#

Paris

5690 palavras | 2 |3.50
Por

————
Nota do Autor: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real, é mera coincidência.
————
Outubro 2020
Marta adorava Paris.
Suas lembranças mais queridas levavam a indelével marca desta cidade.
Amava passear, às vezes sem rumo, pelas ruas do centro da cidade, dos bairros típicos e nas margens do Sena.
Mesmo agora, que já não passeava mais, por causa do iminente lockdown, a vista pela janela do seu pequeno apartamento, no terceiro andar de um antigo prédio no 8º arrondissement, a reconfortava.
Amava também este apartamento, onde tinha vivido seu primeiro, e único, grande amor da sua vida, com Pierre.
Fora ele que tinha tirado sua virgindade, no quarto onde agora dormia sozinha todas as noites.
A lembrança do Pierre, apertou seu coração.
Coitado! Ele tinha sido ceifado pela primeira onda da pandemia, no abril passado, e Marta tinha tido notícia só por acaso.
————
Na primavera de 1975 eles tinham tido uma tórrida estória de amor, entre os muros deste apartamento.
Marta, na época, tinha acabado de completar 23 anos, e estava terminando o curso de piano, no conservatório.
Moça bonita, porém recatada, tinha saído incólume das muitas cantadas de seus colegas.
Um fim de semana, no início de maio de 1975, Marta recebera um convite para se apresentar numa paróquia nos arredores de Nantes.
Ela gostava muito de tocar piano, e tocava razoavelmente bem, mas tinha consciência que lhe faltava “algo” para ser uma pianista de sucesso.
Por isto aceitava de fazer apresentações para platéias menos exigentes.
Finda a apresentação fora procurada por alguns espectadores, que queriam conhece-la pessoalmente, entre os quais estava Pierre.
Pierre, que tinha a sua mesma idade, era estudante de direito na universidade de Nantes, cidade onde ele morava, ainda na casa dos pais.
Acabaram passando o resto do dia juntos, até a hora da Marta pegar o trem de regresso para Paris.
Na estação ela passou-lhe o seu telefone, pedindo para chama-la, caso estivesse de passagem por Paris.
No inicio da tarde do sábado seguinte, Pierre ligou, anunciando que acabara de chegar na estação de trem.
Marcaram um encontro e passaram a tarde juntos.
Chegando a noite Marta o convidou para ir no apartamento, já que a mãe, que morava junto com ela, tinha voltado para o Brasil fazia alguns dias, chamada pelo marido.
Aquela noite, Marta perdera a virgindade, na mesma cama que ela costumava dividir com a mãe.
Assim, durante os dois meses seguintes, tinham-se amado durante todos os fins de semana e, um par de vezes, durante uma semana inteira, em que Pierre tinha recortado o tempo para ficar em Paris.
Em meados de junho, logo após que Marta conseguira graduar-se no conservatório, chegou uma ordem peremptória de seu pai para que ela regressara ao Brasil.
Pierre a acompanhou ao aeroporto e, aí mesmo a pediu em casamento.
Marta aceitou, e disse que ia tentar regressar em Paris o mais rápido possível, ao mais tardar em um par de meses, então logo se casariam.
Não foi assim.
Marta acabou regressando em Paris, para nunca mais sair de lá, no final de 1980, junto com a mãe, quando ambas tinham ficado viúvas.
A esta altura do campeonato, Pierre já estava casado, fazia dois anos, com uma moça de Nantes, e tinha uma filhinha desta mesma idade.
Marta, que não queria ser uma estraga famílias, nunca mais o procurou.
————
Como sempre, quando algum pensamento triste a oprimia, Marta correu para o piano vertical, que se encontrava num canto da sala.
Por ela tocaria horas, pois gostava muito, mas tinha vizinhos que não apreciavam a música clássica, portanto o condomínio tinha limitado o tempo em que ela podia exercitar-se.
Por isto tocou músicas de Chopin, durante uns dez minutos, depois, com a alma mais leve foi para cozinha, juntou o lixo, pôs a máscara e desceu as escadas para deixa-lo na caçamba.
Na volta também subiu pela escada, esnobando o elevador, instalado nos anos sessenta no vão da escadaria.
