Eu e Beto, nos preparando prá voltar prá casa, ao nosso lar, doce lar

Seguimos prá cidade, se bem nem sei se aquilo era uma cidade mesmo, ficava a 48 km de distância de São Caetano só mas demoramos quase três hs para chegar lá, era só buraco, abismo e pedras o que se chamava de estrada lá.
Beto vinha conversando com Setembrino mas pelo retrovisor sempre me olhando com cara preocupada, eu olhava ele como se Deus fosse, me beliscava toda hora prá ver se não estava sonhando.
Tinha um posto só de gasolina a cidade, Beto parou nele prá abastecer, tinha um orelhão próximo, Beto fez menção de ir até ele, o rapaz do posto riu dizendo, orelhão funcionando nestas bandas rapaz, dificilmente vc acha um, uai, prá que tem então perguntou Beto, eles quebram disse o rapaz, as vezes demora meses prá virem consertar, cacete disse Beto, tenho que falar com SP urgente mesmo, vamos na Delegacia, se Rosa de Hortêncio tiver lá ainda, ela deixa vc ligar, só dizer que veio da casa de Sinhá falou Setembrino.
A Delegacia tava fechada, Rosa saiu faz uns instantes disse a Sra da casa ao lado, Beto tava exausto, nunca tinha visto ele assim, nem quando virava noites trabalhando sem dormir, pôs as mãos na cabeça em desespero, Setembrino acudiu de novo, vamos até o Bar de Egídio, bar só abre dia de feira que é amanhã mas ele mora lá com a mulher, tem tel lá, caramba Setembrino disse Beto, parar num estranho quase escurecendo já prá entrar na casa dele e usar tel, é estranho não rapaz Setembrino respondeu, Seu Egídio e a família do rapazinho são amigos de sempre, ele arrumou dinheiro prá esse Bar trabalhando em SP, morou com um irmão de Sinhá por mais de ano, se bobear foi na casa do pai do menino aqui.
Vamos lá disse Beto, tou fudido mesmo, tenho nada a perder, a casa era pertinho, na outra rua mas fomos no carro que aliás eu nem sabia onde Beto o tinha arrumado, com Setembrino do lado nada ele falou comigo.
Setembrino chamou ao lado do bar, na Paz de Jesus Cristo, é Setembrino Seu Egídio, demorou uns 2 min um Sr baixo apareceu, ô Setembrino, arrumou carona prá feira foi, como tão as coisas lá em S. Caetano, tirando a seca braba tudo bem disse Setembrino, e esses moços quem são, paulistas na certa disse Seu Egídio, são parentes de Sinhá, o rapaz chegou hj, o garoto tá aqui há uns dias já, sobrinho de Sinhá, veio com o pai, válei -me Jesus, sobrinho de Sinhá é sobrinho meu tb, devo muito aquele povo, vamo entrando, casa é póbri mas comida nunca faltou.
Entramos, na sala Beto meio com vergonha se dirigiu à Ele, me desculpe Sr mas vim aqui pq Setembrino me disse que o Sr tem telefone, preciso falar com SP muito urgente, eu lhe pago, vou dar prejuízo não, oxi Rapaz, povo de Sinhá nem cerveja nem cachaça paga aqui, que dirá tel, abriu uma porta da sala, já era o bar onde estava o tel, acendeu a luz, Beto rapidamente ligou prá Oficina, as vezes só completa a chamada na terceira vez disse Seu Egídio mais funciona e saiu deixando eu e Beto a sós, enquanto o tel chamava, Beto disse, teu Beto tá morto bebê, feliz mas morto, temos muito que conversar mas não vai ser hj não, ninguém atendeu, ele ligou de novo, demorou mais ouvi a voz de Murilo dizendo, ô Oliveira, tu quer matar todo mundo de susto, onde tu tá, na BA Beto falou mas nem sei o nome do lugar, e o lek, conseguiu alguma notícia dele, tá aqui do meu lado Beto respondeu, deixa eu falar deixa eu falar, era a voz de Luciano, tel fazia um eco que da rua acho que dava prá escutar, porra Beto tu quer matar nós, saiu daquele jeito e mais notícia nenhuma, chegando ae eu explico tudo, tou no fim do mundo Assis falou Beto, andei bem três hs prá conseguir um tel só pra dar notícias minhas e do mlk, tá vivo né falou Luciano, tá irmão, destruído mais vivo, chegando ae nós conversa, tou usando tel dos outros, quero abusar não, vêm quando continuou Luciano, acho que daqui três, quatro dias se Deus permitir nós chega ae, mandei preparar a festa quando sai né, pois prepare, tá bom, tou aliviado disse Luciano, nós tamos providenciando tudo aqui, dos cinco que roubaram o lek, só falta pegar o pai e Renato, resto tá tudo na mão de Aroeira, tou sabendo de nada ainda irmão disse Beto mas fale à Aroeira prá retalhar os fdp sem dó, té mais, quando eu chegar em Aracaju ligo ae dum orelhão e tu me explica tudo, diga ae que mandei um abraço à todos e o lek tá guardado comigo, desligou e voltamos prá sala, agora a mulher de Seu Egídio estava lá tb.
