbyxpzb0i

      Magina Amiga.. eu respondi isso pra “autora” do conto.

    • Nathalia (NATY) ID:830xy01pv1

      Entendi Rafaella , me desculpe se fui até meio grosseira .

  • Responder Velhinho ID:muiums6ia

    Continuo achando estranho, a sexualidade feminina ser colocada em um lugar de “fora da lei”, quando apenas se expressa. Ao contrário da sexualidade masculina que é colocada num local de “destaque”!

    • Nathalia (NATY) ID:830xy01pv1

      Eu também não entendo muito essas colocações , muitas vezes na hora das transas , eu acho normal até, no ímpeto do tesão ser chamada de puta , putinha, vadia , safada , cachorrinha mamadeira , boqueteira profissional, engulidora de espadas , escrava do sexo … todos esses adjetivos já fizeram ou fazem parte dos meus momentos de luxúria ,mas daí a ser taxada com esses nomes pela vida afora , e não só nos momentos de prazer , eu também não entendo . Mesmo praticando tudo isso, a gente continua sendo mulher , e é nessa condição de mulher que a gente pratica , na hora do sexo é até gostoso ser tratada carinhosamente por esses adjetivos , a gente sente que está fazendo bem feito o que se propôs a fazer , que é proporcionar o máximo prazer possível ao parceiro , mas depois que acabou a transa , assim como ele continua sendo o homem, nós também continuamos sendo mulheres .