Além de ser um bom exercício, evitava assim de subir naquele velho e inseguro elevador, do qual não confiava nem um pouco.
Uma vez no apartamento, tirou a máscara e foi preparar um café.
No enquanto tomava seu café, Marta pensou de quantas poucas coisas, prazerosas, lhe restavam para fazer.
Até 2008 tinha sua mãe para fazer-lhe companhia, passear, conversar e jogar baralho.
Depois da súbita morte dela, lhe restaram os longos passeios pelas ruas de Paris.
Agora nem isto!
O som estrídulo do interfone assustou-a, quase ao ponto de derrubar o café.
Foi atender ao aparelho, um pouco ressabiada.
– Oui?- falou ela.
– Olá, madrinha, sou Gerardo!- respondeu, em português a pessoa do outro lado.
“Gerardo! Que Gerardo?” Ficou pensando Marta.
Quase como tivesse lido o pensamento dela, ele acrescentou.
– Sou filho da Maria de Lourdes, irmã do seu falecido esposo. A senhora é minha tia, e também foi minha madrinha de batismo.-
Marta logo lembrou do moleque insuportável de pouco menos de três anos, que azucrinara a cerimônia do funeral duplo, de seu marido e seu pai.
– Olá Gerardo, como vai? Como está a senhora sua mãe?-
– Tudo bem lá em casa. Posso subir para dar-lhe um abraço?-
Marta pensou um instante.
Na realidade, os longos meses de quarentena, parte forçada e parte voluntária, tinham esvaziado sua vontade de conviver com as outras pessoas, especialmente com aqueles que, como o Gerardo, eram praticamente perfeitos desconhecidos.
De outro lado era um parente, e seria uma desfeita não deixa-lo subir.
– Você está de máscara?-
– É claro, madrinha.-
– Então pode subir! Terceiro andar à esquerda. Mas nada de abraços que, na minha idade, tenho que manter o distanciamento social.-
Destravando o portão Marta acrescentou:
– Cuidado com o elevador, ele não é muito confiável. Te aconselho a subir pelas escadas.-
Marta colocou a máscara, foi entreabrir a porta do apartamento e escutou o barulho do velho e ofegante elevador que subia pelos andares.
Quando viu o Gerardo sair da cabine, Marta quase teve um troço.
Era praticamente uma fotocópia do seu falecido marido: alto e robusto, quase parecia um armário.
Estendendo o cotovelo, para cumprimentar desta nova forma o sobrinho, ela disse:
– Nossa! Como você cresceu!-
– E a senhora não mudou nada!-
– Não precisa mentir para mim, e depois a última vez que a gente se viu você tinha dois ou três anos. Me lembro bem: um moleque que nunca parava, mas você nem deve se lembrar.-
– Pois eu lembro. E também lá na sala da casa de minha mãe tem um retrato do dia do seu casamento com o tio.-
Fez sentar o sobrinho na poltrona da sala e perguntou:
– Posso te oferecer um café?-
– Aceito sim, madrinha, obrigado.-
– Vou na cozinha preparar e volto em alguns minutos.-
Ele recém tinha chegado, porém Marta já estava louca de vontade que ele tomasse o café e fosse embora de uma vez.
Quando ela voltou, carregando a bandeja com a xícara e o açucareiro, encontrou Gerardo que tinha se levantado e estava olhando os poucos retratos que se encontravam na estante da sala.
– Não vejo fotos do meu tio aqui! Só da senhora sua mãe.-
– Guardei as fotos dele porque me davam muita saudade.- mentiu Marta.
– Mas diga-me: onde você está morando, que você faz? Casou? Quando chegou em Paris?- perguntou Marta.
– Então: sou solteiro. Como meu tio, gosto de viver a vida.-
– Na realidade ele casou duas vezes.- corrigiu ela.
De fato, quando ele tinha casado com a Marta era viúvo, pois sua primeira esposa tinha se suicidado dois anos antes.
– É verdade, mas nos dois sabemos que ele gostava de uma boa vida.- disse Gerardo.
Ele tinha tirado a máscara para tomar o café, e Marta pôde ver um sorriso sardônico nos lábios dele, que lhe causou um frio na espinha.