Setembrino prá variar já tava com uma garrafa de cana no chão, Seu Egídio apresentou a esposa, Xanda o nome, no ato lembrei duma foto que minha mãe guardava numa caixa de papelão com muito carinho, era um casal abraçado, eu tinha mania de mexer nas coisas, um dia perguntei-lhe, quem são Mãe, ela respondeu, Egídio e Xanda, nunca mais vou vê-los mas são amigos muito queridos lá da BA, acho que vcs conhecem minha mãe eu falei, ela tem uma foto de um tal Egídio e Xanda guardados lá em casa, ô Deus meu rapaz, foto nossa lá em SP só uma pessoa tem, num me diga que vc é filho daquela santa mulher disse Seu Egídio já chorando, eita disse Dona Xanda que é a cara do irmão mais novo dela todo, brincamos muito eu e ele quando eu ia lá no PE passear na casa deles, era uma plantação de mamão que não tinha fim, quantos anos vc tem rapazinho, 14 falei, oxi que é sobrinho dele mesmo, saiu do PE tinha 15 anos ele prá morar com sua mãe, nunca mais deu as caras aqui, Beto entrou na conversa, desculpa interromper vcs, mas não durmo faz quase uma semana Seu Egídio, aquela pousada lá ao lado do Posto tem dormida ou é só comida mesmo perguntou, tem dormida rapaz sim mas dormi na casa desse garoto ano e meio sem pagar um tostão, faz tempo isso, ele não tava nesse mundo de Deus inda não, tinha dois filhos só naquela casa, um garoto e uma criancinha de colo, foi em 1955 isso, daqui vcs só saem de banho tomado, comidos e durmidos, graças aquele povo que tenho esse bar até hj, não quero incomodar vcs não disse Beto, que incômodo rapaz, incomodado iremos ficar com vcs jogados em pousada de estrada, nega, prepare banho pros meninos, depois ceiam e dormem, tem lugar procê tb Setembrino, obrigado seu Egídio mas vou dormir lá com os meus Setembrino disse e se despediu dizendo tb, vcs tão guardados, que hs vão embora amanhã, assim que raiar o dia respondeu Beto, tá bom, cedinho tou aqui disse Setembrino e saiu.
Dona Xanda levou nós até o fundo do quintal onde ficava o banheiro, nos deu toalhas, aqui é lugar ruim de água meus filhos mas se banhem à vontade, amanhã tem feira, caixa tá cheia, água não falta e saiu dizendo que ia por a janta.
Era a primeira vez que eu e Beto ficávamos sozinhos, saudades da porra de tu bebê eu tava, tô doido prá te encher de porrada, eu não disse nada, só comecei a chorar, ele tirou a roupa, tinha visto tanto homem pelado naqueles dias que virei o rosto, tá cum medo de olhar e sentir vontade né safado disse ele, perca as esperanças, hj não conseguiria dar meia nem com reza brava, ah meu Beto, podia tar morto mas continuava meu doce Beto, abriu o chuveiro, vêm me ensaboar bebê, quero chamego teu, tirei a roupa tb, esfreguei a bucha nele, era tanto barro que ela ficava cor de abóbora, desde sábado não tomo banho bebê, culpa tua disse ele, continuava lindo meu Beto mesmo cansado como tava, depois que tava limpinho, pegou a bucha e passou em mim, viu as manchas roxas no meu ombro e no corpo todo, não disse nada, sabia bem pq estavam ali, quando passou a bucha em meu peito e barriga ele viu os furos feitos em mim pelas agulhas na véspera, bando de fdp disse Ele chorando, eu vou te sarar todo meu lek, vou te deixar inteiro de novo, pode crer que vou, errei muito contigo mas não vou errar mais não, bando de fdp repetiu, se pudesse matava todos hj mesmo.
Voltamos prá sala, Beto pediu desculpas mas não queria comer nada não, se sentar na mesa desmaio em cima do prato disse ele, pelo menos um cafè com cuscuz e requeijão disse Dona Xanda, Sra tem o mesmo nome de minha mãe disse ele, Dona Xanda, assim que todos a chamam mas não durmo há seis dias, depois desse banho só quero desmaiar Sra, cuide desse mlk, é teimoso mas vale ouro o danado, puxou à mãe ele, graças à Deus, ela mostrou o quarto onde íamos dormir, qq coisa não se acanhe meu filho disse à Beto, pode me chamar, se acordar com fome durante a noite, vou deixar bolo, requeijão e café na mesa da sala, vamos rapazinho jantar, é cedo ainda, vc deita depois, quero saber tudo de minha amiga que não vejo há 27 anos, ele vai já disse Beto, vou ter um papo de um minuto só com ele antes.
Ela saiu do quarto, encosta a porta bebê disse Beto, os olhos fechando já, sai de perto de mim não bebê, num vou dormir, vou morrer, come e vem deitar tb, só disse isso e desmaiou de cansaço.
