Eu e Beto, enfim em nossa cidade, um doce regresso

Acordamos na madrugada ainda, ali tb todos acordavam muito cedo, do quarto já ouviamos o movimento de Dona Xanda na cozinha.
Beto pôs minha mão sobre a cueca dele, preparado prá voltar prá nossa casa bebê, fazer meu cuscuz, esfregar macacão de peão etc, num vejo a hora Nego respondi, eu morria de saudades daquela casa, dos meus peixinhos, do quintal, de tudo e de todos, uma semana só que tinha saído de lá mas tanta coisa ruim aconteceu, me pareciam anos, alisei o peito dele, meus olhos marejados de felicidade e de agradecimento acho, se chorar te dou uma surra de mandacaru na estrada hein disse ele rindo e alisando meus cabelos, depois acrescentou, prometi prá Mãe, vou cuidar de ti bebê, do meu jeito meio bronco mas vou cuidar, bora levantar, lava só o rosto e limpa a boca, água prá esse povo daqui é luxo, lá pra hora do almoço nós vamos tar em Aracaju se Deus quiser, ae nós toma banho à vontade.
Levantamos, Seu Egídio disse emocionado, mas querem ir embora mesmo, caramba, não passearam nem viram nada, podiam ficar mais um pouco com nós, agradeço pela hospedagem à vcs disse Beto, mas nós temos que ir, a mãe desse danado deve tar rezando ajoelhada prá ter notícias dele, mas ele tá com o pai lá em São Caetano que eu sei, tem motivo dela tar preocupada não falou Seu Egídio, é uma história triste e longa Sr Egídio respondeu Beto, não vou apoquentar vcs com isso não, precisamos ir, mundo dá tantas voltas, quem sabe um dia nós não se encontre de novo nele, deixarei o tel do meu emprego aqui, vcs precisando e eu podendo ajudar não se acanhem, casa lá tb é pobre mas cama e comida prá amigos nunca há de faltar.
Dona Xanda tava com mesa posta com tudo que Beto gostava, cuscuz, mortadela e ovo frito, carne de bode assada no fogo de lenha, ele se acabou e ficou repetindo, come lek, nessas estradas que vamos andar achar comida é coisa difícil, Dona Xanda emendou, tou mandando umas coisas daqui prá minha Amiga de mocidade e uma foto da família toda nossa junto, prá ela ver como tou acabada, Beto riu, tá nada, tá cheia de saúde a Sra, Setembrino chegou carregado de coisas de feira, botamos as coisas no carro, Dona Xanda deu uma sacola com coisas prá gente comer no caminho e um galão de água, vão com Deus, muito abraço em minha Amiga e na Família toda, diga à ela que nunca esqueço nossas brincadeiras de juventude rapazinho e dê nosso tel à ela tb.
Um vizinho do lado chegou, boa viagem paulistas nos disse, muita coragem prá pegar estrada daqui até SP, obrigado Sr, nós vamos até Aracajú, de lá vamos deixar o carro e seguir de ônibus prá SP, saímos, um sol vermelho lindo despontava sobre aqueles sertões, Beto parou no posto, encheu um galão enorme de gasolina que estava vazio no carro e partimos.
Foram conversando os dois na frente, Beto ia todo animado, ê rapaz, vc tá outro na volta hein disse Setembrino, com essa presença que tem devia ficar prá festa de N.Sra. da Saúde semana que vem, raparigas num Iam te faltar, Beto riu, obrigado Setembrino, tou outro mesmo, cheguei aqui morto, agora volto o Beto de sempre, descansado, inteiro de novo mas vou te deixar lá no teu lugar e nem vou parar, tamos muito longe de casa eu e o mlk, doidos prá chegar lá, oxi falou Setembrino, não tou entendendo é nada, grato Setembrino por ter nos trazido até a cidade, mas não queira entender nada mesmo, a coisa é muito complicada, prá ser sincero, nem eu entendo tanta maldade neste mundo de Deus.
Chegamos em São Caetano umas duas hs depois, Setembrino desceu na entrada da única rua do lugar, nos despedimos e fomos embora, agora era a mesma estrada de quando cheguei ali com meu ‘pai’, andamos, andamos naquela caatinga braba, agora podendo conversar à vontade nós dois, depois dumas duas hs, a estrada começou a ficar boa, Beto parou o carro, desce prá esticar as pernas bebê me disse, lá longe se via uma cidade, chama Paulo Afonso lá falou Beto, foi o lugar que o homem que trouxe a gente de SP nos deixou então eu disse, sei que é difícil lek mas tenta tirar essa viagem da tua cabecinha, eu sei que nada de bom teve na tua vinda continuou ele, nós vamos ter uns dois dias de ônibus prá conversar, dá pra se por tudo em dia.
Seguimos viagem, era mais de meio dia Beto parou numa tal Canindé prá abastecer, tomamos um café e seguimos, tá perto já bebê de onde peguei este carro lá em Aracaju, reza ae prá nós conseguir passagem prá hj mesmo.