– Desembarquei agora no meio-dia aqui em Paris, diretamente do Brasil. Moro em Goiânia e trabalho na Policia Civil, como investigador, no enquanto minha mãe continua lá na fazenda. A senhora deve sentir saudade de lá.-
– Agora obviamente não, por causa da pandemia, mas a senhora poderia visitar a gente lá. Afinal de contas, há quantos anos a senhora está fora do Brasil? Trinta, quarenta?-
– Sabe, tem sempre uma coisa, aqui e acolá, para fazer e a gente acaba sempre postergando. Mas pode deixar que, quando terminar de vez este perrengue, eu venho visitar-vos, sem falta!- continuou, mentindo, Marta.
– Mas, diga-me o que te trouxe para Paris em tempos tão difíceis: negócios, turismo…?-
– Ah! Poderia dizer ambos.-
Assumindo, de repente, um semblante mais sério Gerardo disse:
– A senhora lembra do seu Jacinto?-
Marta gelou, mas fez de tudo para não deixar transparecer, e respondeu:
– Lembro sim! Pessoa muito simpática! Ele ainda está vivo?-
– Pois é! Ele faleceu faz duas semanas, mas não foi de Covid não, foi enfisema pulmonar. Ele ainda morava na fazenda, naquele sítio que a senhora tinha doado para ele quando foi embora. Estava com oitenta e nove anos, porém lúcido até o final. Não fosse o cigarro talvez teria chegado aos cem.-
– Meus pêsames. Mas que há de se fazer! Para todos nós chega o dia de partir para o além.-
Gerardo fez-se ainda mais sério e disse:
– Pois é! E, às vezes, alguém põe a mãozinha para que este dia chegue mais cedo!-
Os olhos de Marta encheram-se de lágrimas e pensou: “Não pode ser!”.
Como se tivesse lido seu pensamento ele continuou:
– Antes de morrer, ele me contou tudo! Muito peso na consciência! Ah, eu gravei tudo. Ainda não mostrei para ninguém, mas, se você quiser ver, está tudo aqui no meu celular.-
Marta começou a chorar e teve que tirar a máscara para não sufocar.
– Mas que lágrimas de crocodilo! Matou marido e pai em uma tacada só e agora chora!-
– Eu não queria…- disse, choramingando, Marta.
– Eu sei: você só queria matar o marido, o pai veio junto, de bônus, para tua mãe.-
————
Quando, em junho de 1975, regressara para o Brasil, o que ela pensava fosse só uma breve parêntesis, tornou-se um horrível pesadelo.
No aeroporto do Galeão não estava sua mãe, mas tão somente seu Jacinto, o motorista de casa.
Ele o informara que iam direto para a fazenda do pai, no interior de Goiás, com o Veraneio que ele dirigia.
Na sua juventude ela tinha estado várias vezes na fazenda, normalmente durante as férias escolares, mas nunca ficara mais de dez dias, que já dava-lhe desespero.
A maior parte do tempo, ela morava no apartamento em Copacabana, que sua mãe tinha herdado dos seu pais.
Veio a saber, durante a longa viagem até a fazenda, que o apartamento do Rio tinha sido vendido havia um mês, e sua mãe tinha se mudado para a fazenda.
Quando, o dia seguinte, chegaram à fazenda sua mãe lhe informou que ela já estava de casamento marcado com o Sebastião.
————
Sebastião, brigadeiro da aeronáutica, era um grande amigo do pai dela, e os dois tinham juntos muitos negócios, a maioria escusos.
Ele morava em Brasília e, volta e meia, vinha visitar o pai da Marta, sempre pilotando o seu Piper.
Assim, Marta o encontrara várias vezes, mas nunca tinham tido intimidade.
Sebastião, poucos anos mais jovem do seu pai, era casado com uma mulher que Marta não conhecera, já que nunca a trazia junto para a fazenda.
Diziam a más línguas que ele, ciumentíssimo, a mantinha segregada em sua casa em Brasília.
Ela se lembrava da última vez que o vira em 1970, na sua última viagem na fazenda, antes de mudar-se para Paris.
Nessa ocasião, ela teve a confirmação, que o Sebastião era-lhe antipático.