Eu fui prá sala, venha prá cozinha rapazinho disse Seu Egídio, na sala nós come quando tem visita, vc não é visita nesta casa, eu tava há dois dias sem comer, quando vi aquela mesa farta, Beto ali pertinho de mim de novo, me belisquei novamente, eu ia voltar prá minha casa, parecia um sonho.
Comi feito gente grande, me entupi de suco de acerola com graviola misturados, ia ajudar ela com a louça, não rapaz, vá pra varanda com meu Marido conversar um pouco, já já tou lá, quero ver as moças passando pra ver os dois bonitão paulista que tão aqui em casa.
Sentamos eu e Seu Egídio na varandinha da casa, de repente a cidade parada tava movimentada, as muié indo e vindo de lá prá cá, uns caminhão e carroças chegando pra feira no dia seguinte, os bar abrindo, meu só abro de manhã falou Seu Egídio, esse povo da feira é muito arruaceiro, entrou uns homem com mulher na varanda, Seu Egídio foi buscar cadeiras lá no bar prá sentarem, Dona Xanda veio, era uma cinverseira braba que tava começando, uma hora Setembrino passou, me chamou prá ir andar com ele, lembrei do que Beto tinha falado, fui não, deu umas dez hs, os casais foram embora, entramos prá dormir.
No quarto Beto tava em sono profundo, sem camisa, mais magro mas lindo como sempre, beijei o rosto dele devagarinho e deitei, tava cansado tb, há dias não sabia o que era uma noite de paz, fechei os olhos, só abri já eram umas cinco da manhã, um barulho das barracas sendo armadas na Feira, meu doce Beto continuava na mesma posição, não tinha se mexido um cm na cama, sai devagarinho do quarto, Seu Egídio tava abrindo o bar na frente da casa, Dona Xanda me esperando com uma mesa cheia de delícias na cozinha.
Tomei café, fui lá prá frente, dei bom dia à Seu Egídio, bar cheio de gente bebendo já, povo não tinha hora prá beber não, fui prá varanda e fiquei lá, ia no quarto toda hora, Beto dormia feito Anjo, uma hora Setembrino chegou, cadê o Homem perguntou, tá dormindo respondi, vou acordar não, acho é bom disse Ele, vou aproveitar a feira, mais tarde volto e saiu andando, hora do almoço chegou, Beto desmaiado ainda, resolvi deixar ele dormindo até acordar naturalmente.
Deu 5 da tarde e nada, fiquei preocupado, fui pro quarto, puxei uma cadeira e fiquei lá ao lado dele, quando abriu os olhos meio tonto sem saber bem onde estava já eram mais de sete da noite, me viu do lado, se espreguiçou todo, que hs são meu bebê, sete e pouco respondi, durmi umas doze hs disse ele, tou novo, bora levantar e pegar a estrada prá casa mlk, é sete e pouco da noite Beto eu disse, tu dorniu 24 hs direto, ele sentou na cama, pq não me chamou bebê perguntou, tu tava num sono tão bom, não tive coragem de te acordar não.
Saímos do quarto, Seu Egídio e Dona Xanda falaram juntos, tava cansado mesmo hen rapaz, tava morto disse Beto, pois venha comer se não quiser tomar banho antes, deve tar morto de fome, vou me banhar logo disse ele é vou ter que incomodar vcs mais uma noite, incomoda nada Rapaz, se banhe, jante e vá pra varanda um pouco, as moça já tão com as canela fina de tanto passar ae em frente querendo ver o bonitão paulista disse Dona Xanda, Beto riu dizendo, sou Paulista não Sra, sou nordestino tb, cabra da peste nascido no Rio Grande do Norte, fui lá pra SP tem doze anos
Depois da janta sentamos na varanda, as moças afoitas querendo ver Beto, Setembrino chegou, Beto combinou com ele de sairmos às 5 hs, bora dar uma volta disse Setembrino à ele, as muié tão tudo doida perguntando pelo Paulista, vá rapaz disse Dona Xanda, quem sabe tu não se agrade de alguma e já leva prá SP, fomos os três dar uma volta, entramos num bar embaixo da Pousada, os dois ficaram jogando bilhar e eu numa mesa da calçada tomando cajuína, era um tal de mlk e rapaz vindo conversar comigo, era um povo dado aquele do NE, tava uma noite gostosa, um rádio ligado alto tocava de tudo, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Gal, uma moça mulata chamou Beto prá dançar um forró, meu Nego arrasou, eita disse Setembrino na volta, sabia que paulista tb dançava forró não, quem te disse que sou Paulista, sou do RN rapaz, lá forró com três anos a gente já dança.
Entramos prá dormir, deita aqui comigo bebê, faço nada não, só uns beijinhos quero, vêm disse ele, deitamos juntinhos, ganhei uns beijos daquele homem que eu achava que nunca mais veria na vida, como era bom tar nos braços dele, do meu doce e amado Beto.

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