Entramos na tal Aracajú, Beto não lembrava mais onde era uma tal oficina do Landão, foi perguntando, chegamos lá, na porta o tal Landão veio nos receber, ô cabra Macho, disse que chegava e chegou mesmo falou à Beto, é, foi foda mas tamos aqui, vivos graças à Deus.
Ele devolveu o carro prá esse Homem que tinha alugado ele, o Homem devolveu dinheiro à Beto, na Rodoviária Beto me explicou o rolo que tinha feito prá conseguir esse carro e de onde tinha vindo tanto dinheiro que ele carregava nos bolsos, a rodoviária era perto mas por causa das bagagens, o tal Landão nos levou até ela.
Chegamos lá esse Landão foi com a gente no Guichê, tinha passagem pras 7 da noite, previsão de chegada em nossa cidade era meio dia de Sexta-feira, pelo menos tem ônibus direto disse Beto, eram duas e pouco da tarde, Landão se foi, eu e Beto fomos almoçar ali dentro da rodoviária mesmo, tomou umas três cervejas ele, tou precisando de umas bebê falou rindo, é bom que vou dormindo direto no ônibus, nele é tu que vai tomar conta do teu Homem danado.
Na hora do embarque o rapaz da rodoviária cismou por eu ser menor, Beto pôs umas notas no bolso dele, subimos no ônibus, meu Lar tava cada vez mais perto.
De tarde Beto tinha ligado na Oficina de novo, avisou que íamos chegar na Sexta, ia me deixar com Alberto e Aurivania e depois iria prá casa, pq não posso ir prá casa perguntei, vc vai bebê, mas no Sábado com Alberto e Vânia, têm muita coisa ruim na nossa casa prá eu resolver, não me pergunte nada pq não quero te responder, chega de sujeira e coisa ruim nessa cabecinha.
Sentei na janela, Beto no corredor, tá preso me disse rindo, se tentar fugir de novo te mato no soco, abaixou nossos bancos, vê se dorme bebê, melhor coisa nessas viagens é ir dormindo, ae nós chega mais depressa em casa.
Ele dormiu rápido, tava cansado mas mesmo cansado era o Homem mais lindo do Mundo meu doce Beto.
Chegamos em SP era umas duas hs da tarde, estávamos pertinho da oficina mas Beto pegou um táxi só pra atravessar o túnel e chegar na subida do morro onde morava Aurivania.
Subimos, no caminho eu disse de novo que queria ir prá casa, cala a boca teimoso, já falei, amanhã tu vai porra, tava bravo e com Beto bravo era melhor ficar quietinho.
Aurivania e Alberto nos receberam na porta todos contentes, Alberto me abraçou, peste de Pai Macho tenho, disse que trazia e trouxe mesmo disse depois se jogando nos braços de Beto, Vânia parecia me esmagar no abraço que me deu chorando, eu chorei muito também, pensava que nunca mais ia ver esse povo.
Sentamos prá almoçar, todos falando da viagem, mal acabou o almoço, espero vcs lá cedinho amanhã, tomem conta deste mlk, num deixem sair nem no quintal disse Beto, pode deixar respondeu Vânia, tomo conta do meu Bonitão muito bem.
Beto não queria mas Alberto insistiu em ir, não adianta Pai, vou com vc sim, quero olhar no olho daqueles dois safados quando tu meter o sarrafo neles, disse, tá bom então falou Beto mas acho que na conversa vamos resolver tudo, traíram minha confiança, maltrataram o mlk mas devo muitos favores à Eles, à Assis devo até a vida, Vaninha, durmam cedo, seis da manhã tamos aqui prá pegar vcs, vc bebê, juízo, amanhã tu tá em casa falou Beto e se foram.
Durmimos cedo nada, ficamos comendo e vendo tv atè tarde, dormi na cama dela, tava tendo um pesadelo, Faísca entrava ali no quarto com um facão na mão dizendo, vim te buscar minha putinha, os outros tão lá na Hospedaria te esperando, acordei gritando e chorando, Vânia me acalmou, calma meu bonitão, foi só um pesadelo, mal sabia eu que o fdp já estava morto a essa altura, ele e os outros quatro, todos com aquilo de que se orgulhavam tanto decepados e enfiados em suas bocas, Seu Aroeira, Jacaré, Inseto, Claudionor e os outros seguiram a ordem de Beto dada lá na BA, picotem os fdp sem dó, meu doce Beto tinha mudado, ele já não achava mais que matar ficou prá Deus, na verdade todos alí naquela casa tinham mudado, eu principalmente.
Beto, Alberto e Luciano chegaram mal clareou o dia, nem eu nem Vânia tínhamos dormido mais, Luciano tava com um olho roxo afundado, o outro vermelho sangue mas mesmo assim sorriu ao me ver, me abraçou forte com aquele corpão dizendo no meu ouvido, perdoa eu lek, meu irmão quebrou minha cara mas me perdoou, perdoa eu também.
Só fui entender o que ele disse à noite lá em casa, quando deitado nos braços de meu doce Beto depois de um dia de comemoração e farra ele também disse, perdoa eu meu bebê, eu li teus cadernos.

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