A sua mãe tinha pedido que ela fizesse uma pequena apresentação para o hóspede.
Ela tocara algumas sonatas de Chopin e Beethoven, e estava na cara que ele não apreciava esta música.
Ele, porém, fingiu interesse, ao contrário de seu pai que não gostava e declarava isto abertamente.
Este fingimento era, para Marta, sinal de um comportamento hipócrita, que ela não tolerava.
Para piorar as coisas, em um momento em que estiveram sozinhos, ele tinha feito avances inoportunas para um homem casado.
————
Quando à noite o pai regressou em casa, do seu giro na fazenda.
Marta enfrentou-o, dizendo que, não somente não ia casar com o Sebastião, como ia regressar em Paris para casar com Pierre.
A resposta do pai foi curta e grossa:
– Esqueça o tal de Pierre. Você vai casar com Sebastião e ponto. Eu não posso perder os negócios que tenho com ele. Se for preciso eu vou bater em você até mudar de idéia.-
E bateu!
Marta passou os dez dias que faltavam para o casamento, fechada no quarto dela, sem poder ver nem a mãe.
Volta e meia vinha o pai, perguntava se tinha mudado de idéia, e, diante de sua negativa ele pegava a chibata e dá-lhe porrada.
Sebastião só apareceu na fazenda no dia do casamento.
Naquele dia, entraram no quarto onde estava segregada Marta, o pai, com a chibata na mão, Sebastião e um tabelião amigo do pai. O tabelião simplesmente lhe disse, colocando-lhe o livro na sua frente:
– Assina aqui!-
Marta foi embora, naquela tarde, com seu novo marido no Piper dele.
Chegados em Brasília foram diretamente para a casa do Sebastião.
Quando chegaram no quarto de dormir ele disse:
– Vai se despindo que vou te comer agora mesmo. Teu pai me disse que você não é mais virgem. Pois é! Hoje em dia as moças são bem mais putas do que antigamente. Paciência: teria gostado de estourar teu cabaço, mas fazer o que! Pra dizer a verdade eu vou gostar mesmo é de estourar as pregas do teu cu.-
Diante das protestas de Marta, Sebastião deu-lhe um violento bofetão, que a fez despencar em cima da cama.
Sem pressa, Sebastião despiu-se, enquanto Marta chorava, sem ter coragem de mexer-se.
Quando ele ficou nu, gritou para ela:
– Olha para mim!-
A contragosto, Marta obedeceu.
Quase teve um treco quando viu o pau do marido.
Grosso e comprido, devia ser o dobro daquele do Pierre, sua única referência.
Percebendo o susto de sua esposa Sebastião riu e disse:
– Como é? aquele maricas do teu francês, tinha um pintinho delicado? Pois é, agora você vai saber como é ser comida por um macho de verdade! Vou arregaçar teu cu, que você não vai conseguir sentar por uma semana!-
Do nada ele lhe deu um outro bofetão, que a fez virar na cama.
Levantou-lhe a saia, arrancou, rasgando-lhe as calcinhas, e enfiou a seco seu membro no seu ânus.
Marta gritou pela dor e, como resposta, ele socou sua cabeça.
Para evitar de gritar, e apanhar mais, Marta começou a morder o travesseiro.
A dor era intensa, parecia que estavam-lhe enfiando um tição ardente pelo intestino.
– Puta que o pariu! Que cu estreito que você tem. Era cabaço mesmo! Delícia!- comentou o monstro.
Marta rezava para perder os sentidos e assim escapar deste pesadelo.
Mas, não foi assim!
Durante um tempo que lhe pareceu uma eternidade, ele seguiu socando com toda força até que, colocando seu membro mais fundo possível, ejaculou no intestino dela.
Quando ele retirou o membro do intestino, Marta deu um suspiro de alívio, pensando que a tortura tinha acabado.
Estava enganada.
Ele colocou seu membro, sujo de sangue, esperma e fezes, na frente da cara dela e disse:
– Chupa, que, depois, eu quero comer de novo este teu cu gostoso. E nem pense em morder senão eu te coloco uma bala na cabeça!-
Reprimindo o nojo, Marta pegou o membro dele na boca.
Depois de poucos segundos, não conseguiu segurar, e vomitou.
O soco na cabeça foi tão forte que a derrubou no chão.
Sebastião aproveitou para chuta-la. Sorte da Marta, que, estando descalço, os chutes não foram tão fortes.
– Sua desgraçada! Só não vou te matar agora porque estaria desperdiçando esta tua bunda gostosa.-
Marta se ajoelhou, conseguiu superar seu nojo, e chupou o membro dele até ficar de novo duro, então Sebastião a sodomizou de novo com a mesma violência de antes.
————
Assim foram os cinco anos seguintes: trancada na casa, sem nem ter um piano para desafogar e, quando o Sebastião voltava para casa, invariavelmente a sodomizava.
Marta entendia muito bem porque a primeira esposa tinha se suicidado.
As únicas fugas temporárias deste inferno, eram as estadias na fazenda, pleiteadas por sua mãe junto a seu pai.
Sebastião até que não achava ruim, porque assim lhe dava mais tempo para freqüentar os puteiros nos arredores de Brasília, para comer carne mais fresca.
Além disto, lá na fazenda morava, junto com o marido, Maria de Lourdes, a irmã caçula do Sebastião, que além de controlar discretamente os negócios do seu sócio, podia vigiar para que Marta não pulasse a cerca.
Para Marta era como se estivesse no paraíso: passava o dia inteiro tocando o piano e conversando com a mãe.
Já com o pai, ela não falava desde o dia do seu casamento forçado e evitava de encontra-lo, recolhendo-se no seu quarto na hora da janta.
Fora a mãe, ela conversava também com seu Jacinto.
Ele tinha vindo a trabalhar na fazenda antes de Marta nascer, e a tinha visto crescer.
Era ele que as buscava no Rio quando Marta e a mãe iam para a fazenda, e as trazia de volta para o Rio.
Seu Jacinto tinha muito carinho por Marta, e sofria bastante em vê-la assim.
Marta nem se lembrava se a idéia veio dela ou do seu Jacinto, mas aos poucos começou a formar-se um plano para mandar Sebastião para o inferno, lugar muito mais condizente com sua índole.
Seu Jacinto, com anos cuidando dos carros de casa, tinha adquirido um bom conhecimento de mecânica e para ele sabotar o Piper do Sebastião, sem deixar rastros, era uma brincadeira de criança.
Normalmente Sebastião a trazia para a fazenda com seu avião no sábado de manhã, a sogra ou sua irmã organizavam um churrasco regado a cerveja e, à tardezinha, ele voava de volta, sozinho, para Brasília, deixando-a para sua semana de liberdade vigiada na fazenda.
Foi assim no fatídico dia do acidente.
Logo após o churrasco, seu Jacinto foi furtivamente para o campo de pouso e sabotou o avião em poucos minutos.
Só que, aquele dia, aconteceu um imprevisto: na hora em que estavam se despedindo, Sebastião e o sócio começaram a conversar de negócios e chegaram a conclusão que ele também precisava ir para Brasília, assim que Sebastião ofereceu-lhe uma carona.
Isto já tinha acontecido muitas vezes antes, era quase uma oferta pró-forma, já que o pai de Marta, que não gostava de voar, sempre recusava, preferindo sair da fazenda na madrugada da segunda-feira, com seu Jacinto, de Veraneio.
Inexplicavelmente aquele dia, de última hora, ele aceitou.
Pediu à sua esposa que lhe preparara uma bolsa de viagem, para ficar uns dois dias na cidade.
A mãe de Marta, que nada sabia do plano sinistro, preparou a bagagem, até aliviada, porque assim ficaria uns dias longe do marido, que ela mal suportava.
O avião caiu, e pegou fogo, uns dois quilômetros depois da decolagem, e os dois ocupantes morreram na hora.
Tanto Marta, como seu Jacinto, ficaram sabendo que o pai estava lá só depois do acidente.
Realizados todos os trâmites após o acidente, Marta conseguiu facilmente convencer a mãe a largar a fazenda nas mãos de Maria de Lourdes, e viajar junto com ela para Paris.
Lá na França não iam seguramente passar necessidade.
De fato o apartamento, que tinha sido adquirido pelo pai de Marta, em nome da esposa, servia como base de apoio para gerir com mais facilidade o dinheiro de caixa dois, desviado pelo pai de Marta para Suíça.
A mãe fora testa de ferro para este esquema durante anos, o que possibilitara a vida tranqüila das duas, durante os anos de conservatório de Marta.
Além disso, como viúva de brigadeiro, ela receberia uma boa pensão.
Marta nunca revelou para mãe, ou para qualquer outra pessoa, o segredo atrás do acidente, e ela nunca imaginara que seu Jacinto ia falar algum dia.
————
– O que você, quer de mim?- perguntou Marta entre as lágrimas.
– É muito simples! Minha mãe, que tudo sabia das tramóias do teu pai, me contou que tua mãe geria, por conta dele, uma vultuosa conta bancária na Suíça. Então, nós vamos para este banco e você passa a titularidade da conta para mim.- e continuou:
– Se você fizer isto, eu te deixo em paz e nunca mais vai me ver. Com a pensão que você recebe, por ter matado meu tio, diga-se de passagem, você consegue sobreviver bem, mesmo em Paris. Caso contrário eu coloco a boca no trombone e a senhora terá muitas encrencas pela frente. A escolha é sua!-
– Está bem, está bem! Eu concordo, mas hoje é muito tarde: não conseguiremos chegar em Genebra a tempo.-
– Não tem problema: esta noite eu durmo aqui e amanhã de manhã a gente sai cedinho com o carro que eu aluguei no aeroporto e no início da tarde estaremos lá. Vamos ao banco e depois te deixo na estação de trem e … adeus para sempre!-
– Está bem.- disse Marta já aliviada pela perspectiva de não ver nunca mais o sobrinho, mesmo que isto lhe custasse a maior parte de sua fortuna.
– Porém, você terá que dormir no sofá da sala, pois esta casa só tem um quarto e uma cama.-
– Vou dormir no sofá coisíssima nenhuma: eu não sou cachorro! Eu vou deitar na cama com você. Eu sei que meu tio se gabava, com seus colegas, de ter casado com a mulher com a bunda mais gostosa do Brasil. Eu sei que ele devia estar exagerando, mas acontece que eu gosto de uma coroa, e quero verificar quanto de verdade tinham estas suas conversas.-
As palavras do sobrinho a fizeram estremecer.
Logo lhe vieram em mente as inúmeros estupros que sofrera com o marido e chorando suplicou:
– Não, por favor! Você dorme na cama, eu durmo no sofá, no chão, onde você quiser, mas não toca em mim!-
A risada sádica do sobrinho causou-lhe um frio na espinha.
– Nem pensar: é agora que eu vou de aperitivo.-
Antes que Marta pudesse reagir, ele a agarrou pela cintura e levantou do chão.
Marta tentou reagir mas a disparidade entre os seus físicos era demasiada.
Gerardo adentrou no quarto a jogou encima da cama e lhe deu um bofetão que quase a fez desmaiar.
Virou-a sem nenhuma dificuldade, baixou-lhe as calças do abrigo, junto com as calcinhas e abriu sua braguilha.
Ele passou saliva no seu membro já duro encostou no ânus dela e empurrou com força.
O urro que ela soltou foi abafado pela mão do Gerardo, que começou a bombear com energia.
Para sorte de Marta o sobrinho estava bastante excitado e gozou em poucos minutos.
Marta tinha parado de gritar, mas continuava a chorar.
– Gostei do aperitivo: depois da janta tem mais!- disse, fechando a braguilha.
Tirou do bolso da calça um par de algemas e algemou o pulso da mulher à robusta cabeceira da cama, em ferro forjado.
– Vou no carro buscar minha mochila. Não gostaria que a senhora tivesse idéias estranhas neste meio tempo.-
Marta ficou chorando, imóvel, até a volta do sobrinho.
Quando voltou, ele abriu as algemas, e Marta teve o constrangimento de ir no banheiro e fazer xixi na frente dele, que não parava de vigia-la nem um minuto.
Marta descongelou uma lasanha no microondas, e os dois comeram no mais completo silencio.
Terminada a janta, Marta acompanhou o sobrinho no quarto, como se estivesse acompanhando o carrasco para o patíbulo.
Chegado no quarto, Gerardo fechou a porta á chave e logo se despiu.
Marta sentiu nojo do enorme corpo do sobrinho, do mesmo jeito que sentira nojo do corpo do ex-marido.
Para piorar as coisas, a ereção que ele exibia, conseguia ser maior daquela, já enorme, do Sebastião.
Gerardo se deitou na cama e pediu para que a madrinha se despira.
Quando ela esteve nua ele pediu para que ela desse uma volta.
Ele assobiou e perguntou:
– Quantos anos você tem, madrinha?-
– Sessenta e oito.-
– Pela tua idade você tem um corpaço! Palavra de entendido!-
Marta sabia que ele era sincero, pois, de fato, o tempo fora clemente com seu físico.
– Agora vem cá que eu vou comer esta tua bunda gostosa. Até que gostaria de uma chupeta antes, mas prefiro não arriscar.-
De novo ele a sodomizou praticamente a seco.
A dor era intensa, mas os anos do seu casamento a tinham acostumado a esta tortura, e tinha a vantagem que Gerardo a batia menos do que costumava fazer o tio dele.
Para azar de Marta, ele era, como se gabava, um touro na cama e a sodomia durou horas naquela noite.
Na manhã seguinte Gerardo a manteve algemada à cama no enquanto ele tomava banho e se preparava
De novo ela teve que submeter-se à humilhação de ter que fazer suas necessidades na frente do sobrinho.
Depois ele a vigiou de perto, no enquanto ela preparava uns sanduíches para a viagem até Genebra.
Saindo do apartamento, Gerardo estava de ótimo humor, olhando as mensagens no celular.
Esperando que Marta chamasse o elevador falou para ela, sem levantar os olhos do aparelho:
– Sabe madrinha, estou gostando muito da França, e adorei passar a noite com você. Acho que não volto mais para o Brasil: com a bolada que eu vou ganhar, eu mudo para a Côte d’Azur. Assim, de vez em quando, venho aqui em Paris, para comer esta tua bunda gostosa…-
————
Epilogo
O inspetor Lacasse subiu a pé os três andares.
Não tivera outra escolha, já que o elevador estava interditado desde o dia do acidente.
Tocou a companha da porta e, depois de alguns momentos, Marta veio abrir.
O vulto, mesmo coberto com a máscara, deixava entrever uma expressão séria e compenetrada.
– Pois não.-
– Sou o inspetor Lacasse.-
– Entre por favor. Posso oferecer-lhe um café?-
– Não obrigado.-
– Posso, então, pedir-lhe o favor de colocar a máscara?-
– É claro! Peço mil desculpas!- disse o inspetor recuperando uma máscara do bolso e colocando-a no rosto.
Ele odiava as máscaras, mas a senhora tinha razão: era seu dever usa-la.
– Imagino que esteja aqui pelo acidente de anteontem.-
– Sim! Primeiro de tudo queria expressar minhas condolências. Tenho entendido que era seu parente.-
– Sim, de fato era meu sobrinho: filho da irmã do meu falecido esposo. Eu também fui sua madrinha de batismo.-
– E como era seu relacionamento com ele.-
– Praticamente nulo: eu estou fora do Brasil há muitos anos: a última vez que eu o tinha visto ele tinha três anos.-
– Compreendo!- disse, por dizer o inspetor.
– Qual foi o motivo da visita dele aqui no apartamento da senhora.-
– Ele estava de turismo aqui na Europa e veio me visitar. Aproveitou também do apartamento da tia para passar a noite e não ter que gastar com hotel aqui em Paris.-
– Assim que ele passou a noite aqui.-
– É isso! Este apartamento tem um só quarto porém tem um cômodo sofá-cama aqui na sala.-
– Quanto tempo ele pretendia ficar aqui?-
– Só uma noite mesmo, ele me disse que tinha alugado um carro e que pretendia ir de cidade em cidade. Pelo que me informou o próximo destino ia ser Genebra. Ia sair na hora mesmo do acidente, eu tinha até preparado sanduíches para ele comer na viagem. Que pena! Pelo pouquíssimo que pude conviver com ele, era rapaz tão cheio de vida. Foi terrível ter que dar a notícia para a mãe dele.-
O inspetor pôde ver uma lágrima se formar no canto do olho de Marta.
– Ela vai vir para cá?-
– Não! Ela já tem mais de setenta anos, e o senhor sabe que, nesta idade a saúde nunca é perfeita e, além do mais, esta pandemia não ajuda. Vou ser eu a fazer o reconhecimento formal e, quando o corpo estiver liberado, vou providenciar o translado para o Brasil.-
– A senhora avisou para ele que o elevador era defeituoso?-
– Foi a primeira coisa que lhe disse, ainda pelo interfone, no dia que ele chegou.-
– A senhora sabe que encontramos no bolso dele um par de algemas?-
Marta sorriu por debaixo da máscara.
– Sei sim! Ele era policial civil no Brasil, e também muito brincalhão: imagine que também me algemou por brincadeira.-
– Olha!- disse Marta, levantando a manga do seu moletom, – Até ficou a marca no meu braço. E pensar que eu fiquei braba com ele por isto.-
Dizendo estas palavras, Marta ficou séria e sacudiu a cabeça como para espantar pensamentos tristes.
– Mais alguma coisa, inspetor?-
– Na realidade sim. Separamos os pertences dele, que vamos lhe entregar nos próximos dias, finda a investigação, e achei estranho não encontrar um celular. Hoje em dia todo mundo carrega um!-
– Mas que cabeça a minha!- disse Marta levantando, indo até o étagère no canto da sala e abrindo a gaveta.
– Aqui está! Ele tinha-o esquecido aqui na sala na hora de sair. Com tudo o que aconteceu, só encontrei-o anteontem à noite. Assim que o guardei.- disse Marta entregando o smartphone para o inspetor, que o guardou no bolso.
————
Todo o trâmite de liberação e envio do corpo para o Brasil, demorou uns vinte dias.
Na volta do aeroporto, onde tinha finalmente despachado os restos do sobrinho, Marta tirou a máscara, se despiu, colocou seu moletom e lhe veio uma vontade improtelável de tocar.
Sentou no piano e começou a tocar uma rapsódia de Liszt.
Sua memória voltou para o dia do fatídico acidente.
Ela já estava resignada em ir ao banco com o sobrinho e passar tudo para ele.
No fundo ele tinha razão: considerando sua idade e seu estilo de vida, este dinheiro não ia fazer-lhe falta.
Quando, porém, Gerardo acenou com a possibilidade de voltar, para infernizar sua vida, o sangue subiu-lhe à cabeça.
Ela sabia muito bem que a porta do velho elevador era defeituosa, e dando um tranco em uma determinada maneira, ela se abria mesmo sem a cabine estar no andar.
Com uma rápida olhada para cima ela verificou, através da grade do poço, que a cabine estava no quarto e último andar do prédio.
Marta abriu a porta do poço do elevador e Gerardo, distraído pelo celular adentrou no poço.
Quando ele sentiu o vazio debaixo do pé, assustado largou o celular e tentou agarrar-se ao marco da porta, mas Marta empurrou-o para frente com todas suas forças.
O impacto com a laje, doze metros abaixo, matou Gerardo na hora.
Marta catou o celular do sobrinho e rapidamente voltou para dentro do apartamento, saindo logo em seguida, junto com todos os vizinhos, assustados pelo barulho.
Ambulância e bombeiros foram acionados, mas somente puderam constatar o óbito.
À noite Marta retirou o SIM card do celular, picotou-o em tiras finíssimas, que jogou na privada.
E agora estava aí tocando seu amado piano, com a consciência limpa e tranqüila, como a de um bebê recém-nascido.
Fim

Avalie esse conto:
PéssimoRuimMédioBomExcelente
(Média: 3,50 de 4 votos)

Por #
Comente e avalie para incentivar o autor

2 Comentários

Talvez precise aguardar o comentario ser aprovado
Proibido numeros de celular, ofensas e textos repetitivos
  • Responder Ingrid ID:5pmopkujhra

    Vingança muitíssimo bem orquestrada por Marta! Ótimo!

  • Responder 23cm69 ID:2y9d2a4k0d

    Adorei